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De acordo com a Lei n° 9.394/96, o ensino da Arte passou a ser considerado um “[...] componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da Educação Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (artigo 26, parágrafo 2º) BRASIL, 1996). Para adequar-se a essa nova lei foram criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o Ensino Fundamental I (que propõem a concepção de arte como produção histórica e socialmente construída. (BRASIL, 1997).

Com base nesta concepção, o ensino de arte, como caminho para a construção de conhecimento humano, deve ser praticado e/ou expressado no âmbito da produção, criação, fruição e reflexão sobre o fazer artístico. Assim, a estrutura dos PCNs para o Ensino Fundamental denomina a “Área de Arte” e destaca a necessidade de vivências e experienciações das quatro linguagens artísticas: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a área de Arte tem uma função tão importante quanto as demais áreas no processo de ensino e aprendizagem porque propicia o desenvolvimento da sensibilidade estética, a percepção e da imaginação, tanto no processo criador quanto na apreciação de obras de arte e da própria natureza física.

Assim, a criança que exercita continuamente a sua imaginação pode estar mais preparada para realizar outras atividades, como: a construção de um texto, análise de fatos e re-construção de conhecimentos e os relacionar aos diferentes períodos históricos, além de desenvolver outras habilidades facilitadoras de sua comunicação e expressão e a prepara para resolver problemas que envolvem o raciocínio lógico matemático, entre outros processos e atividades (BRASIL, 1997).

O documento considera que atividade criadora é uma necessidade humana porque só criando, transformando o mundo, o homem colabora para a transformação da sociedade onde está inserido, o re-constrói e além de refazer a si mesmo. Nesta perspectiva, a função essencial da arte é ampliar e enriquecer as criações humanas e a sua comunidade próxima e até à global.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem um ensino criador, que contribua para integrar a aprendizagem lógica-estética das crianças. Dessa forma “[...] poderá contribuir para o exercício conjunto complementar da razão e do sonho, no qual conhecer é também maravilhar-se, divertir-se, brincar com o desconhecido, arriscar hipóteses ousadas, trabalhar duro, esforçar-se e alegrar-se com descobertas.” (BRASIL, 1997, p.35).

Torna-se evidente que a prática da arte é lúdica no sentido de lidar com o desconhecido, visando a novas descobertas, o que pode refletir numa melhoria e um enriquecimento da ação pedagógica do professor. A arte representa uma área de conhecimento e pode assumir uma prática intencional humana aliada à imaginação, idéias, sentimentos e emoções do homem. Homem esse, que busca respostas à sua existência. Assim, o artista pode procurar informações teóricas e empíricas no campo das ciências, de qualquer natureza. (FORQUIN, 1982).

É observável, no contexto teórico dos PCNs (BRASIL, 1997), que os objetivos da educação têm mudado, assim como as abordagens de ensino, mas os professores, em sua maioria, continuam necessitando de estudos continuados para aprofundarem e enriquecerem sua formação profissional com o objetivo de realizar um ensino de arte significativo a si próprio e às crianças.

Muitas vezes essas propostas educacionais estão longe de contemplar a diversidade sociocultural e as especificidades de cada região brasileira, porque foram criadas e implantadas sem consultar o professor, que é um dos sujeitos principais do processo educativo.

Barbosa (2005) também chama a atenção para a ausência da co-participação dos professores na criação dos PCNs e expressa sua indignação a respeito do currículo nacional, citando como exemplo o adotado no Canadá. Esse país tem, no geral, o melhor ensino do mundo ocidental e sempre recusou a adoção de um currículo nacional uniforme.

A educação na Inglaterra piorou depois da adoção de uma proposta nacional, o que também não deu certo na Espanha. Ainda, de acordo com Barbosa (2005), os atuais Parâmetros Curriculares Nacionais foram elaborados por pesquisadores capacitados, mas vinculados a universidades hegemônicas, distantes da realidade brasileira e da diversidade sócio-cultural existente no país.

É premente que se entenda que os PCNs não sugerem a natureza do conteúdo artístico a ser trabalhado porque esse é essencialmente singularizado e apenas apresenta linhas estruturais gerais para o ensino da arte. Entendemos, que esses conteúdos deveriam ser re-estudados, debatidos, e até mesmo selecionados de acordo com as

necessidades socioculturais de cada Estado e municípios brasileiros e, posteriormente, em todas as escolas públicas e privadas. Um documento contendo essas informações poderia ser interessante e democrático; mas, como não é real, é comum encontrarmos documentos similares nas gavetas, de secretárias das escolas.

Assim, a arte representa uma área do saber e que seu ensino deveria ir além do saber escolar, quando a arte é trabalhada sob forma de disciplina, seu planejamento é similar ao de outras áreas do conhecimento humano com relação aos seus objetivos e metodologias, entre outros elementos didáticos. Mas isso não significa uma homogeneidade entre a arte e outras disciplinas, uma vez que a arte co-existe, ou envolve-se ou relaciona-se com diferentes áreas do conhecimento humano. E, quando o professor necessita ilustrar e fundamentar sua aula, poderá utilizar abordagens teóricas das ciências, da psicologia e da história e relacioná-las ao ensino da arte.

Dessa forma, o trabalho de produção artística planejada para se trabalhar com a criança deve configurar-se numa concepção de arte que se aproxima da alegria e esperança contidas no pensamento de Freire (1997, p.72) onde “[...] professor e alunos juntos podem aprender, ensinar, inquietar-se, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos [...]”, obstáculos analisados e entendidos por nós pesquisadoras como sendo impostos pela ordem estabelecida. Em relação às inquietações humanas e suas necessidades de aprender junto e ao lado do outro, pode significar realmente a alegria e a esperança que fazem parte da natureza humana.