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1- Ficha de leitura e análise desenvolvida para a pesquisa

5.1 ELABORAÇÃO E DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS E CONSTRUÇÃO DA FICHA DE

A busca por respostas quanto ao tipo e a forma das narrativas, pelas estratégias de comunicação, enquadramentos e mecanismos de mobilização social propostos na Campanha “Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública” impôs a definição por uma metodologia que permitisse a análise do material audiovisual produzido de forma integral. Nesse contexto optamos pela adoção como método da Análise da Materialidade Audiovisual, desenvolvida desde 2003 pela professora Iluska Coutinho e aplicada nas pesquisas do Núcleo de Jornalismo e Audiovisual da Universidade Federal de Juiz de Fora. Tal metodologia permite o “enfrentamento do objeto em diálogo com os tensionamentos teóricos e epistemológicos de cada investigação”. (COUTINHO e FALCÃO, 2018).

A partir dessa escolha metodológica foi possível identificar em que momentos as estratégias aplicadas na campanha provocaram rupturas, ruídos e reordenamentos no processo de mobilização social, via mídias sociais digitais. Do mesmo modo, a Análise da Materialidade Audiovisual permitiu a compreensão sobre a maneira pela qual as narrativas construídas em uma parcela da sociedade podem impulsionar ou retardar o processo de amadurecimento nas discussões sobre comunicação pública. Por fim, entendemos melhor as características do ambiente das mídias sociais digitais que podem atuar de forma a contribuir ou atrapalhar/ mascarar o processo de mobilização.

A metodologia adotada envolve duas dimensões, uma de avaliação descritiva e outra interpretativa das postagens do material audiovisual da campanha na busca por definir o fluxo narrativo, as promessas de gênero, os elementos paratextuais e quadros mobilizados observando não apenas o conteúdo da narração dos participantes de cada vídeo, mas a avaliação da edição dos demais vídeos e do contexto em que o material foi produzido, realizado e experimentado, via circulação.

A Análise da Materialidade Audiovisual busca a partir da identificação do objeto empírico, realizar uma leitura preliminar ou flutuante de forma a potencializar o momento seguinte, quando se estabelecem eixos e itens que integram cada ficha avaliação construída tendo como referência não apenas as questões de pesquisa, mas também o fluxo narrativo, as

promessas particulares de gênero em cada caso, "(...) os elementos paratextuais, quadros mobilizados, o conteúdo da narrativa de uma forma integrada” (Coutinho e Falcão, 2018, p.9). Nessa perspectiva defendemos que a análise de materiais audiovisuais não deve ser realizada em operações de decomposições que descaracterizariam a maneira como o sentido é produzido.

Assim, depois de assistir a totalidade do material e observar textos, disposição de elementos gráficos, narração, edição, lugares de fala, comentários, ironias, silenciamentos chegamos à definição de dois eixos de análise que orientaram a elaboração da ficha de leitura e sua aplicação. O primeiro deles é “Narrativas e a TV Pública” o outro é “Mobilização Social, público e interação”.

Durante a primeira etapa da análise, a partir do primeiro eixo, o que verificamos foram as características e tipologia de cada um dos materiais em vídeo tomados como recorte. Observamos aspectos como o ambiente em que a gravação foi feita, o tempo do material audiovisual, o ambiente onde foi gravado (externo ou interno). Buscou-se evidenciar ainda se houve edição, a presença de arte ou algum tipo de efeito. É feita ainda a identificação das personagens e perceber como elas se inserem direta ou numa perspectiva de distanciamento na narrativa e no processo de mobilização.

Houve um cuidado também em ressaltar aspectos relativos à subjetividade de cada personagem que tenha participado dos materiais audiovisuais analisados, a pessoa que atuou no registro e composição dessa personagem, seus pontos de vista e a forma de atuação: com ou sem direito a voz, imagem e identificação em créditos. O drama narrado pelos vídeos é outro aspecto fundamental para compreender a narrativa construída e, na ficha de análise, ele é mais bem compreendido quando se identifica a forma como o autor se insere na trama e de que maneira são caracterizadas as demais personagens da narrativa audiovisual a partir dos conceitos trabalhados por Iluska Coutinho (2013) na perspectiva da dramaturgia do telejornalismo: vilão, arauto, mocinho, herói ou ainda vilão sem rosto. O lugar de fala foi outra nuance observada durante o percurso de preenchimento da ficha de análise assim como a presença evidente ou camuflada dos conceitos de TV pública. Aqui cabe destacar ainda a presença na ficha de conceitos como diversidade, pluralidade, direitos, deveres, cidadania e participação, eixo dos trabalhos realizados no Núcleo de Jornalismo e Audiovisual da UFJF.

