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EFETIVIDADE DO PROCESSO ELETRÔNICO – A CELERIDADE E O

6   A EFETIVIDADE PROCESSUAL E SUA CELERIDADE SOB O ENFOQUE

6.6   EFETIVIDADE DO PROCESSO ELETRÔNICO – A CELERIDADE E O

Neste ponto do presente trabalho, propõe-se equacionar o questionamento anteriormente exposto, averiguando se o processo judicial eletrônico, na medida em que promove a almejada celeridade processual para entrega da tutela jurisdicional, pode vir a fragilizar o acesso à Justiça por parte dos jurisdicionados.

A princípio, somente duas respostas poderiam ser elencadas. Ou sim, haveria fragilização ao acesso à Justiça; ou não, não restaria fragilizado o acesso à Justiça. No entanto, a discussão vai muito mais além do que essas duas simplórias respostas. Resta, então, adentrar-se em um estudo mais aprofundado quanto ao aspecto questionado.

O dilema entre segurança jurídica de um lado, e celeridade processual, de outro, vem provocando grandes debates sobre a efetividade jurisdicional através dos tempos.

O embate entre segurança e celeridade, em rigor, reflete uma queda de braço inerente a dois princípios constitucionais, quais sejam: o princípio do acesso à Justiça (aqui visto como as garantias processuais da inafastabilidade do controlo jurisdicional, do contraditório e da ampla defesa) e da efetividade (aqui vista como a garantia da razoável duração do processo).

A justiça, para ser de fato efetiva, requer urgentes mudanças no antiquado sistema jurisdicional. A Lei n. 11.419, de 19 de dezembro de 2006, tem grande relevância, pois alimenta o objetivo de adequar o Direito à nova era da globalização do conhecimento e, em especial, dar ao Judiciário o impulso de modernidade, por meio do uso de novas tecnologias, notadamente, através da tecnologia da informação, em que o processo virtual torna-se uma interessantíssima alternativa na incessante busca pela celeridade.

Porém esta celeridade deve estar aliada à efetiva e eficaz produção dos atos de impulsionamento e decisão do processo – atos cartorários, despachos e sentença – sem debilitação da garantia de acesso à Justiça, promovendo-se a interação entre a nova realidade processual e os destinatários da prestação Jurisdicional.

Os novos estudos sobre o processo civil têm alçado voos por áreas até então pouco trabalhadas, tal qual a constitucionalização e a efetividade do processo.

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Saiba-se que o instrumento (processo) não só possibilita, mas também molda, interage e reflete-se no objeto (direito material, em primeiro plano, e o valor justiça social, ao fundo). O processo, então, não mais é compreendido como mera técnica, mas como ferramenta para a realização de valores, em especial os constitucionais. Em função disso, a criação de uma técnica processual guiada por valores fundamentais é o caminho apontado a realizar a parcialidade competente ao direito ético e justo.

Ao visualizar o Direito Processual Civil por meio da lente do acesso à Justiça, tem-se de fazer aflorar toda uma problemática inserida num contexto social e econômico. Daí a necessidade de o processualista socorrer-se de outras ciências, bem como de dados estatísticos, a fazer refletir as causas da expansão da litigiosidade, bem como os modos de sua solução e acomodação. O processualista precisa certificar-se de que toda técnica processual, além de não ser ideologicamente neutra deve estar sempre voltada a uma finalidade social.

A ideia de um processo como instrumento de efetividade e amplamente acessível a todos, cujo objetivo primordial é alcançar a pacificação social, é, sem dúvida, pressuposto para uma tão sonhada justiça social. No entanto, para concretizar tal intento não bastam apenas essas boas intenções, é necessário que seja de vez execrada a malfadada morosidade peculiar ao Judiciário Pátrio.

É de público conhecimento que o Judiciário não vem obtendo êxito em oferecer uma pronta resposta à população que bate às suas portas em busca da solução para seus problemas jurídicos.

As reformas processuais buscam, de forma incessante, a solução à morosidade da Justiça. Efetivamente, devem ser buscadas medidas que tornem o processo mais rápido e célere. A efetividade do processo é exigência premente nos tempos atuais. É cediço que a coletividade anseia por uma atividade jurisdicional capaz de emitir julgamentos céleres e eficazes e apta a garantir o efetivo cumprimento de seus julgados.

Ponto de insatisfações da sociedade brasileira, atualmente, é justamente a insuficiência do Judiciário em prover a justiça aos que a ele recorrem em busca de uma rápida solução aos seus problemas. O processo tradicional não consegue mais dar resposta satisfatória às expectativas de seus usuários, o que evidencia a obsolescência de tal modelo. Necessita-se resolver o problema da insatisfação

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quanto à lentidão da prestação jurisdicional e tornar mais célere o trâmite processual e entregar-se à sociedade uma quantidade maior de decisões e em tempo cada vez menor.

