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OS SABERES DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO DO ESTADO DE PERNAMBUCO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

IVANISE SIMPLICIO DE MELO

OS SABERES DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO DO

ESTADO DE PERNAMBUCO

João Pessoa 2019

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IVANISE SIMPLICIO DE MELO

OS SABERES DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO DO

ESTADO DE PERNAMBUCO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, como requisito final para obtenção do grau de Doutora em Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Edineide Jezine Mesquita de Araújo

João Pessoa 2019

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AGRADECIMENTOS

A Deus

Eu pedi força... e Deus me deu dificuldades para me fazer forte.

Eu pedi sabedoria... e Deus me deu problemas para resolver.

Eu pedi prosperidade... e Deus me deu cérebro e músculos para trabalhar.

Eu pedi coragem... e Deus me deu perigo para superar.

Eu pedi amor... e Deus me deu pessoas com problemas para ajudar.

Eu pedi favores... e Deus me deu oportunidades.

Eu não recebi nada do que pedi... Mas recebi tudo que preciso.

Autor desconhecido

Se Deus nos permitisse passar através de nossas Vidas sem quaisquer obstáculos, Ele nos deixaria aleijados. Então, se vencemos, alguém esteve conosco, nos sorriu ao alcançarmos nosso objetivo. A Ele, o nosso muito obrigado.

Agradeço ao Povo do Campo nas pessoas da Profª Ms. Rubneuza Leandro de Souza Coordenadora do setor de Educação do MST/PE, e do Professor Nilton Gomes da Silva por me acolher na Coordenação de Educação do Campo da Secretaria de Educação do Estado.

Agradeço aos colegas de curso, com quem integrei meu saber, meus sonhos e dos quais incorporei novos conhecimentos. Obrigado a Sandra, Edileuda, Jislayne, Isabel... e a todos e todas amigos(as) pernambucanos e paraibanos da turma pela força e palavras de incentivo e carinho nas horas difíceis da perda de meu pai.

Agradeço aos funcionários do PPGE da UFPB, em especial a Sra. Glória e, a todos os professores(as) com os quais me foi permitido compartilhar e construir saberes e conhecimentos, como Zé Neto, Socorro Xavier, Janine, Willson, Afonso Scocuglia, Thimoty.

Quero registrar o “diferencial” desse corpo docente, o calor humano e humanizante com que vocês acolhem a nós professor-aluno não só na chegada, mas durante todo o processo/curso, esquecendo por várias vezes essa “coisa doutoral”.

Agradeço em especial a essa educadora-intelectual Profa. Dra. Edineide Jezine Mesquita por sua simplicidade, respeito e valorização ao saber do outro e por sua eficácia na maestria de orientação.

Agradeço a Sra. Terezinha Campelo e aos seus filhos Renato e Roberto pelas noites acolhidas em sua casa paraibana a essa educadora-estudante pernambucana ousada e teimosa em prosseguir sua caminhada acadêmica diante de tantas dificuldades.

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Agradeço a todos e todas que fazem o GEPES – UFPB Rayana, Jislayne, Profª Drª Uygauciara, Prof. Dr. Paulo, Jailson, Profª Drª Sandra, Profª Ms Edileuda, Profª. Salete, Profª.

Geovania, Profª Drª Edineide e... por nos possibilitar o acesso Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Superior.

Obrigado à Coordenação do Grupo de Trabalho PESCA, EDUCAÇÃO e SUSTENTABILIDADE / GT-PESCA, do Centro de Estudos e Pesquisa Josué de Castro/

CJC, a Rede REFLECT-AÇÃO do Brasil/ REDERA, grupo do qual fazemos parte, por entenderem e perdoarem as minhas ausências nas ações de trabalho junto às populações indígenas, quilombolas, pesqueiras, rurais, parteiras tradicionais e aos movimentos Sociais / MST. Agradeço aos companheiros de caminhada Marcelo e em especial a Jacirema Araújo, mulher negra de uma competência e comprometimento ímpar para com o protagonismo popular e ao nosso Coordenador e companheiro Natanael Maranhão Vale, intelectual orgânico do mundo da Pesca pra quem eu tiro o chapéu.

Finalmente, agradeço a doutrina Espírita por instigar-me a reflexão e compreensão do “ser humano” nesse orbe planetário em busca de superar suas imperfeições vislumbrando sua evolução/perfeição intelectual e moral que no pensar freireano diríamos vislumbrando a

“Conclusão” do sujeito integral, “ser humanizado”.

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DEDICATÓRIA

Aos meus Pais, pois o momento que vivo agora é fascinante e só existe porque de vocês recebi o dom mais precioso do universo: A VIDA.

Inspiraram-me a certeza de sua presença e a segurança de seus passos guiando os meus.

O carinho da sua voz, a esperança do seu sorriso, o conforto de suas lágrimas, o brilho de seu olhar me fizeram tão grande quanto o teu amor por mim.

No momento quando meu nome for anunciado as tuas palmas serão vibrantes e as tuas lágrimas as mais verdadeiras, e, com certeza, será a mão de vocês que estará lá para receber o diploma/certificado junto às minhas, pois ele também é mérito de Vocês!!! A Você, PAI, MÃE, não mais que com justiça, dedico esta Conquista.

Aos meus Filhos, Marcos Antonio Vasconcelos de Melo Junior, Juliana Simplicio de Melo, e minha neta Letícia Borba Vasconcelos e, meu sobrinho Ivisnaldo de Souza Simplicio e, ao meu esposo Marcos, in memorian, aos meus familiares de quem suprimi muitas horas de convívio.

Aos professores-educadores e coordenadores territoriais da EJA CAMPO-PE e aos colegas da GEPEC, por acreditarem ser a educação um sonho possível a todos e todas.

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Consciência de ser

“Meu ponto de partida é o seguinte: só os seres que historicamente se tornaram capazes de saber se tornaram ao mesmo tempo capazes de intervir na realidade condicionadora...

... Só os seres que se percebem condicionados podem deixar de ser determinados. Porque assim nós transformamos a determinação em condicionamento” (Paulo Freire).

“Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida, como autor e como testemunha da sua história. Isto é, biografar-se, existencializar-se, historicizar-se” (Ernani Maria Fioro no prefácio da Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire).

“Mesmo que não percebamos, nossa práxis, como educadores, é para a libertação dos seres humanos, sua humanização, ou para a domesticação, sua dominação” (Paulo Freire).

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RESUMO

Esta tese busca reconhecer e analisar os saberes apreendidos pelos professores da EJA CAMPO-PE no processo formativo da GEPEC-PE, que objetiva uma prática educativa constituída por elementos do saber docente que promova a “conscientização” dos sujeitos do campo da necessidade de lutar pelo direito à Educação, em específico a Educação do Campo.

Busca-se responder ao seguinte problema: Quais saberes do professorado da EJA CAMPO/PE apreendidos no campo da formação da GEPEC? Tem como objetivo geral:

Identificar e analisar os saberes acerca da Educação do Campo e da Educação Popular e sua materialização na prática docente. Constituem os objetivos específicos: 1- Identificar os princípios e fundamentos político-filosóficos da Educação do Campo e da Educação Popular presentes na formação da GEPEC; 2- Identificar os saberes apreendidos dos docentes da EJA CAMPO/PE a partir da formação de origem e formação continuada da GEPEC; 3- Analisar a relação de saberes entre o apreendido na formação e sua materialização na prática docente; 4- Contribuir para a reflexão crítico-social da prática de formação docente a partir de saberes necessários para a atuação docente em EJA (CAMPO). Tem como objeto: analisar o processo de Formação continuada de Professores da EJA CAMPO/PE buscando apreender os saberes adquiridos no processo de formação. Assume como referencial metodológico a abordagem qualitativa da categoria de análise da investigação ação participativa. Na malha teórica tomaremos como referência o pensamento de Paulo Freire – o qual é ancora epistemológica de nossas argumentações nesse estudo - e os estudos sobre Educação do Campo, enriquecidos e acrescidos de reflexões engendradas a partir da interlocução, principalmente, com; Caldart (2004; 2011), Streck (2003), Molina (2011, 2014; 2015; 2017), Souza (2009), Richardson (2003), Gauthier (1998) e Tardif (2002) com a finalidade de fundamentar as categorias de análise de educação popular; educação do campo; saberes da prática docente, formação docente. Resultados: Reconhecer que os professores da EJA CAMPO se apropriaram no processo de formação de saberes pedagógicos que mobilizados sirvam de apoio e de base para materialização da prática docente na Educação do Campo.

