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5   A GARANTIA DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO

5.1   JURISPRUDÊNCIA SOBRE A DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO 52

5.1.5   Legge Pinto (89/2001) – Solução ou Paliativo? 61

A Itália se viu obrigada a introduzir o chamado “processo justo” em sua Constituição75 e, desse modo, editar uma lei que previsse a possibilidade de os cidadãos reivindicarem indenização perante suas próprias Cortes, assim, restringindo o acesso direto à Corte Europeia, que exige o esgotamento prévio dos recursos internos76.

No que toca à Legge Pinto (Lei 89/2001), o seu art. 2º, assim dispõe: Art. 2. Diritto all'equa riparazione

1. Chi ha subìto un danno patrimoniale o non patrimoniale per effetto di violazione della Convenzione per la salvaguardia dei diritti dell'uomo e delle libertà fondamentali, ratificata ai sensi della legge 4 agosto 1955, n. 848, sotto il profilo del mancato rispetto del termine ragionevole di cui all'articolo 6, paragrafo 1, della Convenzione, ha diritto ad una equa riparazione. 2. Nell'accertare la violazione il giudice considera la complessità del caso e, in relazione alla stessa, il comportamento delle parti e del giudice del procedimento, nonché quello di ogni altra autorità chiamata a concorrervi o a comunque contribuire alla sua definizione.

3. Il giudice determina la riparazione a norma dell'articolo 2056 del codice civile, osservando le disposizioni seguenti:

a) rileva solamente il danno riferibile al periodo eccedente il termine ragionevole di cui al comma 1;

b) il danno non patrimoniale è riparato, oltre che con il pagamento di una somma di denaro, anche attraverso adeguate forme di pubblicità della dichiarazione dell'avvenuta violazione77.

75 Art. 111 da Constituição Italiana: “La giurisdizione si attua mediante il giusto processo regolato dalla legge”.

76 “Essa situação causou grave transtorno político à Itália como membro da Comunidade Européia, além de natural abalo em sua soberania, principalmente em razão da forte pressão exercida pelos demais países, uma vez que tantos foram os processos de cidadãos italianos perante a Corte Européia que se causou uma morosidade da própria Corte, a qual se viu às voltas com uma carga excessiva de processos em razão da exagerada duração do processo italiano, que não conseguia mais julgar seus próprios casos em tempo adequado. Diante desse quadro, a Itália viu-se obrigada a, inicialmente, introduzir o justo processo em sua Constituição e, às pressas, aprovar uma lei que prevê a possibilidade de os cidadãos italianos requererem indenização perante as próprias Cortes italianas, porquanto a Convenção Européia somente admite recursos à Corte Européia quando esgotada a jurisdição no país-membro ou na hipótese de inexistência de lei que preveja a possibilidade de o jurisdicionado exigir determinado direito perante seu próprio país de origem” (HOFFMAN, Paulo. O direito à razoável duração do processo e a experiência italiana. In: WAMBIER, Luiz Rodrigues.

Reforma do Judiciário: Primeiras Reflexões sobre a Emenda Constitucional nº 45/2004. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2005, p. 584).

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Consoante essa lei, infere-se que o direito à indenização decorre de danos morais e materiais sofridos ao longo da excessiva duração do processo, havendo clara disposição no texto de que se trata “da mesma indenização a que o cidadão teria direito com base na Convenção Europeia de Direitos do Homem”78.

A Lei deixa claro que os critérios utilizados pelo juiz quando da análise do pedido são os mesmos definidos pela Corte Europeia, quais sejam: a complexidade do caso, o comportamento das partes, do juiz e demais auxiliares. A reparação de danos, por sua vez, segue os ditames da lei interna, podendo o dano moral ser reparado por indenização pecuniária ou publicidade79.

Outro aspecto interessante da Lei Pinto é que existe a possibilidade da demanda indenizatória ser proposta ainda que pendente o processo em que se julga ter havido violação à razoável duração, contudo a ação indenizatória tem o prazo prescricional de seis meses, a contar do trânsito em julgado da decisão80.

O art. 5º da referida lei determina que as decisões devem ser comunicadas às partes e também ao Procurador-Geral da Corte dei conti, que é uma espécie de órgão administrativo responsável pelo controle dos gastos públicos, com o fim de eventual verificação de culpa das autoridades envolvidas. Isso demonstra a preocupação do legislador em tomar medidas disciplinares e evitar reincidência81.