A atividade jurisdicional, meio para a realização objetiva dos direito materiais propiciando a pacificação social, impõe desafios comuns aos diversos ordenamentos jurídicos, despertando preocupações voltadas à consolidação de um sistema processual que esteja calcado em instrumentos que permitam a eliminação do litígio sem que a demora da sua resolução faça com que as partes suportem ônus maiores do que aqueles oriundos da insatisfação causada pela violação de seu direito.

Esse sentimento de insatisfação estatal e popular no tocante à má qualidade do serviço público jurisdicional e à atuação de seus membros e órgãos responsáveis é perceptível individua-se se examinarmos os conteúdos normativos de alguns dos novos dispositivos constitucionais. Por exemplo, em primeiro lugar, quando a Constituição criou o Conselho Nacional de Justiça, novo órgão integrante do sistema Judiciário, conferindo-lhe várias atribuições, entre elas, a de controlar o cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Por segundo, quando a Constituição ampliou o conceito normativo de devido processo legal, nele incluindo, agora, o direito fundamental do povo a um processo de razoável duração e aos meios que garantam a celeridade de sua tramitação, tal significando, em outras palavras, direito do povo jurisdicionado a um processo sem dilações indevidas.

O processo eletrônico terá entre outras finalidades a missão de tornar mais célere o Judiciário. Tal expectativa, porém, pode não se concretizar, pois é difícil um prognóstico exato quanto aos resultados concretos que advirão. Em especial, somente a implantação do processo judicial eletrônico, por si só, parece ser insuficiente. As leis têm de traçar procedimentos simples, claros, ágeis. Mas para fazê-los operar não pode a Justiça depender do gênio individual de cada juiz ou auxiliar. Não serão, como é intuitivo, as simples reformas das leis de procedimento que irão tornar realidade, entre nós, as garantias cívicas fundamentais de acesso à justiça e de efetividade do processo. O tão sonhado processo justo, que empolgou e dominou todos os processualistas no final do século XX continua a depender de reformas, não de leis processuais, mas da justiça como um todo.

Cabe, agora, à sociedade do século XXI exigir dos responsáveis pela Justiça brasileira que façam passar pela mesma revolução tecnológica por que estão

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passando as modernas administrações públicas e privadas, sob o impacto do planejamento, coordenação, controles, estatística, cibernética, processamento de dados etc.

A preocupação com a justiça deve ser tão ou maior quanto à preocupação com o tempo de duração de um processo. Não basta apenas que se resolva de firma extremamente rápida uma ação pelo uso do processo informatizado. Numa espécie de contrapeso na balança, impõem-se colocar diante da almejada celeridade o princípio da inafastabilidade da jurisdição ou do acesso à Justiça, pois na angústia de obter-se a celeridade, esta pode vir a ser sinonímia de injustiça. Para que isso não ocorra, a agilidade na tramitação dos procedimentos processuais não poderá desprezar outros princípios imprescindíveis para que se produzam decisões efetivamente justas.

Conforme a perspectiva técnico-jurídica, o acesso à Justiça, em seu sentido formal, deve abarcar a ampla admissibilidade das partes ao processo (universalidade da jurisdição), tornando-se efetivos os princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, visando contribuir para a formação do convencimento do juiz acerca do direito pleiteado.

Nada obstante tratar-se de um direito supraconstitucional, o acesso à Justiça não se concretiza somente com a dispensa do pagamento de custas e a oferta de assistência jurídica (gratuidade da justiça), como se verifica na maioria dos juízos. O processo configura-se instrumento imprescindível à atuação da Justiça e o devido processo legal o meio de efetivar-se a pretensão deduzida pela parte, ambos alçados ao nível de direito fundamental.

Isso tudo demonstra razão para se sustentar que por certo a celeridade processual não pode estar desvinculada de um amplo acesso à Justiça, sob pena de não se concretizar a efetividade da Justiça. Em verdade, poder-se-ia dizer que são dois princípios processuais vinculados a direitos assegurados constitucionalmente. Certamente, a busca por resultados não pode justificar a transposição dos limites impostos pelas garantias, pois se estaria objetivando apenas alcançar um processo voltado para bases estatísticas.