Palavras-chave: Educação Popular. Educação do Campo. Saberes docentes, formação de professor.

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ABSTRACT

This thesis aims to recognize and analyze the knowledge learned by EJA CAMPO-PE teachers in the GEPEC-PE training process, which aims at an educational practice constituted by elements of teaching knowledge that promote the "awareness" of the subjects in the field of the need to fight for right to education, specifically the field education. We try to answer the following problem: What knowledge of EJA CAMPO / PE teachers learned in the field of GEPEC training? Its main objective is to recognize and analyze the knowledge about Field Education and Popular Education and its materialization in teaching practice. The specific objectives are: 1- To recognize the principles and political-philosophical foundations of Field Education and Popular Education present in the formation of GEPEC; 2 - Recognize the knowledge learned from the teachers of EJA CAMPO / PE from the formation of origin and continuing training of the GEPEC; 3- Analyze the relation of knowledge between the apprehended in the formation and its materialization in the teaching practice; 4- To contribute to the critical-social reflection of the practice of teacher training based on the knowledge required for the teaching performance in EJA (CAMPO). Its purpose is to analyze the process of Continuing Education of Teachers of the EJA CAMPO / PE seeking to apprehend the knowledge acquired in the training process. It assumes as a methodological reference the qualitative approach of the category of participatory action research analysis. In the theoretical framework we will take as reference the Paulo Freire thought - which is an epistemological anchor of our arguments in this study - and the studies on Field Education, enriched and increased by reflections generated from the interlocution, mainly, with; Caldart (2004, 2011), Streck (2003), Molina (2011, 2014, 2015, 2017), Souza (2009), Richardson (2003), Gauthier (1998) and Tardif (2002) popular education analysis; field education;

knowledge of teaching practice, teacher training. Results: Recognize that the teachers of the EJA CAMPO appropriated in the process of formation of pedagogical knowledge that mobilized serve as support and basis for the materialization of the teaching practice in Field Education.

Keywords: Popular Education. Field Education. Teacher knowledge, teacher training.

.

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RESUMEN

Esta tesis busca reconocer y analizar los saberes incautados por los profesores de la EJA CAMPO-PE en el proceso formativo de la GEPEC-PE, que objetiva una práctica educativa constituida por elementos del saber docente que promueve la "concientización" de los sujetos del campo de la necesidad de luchar por el trabajo el derecho a la Educación, en específico a la Educación del Campo. Se busca responder al siguiente problema: ¿Qué saber del profesorado de la EJA CAMPO / PE incautados en el campo de la formación de la GEPEC?

Tiene como objetivo general: reconocer y analizar los saberes acerca de la Educación del Campo y de la Educación Popular y su materialización en la práctica docente. Constituyen los objetivos específicos: 1- Reconocer los principios y fundamentos político-filosóficos de la Educación del Campo y de la Educación Popular presentes en la formación de la GEPEC; 2- Reconocer los saberes incautados de los docentes de la EJA CAMPO / PE a partir de la formación de origen y formación continuada de la GEPEC; 3- Analizar la relación de saber entre el aprehendido en la formación y su materialización en la práctica docente; 4- Contribuir a la reflexión crítico-social de la práctica de formación docente a partir de saberes necesarios para la actuación docente en EJA (CAMPO). El objetivo de este trabajo es analizar el proceso de formación continuada de profesores de EJA CAMPO / PE buscando aprehender los saberes adquiridos en el proceso de formación. Asume como referencial metodológico el abordaje cualitativo de la categoría de análisis de la investigación acción participativa. En la malla teórica tomaremos como referencia el pensamiento de Paulo Freire - el cual es ancla epistemológica de nuestras argumentaciones en ese estudio - y los estudios sobre Educación del Campo, enriquecidos y más de reflexiones engendradas a partir de la interlocución, principalmente, con; Y en el caso de las mujeres, en el caso de las mujeres, en las mujeres, en las mujeres, en las mujeres, en las mujeres, en las mujeres. Análisis de la educación popular;

educación del campo; conocimientos de la práctica docente, formación docente. Resultados:

Reconocer que los profesores de la EJA CAMPO se apropiaron en el proceso de formación de saberes pedagógicos que movilizados sirvan de apoyo y de base para materialización de la práctica docente en la Educación del Campo

Palabras clave: Educación Popular. Educación del Campo. Saberes docentes, formación de profesor.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Estrutura Curricular da Modalidade EJA CAMPO-PE Quadro 2: Princípios da Educação do Campo

Quadro 3: Saberes necessários a Prática Educativa em Paulo Freire Quadro 4: Saberes necessários a Prática Educativa em Paulo Freire Quadro 5: Os saberes dos professores em Maurice Tardif

Quadro 6: Dimensões dos Saberes em Clermont Gauthier

Quadro7: Respostas dos Professores ao Objetivo específico 1: Reconhecer os princípios e fundamentos político-filosóficos da educação do campo e da educação popular presentes na formação da GEPEC, a pergunta de no. 7 do questionário foi:

Quais os princípios que compreendem a Educação do Campo?

Quadro 8: Respostas dos Professores ao Objetivo específico 2: Reconhecer os saberes apreendidos dos docentes da EJA CAMPO/PE a partir da formação de origem e formação continuada da GEPEC. A pergunta do questionário de número 3: Quais saberes da formação continuada favorece sua atuação no ambiente de sala de aula do campo?

Quadro 9: Respostas dos Professores ao Objetivo específico 3: Analisar a relação de saberes entre o apreendido na formação e sua materialização na prática docente. A pergunta do questionário de número 4: Como você caracteriza sua prática pedagógica nas turmas da EJA CAMPO?

Quadro 10: Respostas dos Professores ao Objetivo específico 3: Analisar a relação de saberes entre o apreendido na formação e sua materialização na prática docente. A pergunta do questionário de número 5: Como no seu cotidiano você materializa a prática pedagógica multidisciplinar?

Quadro 11: Respostas dos Professores ao Objetivo específico 4: Contribuir para a reflexão crítico-social da prática de formação docente a partir de saberes necessários para a atuação docente em EJA (CAMPO). A pergunta do questionário de número 6:

Como no seu cotidiano pedagógico você estabelece a relação Escola X comunidade?

Quadro 12: Respostas dos Professores ao Objetivo específico 4: Contribuir para a reflexão crítico-social da prática de formação docente a partir de saberes necessários para a atuação docente em EJA (CAMPO). A pergunta do questionário de número 9:

Quais as Políticas Públicas Educacionais voltadas para a Educação do Campo que você conhece?

