• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III Metodologia

3.3. Instrumento

3.3.2. Elaboração do guião da entrevista

Para se proceder à aplicação de qualquer instrumento, há aspectos e padrões de actuação a ter em conta, e a técnica de entrevista não é excepção. Assim sendo, é necessário elaborar um guião da entrevista que permita ao entrevistando saber a ordem pela qual os temas podem ser abordados (Ghiglione & Matalon, 1993).

Para a elaboração do guião da entrevista, devemos, em primeiro lugar, definir os objectivos que se querem alcançar com a aplicação do instrumento. “Um modo de testar a sua clareza e rigor é interrogarmo-nos, após a sua concepção se, quando terminar a recolha de dados, estamos em condições de afirmar rigorosamente que os objectivos foram ou não foram atingidos” (Carmo & Ferreira, 1998, p. 133).

O propósito de termos recorrido a esta técnica de recolha de dados tem precisamente a ver com a informação que pretendíamos obter, pois, na nossa opinião, havia questões relevantes, as quais era necessário encontrar respostas e estas não se encontravam na documentação facultada pelos centros educativos.

As reposta a essas questões mais não são que, os objectivos gerais relativos à entrevista realizada aos professores, no intuito de verificar que relações se estabelecem entre as metodologias e estratégias de ensino/aprendizagem utilizadas pelos professores e os conhecimentos, atitudes e comportamentos dos alunos das turmas em estudo. Assim sendo, passamos a apresentar os objectivos que pretendemos alcançar com a aplicação da entrevista:

1. Conhecer as metodologias de ensino e estratégias pedagógicas usadas pelos professores no ensino da Educação Ambiental, nomeadamente, no que concerne ao tema da redução, reutilização e reciclagem/separação de resíduos.

2. Relacionar os conhecimentos e comportamentos dos alunos com as metodologias de ensino e estratégias de ensino/aprendizagem usadas pelos professores no ensino da Educação Ambiental, nomeadamente, na abordagem da redução, reutilização e reciclagem/separação de resíduos.

3. Aferir a importância da escola e de outras entidades como instrumentos pedagógicos no âmbito da Educação Ambiental, percebendo de que forma influenciam as estratégias de ensino/aprendizagem e metodologias de ensino utilizadas pelos professores bem os conhecimentos, atitudes e comportamentos dos alunos no âmbito do tema.

Após definirmos os objectivos que pretendíamos atingir foi necessário definir a forma como o poderíamos efectivar. O recurso à entrevista, além de nos permitir ganhar

66

tempo e economizar energias, possibilitou-nos recolher informações precisas e objectivas, recorrendo para isso a informadores qualificados (Carmo & Ferreira, 1998).

Como já tínhamos escolhido os informadores a ser inquiridos procedemos à selecção do tipo de entrevista que mais satisfazia para os nossos objectivos.

De acordo com Grawitz (1993, cit in., Carmo & Ferreira, 1998, p. 129), as entrevistas são classificadas de acordo com o nível de liberdade concedido ao entrevistado e com o grau de profundidade da informação recebida. Dependendo destes dois factores, e segundo a autora, as entrevistas são divididas em três grupos, “entrevistas dominantemente informais”, “entrevistas mistas” e “entrevistas dominantemente formais”.

Pelas características apontadas pela autora, as entrevistas mistas são as que melhor se enquadram nos nossos objectivos, pois tendem a não ser muito extensas, como perguntas ora abertas ora fechadas, com uma ordenação pouco rígida, em que seu número pode variar, procurando ora respostas objectivas ora opiniões pessoais dos entrevistados.

Outros autores apresentam estas mesmas características mas referindo-se às entrevistas semi-dirigidas, semi-directivas ou semi-estruturadas.

Para Ghiglione e Matalon (1993), numa entrevista semi-directiva, a ordem pela qual os temas podem ser abordados é livre e as questões colocadas deixam alguma liberdade e ambiguidade de resposta ao entrevistado. “Neste caso, o indivíduo é convidado a responder de forma exaustiva, pelas suas próprias palavras e com o seu próprio quadro de referências, a uma questão geral (tema) caracterizada pela sua ambiguidade” (idem, p. 96).

