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O HOMEM DA NATUREZA BUSCA EDUCAR OS SENTIDOS E

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1 O HOMEM DA NATUREZA BUSCA EDUCAR OS SENTIDOS E

"Depois de ter começado por exercitar o seu corpo e os seus sentidos, exercitamos seu espírito e seu juízo. Finalmente reunimos o emprego de seus membros ao de suas faculdades; fizemos um ser ativo e pensante; para terminar o homem só nos resta fazer um ser amoroso e sensível, isto é,

aperfeiçoar a razão pelo sentimento."

(ROUSSEAU, 2014, P.274)

Como a proposta de educação desenvolvida na obra Emílio abarca uma formação plena do ser humano, faz-se relevante compreender de modo mais detalhado como o fortalecimento corporal, tal como a educação dos sentidos, seriam responsáveis por permitir ao longo da educação intelectual e das paixões, a manutenção da proximidade estabelecida entre ser humano e natureza. Com o desenvolvimento das forças que comandam o corpo, o discípulo poderia dar continuidade à sua formação e não se apartar dos preceitos que lhe foram ensinados pela natureza. Segundo Rousseau, um corpo fraco teria mais comando sobre a mente do indivíduo, enquanto um corpo fortalecido obedeceria aos desígnios da razão. Neste sentido, o corpo deve ser educado e fortalecido para que, ao encontrar com os obstáculos impostos pela natureza e também pelos homens, ele possa responder de acordo com os comandos da razão.

No desenvolvimento deste capítulo almeja-se explorar como o fortalecimento do corpo e a educação dos sentidos, alinhados pela natureza, desempenham um papel na formação moral de Emílio e na educação de suas paixões. Além disso, buscaremos compreender a relação estabelecida por Rousseau entre sua teoria de educação com a natureza e a inserção de seu discípulo na sociedade.

A educação do corpo enunciada pelo autor consiste em desenvolver práticas que permitem manter uma proximidade e relação com a natureza. Rousseau expõe a necessidade de um corpo sadio e vigoroso, capaz de suportar as provações da natureza que teriam como

finalidade o fortalecimento e desenvolvimento do ser humano a fim de favorecer a conservação da vida a partir da interação com os elementos da natureza. Rousseau apresenta no Emílio a importância do corpo e da realização de exercícios para um processo pedagógico, o autor apoia-se em outros teóricos, contudo explicita suas concepções sobre uma educação pautada em práticas corporais:

Todos os que refletiram sobre a maneira de viver dos antigos atribuem aos exercícios da ginástica esse vigor do corpo e da alma que os distingue mais claramente dos modernos. [...]. Falando em educação de uma criança, diz ele [Montaigne] que, para lhe enrijecer a alma, é preciso endurecer seus músculos; acostumá-la ao trabalho, acostumamo-la à dor; é preciso treiná- la na aspereza dos exercícios para educa-la para a aspereza das luxações, da cólica e de todos os males. O Sábio Locke, o bom Rollin, o douto Fleury, o pedante Crouzas48, tão diferentes entre si em tudo mais, concordam todos

neste único ponto: exercitar bastante o corpo das crianças. (ROUSSEAU, 2014, p.149-150)

Rousseau evoca, portanto, uma educação pautada em um corpo que se movimenta livremente. Assim, para ele, a criança deve ser capaz de mover seus membros para fortalecer o tônus de seus músculos, mesmo ainda estando no berço. É de um corpo que se movimenta que o autor retira suas principais ideias acerca das impressões necessárias para que a criança aprenda a interagir com o ambiente. Ainda no berço, por exemplo, para além de uma movimentação livre já indicada, há uma evocação de um dos elementos da natureza na constituição dessas impressões, qual seja, o ar que em contato com a pele, permitiria algum nível de percepção tátil. É nesse momento que podemos destacar as análises que faz Rousseau acerca de uma possível educação dos sentidos, educação que aconteceria através do contato com a natureza, da apreciação de seus elementos e da vivência no mundo natural. É pelo contato com a natureza que o ser humano se formaria e buscaria os conhecimentos necessários ao seu crescimento,

