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O processo de reconhecimento do PCB pela Internacional Comunista

CAPÍTULO 1. O BRASIL DO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO XX: O

1.5. O processo de reconhecimento do PCB pela Internacional Comunista

Conforme visto anteriormente, não se pode tentar compreender as colaborações de diversos movimentos sociais e do PCB na formação do território brasileiro sem considerar- se a conjuntura internacional na qual o país está inserido. Ainda em relação à fundação do

PCB, como fora citado anteriormente, que um representante da Terceira Internacional Comunista3 havia procurado Edgard Leuenroth, e depois, por indicação de Leuenroth, Astrojildo Pereira, visando à criação de um Partido Comunista que fosse vinculado ao Komintern (3ª Internacional Comunista), no maior país do continente sul americano, demonstrando-se com isso, mais uma vez, que as conjunturas nacionais influenciam e são influenciadas pelo comunismo no plano mundial.

No mesmo ano de 1922 ocorreu o IV Congresso da Internacional Comunista. Astrojildo Pereira, como vimos, um dos fundadores do PCB, indicou Bernardo Canellas e Mário Barrel como delegados, aproveitando que ambos se encontravam na Europa. Em Moscou, Canellas defende a participação de maçons, protestantes, católicos e anarquistas na composição de um partido comunista, contrapondo-se radicalmente com a postura adotada pela Internacional Comunista. Diante de tais prerrogativas, a IC não aceitou a filiação do PCB, conforme podemos conferir em documento redigido no referido congresso:

O Comitê Executivo da Internacional Comunista, depois de ter discutido o relatório do representante do Partido Comunista do Brasil, estabelece

3 Torna-se relevante agora que se referiu à Terceira Internacional, ainda que de forma breve, conhecer-se esta

e as demais Internacionais. A atualmente intitulada Primeira internacional foi fundada em Londres, em 1864 e originalmente tinha por nome Associação Internacional dos Trabalhadores. Foi criada a partir da necessidade dos trabalhadores melhor se organizarem frente à burguesia e por os primeiros constatarem que o socialismo utópico já não era suficiente para atender as necessidades do movimento socialista. Muitos foram os pensadores/militantes que inspiraram e ou participaram desta Internacional, podendo-se citar Pierre J. Proudhon, Ferdinand Lassalle, Louis Auguste Blanqui, Mikhail Bakunin, Friedrich Engels e, o mais importante e até hoje conhecido Karl Marx. Teve durante seus oito anos de existência (extinguiu-se em 1872) importância, pois dela participaram membros das mais diferentes correntes socialistas da época. Após o refluxo do movimento operário causado pela derrota da Comuna de Paris, em 1871, com o consequente fortalecimento da burguesia e violenta repressão desencadeada contra todos os movimentos sociais europeus, com o passar dos anos, a classe operária vai se organizando novamente e aumenta sua inserção na política institucional, através de partidos operários que conseguem eleger crescente representação. Os socialistas da época se nomeavam como social democratas e em 1889 fundam a Segunda Internacional. Em 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, o internacionalismo socialista cede lugar ao nacionalismo de nações beligerantes e na prática quase se extingue a Segunda Internacional. Após o término do conflito, reorganiza- se esta Internacional que cada vez mais se distancia das propostas de Marx e Engels e que até hoje existe formada por diversos partidos da atual Socialdemocracia, constituindo-se em parte da sustentação do sistema capitalista.

Fruto da Revolução Socialista de 1917, ocorrida na Rússia, os bolcheviques, liderados por Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido pelo seu codinome, Lênin, além de fundarem a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, criam também a Terceira Internacional, a comunista, que existiu até sua auto extinção, em 1943. O fim da também chamada Internacional Comunista ocorre como parte dos esforços de derrotar o nazi- fascismo, no auge da Segunda Guerra Mundial, quando diante da hipótese da vitória da Alemanha de Hitler e demais países do Eixo, a URSS de Stálin soma com os demais países, os Aliados.

Em 1938, Leon Trotsky funda a Quarta Internacional, que se contrapõe à IC, acusando-a de trair os ideais dos bolcheviques. Esta Internacional existe até os tempos atuais, apesar de várias divisões ocorridas nela, existindo diferentes grupamentos políticos que reivindicam serem as verdadeiras “herdeiras” do pensamento de Trotsky, tendo importância extremamente reduzida no cenário político da atualidade.

que este Partido não é ainda um verdadeiro Partido Comunista. Ele conserva restos da ideologia burguesa, sustentados pela presença da Maçonaria e influenciado por preceitos anarquistas, o que explica a estrutura centralizada do Partido e a confusão reinante sobre a teoria e tática comunistas.

Entretanto, é possível fundar no Brasil um bom e forte Partido Comunista. O núcleo deste novo Partido deverá ser formado pelos grupos atualmente existentes.

Segundo as ideias do delegado Canellas, depreende-se que este camarada não está liberto da confusão ideológica reinante no seu Partido.

O Comitê Executivo da Internacional Comunista decide:

1º) Provisoriamente, o Partido Comunista do Brasil deve ser aceito na Internacional Comunista como partido simpatizante;

2º) A agência de Propaganda para a América do Sul é convidada a trabalhar pela organização do Partido Comunista Brasileiro, de acordo com os camaradas brasileiros (BANDEIRA; MELO; ANDRADE, 1967, p. 408-409).

Após o ocorrido em Moscou, Canellas é chamado para se justificar e a Comissão Central Executiva do PCB decide expulsá-lo, partindo do preceito que a sua intervenção no IV Congresso da Internacional Comunista fora considerada um ato de corrupção e traição ao partido.

Neste ínterim, Rodolfo Ghioldi, líder comunista argentino, orientado por Moscou viaja ao Brasil para analisar as condições do então recente PCB. Após acareação o partido informa da expulsão de Canellas e que as posturas defendidas pelo mesmo não refletem o pensamento de seus integrantes. Assim, em documento confeccionado em nome do PCB, em 9 de janeiro de 1924, concluiu-se que o partido acataria, sem ressalvas, as resoluções da Internacional Comunista, pedindo, assim, a filiação do PCB à Internacional Comunista (CARONE, 1982, Vol.2).

Um ponto ainda nevrálgico em relação à atuação do PCB era a sua relação com os anarquistas. Nesse momento, percebe-se uma ruptura definitiva entre comunistas e anarquistas nas lutas operárias. O PCB, agora com uma postura de tendência clara marxista, em virtude também de sua aproximação com as práticas de comunistas europeus, criticaria, para além das práticas anarquistas, tendências nos movimentos sindicais reformistas. Amadureceram a ideia de que as melhorias alcançadas pela classe trabalhadora eram ilusórias e passageiras, desvelando, no fundo, sindicatos patronais.

Como já examinado no item anterior, o PCB não consegue sua filiação à Terceira Internacional Comunista (Komintern) em função da atabalhoada atuação de seu delegado ao IV Congresso da IC em Moscou. Podemos considerar que tal problema reflete o incipiente grau de organização e maturidade política que o PCB tinha na época.