Sousa (2005, p. 249), refere que, uma entrevista “em que há uma certa orientação, geralmente no início da entrevista, deixando que o entrevistado siga depois a sua linha de raciocínio, intervindo apenas nos momentos em que o sujeito possa estar a desviar-se do assunto em questão” se designa de entrevista semi-dirigida.

Para este autor, a entrevista semi-dirigida emprega-se “em situações onde há a necessidade de explorar a fundo uma dada situação vivida em condições precisas” (idem, p. 249), dando mesmo como exemplo a aplicação da entrevista quando se deseja obter dados sobre uma dada metodologia ou a experimentação de uma nova técnica educacional por parte dos professores, o que vai inteiramente ao encontro dos objectivos da nossa investigação.

67 Triviños (1987) refere que a entrevista semi-estruturada tem como objectivo fazer questões básicas apoiadas em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Assim, e segundo o autor, essas questões básicas sugerem novas hipóteses para outras questões a colocar ao entrevistado.

Um outro autor que faz referência à entrevista semi-estruturada é Manzini (1991). Paro a autor, a entrevista semi-estruturada deve conduzir-se a partir de um roteiro de questões principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas.

Desta forma concluímos que para atingir os objectivos a que nos propomos é necessário conjugar questões básicas e ambíguas com questões mais directas e objectivas, adaptando o número de questões a esses mesmos objectivos e controlando o tempo de resposta das mesmas. Contudo, não nos podemos cingir a uma entrevista rígida e controlada, pois pretendermos dar liberdade ao entrevistado para que este possa explanar as suas opiniões e transmitir factos e conhecimentos. Assim sendo, concluímos que a entrevista semi-estruturada é a mais viável para atingir os objectivos desejados.

Após definirmos o tipo de entrevista foi necessário elaborar um esquema que guiasse e indicasse ao entrevistado todos os temas a abordar, ou seja definisse e operacionalizasse as variáveis em perguntas adequadas aos objectivos que se desejam atingir (Carmo & Ferreira, 1998; Ghiglione & Matalon, 1993; Sousa, 2005).

Para a construção do guião da entrevista foram estabelecidas o número de perguntas e procedeu-se a sua ordenação no âmbito de cada bloco ou dimensão.

Assim, o guião da entrevista (anexo 3) é constituído por 6 blocos de temas a abordar. Cada bloco tem os seus objectivos específicos bem como os tópicos ou questões a discutir, as observações para cada tópico ou questão e tempo previsto para cada bloco. O tempo total estimado para a entrevista é de 40 minutos.

No primeiro bloco não foi colocada qualquer questão pois tem como objectivo legitimar a entrevista. No segundo bloco, foram elaboradas as primeiras questões, que tinham como objectivo levar “o sujeito a ligar-se emocionalmente ao tema em estudo” (Sousa, 2005, p. 250).

Nos blocos seguintes, ordenados por temas que se encadeavam entre si, foram colocadas perguntas abertas para permitir ao entrevistado abordar livremente os temas, e perguntas fechadas que funcionam como alternativa a eventuais fuga do tema abordado,

68

pois, tal como refere Ghiglione e Matalon (1993, p. 97), “se não abordar espontaneamente um dos sub-temas que o entrevistador conhece, este coloca uma nova questão (o sub-tema), cuja característica já não é a ambiguidade, para que o indivíduo possa produzir um discurso sobre esta parte do quadro de referência do investigado.”

Assim, ao longo de todo o guião foram colocadas notas e observações que permitem auxiliar o entrevistando na condução da entrevista. O tempo previsto para cada resposta, palavra-chave de resposta e indicações das questões que devem ser mais aprofundadas são alguns dos exemplos das notas colocadas nas observações do guião.

O último bloco do guião foi reservado para o entrevistado poder acrescentar algo que achasse relevante para a entrevista e para os agradecimentos.