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EFEITOS DO RUÍDO AERONÁUTICO

Para muitas pessoas que residem nas vizinhanças de um aeroporto o ruído é, com certeza, o mais evidente impacto ambiental gerado pela aviação. O ruído das aeronaves (ruído aeronáutico) é todo ruído produzido por aeronaves em operação de pouso, decolagem, taxiamento, circulação e testes de motores. Considera-se, ainda, o ruído produzido pelos equipamentos auxiliares a aeronaves. Esta modalidade de ruído vem preocupando cada vez mais as comunidades atingidas e as autoridades públicas.

Preocupadas com esta modalidade de ruído, as autoridades públicas do mundo inteiro estão desenvolvendo pesquisas a fim de mitigar o impacto ambiental gerado por aeroportos. É o caso da Inglaterra, que já vem desenvolvendo previsões para o aumento do tráfego aéreo até 2030. O governo inglês encomendou a uma comissão de profissionais um estudo de três anos para levantar dados concretos acerca da relação entre o ruído aeronáutico e o incômodo percebido pela comunidade. O primeiro resultado foi divulgado no jornal do Escritório de Ciência e Tecnologia do Parlamento britânico no fim de 2003 (Parliamentary Office of Science and Technology, 2003).

As autoridades inglesas não estão preocupadas sem fundamento, pois o ruído aeronáutico tem enorme potencial para afetar a qualidade de vida de milhões de pessoas que vivem próximas a aeroportos. Este grande número de pessoas está exposto a riscos como distúrbio no sono, incômodos e possíveis efeitos na saúde. Neste sentido, o governo inglês reconhece que o ruído é um

dos impactos mais censuráveis do desenvolvimento de um aeroporto e que o mesmo deve ser minimizado através de medidas efetivas de controle, propiciando, assim, um desenvolvimento sustentável. As pesquisas desenvolvidas pelo governo inglês buscam melhorar o potencial técnico e as políticas públicas para reduzir o ruído aeronáutico nos principais aeroportos do país.

As autoridades espanholas também estão preocupadas com o ruído aeronáutico e promoveram uma pesquisa social com 1.800 pessoas que vivem nas vizinhanças dos seis maiores aeroportos do país. Esta pesquisa visava obter informações sobre a qualidade ambiental das áreas afetadas, a insatisfação com o ruído proveniente do tráfego aéreo e rodoviário, atividades que podiam ser prejudicadas pelo ruído, outros distúrbios gerados por aeronaves e a evolução do impacto promovido por um aeroporto (GARCIA, FAUS e GARCIA, 1993).

Os aeroportos escolhidos foram os de Madrid, Palma, Barcelona, Sevilla, Valencia e Zaragoza. O método escolhido para descrever a exposição da comunidade ao ruído aeronáutico foi o INM (Integrated Noise Model), desenvolvido pelo departamento federal de aviação dos Estados Unidos para avaliar o impacto do ruído proveniente de aeronaves nas circunvizinhanças de um aeroporto. O questionário utilizado possuía 24 diferentes itens que abordavam temas sócio-econômicos e dados demográficos dos respondentes. Todas as questões eram fechadas (múltipla escolha).

A pesquisa espanhola apontou que 39% dos entrevistados estavam empregados e que 23% das mulheres eram donas-de-casa. Sobre o nível de satisfação com a vizinhança, 60% dos entrevistados afirmaram estar

satisfeitos. Perguntados sobre o quanto se sentiam incomodados pelo ruído aeroportuário, 15% responderam que se sentiam muito incomodados, 23% bastante incomodados, 24% moderadamente incomodados, 19% pouco incomodados e 19% não se sentiam incomodados. Nota-se, dos dados obtidos, que 62%15 dos pesquisados percebem consideravelmente o incômodo proveniente do ruído aeroportuário (GARCIA, FAUS, e GARCIA, 1993).

Uma outra pergunta interessante que consta do questionário é a seguinte: Você tem promovido alguma reclamação a respeito do ruído aeroportuário? Os resultados apontaram que 64% nunca promoveram nenhuma ação de reclamação contra o ruído aeronáutico. Muitos dos respondentes afirmaram que somente reclamam deste tipo de ruído com os vizinhos (29%). Muito poucos elaboram reclamações por escrito (2%), e somente 1% chamam a polícia ou outra autoridade local. A partir destes dados, e de muitos outros, as autoridades espanholas concluíram que o ruído aeroportuário ainda não está sendo difundido para a sociedade como um problema ambiental. Os resultados também provaram que o ruído das aeronaves produziam um relevante incômodo em um número muito alto de pessoas que habitam as vizinhanças dos grandes aeroportos da Espanha.

