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7. VIOLAÇÃO A PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

7.2. Violação ao Princípio da Razoabilidade (ou Proporcionalidade)

O princípio da razoabilidade ou proporcionalidade não está explícito na CRFB/1988, sendo resultado de uma decorrência lógica e intuitiva dos princípios da legalidade, do devido processo legal e da justiça, conforme entendimento do i. Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO52:

O princípio da razoabilidade ou da proporcionalidade, termos aqui empregados de modo fungível, não está expresso na Constituição, mas tem seu fundamento nas ideias de devido processo legal substantivo e na de justiça. Trata-se de um valioso instrumento de proteção dos direitos fundamentais e do interesse público, por permitir o controle da discricionariedade dos atos do Poder Público e por funcionar como a medida com que uma norma deve ser interpretada no caso concreto para a melhor realização do fim constitucional nela embutido ou decorrente do sistema. [...] O princípio pode operar, também, no sentido de permitir que o juiz gradue o peso da norma, em uma determinada incidência, de modo a não permitir que ela produza um resultado indesejado pelo sistema, assim fazendo a justiça do caso concreto.

Nessa linha de que o princípio da proporcionalidade (razoabilidade) funciona como uma espécie de postulado normativo da interpretação e aplicação do direito, o professor PAULO NADER53 aponta o seguinte:

Visando a tornar o Direito Positivo mais racional e adequado aos valores éticos, o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, pelo qual as normas jurídicas devem ser entendidas como fórmulas lógicas e justas para a realização de determinados fins, tem sido consagrado atualmente por doutrinadores e juízes. Tal princípio estabelece limites ao legislador, invalidando as regras que impõem sacrifícios injustificados aos seus destinatários, quando os resultados almejados poderiam ser atingidos com menor ônus. Ao aplicador do Direito seria permitido alterar os meios empregados pelo legislador, seja modificando o critério adotado ou apenas ajustando o seu grau de intensidade, tornando-o proporcional à exigência do caso concreto.

Diante do princípio em tela, o Poder Judiciário deve fazer um exercício de ponderação para evitar que a norma jurídica produza resultado indesejado pelo ordenamento jurídico e, consequentemente, a justiça seja alcançada no caso concreto.

52BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O começo da história. A nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. Revista da Emerj, Rio de Janeiro, v. 23, n. 6, p.25-65, jul. 2003.

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Ou seja, toda norma deve ser interpretada e aplicada para proporcionar a justa, razoável e rápida solução de cada controvérsia como bem apontado pela jurista MÁRCIA HAYDÉE 54:

[...] uma verdadeira garantia constitucional que tem uma dupla função: protege os cidadãos contra os abusos do poder estatal e serve de método interpretativo de apoio para o juiz quando este precisa resolver problemas de compatibilidade e de conformidade na tarefa de densificação ou concretização das normas constitucionais.

O princípio da razoabilidade ou proporcionalidade, embora implícito na CRFB/1988, está previsto na LPA.

O artigo 2º, parágrafo único, inciso VI, desse diploma legal determina, nos processos administrativos, a observância do critério de adequação entre os meios e os fins e veda a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público:

VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público; (...)

Nada obstante, acerca do presente princípio, é importante trazer à baila os comentários do jurista HELY LOPES MEIRELLES55:

Sem dúvida, pode ser chamado de princípio da proibição de excesso, que, em última análise, objetiva aferir a compatibilidade entre os meios e os fins, de modo a evitar restrições desnecessárias ou abusivas por parte da Administração Pública, com lesão aos direitos fundamentais. Como se percebe, parece-nos que a razoabilidade envolve a proporcionalidade, e vice- versa. Registre-se, ainda que a razoabilidade não pode ser lançada como instrumento de substituição da vontade da lei pela vontade do julgador ou do intérprete, mesmo porque ‘cada norma tem uma razão de ser’.

Diante do exposto, não há dúvida de que a LPI, em face do princípio da razoabilidade ou proporcionalidade, deve ser interpretada de modo a proporcionar a concessão de patentes, e não criar empecilhos à sua concessão.

A negativa de pedido de patente de divisão apenas pelo fato de que ele reivindica matéria não reivindicada, mas revelada no pedido de patente original ou pelo fato de ter sido depositado durante a fase recursal de seu pedido de patente original se mostra

54 CARVALHO, Marcia Haydée Porto de. Hermenêutica Constitucional: métodos e princípios específicos de interpretação. Santa Catarina: Obra Jurídica, 2008, p. 74.

55MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 42. ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2016, p. 99.

extremamente irrazoável e desproporcional – e, porque não, injusta – que mitiga fortemente o sistema de patentes.

Foge ao bom senso negar uma garantia constitucional de obter proteção por patente para invenção nova e inventiva por alegadas violações de ordem puramente formal.

Certamente prover, sugerir e orientar reformulações do pedido de patente durante o exame técnico com vistas a conceder patentes se enquadrada perfeitamente na missão institucional do INPI, que tem por finalidade precípua “executar, no âmbito nacional, as normas que regulam a propriedade industrial, tendo em vista a sua função social, econômica, jurídica e técnica”, conforme artigo 2º da Lei nº 5.648/1970, com a redação dada pelo artigo 240 da LPI.

Assim, com fulcro no princípio da razoabilidade e proporcionalidade, pedidos de patente de divisão (i) contendo matéria não reivindicada, mas revelada no pedido de patente original e/ou (ii) depositados durante a fase recursal do pedido de patente original devem ser aceitos pelo INPI.

Caso também se entenda que não há violação ao princípio da razoabilidade/proporcionalidade, a regra do item 2.7 da Resolução nº 093/2013 (não seria aceitável pedido de patente de divisão reivindicando matéria não reivindicada no pedido de patente original) viola o princípio da confiança legítima.