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Moldam-se as plantas pela cultura, e os homens pela educação. Se o homem nascesse grande e forte, a estatura e a força ser-lhe-iam inúteis até que tivesse aprendido a servir-se delas; ser-lhe-iam prejudiciais, pois impediriam que os outros pensassem em socorrê-lo e, entregue a si mesmo, morreria de miséria antes de ter conhecido suas necessidades. Queixamo-nos da condição infantil e não vemos que a raça humana teria perecido se o homem não tivesse começado por ser criança. Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos carentes de tudo, precisamos de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer e de que precisamos quando grandes nos é dado pela educação. Essa educação vem-nos da natureza ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e a aquisição de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas. (ROUSSEAU, 2014, p. 8, 9)

Rousseau justifica sua teoria de educação mostrando a carência dos seres humanos ao nascerem. As crianças não detentoras das forças e juízo precisam ser educadas de acordo com suas necessidades, e essa educação aconteceria a partir do nascimento. A natureza instrui, inicialmente através das impressões do ar e da água, o tônus dos músculos da criança e adapta seu corpo aos obstáculos do ambiente. Esse direcionamento, ainda que passivo, é capaz de instruir o bebê a respeito do mundo que o rodeia.

Uma recomendação feita pelo autor remete à mitologia de Aquiles, em que a criança é mergulhada no Estige a fim de proteger seu corpo contra os males ocasionados ao longo da vida. Através dessa metáfora, Rousseau explicita o quanto se faz necessário um trabalho pedagógico voltado para o fortalecimento do tônus e estrutura muscular das crianças, a fim de protegê-las para os percalços que enfrentarão ao longo da vida. Rousseau não se atém apenas a uma menção escrita a essa mitologia, mas enuncia através de uma ilustração inserida no Emílio. Nesta obra, o discurso imagético compõe com o texto as prescrições e recomendações para a instrução do infante.

Figura 6: “Tétis, para tornar seu filho invulnerável, o mergulha, diz a fábula, nas águas do Estige”

No Emílio, desenvolve-se um movimento em que não só a natureza é resgatada como educadora, mas também o corpo e as sensações são objetos e instrumentos para essa formação. Rousseau apresenta, assim, duas inovações em seu tratado pedagógico. Primeiro ele expõe a natureza como mestra da educação de Emílio e propõe uma pedagogia voltada tanto para a mente quanto para o corpo, já que somente esses dois aspectos seriam capazes de formar um homem pleno. Em seguida, o autor apresenta o corpo como o primeiro objeto da educação, ou seja, o corpo é visto como passível de educação e não somente sujeito às correções médicas. Estes dois elementos, o corpo e a natureza, configuram Rousseau como um precursor das teorias de educação corporal. Ele afirma que se

quereis, então, cultivar a inteligência de vosso aluno; cultivai as forças que ele deve governar; exercitai de contínuo seu corpo; tornai-o robusto e sadio, para torná-lo sábio e razoável; que ele trabalhe, aja, corra e grite, esteja sempre em movimento, que seja homem pelo vigor, e logo será pela razão.

Vós o embruteceríeis, é verdade, com esse método, se sempre dirigísseis, se sempre lhe dissésseis: vai, vem, fica, faz isso, não faças aquilo. Se vossa cabeça sempre conduzir seus braços, a dele, tornar-se-á inútil. Mas lembrai-vos de nosso trato: se sois apenas um pedante, não vale a pena ler- me.

É um erro muito lamentável imaginar que o exercício do corpo prejudique as operações do espírito, como se essas duas ações não devessem combinar e uma não devesse sempre dirigir a outra! (ROUSSEAU, 2014, p.137)

A prevalência de uma educação corporal em detrimento a outra puramente intelectual pauta-se na percepção de que cada momento da vida demanda ensinamentos específicos que não podem ser invertidos. As forças e o corpo precisariam estar educados e desenvolvidos para que o intelecto possa ser trabalhado com melhores condições. Rousseau concebe que ambos são necessários para a formação humana, por isso os exercícios do corpo assumem tanta importância quanto ao trabalho reflexivo. Ele expõe que:

