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7. VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

7.3. Violação ao Princípio da Confiança Legítima

Desde a entrada em vigor da LPI em 1997, o INPI aceitava o depósito de pedido de patente de divisão reivindicando matéria revelada, porém não reivindicada, no pedido de patente original.

Esse posicionamento de longa data do INPI foi consubstanciado em 2002 por meio da elaboração do parecer PROC/DICONS nº 07/2002 pela procuradoria do INPI (Anexo nº 08).

Embora contenha comentários acerca da aplicação e interpretação do artigo 32 da LPI – emendas voluntárias –, esse parecer deixa clara a possibilidade de se depositar um

pedido de divisão reivindicando matéria não definida no quadro reivindicatório, porém revelada no pedido de patente original:

6. Mais ainda, tem-se que, pelo artigo 26 da LPI, pode o depositante dividir seu pedido a qualquer tempo, até o final do exame e, assim, reivindicar qualquer porção de matéria nele presente. A única limitação seria a estabelecida em sua alínea II, de não exceder os limites do revelado no pedido original.

7. Este artigo deixa bem claro que nunca houve, por parte do Legislador, a intenção de estabelecer uma data limite para que o inventor pudesse reivindicar proteção para sua invenção, ou ao contrário, um momento a partir do qual, se perdido, perdesse o direito sobre matéria que tenha descrito em seu pedido.

[...]

9. Embora nenhuma parte da LPI se faça menção à natureza de reivindicações, o artigo 26 da LPI [...] deixa inequívoco a possibilidade de reivindicar qualquer matéria, desde que tenha sido revelado no pedido original.

Diante desse cenário, inúmeros depositantes, possuindo a expectativa legítima de que o INPI não modificaria o seu entendimento acerca da terceira regra para aceitação de pedido de patente de divisão estabelecida no inciso II do artigo 26 da LPI, postergaram o depósito de pedidos de patente de divisão, inclusive aqueles contendo matéria não reivindicada, mas revelada no pedido de patente original.

Através de uma análise perfunctória não pareça ser assim, a postergação da decisão de depositar pedido de patente de divisão está em total harmonia com os princípios constitucionais da celeridade e da eficiência, previstos no artigo 5º, inciso LXXVIII, e artigo 37, caput, da CRFB/1988 respectivamente:

LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

Isso porque, conhecendo as objeções levantadas pelo INPI durante o processamento de exame do pedido de patente original, um pedido de patente de divisão é depositado com os ajustes necessários de forma a superar possíveis e futuras objeções semelhantes. Assim, o exame desse pedido será feito de forma mais célere e eficiente.

Pois bem. Após mais de uma década, em que foram aceitos inúmeros pedidos de patente de divisão reivindicando matéria não definida no quadro reivindicatório, porém revelada no pedido de patente original, o INPI, de forma surpreendente, modificou sua posição.

Por meio do item 2.7 da Resolução nº 093/2013, foi vedada a possibilidade de aceitação de um pedido de patente de divisão reivindicando matéria não definida no quadro reivindicatório, mas revelada no pedido de patente original.

Dessa forma, o INPI se pôs em contradição, exercendo conduta incompatível com a sua própria conduta anterior, juridicamente relevante e plenamente eficaz e, portanto, tal conduta deve ser repelida pelo princípio do non venire contra factum proprium, tal como disposto no inciso XII do parágrafo único do artigo 2º da LPA:

XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

Importante pontuar que não se está diante de uma mera revisão de legalidade aperfeiçoada pelo INPI, mas, sim, de tentativa de revisão de interpretação legal, largamente adotada no passado e com afetação dos interesses de diversos titulares de pedidos de patente.

Por conseguinte, esse comportamento contraditório do INPI é também vedado pela aplicação do princípio da confiança legítima, que impõe à Administração Pública limitações na liberdade para alterar sua conduta, ainda que eivada de vícios.

Por fincar-se nas noções de previsibilidade e estabilidade, o princípio em comento, que embora não esteja especificamente previsto na CRFB/1988, faz parte do sistema constitucional como um todo uma vez que faz parte da essência do próprio direito, presta-se a tutelar expectativas legítimas que os cidadãos depositaram na permanência de uma regulamentação e/ou interpretação da Administração Pública.

A razão por trás desse princípio constitucional implícito é simples: os administrados (depositantes) não podem ficar ameaçados pelas idas e vindas de interesses políticos ocasionais e inexplicáveis da Administração Pública (INPI).

Sem uma adequada proteção da confiança, um valor jurídico imprescindível para existência e preservação de um Estado Democrático de Direito e para uma convivência pacífica em sociedade, o sistema jurídico sequer estaria cumprindo seu papel, na medida em que não haveria qualquer garantia mínima de segurança e confiabilidade nas relações sociais.

Nesse sentido, cumpre trazer os importantes apontamentos do professor ARAGÃO56:

Assim, protege-se a confiança legítima dos participantes em relação à Administração Pública e se proíbe que a Administração adote comportamentos contraditórios em relação a casos anteriores assemelhados.

Ainda que seja considerado que o item 2.7 da Resolução nº 093/2013 não esteja contra legem e, com efeito, o princípio da legalidade não seria violado, as decisões tomadas pelos depositantes antes da entrada em vigor dessa nova regra devem ser respeitadas em face do princípio da proteção à confiança legítima visto que o INPI alterou seu reiterado entendimento anterior.

Em razão disso, a aludida regra determinando que pedido de patente de divisão deveria reivindicar apenas matéria já reivindicada no pedido de patente original deveria, no máximo, ser aplicada aos pedidos de patente em que não foi requerido o exame57 antes de 18.06.2013, dia da entrada em vigor desse ato normativo administrativo. Do contrário, há violação ao princípio da confiança legítima.

Essa modulação visa a não prejudicar os depositantes que, anteriormente à entrada em vigor dessa nova regra, tomaram as suas decisões com base na expectativa legítima de que o INPI não modificaria o seu entendimento acerca de uma das regras previstas no artigo 26 da LPI.