48 Nota de esclarecimento presente na edição Francesa: “O filósofo inglês Locke (1631-1704) escreveu em 1693 Pensées sur l’education des enfants – Rollin (1661-1741), reitor da Universidade, autor de Traité des Etudes, de l’Histoire ancienne et de l’Histoire romaine. – O abade Fleury (1640-1723), assistente de Fénelon na educação dos netos de Louis XIV, escreveu várias obras de direito e de história, e principalmente l’Histoire ecclésiastique. – Jean Pierre de Crouzas (1663-1748), filósofo e matemático suíço, que criticou o ceticismo de Bayle e o dogmatismo de Leibniz. ” (ROUSSEAU, 1964, p.618)

[consistindo], portanto, os primeiros movimentos naturais do homem em medir-se com tudo que o rodeia, e em experimentar em cada objeto que percebe todas as qualidades sensíveis que podem ligar-se a ele, seu primeiro estudo é uma espécie de física experimental relativa à sua própria conservação, de que desviado através dos estudos especulativos antes que tenha reconhecido seu lugar aqui na terra. […] Como tudo que entra no entendimento humano vem pelos sentidos, a primeira razão do homem é uma razão sensitiva; é ela que serve de base à razão intelectual: nossos primeiros mestres de filosofia são nossos pés, nossas mãos, nossos olhos. (ROUSSEAU, 2014, p.148)

Os sentidos são os instrumentos de aprendizado da criança e, por esse motivo, Rousseau dedica parte de sua obra a expor como poderiam ser trabalhados cada um deles. Já foi previamente exposto que Rousseau e Condillac apresentavam afinidades teóricas e trabalhavam com assuntos similares. Se no Tratado das Sensações Condillac dedica-se a expor a especificidade de cada sentido, e a contribuição para uma formação plena, Rousseau não se prende em explicar a natureza de cada um dos sentidos, mas, apoia-se nesta discussão e apresenta não pela metáfora de uma estátua como fizera Condillac, mas por uma criança imaginaria- o Emilio-, como poderiam ser trabalhados cada um dos sentidos a fim de educá- la sobre o mundo e a natureza. Por sua vez, Condillac (1993, p.122), evoca uma criança ao afirmar que

tudo em nós tem seu começo dado pela natureza; assim demonstrarei que, no princípio ou no início, nossos conhecimentos são obra exclusiva dela, que instruímo-nos apenas com suas lições e que toda arte de raciocinar que em prosseguir tal como ela nos fez começar.

Ora, a primeira descoberta de uma criança é seu corpo. Portanto, não é propriamente ela que a faz, é a natureza que lha mostra já inteiramente feita. (...) A natureza, portanto, tinha apenas um meio de levá-lo a conhecer seu corpo, e esse meio consistia em fazê-lo perceber suas sensações não como modificações de sua alma, mas como modificações dos órgãos que são outras tantas causas ocasionais.

O conhecimento do corpo viria, para Rousseau, alinhado ao conhecimento da natureza e do ambiente que rodeia o infante. Através da interação com os elementos naturais, ar, água, terra, plantas aconteceria a educação do corpo. Após a criança ter adquirido a capacidade de andar e se movimentar, o autor mostra como os exercícios na natureza são importantes para a continuidade desta educação e para a manutenção da vida. Em acréscimo

ele explica como optar pelos exercícios comuns e não priorizar os exercícios comumente explorados já que:

Uma educação exclusiva, que tende apenas a destacar dos povos os que a receberam, sempre prefere as lições mais caras às mais comuns e, pela mesma razão, às mais úteis. Assim os jovens educados com esmero aprendem todos a montar cavalo, porque isso lhes custa muito caro; mas quase nenhum aprende a nadar, porque isso não custa nada, e um artesão pode saber nadar tão bem quanto qualquer um. No entanto, sem ter passado pela academia, um viajante monta a cavalo, mantém-se nele e serve-se dele bastante bem para uso; mas na água, se não sabemos nadar, nos afogamos, e não saberemos nadar se não aprendermos. Enfim, não somos obrigados a montar a cavalo sob risco de morte, ao passo que ninguém está certo de evitar um perigo ao qual estamos tantas vezes expostos. Emílio estará na água e na terra. Possa ele viver em todos os elementos! Se fosse possível aprendermos a voar pelos ares, eu faria dele uma águia; faria dele uma salamandra, se fosse possível endurecermos no fogo.