22 38 82 83 86 89 104

106

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114

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BR – Brasil

CNE/CP – Conselho Nacional de Educação / Comissão Paritária CLT – Contrato Limitado de Trabalho

CD – Conselho Deliberativo

CJC – Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro EJA – Educação de Jovens e Adultos

EJA CAMPO/ PE - Educação de Jovens e Adultos do Campo Estado Pernambuco EdoC – Educação do Campo

FACHO – Faculdade de Ciências Humanas de Olinda E – TeC – Escola Técnica Aberta do Brasil

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

GEPEC – Gerência de Políticas Educacionais da Educação do Campo GRE – Gerência Regional de Ensino

IES – Instituição de Ensino Superior IAP – Investigação-Ação Participativa

LEDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LEdoC – Licenciatura em Educação do Campo

MST – Movimento dos Sem Terra MEC – Ministério da Educação

PROCAMPO – Programa de Apoio á Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo

PRONACAMPO – Programa Nacional de Educação do Campo

PRONATEC – O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

PROJOVEM – Programa Unificado de Juventude que visa ampliar o atendimento aos jovens excluídos da escola e da formação profissional

PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária PCE – Parâmetro Curricular Estadual – PE

PPP – Projeto Político Pedagógico

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira

SEE/PE – Secretaria Estadual de Educação de Estado de Pernambuco

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SECADI – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização Diversidade e Inclusão

SAD-SEE/PE – Secretaria de Administração - Secretaria Estadual de Educação de Estado de Pernambuco

UFPB – Universidade Federal da Paraíba UAB – Universidade Aberta do Brasil UFS – Universidade Federal de Sergipe UnB – Universidade de Brasília

UFPA – Universidade Federal do Pará

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 CAPÍTULO I ELEMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO POPULAR (EP), EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) E DA EDUCAÇÃO DO CAMPO (EdoC) ... 30

1.1 DA EDUCAÇÃO RURAL A EDUCAÇÃO DO CAMPO... 30

1.2 AS LUTAS POR UMA EDUCAÇÃO DO CAMPO ... 34

2 CAPITULO II - FORMAÇÃO DE PROFESSOR E PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERFACES DE SABERES ... 48

2.1 PRÁTICA PEDAGÓGICA E A REALIDADE SOCIOCULTURAL DO CAMPO PARA A FORMAÇÃO DE SABERES DOCENTE ... 48

2.2 FORMAÇÃO DOCENTE, PRÁTICA PEDAGÓGICA NO CONTEXTO DA EJA CAMPO-PE ... 56

3 CAPÍTULO III METODOLOGIA E DADOS DA PESQUISA ... 92

3 TIPO DE PESQUISA ... 92

3.2 LOCUS DA PESQUISA ... 96

3.3 OS SUJEITOS DA PESQUISA ... 97

3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DOS DADOS ... 99

3.5 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DOS DADOS ... 100

4 CAPITULO IV – RESULTADOS... 103

4.1 PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO POPULAR E DA EDUCAÇÃO DO CAMPO PRESENTES NA FORMAÇÃO: O QUE PENSAM OS PROFESSORES? ... 103

4.2 EXPERIÊNCIA DA UnB COM FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO CAMPO: ... 118

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 121

REFERÊNCIAS... 127

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INTRODUÇÃO

O trecho da música abaixo Sempre é tempo de aprender,1 que teve seu primeiro grito no Paraná e depois ecoou por todo o país, através da sensibilidade do artista Zé Pinto do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, dialogando com o que compreendemos sobre uma prática docente que deve ser eivada por um conhecimento articulado com a realidade. Grito em poesia de Zé Pinto que transforma e traduz a concepção em versos e a faz canção do MST. E, nós educadores populares a entoamos como “Hino da EJA”, enquanto eternos aprendizes:

Quem é que tem interesse em participar Quem é que se prontifica para ensinar

Tá lançado o desafio, num refrão vamos cantar.

Sempre é tempo de aprender Sempre é tempo de ensinar

A produção de um trabalho acadêmico advém de inúmeras motivações e vivências, pautadas e traduzidas em consequência de uma correlação direta com as nossas origens sociais e culturais expressas no compromisso com os princípios da Educação Popular. As motivações em realizar esse estudo são as de reconhecer quais saberes e quais princípios e fundamentos da Educação do Campo e da Educação Popular os professores da modalidade Educação de Jovens e Adultos destinada às populações do Campo do Estado de Pernambuco (EJA CAMPO/PE) apreendem nos momentos da formação continuada. Motivações relacionadas, também, com a trajetória profissional de docente e de vida, que vem sendo constituída em espaços de formação de professores que, (vivem e) atuam nas escolas do campo, em espaços de reflexões sobre modelos de desenvolvimento economicamente sustentáveis e socialmente justos junto aos povos do campo e em encontros, seminários, palestras e fóruns sobre a temática da educação das populações2 do campo, da educação de pessoas jovens e adultas, da educação popular e da reforma agrária, espaços esses de reflexões e construção coletiva de conhecimento sobre as relações de trabalho, sobre os sistemas de produções no campo, processo produtivo concebido pelos sujeitos protagonistas como

1 (Caderno de Educação MST nº 11, Educação de Jovens e Adultos. Sempre é tempo de aprender, 2005, p. 15

2 Populações do campo: os agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições materiais de existência a partir do trabalho no meio rural. (Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010).

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processo educativo e não só como mercadoria produzida para venda e consumo no mercado capitalista.

O despertar de uma consciência política em mim sobre a natureza dessas relações, desabrocha a partir das vivencias junto aos sujeitos da Educação Popular (EP) e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), nas comunidades indígenas e pesqueiras e, nos acampamentos e assentamentos do MST e CPT, sujeitos políticos – entre outros - que constituem o protagonismo do Campo.

A partir dessas vivencias e de outras situações, surgem os questionamentos e problematizações e, a busca por contribuições educativas de uma práxis pedagógica que se coadune com os princípios e fundamentos da Educação Popular para a qualificação de professores do Campo, elevando seu nível de conhecimento e conscientização, bem como dos sujeitos protagonistas, os educandos/as e suas realidades. Leituras sobre formação de professores, saberes docentes e práticas pedagógicas no contexto da educação do campo possibilitaram não só ampliar o meu horizonte sobre o tema e vislumbrar novas perspectivas de inserção de práticas pedagógicas formativas conscientizadora da realidade do campo, como também, entendê-las como possíveis alavancas propulsoras que pode acrescentar à vida e às práticas sociais dos sujeitos sensibilidades e reflexividade maiores, dentre outras, de suas contribuições para a formação humana.

Com as leituras e o olhar mais atentos a essa realidade sócio-política-cultural passamos a compreender a importância dos saberes docentes na prática educativa dos professores quando essa dialoga com as realidades dos contextos e que tem como raiz epistemológica as concepções e fundamentos da Educação Popular, que, por sua vez, dialoga com as especificidades das lutas, dos tempos históricos e da cultura dos povos dos campos.

Todas essas experiências vividas provocam em mim a busca por referenciais de cursos de licenciatura e de formação de professores voltadas para a realidade do campo, com o olhar mais focado em suas propostas pedagógicas e sua articulação com o Ministério da Educação (MEC) e as parcerias com as Instituições de Ensino Superior (IES). Surgem o interesse e o compromisso em estudar, conhecer o PROCAMPO, na esperança de compreender e apreender com esse processo formativo, com a lente voltada para a dimensão político-pedagógica, como se dá a formação de professores por áreas de conhecimento e não por disciplina isolada, vislumbrando com esse olhar epistemológico desvelar o significado dessa estratégia, de fazer formação docente para a realidade do campo e, em que essa estratégia de formação docente se

“diferencia” da outra e o porquê de ser executada assim. Isso vem provocando em nós,

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formadores e professores da modalidade EJA CAMPO-PE, um ressignificar em nossa prática educativa.

