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As Diretrizes Educacionais do Estado do Paraná de 2003/2006 surgiram a partir de diversas reuniões e encontros entre professores e representantes do Governo do Paraná, com vistas a valorização da disciplina e do ensino da Arte na Educação Básica. Essas diretrizes propõem que a escola tenha, no mínimo, uma carga horária de duas horas-aula semanais, em todas as séries do Ensino Fundamental I.

Retomam o diálogo relacionado com a necessidade de ampliar e efetivar, por meio de concurso público, o quadro próprio de professores graduados em arte. Foram criados também projetos integradores, como “O Fera” (Festival de Arte da Rede Estudantil) e

o “Com Ciência”, que visam a troca de experiências artísticas e encontros envolvendo escolas, estudantes e professores da ampla rede estadual de ensino (PARANÁ, 2007).

As Diretrizes Curriculares paranaenses, em questão, indicam que muitas mudanças e avanços aconteceram, visando a efetivar uma transformação no ensino da arte desenvolvida no Ensino Básico. Mas, para a Secretaria de Estado da Educação, essa disciplina exige reflexões que contemplem a arte enquanto área de conhecimento e não meramente como meio para destacar os chamados dons inatos da criança. E porque essas estratégias de ensino artístico, não raro, são aplicadas de modo equivocado e como uma prática de entretenimento recreativo e/ou terapêutico.

O ensino de arte, nessa perspectiva rompe com o modelo educacional artístico existente e passa a ser estudada, compreendida e aplicada como uma área importante para o desenvolvimento criativo e artístico da criança frente a uma sociedade em constante transformação.

No ano de 2007, os professores da rede pública estadual receberam esse documento (Diretrizes Curriculares de Arte Para a Educação Básica) e o texto teve como base as orientações legais decorrentes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96. Esta lei estabelece que a Educação Básica é formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, tendo por finalidades “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.” (BRASIL, 1996).

Em relação ao ensino em pauta, as Diretrizes Curriculares de Arte Para a Educação Básica entendem que a abordagem didático-pedagógica do professor deve pautar-se na análise das relações entre a arte e sociedade. Em outras palavras, significa enfatizar no ensino da arte os três aspectos importantes que devem ser abordados: o trabalho criador humano, a arte como uma forma de conhecimento construída historicamente pela humanidade e a arte como um processo de se criar, quando necessário, uma contra ideologia. Essas abordagens devem nortear a metodologia de ensino, a seleção de conteúdos e a avaliação escolar.

O documento reforça a idéia de que a criatividade humana foi, em tese, desvirtuada pelo modelo de produção capitalista, separando o trabalhador de sua própria produção. Esse é um dos fatores que provoca a alienação do trabalhador, e quase sempre é irreversível, porque um profissional de diferente categoria, ao se aproximar de sua própria produção-mercadoria não a identifica como sendo um autor co-participante do processo de

sua criação e/ou invenção. Mas, na condição de um consumidor, a adquire sem questionar a origem.

Vale ressaltar que o ensino da arte na escola nessa perspectiva possibilitaria a recuperação da natureza do trabalho como processo criativo. Por esse motivo tais diretrizes entendem que a criação de uma obra e a construção de um trabalho criador é essencialmente atribuída ao ensino de arte. E os estudantes (crianças, jovens e adultos) devem ter seus direitos educacionais garantidos e ainda, livre acesso ao fazer artístico para além da escola.

O papel da escola, então, deve ser o de oferecer à criança um espaço socializador e promotor do conhecimento, possibilitando a ampliação de oportunidades ligadas ao campo da arte, para que ela experimente situações significativas de aprendizagens que envolvam a sensibilidade estética, a criatividade e outros processos humanos.

Deste modo, o trabalho didático-pedagógico do professor nas séries iniciais tem uma importância fundamental no ensino da arte porque cabe a esse selecionar estratégias pedagógicas instigantes, conteúdos relevantes e relacionados ao contexto sócio-histórico. É imprescindível que o professor considere as diferentes origens socioculturais das crianças, explore os conhecimentos originados pela comunidade e discuta como as diferentes manifestações artísticas podem produzir significado à vida infantil.

Essa análise das Diretrizes Educacionais propostas pelo Estado do Paraná (PARANÁ, 2007) possibilita-nos inferir, que no momento, esse documento escolar legal é importante porque foi pensado e construído com a co-participação de professores da rede pública paranaense e ressalta a necessidade de conceber o fazer artístico, não como um passatempo ou um enfeite qualquer. O documento sugere e recomenda que o trabalho em arte deva ser mediado por um arte-educador e que esse exija, sempre que possível, que a criança use sua própria criatividade na elaboração de suas atividades.

Finalmente, enfatizamos que este estudo teórico, envolvendo o terceiro caminho desta pesquisa, possibilitou-nos compreender, ainda mais, que existem e/ou existirão sempre conflitos inerentes às classes trabalhadoras, quer sejam de natureza política, empresarial, e/ou relacionadas aos professores, entre outras. E esses conflitos sócio-históricos interferem no todo de uma produção humana, em especial na produção artística de natureza escolar e no viver criativo humano.

Constatamos, também, que as instituições de ensino ainda estão organizadas, voltadas e/ou preparadas para atenderem, preferencialmente, a uma determinada classe social detentora de um poder político e econômico, constituído no sentido tradicional, sendo que sua finalidade principal é manter, não raro, a reprodução de uma sociedade

pautada nos interesses capitalistas. Mas, pensamos que se trata de um processo educacional histórico, não imutável, porque o homem, diferentemente de outros animais, pode re-construir diariamente o mundo e a sua própria realidade existencial atribuindo-lhes novos significados.

4 DELINEANDO O CAMINHO METODOLÓGICO

Metodologia no sentido conceitual significa, na sua origem, direção, caminhos não iguais percorridos pelo homem, professor, cientista, entre outros, para atingir o objetivo de uma pesquisa ou um de estudo, de natureza formal, utilizando-se de instrumentos para a coleta de dados indispensáveis para a produção de novos conhecimentos científicos. Esse caminho metodológico nos possibilitou rever e estudar dados oriundos de um contexto empírico.

Apresentaremos, na seqüência, os itinerários deste estudo, contendo análises e sínteses relacionadas à criatividade humana, manifestada no contexto escolar. Lançamos um olhar teórico crítico à escola, de ensino básico, buscando compreender, um pouco mais, o sentido e significado criativo relacionado ao ensino da arte. E visando, também, a rever esse ensino, segundo as orientações e sugestões contidas na Legislação Educacional Brasileira.

Para tanto, analisamos a Proposta Pedagógica para o ensino de arte, de uma escola pública, pautada no modelo Histórico-Crítico para compreender sua concepção de ensino de arte e observar as estratégias didático-metodológicas utilizadas pela professora para verificar como essa realiza a mediação de ensino envolvendo os conteúdos, de natureza artística, com as crianças durante a execução de diferentes trabalhos.