O acesso à Justiça compreende, ainda, outros pontos assegurados na Constituição, despertando inquietação no espírito de todos os que almejam uma efetiva entrega da tutela jurisdicional. Cada vez mais, no ambiente jurídico, há uma conscientização por parte de todos os operadores do direito no sentido de livrar-se

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de certas amarras processuais para se consagrar o espírito de que realmente venha a se assegurar à busca da Justiça.

As normas constitucionais garantem não só apenas o direito à ação, mas tornam possível um acesso efetivo à Justiça e, assim, um direito à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. Não teria cabimento entender, com efeito, que a Constituição da República garante ao cidadão que pode afirmar uma lesão ou uma ameaça a direito apenas e tão somente uma resposta, independentemente de ser ela efetiva e tempestiva. Ora, se o direito de acesso à Justiça é um direito fundamental, porque garantidor de todos os demais, não há como imaginar que a Constituição da República proclama apenas que todos têm o direito a uma mera resposta do juiz. O direito a uma mera resposta do juiz não é suficiente para garantir os demais direitos e, portanto, não pode ser pensado com uma garantia fundamental de justiça.

Não basta, portanto, que haja somente a pronta resposta do magistrado. Porquanto o significado do direito de acesso à Justiça se estende a todos os meios ou instrumentos legais e também, pela forma processual, de acordo com o direito codificado que é posto para a solução dos conflitos de interesses. O acesso à Justiça buscado neste novo milênio é orientado para decisões de maior integração social, consenso e cooperação, em que a justiça visa a diminuir as diferenças econômicas e de status social das classes, com o objetivo de equilibrar as partes envolvidas, proporcionando assim o desenvolvimento social.

O nosso Direito é frequentemente complicado e, se não em todas, pelo menos na maior parte da área, ainda permanecerá assim. Precisamos reconhecer, porém, que ainda subsistem amplos setores nos quais a simplificação é tanto desejável quanto possível. Ante a tal afirmação, é de se compreender que não se pode permanecer isolado e alheio à realidade.

Os termos Justiça e Judiciário, ao contrário do que a tradicional construção doutrinária afirma, não são sinônimos a ponto de não aceitar outros meios de acesso à Justiça, que não o Judiciário. Devendo ser revistos os conceitos à luz dos novos tempos. Para o autor, o acesso à Justiça, sobrepõe-se em valor ao acesso ao Judiciário, sendo mais abrangente, eis que significa acesso à gama maior de valores e direitos fundamentais, não se resumindo apenas pela atividade judiciária, mas também extrajudiciária.

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O acesso à Justiça é, portanto, algo mais complexo, representando mais do que o ingresso no processo e seus meios, indo além dos limites do acesso aos órgãos judiciais existentes. Deve-se ir além do acesso garantido a todos pela Constituição Federal, deve-se alcançar o asseguramento dos direitos e das garantias sociais fundamentais, mas não apenas isso.

Sem dúvida que um verdadeiro acesso à Justiça não se faz unicamente dando-se a oportunidade para que os indivíduos possam adentrar e pleitear seus direitos junto ao Poder Judiciário, mas sim, provendo todos os meios para que possa ter um provimento jurisdicional restaurador de seu bem da vida lesado ou que, ao menos, declare uma solução para a questão levantada em juízo. Da mesma forma, não basta apenas promover-se maior celeridade no trâmite processual para que se chegue a uma justa decisão. Muito mais que rapidez, é imprescindível que se melhore em todos os sentidos a prestação jurisdicional.

Certamente, o grande desafio reside no equacionamento desses dois valores: tempo e segurança. A decisão judicial tem de compor o litígio no menor tempo possível. Porém deve respeitar também as garantias da defesa (due process of low),

sem as quais não haverá decisão segura. Celeridade não pode ser confundida com precipitação. Segurança não pode ser confundida com eternização.

Portanto abstrai-se que esses princípios nem sempre estarão em conflito e sim que entre os mesmos existem laços comuns que os unem no objetivo de melhorar a atividade do Judiciário, visando ao aprimoramento da prestação jurisdicional com o amplo acesso de todos os cidadãos e a devida razoável duração do processo – celeridade – e, principalmente, com plena efetividade na pacificação dos litígios e realização da Justiça.

Afinal, como se demonstrou ao longo da obra, mostra-se importantíssima a contribuição do processo judicial em meios eletrônicos na medida em que promove, entre tantas características positivas, a modernização do Judiciário sem causar qualquer vedação de direitos aos jurisdicionados ou infringência aos princípios constitucionais, bem como promove maior agilidade no proferimento das decisões judiciais e, assim, consubstanciando-se no aperfeiçoamento da justiça e na entrega da tutela jurisdicional de forma realmente efetiva.

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