Sobre a trajetória da EJA CAMPO-PE, busca-se no percurso da história da EJA no cenário nacional subsídios, que fundamentem epistemologicamente essa trajetória para melhor compreensão dessa ação educativa e dos contextos sociopolíticos e culturais onde se desenvolve. Historicamente sabe-se que o campo teórico e prático da modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) é extenso e mantém várias interfaces com as temáticas correlatas com o fenômeno Prática Pedagógica. São campos que abordam concepções, metodologias e práticas de educação de pessoas jovens e adultas, englobando questões relativas à formação de educadores, a relação professor e estudante, a prática docente e o conteúdo dessa prática na relação ensino e aprendizagem, já que a educação de jovens e adultos geralmente reconhece o estudante como trabalhador e remete às relações com o mundo do trabalho.

Nesse longo caminho da Educação de Jovens e Adultos, enquanto modalidade de ensino no cenário nacional que busca responder as necessidades educacionais dos diversos sujeitos e realidades que a compõem, o governo central por pressão dos Movimentos Sociais do Campo lança o PROJOVEM CAMPO – SABERES DA TERRA, como possibilidade indicada por seus sujeitos e como transformações em curso de algumas práticas educativas concretas e na forma de construir políticas de educação para os jovens e adultos do campo, ação educativa que serve até os dias atuais de “referência” para o desenvolvimento de ações educativas dessa modalidade educativa destinada aos povos do campo no Estado de Pernambuco.

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI), com a intenção de respeitar o direito dos povos do campo à educação, bem como suas características, necessidades e pluralidades (de gênero, étnico-racial, cultural, geracionais, política, econômica, territorial), implementou o Programa Saberes da Terra – Programa Nacional de Educação de Jovens e Adultos Integrado com Qualificação Social e Profissional para Agricultores/as Familiares, dando início à primeira etapa do Programa em 2005 em 12 estados da federação (MEC/SECAD, 2008).

Em 2007 aconteceu a integração de programas conduzidos pela Secretaria Nacional de Juventude/Presidência da República, onde foram integrados seis Programas já existentes: a) Agente Jovem do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome; b) Projovem da

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Casa Civil; c) Saberes da Terra e Escola de Fábrica do Ministério da Educação; d) Consórcio Social da Juventude Cidadã do Ministério do Trabalho e Emprego.3

Como resultado desse processo, foi instituído, pela Medida Provisória nº 411/07, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – PROJOVEM, que objetivava promover a reintegração de jovens ao processo educacional, sua qualificação profissional e, seu desenvolvimento humano e cidadão, organizando o atendimento em quatro modalidades: I) Projovem Adolescente; II) Projovem Urbano; III) Projovem Trabalhador; e IV) Projovem Campo – Saberes da Terra. O Projeto Político Pedagógico (PPP) do Projovem Campo tinha como objetivo desenvolver políticas públicas de Educação do Campo e de Juventude que oportunizasse aos jovens agricultores familiares excluídos do sistema formal de ensino a escolarização em Ensino Fundamental na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, integrado à qualificação social e profissional. A Proposta Pedagógica do Projovem para a escolarização e formação profissional e social de jovens é composta de dois documentos norteadores das ações a serem executadas, ou seja, do Projeto Político Pedagógico e do Percurso Formativo, além da coleção de dezesseis livros didáticos, uma para os educadores e outra para os educandos4.

No Projeto Político Pedagógico do Projovem Campo – Saberes da Terra está expresso que o público beneficiário do PROJOVEM CAMPO deveria estar na faixa etária de 18 a 29 anos que atuam na Agricultura Familiar, residentes no campo, que saibam ler e escrever, mas que não concluíram o Ensino Fundamental. A inscrição, matrícula e organização das turmas são de responsabilidade do proponente (estado, municípios), cada turma deve ser constituída de, no mínimo 25 alunos, e, no máximo, de 35 alunos (MEC/SECAD, 2008. p. 33).

O PROJOVEM CAMPO – Saberes da Terra caracteriza-se por levar em conta as especificidades do campo e as condições de vida dos jovens agricultores familiares.

Responder a esse desafio pedagógico requer a definição de bases conceituais que criam a referência político-pedagógica do Programa, entre elas a concepção de campo, educação do campo, educação de jovens e adultos, desenvolvimento sustentável, trabalho, economia solidária e qualificação social e profissional. O currículo orienta-se pelo diálogo constante com a realidade, na interação dos sujeitos com a comunidade, estruturando-se em questões desencadeadoras que articulam os conteúdos a partir da realidade prática dos alunos, quando orienta a educação integral do trabalhador deve superar as práticas de qualificação

3 (MEC/SECAD, 2008. v.1. Caderno Projeto Político Pedagógico, p.15).

4 Idem.

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profissional tidas como treinamento operacional, imediatista, segmentado e pragmático (MEC/SECAD, 2008).

O Projovem Campo – Saberes da Terra traz uma concepção de Currículo Integrado que requer um projeto pedagógico que tenha como eixos gerais articuladores os temas do trabalho e da cidadania, construção curricular que envolva as dimensões técnico-científica, sociopolítica, metodológica e ético-cultural. Assim, a organização curricular está fundamentada no eixo curricular articulador Agricultura Familiar e Sustentabilidade que dialogará com os eixos temáticos: 1- Agricultura Familiar, Etnia, Cultura, Identidade, Gênero e Geração; 2- Sistemas de Produção e Processos de Trabalho no Campo; 3- Economia Solidária; 4- Cidadania Organização Social e Políticas Públicas; e 5- Desenvolvimento Sustentável e Solidário com Enfoque Territorial. Na qualificação profissional e social, os arcos ocupacionais são o conjunto de ocupações relacionadas, ou seja, que possuem base técnica comum, neste caso, a agroecologia. O arco ocupacional de produção rural de base familiar deve contemplar as seguintes ocupações: 1- Sistemas de Cultivo; 2- Sistemas de Criação; 3- Extrativismo; 4- Agroindústria; e 5- Aquicultura.

A especificidade da EJA e da Educação do Campo deverá assegurar a organização dos tempos e espaços formativos que sejam adequados à realidade do campo. Essa flexibilização pode acontecer sob a forma de alternância, considerada uma das mais adequadas metodologias para atender às peculiaridades das populações do campo. A concepção de avaliação do programa tem como objetivo principal o acompanhamento do processo formativo dos educandos e verificar como a proposta pedagógica vai sendo desenvolvida ou se processando e assegura que terá direito à certificação os educandos que concluírem com aproveitamento o processo formativo e obtiverem a frequência mínima de 75% da carga horária. Quanto aos materiais didático-pedagógicos, são referenciais nacionais e materiais construídos nos estados na perspectiva de se garantir a especificidade e diversidade do campo brasileiro na escolarização de jovens agricultores familiares.5

O Percurso Formativo do Programa Projovem Campo – Saberes da Terra sintetiza a caminhada pedagógica e metodológica construída coletivamente por gestores e sujeitos educativos, engajados na experiência piloto do Programa vivenciado entre os anos de 2005 e 2007, em doze Estados de todas as regiões do país – Rondônia, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Pernambuco, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. O objetivo central do Percurso Formativo era o de subsidiar o processo de planejamento e organização do trabalho educativo

5 MEC/SECAD, 2008. v.1. Caderno Projeto Político Pedagógico. p. 50-53;71;83-89.

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cotidiano e contemplar a base conceitual e metodológica estruturante do Programa.6 Os eixos que constituíram o Projovem Campo – Saberes da Terra eram em número de cinco (5), hoje na modalidade EJA CAMPO passa a ter quatro (4), decisão assumida coletivamente em um dos últimos encontro dos Movimentos Sociais, IES, professores do campo, técnico da GEPEC-SEE/PE e representantes do Comitê de Educação do Campo do Estado de Pernambuco.