Os assuntos e temáticas que emergem do vídeo, porém não estão na discussão central do ambiente de mobilização, compõem ainda um quadro de interpretações e interpretantes que não podem ser desconsiderados. Por isso mesmo é importante elencar e destacar de que maneira esses assuntos surgem ao longo dos audiovisuais e como se

relacionam com os temas principais levando em consideração os três sistemas de radiodifusão previstos na Constituição de 1988: público, comercial e estatal. Outra categoria desse eixo inicial é a de observação das molduras que circundam o conteúdo dos audiovisuais e quais imagens e conceitos de TV pública e da campanha emergem da narrativa.

O segundo eixo tem como foco principal busca por evidenciar a mobilização social, o acionamento do público e a interação estabelecida na relação audiovisual objeto de análise. Dessa maneira buscamos perceber as formas de resposta e/ou comportamento dos usuários das plataformas digitais tendo como perspectiva compreender de que forma experimentam o conteúdo de cada publicação analisada. Procuramos também explicitar nesse eixo analítico quais os diálogos entre as promessas feitas com o ambiente virtual de mobilização. O paratexto surge então como alternativa para observar os textos impressos e postados como forma de apresentação dos vídeos na página da Frente.

A identificação das funções da linguagem presentes em cada peça audiovisual foi fundamental para percebermos o intuito dos produtores/ editores e como as abordagens narrativas se relacionam com essas funções e acionam elementos persuasivos na busca por mobilização efetiva.

A partir de cada um desses aspectos observados nas fichas foi possível estabelecer relação com as etapas de mobilização e os conceitos explicitados e já descritos nesta pesquisa. Buscamos apontar dessa forma em cada um dos materiais analisados o vínculo de quem participa do vídeo ou ainda de quem interage com ele considerando as possibilidades de desempenhar alguns dos papéis descritos por Márcio Simeone Henriques (2004): beneficiado, legitimador ou ainda gerador do processo de mobilização. Apresenta-se a seguir o formato/ estrutura final da ficha de avaliação construída em diálogo com as questões de pesquisa e referencial teórico adotado:

1- Ficha de leitura e análise desenvolvida para a pesquisa Nome do vídeo:

Data da postagem: Duração:

A – Narrativas e TV Pública 1) Tipos de vídeo

animação Externo interno

OFF ON Arte/ Efeito

Gravação

Selfie Usual

2) Presença de personagem/ tipos de personagens presentes

Autor Discurso

Drama narrado

Vilão Mocinho Herói Arauto Vilão se rosto

3) Lugar de Fala

4) Presença dos conceitos de TV Pública NJA

Diversidade Pluralidade Direitos Deveres Cidadania Participação

5) Temas Gerais/ Editorias 6) Molduras

B – Mobilização Social, Público e Interação 1) Adesão e mobilização

Partido evidenciado Vínculo expresso

2) Diálogos entre promessas e mobilização 3) Paratexto

4) Abordagem X Funções da Linguagem 5) Repercussão

6) Quantitativo de curtidas e compartilhamentos

Fonte: o autor

Com relação aos procedimentos metodológicos, cada um dos 84 vídeos foi descrito e interpretado a partir da articulação dos resultados obtidos por meio da observação e resposta aos dois eixos dessa ficha de análise. Inicialmente fizemos, assim como na definição do corpus, a observação global de toda a amostra de vídeos e, na sequência, as peças audiovisuais foram assistidas de forma individual e pormenorizada, com a observação atenta de quais eram os locais de fala, os ambientes ocupados, as profissões e movimentos sociais que representavam e quanto tempo duravam. Além disso, estivemos atentos aos discursos, à

forma como as pessoas envolvidas tratavam o tema, ao tom das falas, às molduras que os delimitavam, aos assuntos correlatos que emergiam das narrativas, às legendas e indicações das postagens e ainda às hashtags e links. Observamos ainda todos os comentários que seguiam cada um dos vídeos postados, assim como as características dos perfis de usuários que demonstravam peculiaridades em relação à reação estabelecida com o processo de mobilização. Estivemos atentos também quanto ao número de compartilhamentos, visualizações e curtidas.

5.2 VÍDEOS, PERSONAGENS, DRAMAS NARRADOS E LUGARES DE FALA: QUEM