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5. RECURSO ADMINISTRATIVO PERANTE O INPI E SEUS EFEITOS

5.3. Efeito suspensivo

O efeito suspensivo de um recurso, por óbvio, provoca o impedimento da produção imediata dos efeitos da decisão que se deseja impugnar até a decisão final do recurso.

Apesar de sua natureza protetiva que busca preservar o interesse do recorrente em face dos efeitos da decisão recorrida, a teor do disposto no artigo 61, caput, da LPA, o efeito suspensivo dos recursos administrativos é facultativo:

Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem efeito suspensivo.

Por se tratar de uma exceção, o efeito suspensivo automático ao recurso administrativo deve estar expressamente previsto em lei. Assim, no silêncio da lei, o recurso tem apenas efeito devolutivo. Esse é o entendimento do professor ARAGÃO35:

Quanto aos efeitos dos recursos administrativos, a regra é não terem efeitos suspensivos, possuindo-os apenas quando a lei os previr expressamente, ou, mesmo sem tal previsão, se a autoridade administrativa, in concreto, em virtude de periculum in mora, reconhecê-los no exercício de um poder geral de cautela administrativa, postura adotada pela Lei do Processo Administrativo Federal em seu art. 61.

Entretanto, ainda que não haja previsão legal expressa, de modo a evitar lesões ao direito do administrado recorrente, pode ser conferido, de forma preventiva, efeito suspensivo ao recurso administrativo pela própria Administração Pública de acordo com parágrafo único do referido artigo 61:

Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar efeito suspensivo ao recurso. A razão por trás dessa possibilidade é preservar os interessados dos imediatos efeitos de uma decisão que ainda está sendo questionada/revisada no âmbito administrativo, tendo em vista o princípio da segurança jurídica.

Por corolário, quando o recurso é recebido no efeito suspensivo, tem-se prejudicada a fluência do prazo prescricional, e segundo o doutrinador HELY LOPES MEIRELLES36 isto ocorre porque “durante a tramitação do recurso interno (com efeito suspensivo), o ato recorrido é inexequível, não rendendo ensejo a qualquer ação judicial, e, não havendo ação, não pode haver prescrição”.

35ARAGÃO, Alexandre Santos de. Curso de Direito Administrativo. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 663.

36MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2016, p. 808.

Quando há o efeito suspensivo obrigatório expresso em lei, a decisão ainda é ineficaz antes mesmo da interposição do recurso em face da simples possibilidade de interposição de recurso conforme ensina o professor FREDIE DIDIER37:

O efeito suspensivo não decorre, pois, da interposição do recurso: resulta da mera recorribilidade do ato. Significa que, havendo recurso previsto em lei, dotado de efeito suspensivo, para aquele tipo de ato judicial, esse, quando proferido, já é lançado aos autos com sua executoriedade adiada ou suspensa, perdurando essa suspensão até, pelo menos, o escoamento do prazo para interposição do recurso. Havendo recurso, a suspensividade é confirmada, estendendo-se até seu julgamento pelo tribunal. Não sendo interposto o recurso, opera-se o trânsito em julgado, passando-se, então, o ato judicial a produzir efeitos e a conter executoriedade.

Tanto é assim, que o doutrinador HELY LOPES MEIRELLES38 aponta que o prazo para impetrar mandado de segurança contra ato que admite recurso com efeito suspensivo só começa a fruir com o término do prazo para interpor o recurso.

Pois bem. No âmbito do INPI, de acordo com o disposto no artigo 212, parágrafo 1º, da LPI, o recurso administrativo interposto em face de decisão proferida pelo Instituto é, obrigatoriamente, recebido no efeito suspensivo.

Logo, a interposição de recurso administrativo impede que a decisão administrativa do INPI recorrida – por exemplo, uma decisão que indeferiu um pedido de patente –, produza normalmente os seus efeitos até a decisão administrativa se tornar final no âmbito administrativo.

Tanto é verdade que o prazo prescricional de cinco anos para ajuizar ação judicial visando a reverter decisão de indeferimento do INPI, previsto no artigo 225 da LPI, começa a fluir justamente com a notificação da decisão sobre o recurso administrativo, que é final e irrecorrível na esfera administrativa com fulcro no artigo 215 da LPI:

Art. 215 - A decisão do recurso é final e irrecorrível na esfera administrativa. Art. 225 - Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para reparação de dano causado ao direito de propriedade industrial.

O INSTITUTO DANNEMANN SIEMSEN39 aponta que o efeito suspensivo do recurso administrativo perante o INPI gera duas consequências:

37DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: Meios de Impugnação às Decisões Judiciais e Processo nos Tribunais. 13. ed. Bahia: Jus Podivm, 2016, p. 141- 142.

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Assim, os recurso contra as decisões das autoridades do Inpi são recebidos no duplo efeito: suspensivo e devolutivo. Do efeito suspensivo decorrem duas consequências de ordem prática:

a) no que toca ao prazo prescricional: paralisa a fluência do prazo de cinco anos para o ajuizamento da ação perante o Poder Judiciário, o qual somente se iniciará a partir da data da publicação da decisão do recurso;

b) no que toca ao acesso ao Poder Judiciário: impossibilidade de ação judicial contra ato enquanto pendente de julgamento o recurso.

É indene de dúvidas, portanto, que uma decisão do INPI só gera efeitos nas seguintes hipóteses (i) quando não há possibilidade de ser impugnada por meio de um recurso administrativo ou (ii) quando não é impugnada por meio de um recurso administrativo – seus efeitos só são produzidos a partir do dia seguinte ao último dia do prazo para interposição de recurso.

6. REGRAS DO ARTIGO 26 DA LPI PARA O DEPÓSITO DE PEDIDO DE