É nessa caminhada de tantas lutas e de tantas resistências por “nenhum direito a menos” e por outro design de educação que os Movimentos Sociais do Campo continuam pressionando, o Governo Central MEC/SECADI/FNDE para o cumprimento do atendimento à demanda educacional gerada pelo encerramento em 2011do Projovem Campo – Saberes da Terra. E nessa luta por “nenhum direito a menos” é que os Movimento Sociais do Campo vem pressionando, também, o Estado de Pernambuco por implementação de Políticas Públicas Educacionais que atendam aos educandos e educandos egressos do Projovem Campo. Nesse contexto de resistências e contradições a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco – SEE/PE-, em atendimento as pressões, dos Movimentos Sociais do Campo insere informalmente em sua estrutura a Coordenação de Educação do Campo, e passa a atender a demanda da EJA do Projovem Campo – Saberes da Terra através de resoluções provisórias, que vem sendo utilizada com frequência para responder aos pleitos dos sujeitos do campo sobre as demandas existentes da Educação para pessoas Jovens e Adultas – EJA. Os Movimentos Sociais do Campo no Estado de Pernambuco continuam resistindo e pressionando, e provocam a criação e institucionalização da Gerencia de Políticas Educacionais de Educação do Campo - GEPEC, no ano de 2015.

Em tempos de pressão do ritmo acelerado do produtivismo técnico neoliberal, que se está impondo aos trabalhadores no mundo inteiro sobre todos os aspectos da vida, e a educação é um desses aspectos, as respostas dos processos educacionais tornam-se aligeiradas, compensatórias, precárias. É importante reconhecer que somos um dos países mais desiguais do mundo, vale dizer onde mais campeiam injustiças sociais, desigualdade de oportunidades educacionais, violência banalizada, assassinatos sem conta, sobretudo de mulheres, gays, negros. Temos ainda trabalhadores do campo e da cidade vivendo em condições equivalentes à escravidão e, às vezes, em ritmo uníssono anuncia ser a educação uma das alternativas, caminho para emancipação.

6 MEC/SECAD, 2008.V.2 Caderno Pedagógico Percurso Formativo, p. 11-13.

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A esperança do sonho possível de uma “Educação com qualidade para todos/as”, pode nos tirar do cansaço e do desamparo social (BOFF, 2018) em que o país se encontra e nos devolver o ânimo necessário para enfrentar os entraves das opressões e do preconceito dos conservadores e suscitar a esperança freireana bem fundamentada de que nada está totalmente perdido, mas que temos uma tarefa histórica a cumprir para nós, para o povo (do campo) brasileiro e para a própria humanidade. Utopia? Sim. Como bem dizia Oscar Wilde:

“se no nosso mapa não consta a utopia, nem olhemos para ele porque nos está escondendo o principal. Em vez da cultura do silêncio, do cansaço e do abatimento social teremos que ter uma cultura da esperança e da alegria” (BOFF, 2018).

Diante dessas reflexões, não podemos silenciar a respeito das atuais condições aligeiradas em que ocorrem a formação continuada de professores da EJA CAMPO-PE. A formação que era de cinco dias passa a ser de dois dias e meio; O processo de formação é dividido em dois momentos distintos, a saber: a) um que se denomina Formação Geral, realizada pela GEPEC-SEE/PE com os técnicos, professores, coordenadores de turmas e palestrantes, cujo procedimento metodológico é o diálogo do eixo articular com os eixos temáticos através de palestra/roda de conversa e oficinas pedagógicas, articulando com os conteúdos das áreas de conhecimento e resultando na organização e planejamento do trabalho pedagógico; b) o outro momento é denominado de Formação Específica que acontece nos espaços físicos dos Movimentos Sociais do Campo quando esses possuem estrutura própria/adequada, quando não o Estado reserva/custeia toda infraestrutura, mas não decide o fazer pedagógico da formação, pois o movimento para além do trabalho com os eixos articulador e temático, trabalham a Pedagogia do Movimento, a concepção de Educação Popular, de Educação do Campo, a concepção de territorialidade, identidade e luta camponesa, visando o fortalecimento da identidade dos sujeitos, do movimento e da militância. Esses espaços formativos devem assegurar, o que a Constituição Federal de 1988, traz em seu Art. 205 quando trata do direito subjetivo a educação e do dever do Estado e da família para assegurar esse direito. Daí ser pertinente lembrar o refrão da canção do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST: “Educação do Campo direito nosso dever do Estado”.

Á Formação Continuada dos professores que era de responsabilidade das Instituições Públicas de Ensino Superior – IES, do Estado, dos Movimentos Sociais do Campo na época do Projovem Campo, no que se refere ao trabalho com os conteúdos, com as áreas do conhecimento e as metodologias, nos dias atuais, na modalidade EJA CAMPO-PE como não

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se conta mais com a parceria desses sujeitos coletivos e políticos na proporção que se tinha no programa anterior, essas atividades são assumidas pela equipe técnica da GEPEC-SEE/PE.

Também ocorreram mudanças na estrutura curricular dos eixos temáticos, que antes era em número de cinco (5), hoje na modalidade EJA CAMPO tem quatro (4), decisão assumida coletivamente em um dos últimos encontros/participações dos Movimentos Sociais, IES, professores do campo, técnico junto a GEPEC-SEE/PE e representantes do Comitê de Educação do Campo do Estado de Pernambuco, como mostra o gráfico abaixo.

Gráfico 1: Estrutura Curricular da modalidade EJA CAMPO-PE

Fonte: Caderno das ODM – PE

A partir das mudanças ocorridas na estrutura dos eixos temáticos, as ementas também sofrem mudanças, passaram de 5 (cinco) para 4 (quatro), conforme quadro abaixo. A ementa de cada Eixo Temático apresenta conhecimentos que dão base para a seleção dos saberes a serem tratados no Percurso Formativo, para que o processo educativo concretize o objetivo de qualificação social e profissional, como demonstra o quadro abaixo:

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Quadro 1: Eixos, ementas e conceitos/categorias da modalidade EJA Campo

EIXO NORTEADOR: TRABALHO E EDUCAÇÃO DO CAMPO

Eixo Temático I – Trabalho, Produção e suas formas de organização no Campo.

EMENTA: Estudo da concepção de trabalho no percurso histórico e suas mudanças sociais, como elemento da cultura, de maneira que seja entendida a relação Trabalho-Educação no/do Campo com a economia solidária e agricultura familiar, articuladas aos sistemas de produção. Compreende-se o papel da família e as diversas formas de organização do campo, nas transformações dos ecossistemas nos seus limites, potencialidades e desafios, face às políticas agrárias e agrícolas que influenciam e repercutem nas realidades do campo.

Principais conceitos a serem desenvolvidos no eixo:

Trabalho, Cultura, Educação, Agricultura, Economia Solidária, Agricultura Familiar, Sistemas de Produção, Políticas agrárias e agrícolas, Ecossistemas.

Eixo Temático II - Política e Emancipação: Estado e Sociedade.

EMENTA: Análise das mudanças conceituais de política, assim como a concepção de Estado como uma criação histórica, compreendendo seu desenvolvimento a partir da sociedade de classes, possibilitando na sociedade atual examinar a superação da cidadania dentro do neoliberalismo em direção à emancipação humana no diálogo com os direitos humanos.

Principais conceitos a serem desenvolvidos no eixo:

Estado, Poder, Política, Políticas Públicas, Ética, Trabalho, Cidadania e Neoliberalismo, Sociedade de Classe, Democracia, Emancipação Humana, Direitos Humanos.

Eixo Temático III - Questão agrária e Organizações Sociais do Campo.