Tememos que uma criança se afogue ao aprender a nadar; que se afogue ao aprender ou por não ter aprendido, será sempre vossa culpa. (ROUSSEAU, 2014, p.159)

O autor genebrino almeja uma educação capaz de abarcar as deficiências do processo educacional vigente à época e formar um ser humano apto à sociedade iluminista. Um dos eixos mais importantes dessas ideias é a formação na e pela natureza. Ao discorrer sobre destrezas e habilidades físicas, Rousseau confere prevalência ao ensino do nado em detrimento à montaria, uma vez que nadar é uma ação útil e que auxilia na conservação da vida. Sua intenção seria o desenvolvimento de habilidades do corpo, a interação e superação dos obstáculos apresentados pela natureza, com a finalidade de formar um indivíduo forte, robusto e corajoso. O desenvolvimento da educação que propõe, evoca uma interação plena com a natureza, o que sem dúvida, implica em uma relação com o elemento água, seja pelo hábito do banho durante o período de recém-nascido, ou, pelo nado num rio. Outro exemplo de exercício do corpo em meio à natureza é a descrição de como o autor ensinaria a dança:

Se eu fosse professor de dança, não faria todas as macaquices de Marcel49,

boas para o país onde ele as faz, mas, em vez de ocupar eternamente meu aluno com cambalhotas, eu o levaria para o pé de um rochedo; lá eu lhe mostraria que atitude é preciso assumir, como se deve manter o corpo a cabeça, que movimento é necessário fazer, de que modo se deve pôr ora o pé, ora a mão, para seguir com ligeireza os caminhos escarpados, ásperos e rudes, e lançar-se de pico em pico tanto subindo como descendo. Faria dele o rival de um cabrito, mais que um dançarino de Ópera. (ROUSSEAU, 2014, p.171-172)

A dança, tal como os demais exercícios, consiste mais em movimentar-se pelo espaço assumindo posturas distintas do que em elaborar construções coreográficas com alta complexidade. A execução dos movimentos é feita em meio à natureza justamente para que o discípulo possa superar quaisquer obstáculos. Rousseau anseia que seu aluno saiba interagir com a natureza e sobreviver às adversidades. O corpo é instruído a se movimentar de todas as maneiras possíveis.

A corrida também é apresentada no Emílio como parte do processo pedagógico, contudo o autor expõe, através de exemplo de treinamento para corrida, algumas estratégias para motivar seu discípulo a percorrer distâncias no menor tempo possível. Apresenta, ainda, passeios e corridas ao ar livre como instrumentos para aprender sobre distâncias, valores morais, além do fortalecimento do corpo.

A proposta pedagógica de Rousseau sustenta-se na vivência de experiências proporcionadas pela natureza. Conforme essa criança cresce, dá-se a ela maior liberdade para que explore a natureza por meio de seus sentidos e, assim, aprenda paulatinamente a interagir com o ambiente para, posteriormente, usufruir do que lhe fora aportado. Na educação dos sentidos, o autor exemplifica algumas práticas voltadas ao refinamento de cada um deles. O corpo aparece, portanto, como um instrumento pelo qual se configura a aprendizagem e o primeiro meio de interação da criança com o mundo externo e com os elementos da natureza.

49 Nota do autor: “Célebre professor de Dança em Paris, que, conhecendo bem a sociedade, fazia-se de extravagante por astúcia e dava à sua arte uma importância que se fingia achar ridícula, mas pela qual se tinha, no fundo o maior respeito. Numa arte não menos frívola, vemos ainda hoje, um artista comediante fazer-se da mesma forma de importante e de louco, e não se sair menos bem. Tal método é sempre certeiro na França. Lá, o verdadeiro talento, mais simples e menos charlatão, não faz fortuna. Lá a modéstia é a virtude dos tolos” (ROUSSEAU, 2004, p.171).

