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6. REGRAS DO ARTIGO 26 DA LPI PARA O DEPÓSITO DE PEDIDO DE PATENTE DE

6.3. Terceira regra legal para um pedido de patente de divisão ser aceito

A terceira regra legal para um pedido de patente de divisão ser aceito, prevista no inciso II do artigo 26 da LPI, determina que o pedido de patente de divisão não deve exceder à matéria revelada no pedido de patente original.

Nesse momento, em razão da importância para o presente estudo, é importante definir as expressões “matéria reivindicada” e “matéria revelada” para que se entenda perfeitamente as diferenças entre elas:

• matéria revelada: é matéria descrita no pedido de patente como um todo, ou seja, no relatório descritivo, nas reivindicações, no resumo e/ou nos desenhos (se houver); e

• matéria reivindicada: é a matéria definida no quadro reivindicatório de um pedido de patente.

A esse respeito, o professor DENIS BORGES41 ensinava que “[o] primeiro objetivo do relatório é, desta forma, a definição do espaço reivindicável.” Ou seja, um pedido de patente pode revelar, por exemplo, concretizações A, B e C e reivindicar, em um determinado momento, todas essas concretizações, duas concretizações (por exemplo, A e C) ou apenas uma única concretização (por exemplo, B).

Após essa breve explicação com intuito de apontar importantes diferenças acerca dos conceitos de matéria revelada e matéria reivindicada, volta-se a terceira e última regra para a aceitação de pedidos de patente de divisão.

A partir da interpretação gramatical do inciso II do artigo 26 da LPI, por óbvio, constata-se que um pedido de patente de divisão deve estar limitado à matéria revelada no pedido de patente original.

Por conseguinte, pode o depositante, em um pedido de patente de divisão, formular livremente as suas reivindicações, inclusive novas, desde que nos limites da matéria revelada no pedido de patente original.

Ou seja, como esclarece o INSTITUTO DANNEMANN SIEMSEN42, “é possível passar a se reivindicar, no pedido dividido, matéria que era apenas descrita no pedido original ou, ainda, que era ilustrada nos desenhos.”

Como exemplo, um pedido de patente revelando as concretizações A, B e C pode ser dividido em dois pedidos de patente de divisão, sendo um direcionado à concretização B – incialmente revelada e reivindicada – e o outro direcionado à

41BARBOSA, Denis Borges. Da regra da indivisibilidade das reivindicações de patentes no direito

brasileiro. 2011. Disponível em:

<http://www.denisbarbosa.addr.com/arquivos/200/propriedade/regra_indivisibilidade_reivindicacoes_pat entes.pdf>. Acesso em: 29 maio 2017.

42IDS – Instituto Dannemann Siemsen de Estudos Jurídicos e Técnicos. Comentários à lei de propriedade industrial. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2013, p. 69.

concretização C – incialmente apenas revelada –, com a condição de que o pedido de patente original reivindique apenas a concretização A.

Outro não era o entendimento do professor DENIS BORGES43:

O que constar dos pedidos divididos não excederá a matéria constante do pedido original; ou seja, não se pode ter acréscimos e modificações ao que anteriormente se expôs. Acréscimos, de outro lado, poderão ser, em muitas hipóteses, o motivo de um certificado de adição.

A partir da interpretação sistemática da LPI, mais especificamente os artigos 26 e 76, chega-se à conclusão idêntica.

De acordo com o artigo 76 da LPI, pode ser depositado certificado de adição para proteger aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no objeto da invenção, com a condição de que a matéria se inclua no mesmo conceito inventivo:

Art. 76 - O depositante do pedido ou titular de patente de invenção poderá requerer, mediante pagamento de retribuição específica, certificado de adição para proteger aperfeiçoamento ou desenvolvimento introduzido no objeto da invenção, mesmo que destituído de atividade inventiva, desde que a matéria se inclua no mesmo conceito inventivo.

§ 1° - Quando tiver ocorrido a publicação do pedido principal, o pedido de certificado de adição será imediatamente publicado.

§ 2° - O exame do pedido de certificado de adição obedecerá ao disposto nos arts. 30 a 37, ressalvado o disposto no parágrafo anterior.

§ 3° - O pedido de certificado de adição será indeferido se o seu objeto não apresentar o mesmo conceito inventivo.

§ 4° - O depositante poderá, no prazo do recurso, requerer a transformação do pedido de certificado de adição em pedido de patente, beneficiando-se da data de depósito do pedido de certificado, mediante pagamento das retribuições cabíveis.