EMENTA: Compreensão da questão agrária no processo histórico do país com o desenvolvimento político-econômico das forças produtivas da colonização aos dias atuais, com a introdução do problema agrário no Brasil. Discute-se o surgimento das grandes propriedades, a legislação, o agronegócio, as políticas oficiais, e suas implicações na atual realidade brasileira, considerando as diferentes organizações sociais do campo com o reconhecimentos dos sujeitos históricos e seus modo de vida e de atuação. Dá-se ênfase a uma nova matriz tecnológica de base agroecológica.

Principais conceitos a serem desenvolvidos no eixo:

Questão Agrária, Forças Produtivas, Propriedades, Organizações Sociais do Campo, Matriz Tecnológica.

Eixo Temático IV - Cultura e Territorialidade.

EMENTA: Discussão sobre diferentes conceitos de cultura, seus lugares de produção e o olhar que eles possibilitam sobre o campo. Refletir sobre as possibilidades de construção identitária a partir da dimensão cultural em que o indivíduo se insere. Neste sentido, propõe-se construir entendimento de territorialidade a partir de uma dimensão espacial, cultural, econômica e identitária.

Principais conceitos a serem desenvolvidos no eixo:

Cultura, Identidade e Territorialidade.

Fonte: Caderno Das Orientações Didático-Metodológica – ODM – elaborado pela equipe Técnica-Pedagógica da GEPEC/SEE- PE em 2014.

O ato de conhecer a EJA CAMPO-PE para melhor compreender e intervir, instiga- nos a curiosidade epistemológica, a reflexão crítica, na perspectiva de fundamentar nosso ideal-real, a formação de docentes dessa modalidade de ensino, a partir da apreensão do saber docente que se articula com o campo da Educação do Campo, subsidiando-nos a (re)formular nossos posicionamentos, concepções, contribuições. O desvelado, o revelado aqui, sobre formação dos docentes da EJA CAMPO-PE, enuncia questões que contribuem não só para compreensão como também permitem mapear e visualizar o que ainda precisa ser mais

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aprofundado, investigado, questionado para desvelar o ainda oculto, nesse processo de formação de professores da EJA CAMPO-PE no campo do saber docente.

O confronto com toda essa gama de conhecimento produzido sobre o que os sujeitos educativos e político SEE/GEPEC se propõem a realizar na formação de professores da modalidade EJA CAMPO-PE provocam questionamentos sobre: Qual a cointencionalidade da SEE/GEPEC no espaço da prática formativa com professores para atuarem na modalidade educação de jovens e adultos no contexto do campo, de uma perspectiva da responsabilidade política e social diante do já revelado? Pois processos de formação de professores sejam do campo ou da cidade devem praticar uma ação educativa cointencional. Onde os sujeitos políticos envolvidos (aqui GEPEC-SEE/PE, professores, Movimentos Sociais do Campo grifo meu) tendem para a realidade (aqui formação de professor da EJA CAMPO-PE) como sujeitos, e isto não só para “des-ve-lar” – e, portanto conhecê-la de maneira crítica –, mas para recriar, reprogramar, replanejar este conhecimento da realidade, descobrem-se cocriadores, recriadores permanentes (FREIRE, 1980). A anunciação dessas reflexões é o chamamento à responsabilidade e conscientização do que estamos a fazer, com quem? E para quê?

O atual momento político do país é extremamente grave para toda a sociedade, agrava-se ainda mais o contexto de retrocessos para a Educação do Campo. É necessário a articulação de ações para que seja possível a resistência para o já conquistado e a persistência em lutar, pela Educação do Campo e por proposta de formação de professores com qualidade.

Momento, também, que apresenta (re)configuração dos sujeitos campesinos (STRECK, 2013), que exige compreensão alargada sobre as identidades desses sujeitos e da concepção de campo e de trabalho no campo, consequentemente, de Educação de Jovens e Adultos para o contexto do campo com Projeto Político Pedagógico, Proposta de formação de Professores e uma Prática Pedagógica específica e consciente dessas mudanças. Pois está em andamento um importante processo de visibilização de sujeitos e narrativas ocultas, embora eles sempre tivessem existido na clandestinidade (STRECK, 2013).

Além de entender que um processo formativo que se edifica em bases críticas e libertadora deve conduzir os sujeitos envolvidos à superação do nível de consciência ingênua para uma consciência crítica, é preciso começar a questionar, problematizar nos espaços de formação e nas rodas de conversas a importância dos princípios e fundamentos da Educação Popular, com o objetivo da reflexão crítica sobre a prática docente e da compreensão de que a educação é uma forma de intervenção no mundo, princípios que se tornam pressupostos fundamentais para professores que pretendem ou que já atuam na educação do campo.

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Este estudo trata do encontro dos campos da educação e dos saberes da formação docente que compõem uma relação complexa e ilimitada. O sentido e o conceito de ambos englobam uma grande diversidade de termos que foram, ao longo do tempo, modificando-se conforme as demandas da sociedade. No primeiro, no sentido alargado educação seria um processo humanizante, social, político, ético, histórico, cultural (FREIRE, 1996). Já a formação, técnica, seria um mero exercício reprodutor de fazeres e ações externas aos sujeitos de uma dada realidade/contexto, processo não dialógico, não reflexivo da prática docente que, considerando apenas a perspectiva técnica da formação, separa e fragmenta a realidade da práxis valorizando apenas a tecnologia da prática, seu observável, seu aparente, o visível.

Num sentido alargado, o processo formativo pode também oferecer esses elementos tão presentes na educação – desde uma perspectiva dialética da conscientização – que transforma a consciência ingênua em consciência crítica (FREIRE, 1980). Daí realçasse a necessidade da consideração do caráter dialético das práticas de formação docente no sentido de se considerar que as subjetividades constroem realidade e esta se modifica por meio da interpretação coletiva. Por sua vez, individualmente ou relacionados, esses dois campos, educação e formação docente, ao longo do tempo, foi alimentando uma série de investigações de bases teórico-analíticas em diferentes áreas do saber como, por exemplo, a sociologia, a filosofia, a pedagogia, a psicologia, as artes e a comunicação, que buscam, enquanto ciência analisa-las a fim de compreendê-las.

No segundo, identificar os saberes apreendidos pelos professores da EJA CAMPO em processo de formação continuada da GEPEC, momento fundamental de suas trajetórias como docentes para as escolas do campo. É um passo muito importante no processo de construção pessoal e profissional que a investida proporciona-me como docente-pesquisadora.

Por isso, as teorizações sobre Educação, Educação do Campo, Educação Popular, Educação de Jovens e Adultos, saberes docentes e formação de professor contribuíram para que tomasse meu próprio ambiente de trabalho como uma fonte de pesquisa. Adotei como norte a minha própria experiência profissional de professora-formadora, pois desde que me tornei professora venho desenvolvendo, junto às populações dos campos, práticas de formação na perspectiva do aprender-ensinar. Por considerar formação como algo mais que repasse de técnicas e conteúdos e saberes mais que repetição de atitudes, a partir dessa compreensão, busquei possibilitar aos sujeitos em processo formativo e a mim algo que pudesse (re)significar nossas vidas e os contextos social, político, econômico e cultural nos quais estamos inseridos. O gosto e o compromisso com a formação docente, com os formandos e enquanto formadora passa pelas vivências, pelas orientações, pelos desafios

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pedagógicos em compreender os ritmos e ainda pelas limitações do raciocínio teórico e do raciocínio prático na prática do fazer docente.