Se até aqui me fiz entender, deve-se compreender, como o hábito do exercício do corpo e do trabalho manual, dou imperceptivelmente ao meu aluno o gosto pela reflexão e pela meditação [...]. É preciso que ele trabalhe como um camponês e pense como um filósofo, para não ser tão vagabundo como um selvagem. O grande segredo da educação é fazer com que os exercícios do corpo e os do espírito sirvam sempre de descanso uns para os outros (ROUSSEAU, 2014, p. 273-274)

O corpo, para Rousseau, é um dos elementos constitutivos do ser humano e o domínio das forças, que só pode ser adquirido por meio da educação, é um dos pilares da teoria de educação presente no Emílio. De acordo com o autor, percebe-se um status mais elevado dos conhecimentos ligados às práticas corporais que colocam à mostra um conceito de corpo além da noção de revestimento. Na obra, tal elemento é concebido como mais do que um receptáculo para o espírito, ele é o instrumento pelo qual a aprendizagem se configura desde o nascimento. O corpo detém uma linguagem que se expressa através dos gestos e das sensações, assim é visto como a primeira forma de comunicação com o mundo e por isso possui uma grande importância na proposta pedagógica apresentada por Rousseau. A teoria de educação apresentada no Emílio evoca dois momentos distintos de usos do corpo: um em que a natureza comandaria e que as percepções seriam apreendidas pelas impressões causadas pelos elementos do mundo natural; outro em que o intelecto e a razão influenciam e auxiliam em uma descoberta da natureza e do mundo a partir das experiências corporais. Nestes dois períodos, o corpo encontra-se em evidência no processo de educação; sendo assim, as prescrições trabalhariam com a instrução do corpo através da natureza salvaguardando as especificidades de cada momento de aprendizagem. No Emílio, o homem da natureza é educado a partir de suas forças e de seu intelecto, sendo que as forças, logo o corpo, precisam ser trabalhadas anteriormente à razão, justamente para possibilitar um desenvolvimento mais aprofundado na exploração do mundo. Rousseau determina que o primeiro momento conduzido pela natureza está compreendido desde o nascimento até os doze anos. Nessa fase, o discípulo ainda é muito novo para se comunicar verbalmente, então, faz uso do corpo para expressar-se e aprender. O segundo, auxiliado pela razão, seria a partir dos doze anos até a maioridade e, nesse período, o discípulo de Rousseau já faz uso da linguagem verbal, mas mantém seu aprendizado atrelado à experiência da natureza. Emílio é educado a conhecer e explorar o mundo e suas ideias, assim como a desenvolver seu juízo na medida em que vivencia na natureza, os fenômenos e reflete sobre os mesmos. A

diferença entre esses dois momentos estaria na relação que o aluno estabelece com seu preceptor, nos ensinamentos apresentados para uma educação do corpo e nos conteúdos que são ensinados pela natureza.

A fase inicial da vida, que compreende as duas infâncias, tem a natureza física como elemento direto dos ensinamentos de Emílio. Todas as lições pautam-se nas experiências que o discípulo absorve do espaço em que se encontra. Nesse momento, o papel do preceptor está mais associado ao cuidado com a criança e a maior parte da educação nesta fase está pautada no fortalecimento corporal e no refinamento dos sentidos. Rousseau (2014, p. 51) explica que

No início da vida, quando a memória e a imaginação ainda estão inativas, a criança só presta atenção ao que realmente atinge seus sentidos; sendo as sensações os primeiros materiais de seus conhecimentos, oferecê-las numa ordem conveniente é preparar sua memória para um dia apresentá-las na mesma ordem ao entendimento.