Os sentidos, tal como as demais faculdades orgânicas, são passíveis de educação e aperfeiçoamento. Da mesma forma que a criança cresce e desenvolve suas capacidades físicas e aprende a melhor utilizá-las, os sentidos também requerem ensinamentos específicos. Eles auxiliam a criança a melhor maneira de superar as adversidades que possam lhe aparecer. Rousseau logo explica que

[exercitar] os sentidos, não é apenas fazer uso deles, mas aprender a bem julgar por assim dizer, a sentir; pois nós não sabemos nem tocar, nem ver nem ouvir, a não ser da maneira como aprendemos”.

Existe um exercício puramente natural e mecânico que serve para tornar robusto o corpo sem dar nenhuma matéria ao julgamento: nadar, correr, saltar, chicotear o pião, jogar pedras. Tudo isso é muito bom, mas teremos só braços e pernas? Não temos olhos e ouvidos também? E serão esses órgãos supérfluos para o uso dos primeiros? Portanto, não exerciteis apenas as forças, exercitai todos os sentidos que as dirigem; tirai de cada um deles todo o partido possível, e depois verificai a impressão de um pelo outro. (ROUSSEAU, 2014, p.160)

Rousseau privilegia mostrar algumas sugestões para o refinamento dos sentidos, ao contrário de outros autores da época como Le Cat e Condillac que se concentraram nas especificidades fisiológicas de cada um dos sentidos. Ainda assim estes autores ressaltaram a importância da educação dos sentidos e uma educação pautada na natureza. Le Cat em seu

Traité de Sens, explicita como a natureza proveu ao homem tudo o que lhe é necessário

para sua constituição e afirma que

onde quer que haja nervos e vida, há também esse tipo de sentimento: parece que esta sensação não teve necessidade de uma organização particular, e que a estrutura de tufos nervosos lhe foi inútil; a simples tecitura sólida do nervo lhe é suficiente 50(Le Cat, 1762, p. 3)

Em contrapartida, no Emílio, Rousseau não se detém nos interstícios do conhecimento anatômico ou fisiológico do que compõe cada sentido, ele preocupa-se em

50Texto original: “[...]où il y a des nerfs & de la vie, il y a aussi de cette espèce de sentiment: il semble même que cette sensation n'ait pas besoin d'une organization particulière, & que la structure de houpes nerveuses lui foit inutile; la simple tisssure solide du nerf lui suffit; [...] "

mostrar a contribuição da educação do corpo para refinar o conhecimento advindo pelos sentidos graças à interação com a natureza, através da natureza. Cada um dos sentidos poderia ser aprimorado e, assim, as impressões seriam mais fiéis à natureza. Rousseau também apresenta uma hierarquia dos sentidos de acordo com a utilização e a precisão das impressões:

não somos igualmente senhores do uso de todos os sentidos. Há um deles, o tato, cuja ação nunca é suspensa durante a vigília, ele foi espalhado por toda a superfície de nosso corpo, como uma sentinela contínua para nos advertir sobre tudo o que possa ofendê-lo. (ROUSSEAU, 2014, p. 161)

Rousseau não determina categoricamente como estão hierarquizados os demais sentidos, ele apenas expõe comparações entre dois, ou a complementaridade de um sentido em relação ao outro. No caso do tato, mostra por meio de exemplos, como uma pessoa teria aperfeiçoado este sentido em função de outra carência utilizando como exemplo as pessoas cegas que, pela ausência da visão, possuem não somente o tato, mas os outros sentidos mais apurados. Por outro lado, afirma também que o tato pode se tornar mais obscuro e impreciso e que justamente o exercício da visão seria necessário para auxiliá-lo e ampliá-lo. Esta relação de complementaridade entre os sentidos evidencia-se em outros momentos, como quando o autor afirma que “o sentido do olfato está para o paladar assim como o da visão está para o tato” (ROUSSEAU, 2014, p.199).

