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Diagrama 4.8 – “ um caminho espiritual” (A ayahuasca é )

4. DESCRIÇÃO DO FENÔMENO

4.1 EIXO-TEMÁTICO 1: PERCURSO HISTÓRICO

A partir da leitura das entrevistas, o que se pôde perceber no que se refere ao que levou os entrevistados a experimentarem a ayahuasca pela primeira vez, foi que todos eles já tinham um histórico de busca pelo autoconhecimento, antes mesmo de conhecerem o chá.

Essa busca pelo autoconhecimento acabou levando-os a entrar em contato com o vegetal. É o caso de Carlos que afirma ter chegado até a ayahuasca por “coincidência”, mas que já tinha interesse em autoconhecimento, como vemos no seguinte trecho de sua entrevista: “Nunca tive afinidades com drogas, não tinha interesse em drogas, mas tinha interesse em autoconhecimento e como eles disseram que era um chá do conhecimento, eu fui lá.”

De forma semelhante, Amanda explica que sua “natureza de buscadora” a levou muito cedo para a busca do autoconhecimento, fazendo com que ela experimentasse diferentes práticas ligadas ao crescimento pessoal, como o yoga e o teatro. Para ela, a ayahuasca entraria “como mais uma” ferramenta para transcendência:

Eu acho que foi a minha natureza de buscadora mesmo, assim, eu sou desde muito nova, eu sou diferente da minha família... (...) Então, muito cedo eu fui pra essa busca (...) eu sinto que de alguma forma minha alma era uma alma buscadora e buscava uma coisa meio radical mesmo, assim, uma transformação (...) eu acho que a minha alma já entendia que existia uma coisa que me ajudasse, um veículo, como o yoga é, então a minha vida toda eu fiz tudo isso, eu fiz yoga, eu fiz teatro, eu fiz coisas de transcendência, assim... Então, a ayahuasca nesse sentido, ela entra como mais uma...

Assim como Carlos e Amanda, Carla explicou que sempre teve a “tendência da busca” e que há mais de 30 anos alguns amigos a levaram para tomar a ayahuasca pela primeira vez, porém ela não deu continuidade por não se sentir preparada, além de que não tinha disponibilidade, por estar muito envolvida com questões ligadas à vida material e familiar.

Muitos anos mais tarde, ao passar por uma situação existencial complicada envolvendo o término do seu casamento, a insatisfação e a angústia a fizeram iniciar sua jornada espiritual. Neste contexto, buscou vários tipos de terapia, dentre elas o Eneagrama26.

Ao final do Eneagrama, os membros do grupo receberam um regalo, que era justamente a ayahuasca:

Quando eu era garota, há mais de 30 anos atrás, foram amigos, né, que me levaram e tal, aqui em Brasília mesmo (...) Aí mais tarde... eu me separei do meu marido e comecei aquela busca, né, minha vida se transformou, assim,

26 Eneagrama é um curso vivencial oferecido pelo instituto EneaSAT do Brasil. Aplicado ao estudo da

personalidade, o Eneagrama “descreve detalhadamente o caráter humano e suas dinâmicas internas”,

fornecendo “os instrumentos necessários à expansão da consciência”. (Informações retiradas do site

de repente e... aquela insatisfação, aquela angústia me fez buscar o caminho espiritual que eu já tinha a tendência, sempre tive a tendência, né, da busca. (...) até que eu cheguei no Eneagrama e foi através do Eneagrama que eu, que eu voltei à ayahuasca. (...) Então, de repente, a questão do casamento ter acabado, foi assim o que me impulsionou a buscar, né, uma satisfação no trabalho espiritual.

Beth, assim como Carla, conheceu a ayahuasca em um momento de crise. Estava em um processo depressivo sem querer tomar as medicações tradicionais que na época traziam “efeitos colaterais terríveis”:

(...) nessa época eu estava num processo depressivo, tava com um processo depressivo, sem querer tomar medicação, mas comecei... tive... que tomar medicação, comecei a tomar medicação. E as medicações na época, sempre tinham efeitos colaterais terríveis, né? Que era o carbolitio, a base de lítio e tal e... a bula, se a gente lesse a bula, pelo amor de Deus. Aí eu tomei, é... poucos comprimidos e parei. Eu falei: “Não, esse negócio não tava certo...”

e foi quando... eu tive a oportunidade.

Neste contexto, participando de um grupo terapêutico (também o Eneagrama), percebeu que algumas pessoas do grupo que foram conhecer o Daime tiveram mudanças comportamentais muito significativas, o que a deixou muito curiosa: “Porque aquela pessoa, eu via o desenvolvimento da pessoa na terapia e não saía do mesmo lugar e depois que tomou o daime, mudou totalmente, né? Teve um salto de consciência. Daí aquilo me despertou a curiosidade... E eu fui convidada, aí fui.”

Elaine, por sua vez, ouviu falar sobre a ayahuasca pela primeira vez através de um livro do antropólogo Michael Harner, no qual o autor relatava uma experiência com esta substância. Esta leitura atiçou sua curiosidade:

Primeiro foi curiosidade, né, assim que eu... eu comecei a acompanhar um xamã há uns anos atrás e eu comecei a me interessar por assuntos ligados, né, a ... ao xamanismo e aí eu li um livro do Michael Harner (...) eu fiquei bastante... assim... curiosa, assim, pra conhecer...

Depois disso, foi convidada duas vezes para participar de uma cerimônia da UDV, mas recusou, pois não sentia que era o momento: “Durante quase dois anos, eu tinha muita curiosidade mas eu sempre, assim... eu tenho como hábito ouvir primeiro o meu coração, assim, aonde vai e... se... quem é que tá querendo ir, né?”. Aguardou, então, um momento

mais propício e quando estava passando férias em Alto Paraíso, encontrou uma amiga muito antiga que tinha ido a uma cerimônia com o chá:

(...) e quando ela contou que tinha ido eu me senti mais aberta e aí, ela chamou a pessoa que conduzia, que era o Júnior, Argentino, lá em Alto Paraíso e ele foi até a casa dela, nós conversamos e ele disse que eu poderia ir pra uma sessão. E eu fui e foi... incrível, assim, foi mágico.