Ao analisar as prescrições de Rousseau sobre o refinamento dos sentidos, percebemos uma grande semelhança ao discurso de outro pensador iluminista. As definições apresentadas no Emílio remetem-se, mesmo que sem a citação direta, ao discurso de Etiènne Bonnot Condillac33 (1715-1780). Este teórico escreveu em 1754 Tratado das Sensações, obra na qual explica de maneira pormenorizada como acontece o processo de aprendizagem para cada um dos sentidos. Para Condillac (1993, p.56) “A natureza nos dá os órgãos, para nos advertir, através do prazer, sobre aquilo que devemos buscar e, através da dor, sobre aquilo que devemos fugir. Mas ela se detém por aí; e deixa à experiência o encargo de nos fazer contrair os hábitos, e concluir a obra que ela começou”.34 Esta concepção de uma aprendizagem pela dor e pelo prazer também é apreendida por Rousseau (2014, p. 49) quando afirma:

33 Etiènne Bonnot Condillac foi um filósofo francês contemporâneo a Rousseau que expôs em sua obra Tratado das Sensações (1754) a reconstrução do mundo, do conhecimento partindo unicamente das sensações, uma vez que para este autor as sensações seriam o elemento simples e último do conhecimento. (ABBAGNANO, 2003)

34 Texto original: “La nature nous donne des organes, pour nous avertir par le plaisir de ce que nous avons à rechercher, et par la douleur de ce que nous avons à fuir. Mais elle s’arrête là ; et elle laisse à l’expérience le soin de nous faire contracter des habitudes, et d’achever l’ouvrage qu’elle a commencé.”

As primeiras sensações das crianças são puramente afetivas, elas só percebem o prazer e a dor. Não podendo nem andar, nem pegar, elas precisam de tempo para formar aos poucos as sensações representativas que lhes mostram os objetos exteriores a elas. Mas, enquanto esperam que estes objetos se estendam, se afastem, por assim dizer, de seus olhos, e tomem para elas dimensões e figuras, o retorno das sensações afetivas começa a submetê-las ao império do hábito.

Ambos os autores concebem que a educação dos sentidos antecede a educação das ideias e, por isso, é necessário que o homem aperfeiçoe o uso deles através da educação. Rousseau (2014, p. 160) explica que "exercitar os sentidos, não é apenas fazer uso deles, mas aprender a bem julgar por assim dizer, a sentir; pois nós não sabemos nem tocar, nem ver nem ouvir, a não ser da maneira como aprendemos." Os sentidos constituem-se, assim, como instrumentos de conhecimento e apreensão do mundo e, a partir deles, o homem pode interagir com o ambiente, explorar a natureza e aprender o que lhe é necessário para sobreviver.

Tanto Condillac como Rousseau prezam por uma educação voltada para os sentidos e o corpo. Se por um lado no Tratado das Sensações é proposto a construção imaginária de uma estátua dotada de vida, mas carente de qualquer tipo de ideia; no Emílio é construído um discípulo imaginário educado apenas de acordo com os preceitos advindos da natureza, que são trabalhados de modo paulatino pelo preceptor. Esses dois autores estabelecem parâmetros fictícios que lhes permitem expor, de maneira, clara suas teorias de educação. Rousseau determina todas as características de seu discípulo, inclusive a constituição corporal, pois é relevante que o aluno seja capaz de realizar tudo o que lhe for proposto; ele deve ter um corpo saudável e robusto já que:

É preciso que o corpo tenha vigor para obedecer à alma: um bom servidor deve ser robusto. Sei que a intemperança excita as paixões; extenua também o corpo com o tempo; as macerações, os jejuns, produzem amiúde os mesmos efeitos por uma causa oposta. Quanto mais fraco o corpo, mais ele comanda; quanto mais forte mais obedece. (ROUSSEAU, 2014, p.34)

O vigor corporal é um elemento que integra a educação, uma vez que um aluno vigoroso pode ser exposto aos diversos ambientes e práticas sem perigo que se machuque.

Somente com uma educação do corpo o discípulo de Rousseau é capaz de desenvolver suas forças, que serviriam como base para os demais aprendizados. Alguns direcionamentos a respeito do fortalecimento corporal são por ele expostos: “Para fortalecer o corpo e fazê-lo crescer, a natureza dispõe de meios que nunca devemos contrariar [...] Eles devem pular, correr, gritar quando têm vontade. Todos os seus movimentos são necessidade de sua constituição, que procure fortalecer-se” (ROUSSEAU, 2014, p.83).