As reflexões e as atividades práticas junto a esses sujeitos-educadores possibilitam a ampliação de uma vivência que alimenta e retroalimenta o pensar e o fazer docente. Elas trazem a esperança de uma prática educativa constituída por elementos do saber docente que promove a “conscientização” dos sujeitos do campo da necessidade de lutar por seus direitos, e um desses é o direito à Educação específica em todos os níveis e modalidades. É o que se vislumbra dos saberes apreendidos pelos professores da EJA CAMPO no processo formativo da GEPEC, enquanto processo formativo de professores que se propõem a atender às necessidades educacionais de uma classe trabalhadora. Processo formativo que deve buscar, nos princípios da Pedagogia de Paulo Freire, a compreensão de humanização como sendo uma grande conquista política a ser efetivada por práticas educativas humanizadoras, na luta ininterrupta a favor da libertação das pessoas e de suas vidas desumanizadas pela opressão e dominação social.

Nossas reflexões nesse anunciar não tem o propósito de julgar/desqualificar essa ação formativa de professores da EJA CAMPO-PE que vem sendo executada pela SEE-PE através da GEPEC com sua equipe técnica. É por fazer parte dessa realidade que, enquanto sujeito educativo dessa equipe e pela curiosidade epistemológica que nós move, além das articulações com outros sujeitos em espaços de formação de professores do campo, andanças e articulações que exigem de nós a reflexão crítica sobre nossa prática de professora- formadora de docente dessa realidade, a do campo.

Não se trata só de gestionar a prática pedagógica da GEPEC, buscando identificar suas fragilidades e suas lacunas. É, mais que isso. É de valorizar, de ressignificar o já experienciado junto com os sujeitos na direção de uma análise crítica sobre os avanços desse fazer educativo e seus “fracassos”, de uma perspectiva do “saber ouvir” para juntos nos fortalecermos através de um processo de (re)construção, de (re)organização e da reflexão- sobre-ação de nossos procederes de uma dimensão individual e coletiva, partindo do aprender a aprender.

Quando nos referimos ao termo “fracasso” não o concebemos no sentido pejorativo de ruína ou mesmo mau êxito, mas como elemento que anuncia ser preciso rever o processo – de qualquer natureza – de reavaliar não só os procedimentos metodológicos e organizativos, mas considerarmos todas as variáveis internas e externas do processo que influenciam em sua dinâmica sistêmica.

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Por isso, o que aspiramos com esse estudo não é apontar fracassos ou outra coisa, mas buscar possibilidades de melhoria, para que juntos possamos lutar pela consolidação de mudanças significativas na prática pedagógica da GEPEC que venha assegurar no processo formativo momentos de avaliação crítica sobre o que estamos a fazer e como estamos fazendo a formação desses profissionais docentes aí envolvidos, na perspectiva de gerir maior compromisso social e político na instituição formadora (no nosso caso SEE-PE/GEPEC) e que esse proceder seja ético não só com a formação no nível de graduação de docentes (IES), mas, também, em nível de formação continuada/capacitação/qualificação com as secretarias municipais e estaduais e, com aquele sujeito-professor-popular “usado” temporariamente para responder às dívidas sociais.

Instigando em nós a construção, a argumentação e a defesa desse estudo como um construto de cunho epistemológico e de uma prática pedagógica formativa comprometida com o processo de libertação, humanização, respeito às realidades territoriais e às subjetividades dos protagonistas envolvidos a partir de uma relação dialógica entre nós, técnicos da GEPEC- SEE/PE, os professores do campo, as IES, os Movimentos Sociais do Campo para a construção de saberes e fazeres a serem materializados nas práticas educativas.

Assim, a pesquisa intitulada Os Saberes da F de Professores da Educação de Jovens e Adultos do Campo do Estado de Pernambuco sobre EP e EdoC na perspectiva de materializar os objetivos que norteiam o estudo tendo como objetivo geral identificar e analisar os saberes dos docentes acerca da Educação do Campo e da Educação Popular e sua materialização na prática docente. E, como objetivos específicos: 1- Identificar os princípios e fundamentos político-filosóficos da Educação do Campo e da Educação Popular presentes na formação da GEPEC; 2- Identificar os saberes apreendidos pelos docentes da EJA CAMPO/PE a partir da formação de origem e formação continuada da GEPEC e; 3- Analisar a relação de saberes entre o apreendido na formação e sua materialização na prática docente; 4- Contribuir para a reflexão crítico-social da prática de formação docente a partir de saberes necessários para a atuação docente em EJA (CAMPO).

Nesse processo de reflexões para o desenvolvimento e argumentação desta tese, encontraremos proposições para o seguinte problema de pesquisa: Quais saberes do professorado da EJA CAMPO/PE apreendidos na formação da GEPEC? Nossa hipótese fundamenta-se na ideia de que se os conteúdos educativos da formação inicial dos professores são a compreensão, interpretação e explicação das situações vividas no cotidiano dos sujeitos, suas expressões nas linguagens verbais, matemáticas e artísticas, ganham materialidade nos espaços de formação e, que a formação continuada da GEPEC contribui para a

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fundamentação político-social da prática docente. A pesquisa anuncia como objeto analisar o processo de Formação continuada de Professores da EJA CAMPO/PE buscando apreender os saberes adquiridos no processo de formação. A tese é: Se os saberes adquiridos na formação continuada de professores da EJA CAMPO/PE favorecem uma prática educativa coerente com os princípios e fundamentos da EP e da EdoC? Todos esses elementos, relacionados com as experiências dos Movimentos Sociais do Campo e da GEPEC-SEE/PE com formação de professores pautada no desenvolvimento de trabalhos que assegurem as especificidades de cada interlocutor, onde os princípios, fundamentos e concepções da Educação do Campo devem projetar perspectivas libertadoras e humanizantes, pois são princípios que alicerçam processos formativos de professores que pretendem ou que já atuam nas escolas do campo.

Como resultado, a tese refuta a partir do que foi dito pelos sujeitos pesquisados, que há apreensão de saberes no campo dos saberes apresentados pelos autores do campo do saber, e saberes para além desses que respondem aos objetivos geral e específicos formulados anteriormente, saberes como: Sujeitos do campo e sua relação com a terra, agricultura familiar camponesa e agronegócio, identidade camponesa, o saber interdisciplinar, currículo integrado, pedagogia da alternância; Meio ambiente/cultura/agroecologia, planejar atividades dentro dos eixos temáticos voltados para cada realidade, saberes relacionados cultura e realidade da comunidade quilombola; O respeito pela terra e pela natureza, prática emancipadora que visa á transformação social, Educação libertadora/ contextualizada aos saberes populares, prática voltada ao homem do campo e suas especificidades, trabalhar a história da comunidade, prática pedagógica interdisciplinar e multidisciplinar, planejamento, pesquisas.

Porém, reforçamos que é necessário o aprofundamento epistemológico dos princípios e fundamentos político-filosóficos e metodológicos que embasam a concepção da Educação Popular e da Educação do Campo, agregando a esses os elementos que constituem os eixos temáticos e o eixo articulador, como os conceitos, as concepções que as ementas anunciam e, os elementos que constituem a Pedagogia da Alternância, ou seja, o regime de alternância dos tempos e espaços de aprendizagens no Tempo Escola (TE) e no Tempo Comunidade (TC).

Assim possibilitando melhor compreensão e apropriação aos professores da EJA CAMPO desse fenômeno social em construção, chamado Educação do Campo, compreensão que anuncia os saberes apreendidos pelos professores para o exercício da pratica docente no contexto da educação do campo.

As contribuições, acadêmicas deste trabalho se assentam na possibilidade de ressignificar a prática educativa da GEPEC-SEE/PE com formação de professores da

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modalidade da EJA CAMPO, tomando como ponto de partida as necessidades do aprofundamento epistemológico dos aspectos político-filosófico da Educação Popular e da Educação do Campo e de saberes apreendidos e anunciados pelos professores das escolas do campo do Estado de Pernambuco.

