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Eleitos do PCB para Assembleia Nacional Constituinte (1945)

Organização do autor.

Os pernambucanos elegem o líder camponês e partidário Gregório Bezerra, que posteriormente, em 1964, já idoso, será preso e arrastado em via pública pelos militares golpistas e em 1969 será um dos 14 prisioneiros políticos que a ditadura militar tem de soltar em troca da libertação do embaixador estadunidense no Brasil, Charles Elbrick, sequestrado pela Dissidência Guanabara (rebatizada de MR-8) e pela Aliança Libertadora Nacional (ALN), ambas organizações de guerrilha contrárias ao regime militar.

Os eleitores da Bahia elegem Marighela, que a partir daí se consolida como membro do Comitê Central do PCB, de onde sai apenas após 1964 quando organiza e dirige a Aliança Libertadora Nacional (ALN), organização guerrilheira que comandava quando de sua morte em emboscada feita pela polícia paulista. Como suplentes, entre outros, são eleitos três membros do Comitê Central (CC) do partido, a saber, Arruda Câmara, Armênio Guedes e o futuro Secretário Geral Giocondo Dias, que substituirá Prestes na função quando da saída deste, em 1979 do PCB.

Em 1945 o Distrito Federal era a cidade do Rio de Janeiro, que não pertencia ao estado de mesmo nome. A liderança maior do PCB, Prestes, é eleito senador e no DF três comunistas se elegem deputados federais (dois deles, Amazonas e Grabois, fundarão o PC do B em 1962, liderando dissidência de porte nacional). No estado do Rio de Janeiro, dois deputados federais são eleitos pelo PCB.

Maurício Grabois era o líder militar da Guerrilha do Araguaia, praticada pelo PC do B e é morto pelo exército brasileiro em dezembro de 1973, junto com outros militantes, entre eles seu filho e seu genro.

No estado de São Paulo, o pintor Cândido Portinari não se elege senador comunista por pequena diferença de votos, entre os quatro deputados eleitos, encontram-se o escritor Jorge Amado, e o ferroviário Mário Scott, que renunciou ao mandato em função de pressão interna do PCB que avaliava que o primeiro suplente, Milton Cayres de Brito, é quem teria melhores condições de exercer a função, Scott comete suicídio meses após, não se conhecendo registros dos motivos que o teriam levado a tal.

Não se pense, porém, que os métodos de direção eram inteiramente democráticos: já naqueles tempos certos secretários eram impostos pela Comissão Executiva do Comitê Central, como foi no caso de José Maria Crispim na primeira secretaria do Comitê Municipal de São Paulo, em 1945. Outro exemplo é a imposição de candidatos de preferência da direção como deputados, apesar do resultado das urnas. O ferroviário Mário Scott, eleito deputado à Constituinte, foi forçado a renunciar em favor do primeiro suplente, Milton Cayres de Brito. Quando se discutiu o

problema em reunião na sede do Comitê Municipal, no Brás, Diógenes Arruda surpreendeu-se com a resistência de Scott à renúncia, que chegou a chorar e a falar em suicídio. O remanejamento, porém, foi aprovado por unanimidade. Anos depois, Mário Scott suicidou-se (VINHAS, 1982, p. 90/91).

Esta substituição demonstra a concepção de que a vaga conquistada no parlamento pertencia ao partido e não aos eleitos, não cabendo aqui iniciar-se este debate, de que seria o eleitor e o eleito ou a organização partidária, o “dono” do mandato.

Não só no estado de São Paulo, mas sim no Brasil todo, o PCB busca participar das eleições com chapas completas, visando lançar o maior número de candidatos que a legislação permitisse, melhorando assim as chances de aumento de quantidade de votos e, portanto, de eleitos. Além do óbvio critério de concordância com o programa, estatuto e propostas partidárias os candidatos eram líderes operários, intelectuais de renome e também lideranças de diferentes regiões do interior dos estados.