As prescrições de práticas corporais foram concebidas no Emílio como um direcionamento da natureza para educar os seres humanos; a própria condição física das fibras musculares nas crianças é passível de ser educada a partir do contato com os elementos da natureza. Inicialmente, esses ensinamentos são passivos e o discípulo aprenderia, a partir das impressões sensíveis, a suportar todas as intempéries e obstáculos do mundo natural. Rousseau ressalta a maleabilidade e capacidade de adaptação física das crianças, como uma capacidade que deveria ser trabalhada pela educação. O corpo deveria ser fortalecido para suportar a natureza, pois segundo o autor:

Contanto que não se ultrapassem as medidas de suas forças, arrisca-se menos ao fazê-las agir do que ao poupá-las. Exercitai-a, pois, para os golpes que um dia terão que suportar. Enrijecei seus corpos para as intempéries das estações, dos climas, dos elementos, para a fome, para a sede, a fadiga; mergulhai-as nas águas do Estige35 [...]. Uma criança

suportará mudanças que um homem não suportaria; as fibras da primeira, moles e flexíveis, tomam facilmente a forma que lhes damos; as do homem, mais duras, só com violência mudam a forma que receberam. Podemos, portanto, tornar uma criança robusta sem expor sua vida e sua saúde; (ROUSSEAU,2014, p.24)

A concepção apresentada por Rousseau sobre educação das fibras musculares denota um conhecimento sobre a ciência médica, que emerge a partir do século XVIII, cujo cerne encontra-se na constituição do corpo pelas fibras musculares e no trabalho de fortalecimento das mesmas. Vigarello (1993, p.170) aponta que:

35 Rio da Invulnerabilidade no qual de acordo com a Mitologia Grega, Tétis mergulha seu filho Aquiles pelo calcanhar. Tornando-o capaz de suportar todas as adversidades que lhes forem impostas pelo mundo. Contudo, como foi segurado na junção do pé com a perna, ficou com essa pequena parte vulnerável, exatamente porque ela não fora tocada pela água.

As práticas educativas finalmente resumem as expectativas em relação à resistência no século XVIII. Elas dão-lhes seu pleno sentido: o investimento no aperfeiçoamento no futuro. [...]. Uma área completamente nova de preocupação surge com esta perspectiva de fortalecimento: enfatiza a ação precoce das fibras, luta desde a primeira infância contra as carnes tenras e fracas dos nervos.36

Georges Vigarello37 (2004) afirma que as obras médicas voltadas para a infância nos séculos XVI e XVII eram portadoras de um discurso parcialmente pedagógico, elas serviam como guia de cuidados para os pais. A medicina da infância, nesse momento, estava voltada principalmente para prescrições sobre alimentação, sono e cuidados físicos, já os exercícios e a retidão corporal eram abordados de maneira breve e inseridos numa concepção normativa de gestos que integrariam o contexto pedagógico. Vigarello expõe as modificações a respeito da discussão do corpo que se sedimentam no século XVIII, segundo este autor:

No entanto, a ortopedia de Andry38, inaugura em 1741, aproximações por

vezes mais precisas e mais conscientes. Elas tendem, finalmente, a renovar a pedagogia da postura [...]. As abordagens para a correção do corpo conhecem o seu primeiro livro específico, e a infância é o centro.39

(Vigarello, 1978, p.79)

36 Texto original : « Les pratiques éducatives, enfin, résument les attentes d’endurcissement au XVIIIe siècle. Elles leur donnent même tout leur sens : l'investissement dans le perfectionnement et le futur. […] Une espace totalement neuf de préoccupation apparaît avec cette perspective de renforcement : mise en action précoce des fibres, lutte dès le premier âge contre les chairs tendres e faiblesses des nerfs. »