O caminho metodológico acolhido é o da abordagem qualitativa, de natureza participante, porque busca compreender os fenômenos sociais, descreve a complexidade, analisa as interações e classifica o processo dinâmico de um determinado grupo (RICHARDSON, 2003). Para tanto, tomaremos como referência o pensamento de Paulo Freire – o qual é ancora epistemológica de nossas reflexões e de nossos posicionamentos nesse estudo - e os estudos sobre Educação do Campo enriquecida e acrescida de reflexões engendradas a partir da interlocução, principalmente, com; Roseli Caldart (2004; 2011), Danilo Streck (2003), Paulo Freire (1980; 1987; 1992; 1996; 1997), Roberto Richardson (2003), Mônica Molina (2011, 2014; 2015; 2017), João Francisco de Souza (2009), Salomão Hage (2018; 2016), Clermont Gauthier (1998) e Maurice Tardif (2002) com a finalidade de fundamentar as categorias de análise de educação popular; educação do campo; e saberes da prática docente.

Para tanto, este trabalho se apresenta na seguinte sequência: Introdução apresenta as motivações para desenvolver um estudo sobre os saberes dos professores da EJA CAMPO-PE apreendidos na formação da GEPEC, breve histórico do que é a EJA CAMPO-PE e, anuncia também: os objetivos, o tema, o objeto de pesquisa, o problema de pesquisa, os capítulos, a hipótese, a tese que instiga essa pesquisa, a abordagem metodológica, os resultados, as contribuições e, a malha teórica que fundamenta este estudo. O primeiro capítulo apresenta elementos históricos da Educação Popular (EP), da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e da Educação do Campo (EdoC), com subitens .1.1- Da Educação Rural a Educação do Campo;

1.2- As Lutas por Uma Educação do Campo. O segundo capítulo sobre Formação de Professores e Prática Pedagógica Interfaces de Saberes; subitens: 2.1- Prática Pedagógica e à realidade sociocultural do campo para a Formação de Saberes; 2.2- Formação Docente, Prática Pedagógica no contexto da EJA CAMPO-PE. No terceiro capítulo apresentamos a Metodologia e os Dados da Pesquisa; 3.1- Tipo de pesquisa; 3.2- Lócus da pesquisa; 3.3- Os sujeitos da pesquisa; 3.4- Procedimentos de coleta de dados; 3.5- Procedimento de análise dos dados. No quarto capítulo, apresentamos os Resultados: 4.1- Princípios da Educação Popular e da Educação do Campo presentes na formação e na prática; 4.2- Experiência da UnB com formação de professores do campo: propomos conhecer essa estratégia de formação. No quinto capítulo, Considerações Finais que anuncia os saberes apreendidos pelos professores

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da EJA CAMPO-PE no processo de formação da GEPEC, saberes que servirão de base para a materialização da prática docente nas escolas do campo.

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1 CAPÍTULO I ELEMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO POPULAR (EP), EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) E DA EDUCAÇÃO DO CAMPO (EdoC)

1.1 DA EDUCAÇÃO RURAL A EDUCAÇÃO DO CAMPO

Registra a história que em de janeiro de 1947, foi aprovado o plano para a criação da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), foi a primeira grande ação do governo em prol da educação que se caracterizou por uma atividade de massa. A intenção era acabar com o analfabetismo, que era como uma doença crônica, um elemento destoante na sociedade. Lourenço Filho (MARINHO, 2008, p. 83) assim se pronuncia a respeito do analfabetismo:

Devemos educar os adultos, antes de tudo, para que esse marginalismo desapareça, e o país possa ser mais coeso e mais solidário; devemos educá- -los para que cada homem ou mulher melhor possa ajustar-se à vida social e às preocupações de bem-estar e progresso social. E devemos educá-los porque essa é a obra de defesa nacional, porque concorrerá para que todos melhor saibam defender a saúde, trabalhar mais eficientemente, viver melhor em seu próprio lar e na sociedade em geral.

Dentro do espírito de erradicação do analfabetismo que reinava nos primeiros anos da década de 1960 no país, o presidente Jânio Quadro instituiu a Mobilização Nacional contra o Analfabetismo, que incorporava os serviços da Campanha de Educação de Adulto, de Educação Rural, de Merenda Escolar, de Extensão da Escolaridade, de Educação Complementar de Erradicação do Analfabetismo e de Construção de Prédios Escolares.

Nessa mesma década em Recife, artistas, estudantes e intelectuais se aliaram aos esforços da prefeitura do Recife para criar o Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (MCP), cujo objetivo era combater o analfabetismo e procurar elevar o nível cultural do povo.

Esse movimento utilizava a arte como forma de expressão crítica da realidade social brasileira. Em 1961, começa a se espalhar por todo o país os CPC (Centros Populares de Cultura), que contavam com o apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE).

A grande novidade da década de 1960 foi o método Paulo Freire, que se desenvolveu no seio do Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, foram criados os “círculos de estudos” e os centros de cultura nos quais Paulo Freire pôde colocar em prática sua teoria. Em 1960, 15 milhões de nordestinos viviam na “cultura do silêncio”, isto é, não sabiam nem ler e

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nem escrever, estamos em 2018 e essa cultura do silêncio atinge não só os nordestinos, mas a todo país e a geração dos “nem-nem”, nem trabalham nem estudam. Para Bimbi (apud MARINHO, 2008), que prefaciou a edição italiana do livro “Pedagogia do Oprimido”, a originalidade do método Paulo Freire se encontrava na forma como seus conteúdos são trabalhados para conscientizar, talvez residindo aí a eficácia do método.

As propostas da época de 1960 emanadas da esfera da sociedade civil, para a educação da zona rural reconhecem o trabalho da FIDENE (Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Nordeste do Estado), com sua proposta de intervenção pedagógica e programas específicos e a criação de institutos de educação como o IEB (Instituto de Educação de Base) e o IEP (Instituto de Educação Permanente). Dentre os programas, havia a ASSESSORIA AOS SINDICATOS RURAIS – A EDUCAÇÃO COOPERATIVA – O PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA RURAL – TRABALHOS COM PROFESSORES RURAIS – O PROGRAMA DE SAÚDE POPULAR.

Outra ação que faz parte desses programas específicos é o MEB (Movimento de Educação de Base), idealizado por D. Eugênio Sales, fruto do pensamento social da Igreja Católica, sua expansão se dá a partir de 1963 transformando-se em movimento nacional. Com a visão de um homem integral, a Igreja decide cooperar outra vez e apresenta seu objetivo da seguinte forma:

O MEB tem por fim prestar ampla assistência educacional, desenvolvendo programas de Educação de Base para adolescentes e adultos no Norte, Nordeste, Centro-Oeste e em outra área em desenvolvimento no país, através de sistema radio-educativo, tele-educativo e outros meios julgados necessários ao seu fim, podendo, também, prestar serviços subsidiários para o povo em geral, sem distinção de espécie alguma, sempre, porém, sem prejuízo de suas finalidades precípuas (MEB, ESTATUTO, Art. 2º apud MARINHO, 2008, p. 135).

Outra iniciativa da década de sessenta foi a Cruzada ABC (Ação Básica Cristã), cujo objetivo era alfabetizar as pessoas dentro de uma dimensão antropológica. A iniciativa partiu de um grupo de professores do Colégio Evangélico Agnes Erskine, de Pernambuco, em 1962.

No entusiasmo da CEAA surgiu a CNER (Campanha Nacional de Educação Rural). A Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), ao ser apresentada em 1948 na II Conferência Geral da UNESCO em Beirute, motivou a realização em 1949 do Seminário Interamericano de Educação no Brasil, pois havia o desejo de conhecer melhor a proposta brasileira de educação de massa. Seguindo as orientações do seminário, a primeira iniciativa

Referências

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