A Lei Pinto italiana decorre da estarrecedora estatística que apontava que, em meado dos anos de 1990, 85% das causas relativas à violação da duração razoável submetidas à Corte Europeia eram movidas contra o Estado italiano82.

Assim, o objetivo de referida lei era criar um remédio intramuros para cumprir a norma exposta no art. 13 da Convenção Europeia.

Em seu Capítulo II, que trata da justa reparação, a Lei Pinto estabelece o direito a uma justa reparação para quem sofrer dano patrimonial ou extrapatrimonial decorrente da violação da duração razoável prevista no art. 6º, §1º, da Convenção Europeia. Como critérios para aferição da proporcionalidade da duração processual, a Lei Pinto estabelece os mesmos consolidados nas decisões da Corte Europeia83.

78 HOFFMAN, Paulo. Op. cit., p. 582. 79 Ibidem.

80 Ibidem, p. 583. 81

HOFFMAN, Paulo. Op. cit. 82 Ibidem.

83 "Art. 2. (Diritto all'equa riparazione). 1. Chi ha subi'to un danno patrimoniale o non patrimoniale per effetto di violazione della Convenzione per la salvaguardia dei diritti dell'uomo e delle liberta'

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Igualmente, o dano se dá em relação ao tempo patológico, ou seja, o que ultrapassou a natural duração fisiológica, sendo que decisões italianas costumam levar em consideração a regra dos cinco anos da Corte Europeia e o valor de mil euros por ano excedente, mesmo que não haja qualquer subordinação hierárquica ou política entre as duas jurisdições84.

Impõe-se salientar, contudo, que a Corte Europeia entende que o pagamento do montante indenizatório devido deve ocorrer no prazo de seis meses do termo em que a decisão passa a ter executoriedade, sendo que, nos casos Cocchiarella contra Itália e Gaglione contra Itália, condenou-se o Estado italiano por descumprir a própria Lei Pinto, pois os pagamentos, no caso Gaglione, levaram de nove a 49 meses, sendo que aproximadamente 65% dos casos ultrapassavam os 19 meses.

Percebe-se, pois, que a própria Lei Pinto, que buscava a duração razoável dos processos, não está sendo cumprida em tempo razoável, o que propicia que novas demandas sejam propostas perante a Corte Europeia.

Indispensável, para o direito processual, que se viabilize, conforme a análise do caso concreto, a tutela adequada, efetiva e tempestiva do direito pretendido.

Nesse sentido, de fundamental relevância é o estudo da relação entre tempo e direito, mormente no sentido de se buscar a efetivação de uma tutela tempestiva.

Para tanto, o direito fundamental à duração razoável do processo é um notável avanço no Direito brasileiro, consagrado pela Emenda Constitucional nº 45, que inseriu o inciso LXXVIII ao art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil. De qualquer sorte, mesmo antes dessa positivação, já se reconhecia o direito fundamental à duração razoável no país.

Tal direito fundamental é consagrado em inúmeros ordenamentos alienígenas e impõe ao Estado – Poder Legislativo, Poder Judiciário e Poder Executivo – deveres para sua densificação, havendo um dever de proteção normativa, um dever de dotação e um dever de prestação de tutela jurisdicional tempestiva.

Cumpre destacar, em relação ao direito fundamental à duração razoável, a atuação da Corte Europeia dos Direitos do Homem, especialmente em razão dos

fondamentali, ratificata ai sensi della legge 4 agosto 1955, n. 848, sotto il profilo del mancato rispetto

del termine ragionevole di cui all'articolo 6, paragrafo 1, della Convenzione, ha diritto ad una équa riparazione. 2. Nell'accertare la violazione il giudice considera la complessita' del caso e, in relazione alla stessa, il comportamento delle parti e del giudice del procedimento, nonche' quello di ogni altra autorita' chiamata a concorrervi o a comunque contribuire alla sua definizione."

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critérios adotados para a aferição da proporcionalidade da duração do processo, além de sua forte influência sobre seus Estados-membros, dando efetividade ao direito fundamental.

O que se impõe analisando está legislação Italiana é até que ponto a nova sistemática auxilia para o mais célere desenvolvimento do processo. Parece ser uma questão muito mais cultural do que de reparação de eventual dano e punição quanto ao não cumprimento de eventuais prazos para solução de conflitos.

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6 A EFETIVIDADE PROCESSUAL E SUA CELERIDADE SOB O ENFOQUE