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6. REGRAS DO ARTIGO 26 DA LPI PARA O DEPÓSITO DE PEDIDO DE PATENTE DE

6.2. Segunda regra legal para um pedido de patente de divisão ser aceito

A segunda regra legal para um pedido de patente de divisão ser aceito está prevista no caput do artigo 26 da LPI, que dispõe que um pedido de patente poderá ser dividido até o final de seu exame.

A partir da interpretação gramatical, o final de exame de um pedido de patente ocorre, por óbvio, quando tal exame é, de fato, encerrado, ou seja, quando é publicada decisão terminando definitivamente o processo administrativo de exame do pedido de patente.

Dessa forma, se o INPI profere uma decisão e esta pode ser impugnada administrativamente, por exemplo, através de um recurso administrativo, tal decisão não encerra o processo administrativo de exame de um pedido de patente. Dito de outra forma, o final de exame não ocorre com a publicação de uma decisão recorrível.

Enquanto não ocorrer a coisa julgada administrativa, isto é, a decisão do INPI puder ser revertida através de recurso a ser manejado pelo depositante, é evidente que o final de exame ainda não ocorreu.

Em contrapartida, se a decisão emitida pelo INPI não pode ser revertida administrativamente, isto é, quando não há previsão legal para a interposição de recurso administrativo ou qualquer outro meio de impugnação, o final do processo administrativo de exame de um pedido de patente ocorre com a publicação dessa decisão.

Nesse diapasão, é importante esclarecer que as decisões proferidas pelo INPI só produzem efeitos apenas quando estas forem publicadas conforme disposições no artigo 226 da LPI:

Art. 226 - Os atos do INPI nos processos administrativos referentes à propriedade industrial só produzem efeitos a partir da sua publicação no respectivo órgão oficial, ressalvados:

I - os que expressamente independerem de notificação ou publicação por força do disposto nesta Lei;

II - as decisões administrativas, quando feita notificação por via postal ou por ciência dada ao interessado no processo; e

III - os pareceres e despachos internos que não necessitem ser do conhecimento das partes.

A esse respeito, impecável é a lição do INSTITUTO DANNEMANN SIEMSEN40:

A expressão “final do exame” deve ser interpretada aqui como a data em que a decisão final do Inpi é publicada no respectivo órgão oficial, uma vez que apenas em tal data a decisão do Inpi produz efeitos, nos termos do artigo 226. O resultado da interpretação sistemática da LPI, mais especificamente seus artigos 26, 212, 213, 214, 215 e 226, está em total harmonia com o resultado da interpretação gramatical.

Como já dito, a teor do que dispõe no artigo 212 da LPI, toda decisão proferida pelo INPI é, em regra, recorrível administrativamente e todo e qualquer recurso administrativo é obrigatoriamente recebido pelo INPI com efeitos suspensivo e devolutivo pleno.

Logo, a interposição de um recurso administrativo perante o INPI gera dois importantes desdobramentos:

• a decisão recorrida tem a sua eficácia suspensa, ou seja, deixa de produzir os seus efeitos até que seja proferida uma decisão final acerca do recurso administrativo; e

• existe não apenas uma fase de exame de primeira instância, mas também uma fase de exame de segunda instância, que é a fase recursal, na qual o pedido de patente é reexaminado à luz dos argumentos recursais apresentados pelo depositante.

40IDS – Instituto Dannemann Siemsen de Estudos Jurídicos e Técnicos. Comentários à lei de propriedade industrial. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2013, p. 69.

Se há recurso administrativo com suspensivo, obviamente o final de exame não ocorreu com publicação de decisão recorrível visto que a decisão recorrida pode ser revertida.

Nesse sentido, faz-se mister lembrar que, como indicado no subcapítulo 5.2, um novo exame de um pedido de patente é realizado na fase recursal.

Nada obstante, durante a fase recursal, a teor do disposto nos artigos 213 e 214 da LPI, qualquer interessado, em um prazo de 60 (sessenta) dias da publicação da notificação de interposição de recurso, pode apresentar contrarrazões ao recurso administrativo, bem como o INPI pode emitir parecer intermediário antes de proferir sua decisão acerca do recurso:

Art. 213 - Os interessados serão intimados para, no prazo de 60 (sessenta) dias, oferecerem contrarrazões ao recurso.