Se a LPI, através do depósito de certificado de adição até a data de expiração da patente, permite a busca por proteção para novo “aperfeiçoamento ou desenvolvimento” da invenção, que nem ao menos está revelado no pedido de patente original, logicamente, tal dispositivo legal não impede o depósito de um pedido de divisão reivindicando concretização revelada, porém não reivindicada, no pedido de patente original.

43 BARBOSA, Denis Borges. Da questão do excesso do reivindicado sobre o depositado. 2011.

Disponível em:

<http://denisbarbosa.addr.com/arquivos/200/propriedade/excesso_reivindicado_sobre_depositado.pdf>. Acesso em: 29 maio 2017.

Como a LPI, em seu artigo 76, autoriza algo mais amplo (certificado de adição para matéria não revelada no pedido principal), logicamente, essa mesma Lei não pode vedar algo mais restrito (depósito de pedido de patente de divisão para matéria revelada no pedido de patente original).

Nada obstante, caso o legislador quisesse, de fato, vedar o depósito de um pedido de patente de divisão direcionado à matéria revelada, porém não reivindicada no pedido de patente original, o teria feito expressamente, o que não ocorreu.

Socorrendo-se à interpretação histórica, a conclusão é idêntica. Um pedido de patente de divisão pode reivindicar matéria revelada, porém não reivindicada em seu pedido de patente original.

O artigo 27 da versão original do projeto de lei nº 824/91, que originou a atual LPI, apresentava a seguinte redação:

Art.. 27. O pedido de patente que apresentar mais de uma unidade de invenção ou de modelo de utilidade ou, ainda, de desenho industrial poderá ser desdobrado em conformidade com os tratados e convenções em vigor no Brasil, desde que:

I - faça referência específica ao pedido original;

II - o pedido desdobrado não exceda à matéria reivindicada constante do pedido original.

(grifo)

A partir de simples leitura do referido artigo, constata-se que este determinava que um pedido de patente de divisão não poderia exceder à matéria reivindicada no pedido de patente original.

No entanto, já na primeira emenda sofrida pelo referido projeto de lei (PL nº 824/91-A), a redação do aludido artigo 27 foi alterada, permanecendo inalterada até a aprovação pelo Congresso em junho de 1993 (PL nº 824/91-D), que adotou redação idêntica a do artigo 26 da LPI:

Art. 26 - O pedido de patente poderá ser dividido em dois ou mais, de ofício ou a requerimento do depositante, até o final do exame, desde que o pedido dividido:

I - faça referência específica ao pedido original; e

Parágrafo único - O requerimento de divisão em desacordo com o disposto neste artigo será arquivado.

(grifo)

Logo, de acordo com esse artigo 26, um pedido de patente de divisão pode ser depositado em qualquer momento até o final do exame do pedido principal com a condição de que não exceda a matéria revelada nesse pedido de patente original.

Ao examinar o processo de criação do artigo 26 da LPI, claramente percebe-se que o legislador, em um primeiro momento considerou, porém rejeitou uma redação normativa estabelecendo que um pedido de patente de divisão não poderia pleitear proteção para matéria não reivindicada, apesar de revelada, no pedido principal.

Diante da alteração em questão (substituição da expressão “matéria reivindicada” pela expressão “matéria revelada”) efetuada durante o processo de criação do artigo 26, não há qualquer dúvida de que o legislador pretendeu que o pedido de divisão estivesse limitado à matéria revelada no pedido de patente original, e não à matéria nele reivindicada.

O resultado da interpretação gramatical, da interpretação sistemática e da interpretação histórica está em harmonia com a interpretação teleológica.

Como esclarecido no subcapítulo anterior, a LPI deve ser interpretada de modo a proporcionar a concessão de patentes, e não criar empecilhos à sua concessão.

Assim sendo, é extremamente injusto que alguém, após despender investimentos para o desenvolvimento de nova tecnologia que promove melhora na qualidade de vida da população, não possa obter proteção para uma concretização específica dessa tecnologia que está revelada no pedido de patente de original, porém não incluída no quadro reivindicatório.

O depósito de um pedido de patente de divisão para as concretizações inicialmente reveladas, porém não reivindicadas no pedido de patente original, é de suma importância para alcançar os fins sociais da LPI, isto é, o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do Brasil, conforme inciso XXIX do artigo 5º da CRFB/1988.

Em função da interpretação gramatical do artigo 26 da LPI, da interpretação sistemática da LPI (artigos 26 e 76), da interpretação histórica desse artigo 26 e da interpretação teleológica, resta claro que um pedido de patente de divisão reivindicando concretização revelada em seu pedido de patente original, porém não reivindicada, deve ser aceito.