No extremo sul do Brasil, usando o carisma de Prestes, um representante gaúcho é eleito pelos comunistas. No Rio Grande do Sul, o PCB, como os demais partidos e no Brasil todo, usa de recurso que a lei eleitoral da época permitia que era de lançar seus mais famosos nomes em candidaturas a mais de uma função e em mais de uma unidade da federação. Se eleitos, não podiam acumular mandatos, tendo de escolher a apenas um deles, mas os votos obtidos nas diferentes candidaturas somavam no total de votos de seus partidos. Prestes opta por ser senador pelo Distrito Federal e seu suplente de deputado federal no Rio Grande do Sul, Abílio Fernandes, assume a representação dos comunistas gaúchos.

Entre os suplentes encontra-se o operário Jover Telles, que integrará o CC do partido, e será um dos fundadores do PC do B. Em 1976, será preso no Rio de Janeiro e fornecerá as informações necessárias para que ocorra o chamado Massacre da Lapa, onde o exército brasileiro assassinará Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, ambos também do Comitê Central do PC do B. No livro de Pedro Estevam da Rocha Pomar (POMAR, 2006) entende-se que estes foram os últimos assassinatos praticados pela ditadura militar de 1964.

No processo de elaboração da Constituição brasileira de 1946, a bancada do Partido Comunista Brasileiro é minoritária e acaba sendo isolada pela imensa maioria dos constituintes dos demais partidos.

Apesar dos enormes esforços, seus projetos não são aceitos e o curto tempo de atuação dos parlamentares comunistas decorre sobre a pressão da cassação de seu partido e mandatos, ocorreria em breve (1947).

3.1.1 A Guerra Fria, a tradição autoritária brasileira e a cassação do registro do PCB Após o término da Segunda Guerra Mundial, nova ordenação territorial ocorre no planeta. EUA e URSS consolidam-se como novas potencias, sendo que até 1949, apenas os estadunidenses possuem a bomba atômica.

No Brasil, de longa tradição autoritária, apesar de viver-se entre 1945 e 1947 um breve período democrático, a violência contra o povo e suas manifestações continuam se fazendo presentes:

Quanto ao general Dutra ele próprio deu pouco depois amostras suficientes do seu alto espírito democrático: em seu governo, comícios foram dissolvidos a bala, o PCB foi fechado, deputados comunistas perderam seu mandato, as relações com a U.R.S.S. foram rompidas. Trazia o país de volta ao regime que sempre amou: o da reação. Assim, os fatos estão indicando quais foram os verdadeiros motivos do 29 de outubro: evitar que Getúlio continuasse marchando para a esquerda, ainda que sómente desejasse apoiar-se nela e nas massas queremistas, e no PCB, para atingir seus próprios objetivos (BASBAUM, 1968a, p. 145).

Em maio de 1947, com amparo do Decreto-Lei 9258, a justiça cassa o registro do PCB, a burguesia brasileira não quer que o partido que representava os anseios da maioria da população continue existindo. O crescimento econômico deveria ocorrer numa perspectiva conservadora, não se admitindo reinvindicações de melhorias na distribuição de renda.

Nesses termos e em relação ao clima vigente desde o final da guerra, o período Dutra configura claro retrocesso. A exclusão do PC é a contraface de um novo bloco que refaz transitoriamente a unidade das classes dominantes, solidarizando formalmente todos os partidos num governo de ordem e tranquilidade nacionais. O que permite combinar aceleração do crescimento – que aproveita a consolidação da indústria leve de bens de consumo e parte para a fabricação de eletrodomésticos e alguns bens de produção – com recrudescimento da repressão. José Albertino Rodrigues qualifica esse período de “fase reacionária” na qual o cerceamento do movimento sindical – entre 1946 e 1950 – corresponde ao “campo livre e uma ação inconteste” das organizações das classes conservadoras (BRANDÃO, 1997, p. 177).

Nas eleições estaduais e municipais de janeiro de 1947, o PCB, mesmo próximo à cassação de seu registro, amplia sua representação no território brasileiro em relação ao desempenho que tinha tido em 1945. Cresce o número de estados onde consegue eleger deputados, e esta será a última eleição em que poderá participar livremente, visto que terá seu registro cassado em maio de 1947, só tendo sua legalidade de volta 38 anos após, em 1985.