Art. 214 - Para fins de complementação das razões oferecidas a título de recurso, o INPI poderá formular exigências, que deverão ser cumpridas no prazo de 60 (sessenta) dias.

Parágrafo único - Decorrido o prazo do caput, será decidido o recurso. Assim, por corolário lógico, o final de exame não ocorre com a publicação de decisão do INPI que foi impugnada via recurso administrativo.

Em linha com esse raciocínio, a decisão acerca desse recurso administrativo é final e irrecorrível administrativamente conforme artigos 212, § 3°, e 215 do da LPI:

§ 3° - Os recursos serão decididos pelo Presidente do INPI, encerrando-se a instância administrativa.

Art. 215 - A decisão do recurso é final e irrecorrível na esfera administrativa. Assim, realizando uma interpretação sistemática da LPI, mais especificamente os artigos 26, 212, 213, 214, 215 e 226, constata-se que o final do exame de um pedido de patente, quando é interposto recurso administrativo contra decisão de indeferimento ou arquivamento, só ocorre com a publicação da decisão acerca desse recurso administrativo, uma vez que esta é final e irrecorrível administrativamente conforme artigos 212, § 3°, e 215 do da LPI:

O resultado da interpretação gramatical e da interpretação sistemática está em harmonia com a interpretação teleológica, que busca o fim para o qual uma norma foi criada.

De acordo com este método de interpretação, a LPI deve ser interpretada de modo a proporcionar a concessão de patentes, e não criar empecilhos à sua concessão. Com efeito, as regras aplicáveis para o depósito de um pedido de patente de divisão devem ser interpretadas de modo a permitir tal depósito.

Embora notório, deve-se pontuar que a patente é um importante instrumento para “o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País” (artigo 5º, XXIX, da CRFB/1988) na medida em que atinge reciprocamente os interesses da sociedade e os interesses privados do titular da patente pois:

• promove o desenvolvimento socioeconômico através da criação de novas tecnologias e divulga o conhecimento novo e útil, garantindo que a qualidade da vida humana e do bem-estar da sociedade seja continuamente melhorado; e • garante a possibilidade de receber retorno sobre o investimento desprendido para o desenvolvimento de novas tecnologias e, ato contínuo, fornece o incentivo para os inovadores continuarem a investir esforços na pesquisa e desenvolvimento.

Dessa forma, as disposições da LPI devem ser interpretadas de modo a facilitar o depósito de um pedido de patente de divisão e, com efeito, favorecer a concessão de patente.

Nessa linha de raciocínio, o final de exame de um pedido de patente deve ser entendido quando ocorre a publicação de decisão que definitivamente encerra o processo administrativo pois, desse modo, o depósito de um pedido de patente de divisão é favorecido.

Em função da interpretação gramatical do artigo 26 da LPI, da interpretação sistemática da LPI (artigos 26, 212, 213, 215 e 226) e da interpretação teleológica, resta claro que o final de exame de um pedido de patente ocorre com a publicação de uma das seguintes decisões:

• decisão de deferimento;

• decisão que nega provimento a recurso administrativo, mantendo o indeferimento ou arquivamento; e

• decisão que arquiva definitivamente um pedido de patente.

Já quando o recurso administrativo não é interposto pelo depositante, o final de exame ocorre no dia seguinte ao último dia do prazo de 60 dias para a interposição de recurso administrativo.

Dessa forma, o prazo para depositar pedido de patente de divisão (segunda regra legal para um pedido de patente de divisão ser aceito) é (i) o dia anterior à data de publicação da decisão final do INPI ou (ii) o dia seguinte ao último dia do prazo para a interposição de recurso administrativo.

Ou seja, dúvida não há de que o titular de pedido de patente pode, durante a fase recursal, depositar um ou mais pedidos de patente de divisão.

Tanto é assim que o parágrafo 1° do artigo 212 da LPI ordena que o recurso administrativo contra decisão do INPI seja recebido com efeito devolutivo pleno de modo que todos os dispositivos pertinentes ao exame de primeira instância quando cabíveis são aplicáveis ao exame recursal.

Esse dispositivo é extremamente claro ao ordenar que, na fase recursal, se aplicam todos os dispositivos pertinentes ao exame de primeira instância, inclusive o direito de dividir um pedido de patente.