Rousseau atenta-se a expor exemplos de como poderiam ser trabalhados cada um dos sentidos, estes seriam objeto de educação não por acaso, mas por suas relações diretas como as interações da criança com a natureza que a rodeia. A fim de evidenciar as prescrições relativas à educação dos sentidos, será abordado individualmente cada um deles de acordo com a ordem exposta por Rousseau, no Emílio. Para este autor, o tato aparece como uma das primeiras formas que a criança tem de conhecer o mundo que a cerca, o que faz com que a pele seja o canal imediato de influências da natureza sobre o corpo e, consequentemente, o primeiro objeto de uma educação do corpo pautada no contato com os elementos da natureza. Neste sentido, o contato com o ambiente através da pele seria estimulado pela própria interação com o ar e, segundo Rousseau,

é importante que a pele se torne resistente às impressões do ar e possa enfrentar suas alterações, pois é ela que defende todo o resto. Com exceção disso, eu não gostaria que a mão, muito servilmente aplicada aos mesmos trabalhos, viesse a se enrijecer, nem que a sua pele, tornada quase óssea, perdesse a sensibilidade fina que revela quais são os corpos sobre os quais passamos, e que, conforme a espécie de contato, algumas vezes nos faz na escuridão, arrepiar de diversas maneiras. (ROUSSEAU, 2014, p.170)

O fortalecimento do tato acontece pelo uso de roupas leves e soltas que permitem o movimento corporal, mas também pela ausência de elementos excessivamente protetores. Rousseau apresenta outro estímulo ao tato em contato com a natureza:

Armemos sempre o homem contra os acidentes imprevistos. Que Emílio passe as manhãs de pés descalços, em qualquer época do ano, pelo quarto, pela escada, pelo jardim, longe de repreendê-lo por isso, eu o imitarei; terei apenas o cuidado de pôr de parte os vidros. Logo falarei dos trabalhos e jogos manuais. De resto, que ele aprenda a dar todos os passos que favorecem as evoluções do corpo, a tomar em todas as atitudes uma posição cômoda e sólida; que saiba saltar em distância, em altura, subir em árvores e pular muro; que encontre sempre o equilíbrio; que todos os seus movimentos e seus gestos sejam ordenados segundo as leis da ponderação, muito tempo antes que a estática venha a explica-los a ele. Pela maneira com que seu pé toca a terra e seu corpo pesa sobre a perna ele deve sentir se está bem ou mal. Uma postura firme sempre tem graça, e as mais firmes são também as mais elegantes. (ROUSSEAU, 2014, p.171).

Rousseau sugere ainda a estimulação do tato através de jogos noturnos ou com os olhos vendados, pois a carência da visão permitiria uma maior pureza nas impressões táteis. Os jogos noturnos ou num ambiente escuro permitem o conhecimento puramente através da exploração do espaço e, além disso, estimulam a superação dos medos associados à noite, uma vez que favorecem o uso da imaginação e fortalecem a coragem face ao desconhecido.

Com o tato desenvolvido volta-se a atenção para a visão, sentido este que, para Rousseau, amplia a magnitude de conhecimento do ser humano para além de si, através do conhecimento das distâncias, mas que também requer uma educação, uma vez que pode enganar quando não tiver precisão. No Emílio, este sentido é utilizado para o cálculo de distâncias, conhecimento do tamanho de objetos. Contudo o trabalho que fora feito com o tato, de simplificação do sentido, não pode ser aplicado novamente devido à imprecisão da visão. Sendo assim, Rousseau propõe, nessa fase, uma associação entre os sentidos, e novamente o aluno é posto a explorar a natureza:

Existem mil maneiras de interessá-las por medir, conhecer e avaliar as distâncias. Eis uma cerejeira muito alta, como faremos para colher as cerejas? A escada da granja servirá para isso? Eis um riacho bem largo, como faremos para atravessá-lo? Uma das pranchas do pátio poderá apoiar-se nas duas margens? Gostaríamos, de nossas janelas, de pescar nos fossos do castelo; quantas braças deve ter a linha? Gostaria de pôr um balanço entre essas duas árvores; uma corda de duas toesas será suficiente? Disseram-me que na outra casa nosso quarto terá vinte e cinco pés quadrados; você acha que servirá para nós? Será maior do que este aqui? Estamos com muita fome; ali estão duas aldeias; em qual das duas podemos chegar mais depressa para jantar? etc. (ROUSSEAU, 2014, p. 173)

Estes e outros desafios são apresentados à criança para que possa pensar sobre tamanhos e criar alternativas práticas. Os exemplos descritos para o refinamento da visão sustentam-se em fornecer uma ampliação dos conhecimentos que não poderiam ser

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