37 As discussões apresentadas a respeito da história do corpo estão amparadas nos estudos de Vigarello (2004, especialmente no capítulo: Un corp qui se redresse, pp. 17- 57.) E os apontamentos referentes à noção de educação do corpo estão assentados nas pesquisas de Soares que discorrem largamente sobre aspectos históricos relativos às pedagogias que envolvem o corpo e também a respeito das particularidades de uma educação corporal junto a natureza. No verbete Educação do Corpo (Soares, 2014) é explanada a polissemia do discurso em torno da educação do corpo tal como as múltiplas influências que estão inseridas nessa pedagogia e compreendendo que “as higienes; as técnicas de embelezamento; as ginásticas; o esporte; os lazeres ativos; os regimes alimentares; as roupas; os adornos, de um modo geral, podem ser apreendidos como educação”. (SOARES, 2014, p.219). No Emílio, Rousseau concebe desde as vestimentas; a alimentação; e as práticas corporais como instrumentos de educação de seu discípulo. Educar o corpo estaria pautado em vivenciar e experimentar o ambiente através das impressões corporais que advém da natureza.

38 Nicolas Andry de Boisregard (1658-1742) foi um médico francês que inaugurou a concepção de correção corporal em sua obra Orthopédie, ou l'Art de prévenir et de corriger dans les enfants les difformités du corps (1741), na qual são expostas as deformidades corporais das crianças e a utilização de uma pedagogia da postura para solucionar tais imperfeições.

39 Texto original : « Toutefois, l'orthopédie d'Andry, inaugure, en 1741, des voisinages à la fois plus précis et plus conscients. Ils tendront en définitive à renouveler la pedagógie de la posture. [...] Les démarches visant au redressement connaissent leur premier ouvrage spécifique, l'enfance est le centre. »

O discurso de Andry é precursor de uma concepção de corpo que busca uma retidão corporal através não somente de intervenções médicas, mas a partir de uma pedagogia atenta desde o nascimento ao movimento. Esse autor inaugura o pensamento de educação corporal pautada na correção postural ainda na infância. Segundo Vigarello, Andry seria o precursor de um novo pensamento acerca do corpo e da infância que se propaga a partir do século XVIII.

Com a segunda metade do século XVIII, surge uma literatura, pedagógica explicitamente consagrada ao corpo. Ela retoma os temas prospectados pela tradicional "medicina das crianças", mas além disso, ela expande sua proposta até a adolescência, ela declara que visa aperfeiçoar o corpo.40

(VIGARELLO, 2004, p. 24)

As prescrições de Rousseau acerca do fortalecimento do corpo têm como objetivo a manutenção da vida e a sobrevivência além da infância. Percebemos que o discurso sobre a constituição de um vigor corporal presente no Emílio está em consonância com as concepções médico-pedagógicas difundidas a partir de Andry. Vigarello explora as tensões que envolvem a educação do corpo a partir do século XVIII ao contrapor a busca pela retidão corporal através de acessórios e vestimentas com a prática de exercícios:

A nova apreensão do porte, aquela que torna este último dependente de exercícios e de movimentos diversificados, apresenta-se como libertadora. Não pesaria sobre a criança uma exigência sufocante e, em última instância artificial, de um porte rígido, bloqueando o livre uso dos músculos e articulações. "Os exercícios contínuos, deixados apenas à natureza"41 são

indicados como sendo por vezes emancipadores e "construtores". A ambição da retidão, não foi, evidentemente, abandonada; ainda que ela tenha modificado seus métodos e justificativas. Como primeiramente a criança deve estar reta, mas acima de tudo pelas mesmas razões, mas, não exatamente da mesma forma. A postura e sua retidão foram apresentadas como obedientes a uma exigência social e mundana. Ela é, agora essencialmente referida a uma exigência higiênica, na verdade, fisiológica.42 (VIGARELLO, 2004, p.42)

40 Texto original : « Avec la seconde moitié du XVIIIe siècle, apparaît une littérature pédagogique très explicitement consacré au corps. Elle reprend les thèmes prospectés par la "médicine des enfants" traditionelle, mais outre qu'elle étend son propos jusqu'à adolescence, elle déclare viser un perfectionnement corporel. » 41 A expressão entre aspas é um excerto do texto de Rousseau que Vigarello cita em nota: ROUSSEAU (J.J.), op. cit., p. 127)

42 Texto original: “La nouvelle appréhension de la tenue, celle qui rend cette dernière tributaire d’exercices et des mouvements diversifiés, se présente comme libératrice. Ne pèserait plus sur l’enfant une exigence

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