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A efetividade das decisões da OMC

3.2 A OMC E A REGULAÇÃO INTERNACIONAL DO COMÉRCIO

3.2.1 A efetividade das decisões da OMC

É certo que a criação da OMC tem sua importância na comunidade internacional, uma vez que o objetivo principal do Gatt era, inicialmente, a promoção do livre-comércio por meio da redução tarifária, e não tanto a preocupação com marcos de regulação do comércio internacional. Ressalta-se, por exemplo, a importância dos órgãos contenciosos da OMC, como o OSC e o Órgão de Apelação, responsáveis pela produção de decisões que dão corpo legislativo ao Direito Internacional. O OSC não visa aplicar sanção diretamente ao membro pela adoção de práticas que não se coadunem com as regras estabelecidas pela OMC, mas permite a solução de conflitos por meio de um acordo entre as partes. As decisões são baseadas no consenso dos membros presentes à reunião sobre matérias concernentes aos acordos comerciais. As resoluções das organizações internacionais, entre elas, da OMC, integram o que se denomina atualmente de soft law51 (PINHEIRO, 2007, p. 31-49).

As decisões proferidas pela OMC geram impactos inegáveis nas relações comerciais privadas entre agentes econômicos dentro e fora dos seus Estados-membros. Consciente dessa importância, o setor privado vem organizando grupos de pressão cada vez mais atuantes nas negociações que se desenvolvem no âmbito da OMC, seja por meio de organizações não-governamentais, seja por meio de associações de classe. Entretanto, ressalta-se que as negociações sobre tarifas ou normas somente 50 O termo “mão invisível do mercado” foi desenvolvido por Adam Smith. Esta metáfora significa que o mercado,

sob condições ideais, garante uma distribuição eficiente de recursos. Dessa forma, o equilíbrio da inflação, por exemplo, seria controlado pelo binômio da oferta e da procura.

51 Ressalta-se, entretanto, que a importância de determinado documento não está vinculada única e exclusivamente

ao nome que se dá a ele, mas a sua avaliação deve ser feita correlatamente à intenção das partes em criar vínculos jurídicos, em relação a este, na comunidade internacional. Especialmente no campo econômico, as organizações internacionais tendem a estabelecer diretrizes para que os Estados-membros o adotem, mas não são, portanto, vinculativas stricto sensu.

podem ser realizadas pelos representantes dos Estados-membros da OMC, como não poderia deixar de ser, tendo em vista que se trata de um organismo governamental (PINHEIRO, 2007, p. 38).

Aponta-se o OSC e o Órgão de Apelação como centros competentes para se proferirem os entendimentos da OMC sobre determinada matéria. O OSC é encarregado de responder às consultas e solucionar controvérsias surgidas entre os Estados-membros da organização, sobre matérias constantes do Acordo Constitutivo da OMC e seus Anexos, além de adotar os relatórios do Órgão de Apelação. Cabe ao OSC supervisionar a aplicação das decisões e das recomendações dos órgãos decisórios, autorizando a suspensão de concessões ou de outras obrigações e recomendações (PINHEIRO, 2007, p. 44).

Ao Órgão de Apelação são dirigidos os recursos dos membros que não concordam com a interpretação conferida pelos relatórios dos grupos especiais formados para a discussão de um tema. A esse órgão cabe, também, criar, por meio das suas decisões, a jurisprudência da OMC e tentar construir a idéia de previsibilidade e segurança jurídica dentro da organização (PINHEIRO, 2007, p. 44).

As sanções estabelecidas pela OMC são divididas em natureza compensatória e punitiva. A primeira procura equilibrar a situação entre as partes e visa reparar o dano ou o prejuízo advindo de determinado ato considerado ilegal perante os órgãos da OMC; a segunda medida vai além do prejuízo, aplicando uma sanção negativa à parte que ensejou o dano à outra. Esta medida estabelece a relação entre a pena e o dano sofrido, visando garantir que a parte punida não realizará, na próxima oportunidade, a prática de tal conduta considerada ilegal (PINHEIRO, 2007, p. 78-79). Não obstante, ressalta-se que o sistema normativo da OMC não constituiu uma espécie de direito supranacional. A internacionalização das regras por parte dos seus membros, ainda não atingida, é uma medida imprescindível (PINHEIRO, 2007, p. 46).

Para estabelecer um contraponto, cabe ressaltar a disposição da OIT em sua postura adotada na questão das sanções, acerca das quais estatuiu o artigo 33 da Constituição da Organização Internacional do Trabalho e seu Anexo:

Se um Estado-membro não se conformar, no prazo prescrito, com as recomendações eventualmente contidas no relatório da Comissão de Inquérito, ou na decisão da Corte Internacional de Justiça, o Conselho de Administração poderá recomendar à Conferência a adoção de qualquer medida que lhe pareça conveniente para assegurar a execução das mesmas recomendações. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 1946)

Tais medidas elucidadas no artigo 33 são de caráter moral; não há sanção de ordem econômica. A OIT trabalha suas idéias sobre alicerces do diálogo, do intercâmbio de experiências e de cooperação entre seus membros.

Papel complexo em uma comunidade internacional heterogênea, a produção de normas da OMC destina a conectar economias nacionais distintas em um mercado dito globalizado, livrando as barreiras do protecionismo e potencializando a livre circulação de bens no mercado internacional. Entretanto, para que a OMC obtenha sucesso na mediação das relações entre nações soberanas, é imprescindível que tenha credibilidade e aceitação como órgão responsável para sediar discussões divergentes pelos seus Estados-membros, já que toda a base de discussões da OMC é centrada no consenso de seus participantes e ela não tem autonomia suficiente para impor normas de política comercial sem a anuência deles. “A OMC, como foro institucional para a criação de normas, abre a possibilidade de um processo que proporciona tanto barganha quanto argumentação.” (LAFER, 1998, p. 35)

É claro que se pode pensar que o consenso é quase impossível tendo em vista os diferentes interesses; entretanto, há que fazer constar que as coligações entre países são muito importantes para a discussão de temas controversos entre seus membros. As coligações, dependendo do assunto de interesse, podem ser estabelecidas entre

economias deveras diferentes, mas vislumbrando o mesmo fim.52 “Essas coligações

existem num contexto multilateral que articula a heterogeneidade de interesses e as assimetrias de poder entre membros da OMC com capacidade de levar adiante iniciativas para criação de normas.” (LAFER, 1998, p. 36-37)