Sendo assim, para Faburel (2005), nos últimos 20 anos, a relação entre os atores envolvidos em áreas de aeroportos (ministérios, operadores de aeroportos, governos locais e comunidade) não chegaram a acordos satisfatórios em nenhum lugar do mundo. Em todos os casos, o ruído aeronáutico representa o foco principal das discussões. O desenvolvimento de conflitos e litígios entre os formadores de opinião durante a elaboração dos

15 15% dos muito incomodados, mais 23% dos bastantes incomodados, mais 24% dos moderadamente incomodados.

projetos constitui uma primeira evidência do aumento da sensibilidade da população ao ruído.

Em artigo publicado em 2005, Faburel enfatiza que uma pesquisa realizada em 1999, pela agência francesa de meio ambiente, com a comunidade próxima ao aeroporto de Orly, mostrou que as propriedades próximas ao aeroporto estavam sofrendo crescente depreciação e que esta questão estava ligada ao aumento do ruído aeronáutico. A depreciação chegou de 20 a 25% do valor da propriedade. Esta é mais uma característica impactante do ruído aeroviário.

Para Coppi (2005) e colaboradores, a poluição sonora causada pelo tráfego de aviões em aeroportos tem causado distúrbios significativos às populações que ficam expostas a esta modalidade de ruído. Para tanto, os governos estão se empenhando em controlar este agente nocivo ao redor dos aeroportos para evitar ou mitigar reações adversas sobre a comunidade, provocadas pelo ruído durante o pouso ou decolagem de aeronaves. Por isso, o esforço das autoridades governamentais em reduzir o ruído aeronáutico baseia-se em estudos que vêem mostrando um crescente aumento de doenças oriundas do excesso de exposição ao ruído aeroportuário.

Não por acaso, atualmente, o ruído aeronáutico é considerado o principal problema ambiental na aviação civil, porque afeta diretamente a qualidade de vida de inúmeras pessoas que residem nas vizinhanças dos grandes aeroportos, que normalmente não são diretamente beneficiadas pelas atividades aeroportuárias (COPPI, 2005).

Pesquisas recentes, como o HYENA16, mostram que estudos epidemiológicos realizados em adultos sugerem um grande risco de desequilíbrio cardiovascular para sujeitos expostos a altos níveis de ruído. Este novo estudo também investigou a associação entre ruído aeroportuário, tráfego urbano e pressão sanguínea incluindo hipertensão e percebe-se, em geral, segundo a pesquisa, que pessoas expostas a um nível de pressão sonora maior ou igual a 70 dB(A) por longos períodos estão sujeitos a efeitos crônicos de estresse causados pelo ruído (JARUP et al., 2005).

Um estudo mais recente de Jarup et al (2008) indicou que os ruídos noturnos procedentes de aviões e automóveis aumentam a pressão sanguínea das pessoas, mesmo daquelas que estão dormindo. Quanto maior é o barulho, maior é a pressão sanguínea, motivo pelo qual viver próximo aos aeroportos pode representar um problema para a saúde. O estudo, realizado entre pessoas que vivem próximo de terminais aéreos europeus, se centrou em medir a pressão sanguínea de 140 voluntários depois que estes permanecessem expostos a ruídos superiores a 35 decibéis. A pressão foi medida a cada 15 minutos, inclusive enquanto os voluntários dormiam, e para tanto também utilizaram instrumentos para estabelecer o impacto dos ruídos na saúde. Entre os ruídos medidos figuram os procedentes do tráfego nas ruas e dos aviões que aterrissavam e decolavam. Desta forma, descobriu-se que a pressão sanguínea aumentava a uma média de 6,2 milímetros de mercúrio para a pressão sanguínea sistólica (alta), e de 7,4 milímetros para a diastólica (baixa), ou seja, a pressão aumentava independente de os voluntários estarem dormindo ou acordados.

16 Hipertension and Exposure to Noise near Airports A european Study on Health Effects of Aircarft Noise.

Sendo assim, o ruído aeroportuário pode ser considerado um agente altamente impactante do meio ambiente, pois segundo o CONAMA17, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam:

i. à saúde, a segurança e o bem-estar da população; ii. as atividades sociais e econômicas;

iii. à biota18;

iv. as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; v. a qualidade dos recursos ambientais.

Percebe-se, então, que a implantação de um complexo aeroportuário ou mesmo de uma obra em um aeroporto, passou a requerer muito mais estudos do que os associados ao campo aeronáutico. A componente ambiental passou a ser quase prioritária na tomada de decisões para sua autorização de implantação. Os estudos devem se concentrar nos impactos e formas de se atuar para minimizá-los, tanto na fase de sua construção como na fase de sua operação. Não basta a justificativa da necessidade de se dispor do transporte aéreo numa região, é imperativo que se saiba como tratar todos os impactos da obra em toda sua área de influência.

17 Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA 18 Conjunto da flora e da fauna de uma região.

CAPÍTULO IV

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