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2 VEBLEN E O INSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO

2.5 ELEMENTOS PARA UMA ABORDAGEM INSTITUCIONALISTA

ALTERNATIVA PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL

Diante destas observações, os argumentos veblenianos condenatórios sobre o uso da política econômica têm falhas e, por isso, não podem ser utilizados em sua totalidade para a crítica ao Estado Desenvolvimentista. O objetivo e as formas da atuação Estatal são diferentes ao que o autor institucionalista leva em conta. Se de um lado o paradigma desenvolvimentista permite a realização dos interesses pecuniários da propriedade absenteísta, por outro ele incorre sobre a exigência de contrapartidas que tem como resultado um aumento do espaço de atuação de ações e hábitos pautados pela inclinação do trabalho eficaz dentro da indústria. É o caso de subsídios para a implantação de inovações e de aproximação com os institutos de ciência e tecnologia.

Contudo, embora Veblen tenha incorrido em erros e exageros na aplicação da dialética entre as instituições pecuniárias e industriais na interpretação econômica, não se pode rejeitar a base teórica do autor, em especial sua teoria de natureza humana. Se por um lado Veblen falhou em aplicar sua teoria evolucionária para explicar a dinâmica capitalista, por outro, o teve sucesso em oferecer elementos que permitam relacionar os conflitos sociais e econômicos às contradições presentes nas inclinações da natureza humana. Para o autor institucionalista, o instinto predatório e o do trabalho eficaz são faces distintas de uma mesma natureza humana.

Isso permite avaliar questões importantes acerta do receituário de políticas para o desenvolvimento econômico e social e estabelecer algumas hipóteses. A primeira destas se refere à afirmação de que é o instinto para o artesanato o impulso principal que direciona a ação humana no sentido de realizar atividades relacionadas à produção. A busca pela inovação tecnológica e o aumento da produtividade como meios de melhorar os níveis de subsistência e bem-estar da sociedade deve, em linha com Veblen, passar pela dominância desta inclinação humana.

Esta hipótese tem como implicação o argumento de que a política econômica, em especial o paradigma do estado desenvolvimentista, estaria fadada ao fracasso caso não conseguisse romper com os imperativos do instinto predatório na mente da elite industrial e da sociedade como um todo. Desta forma, como já destacado, as instituições devem atuar fornecendo experiências de vida que evoquem as propensões humanas que serão responsáveis para a configuração de hábitos alinhados com o choque institucional provocado pela política.

Sobre isto, o caminho desta agenda de pesquisa é avançar sobre a análise dos mecanismos que as instituições oferecem para o afloramento dos instintos desejados. Como se viu no modelo vebleniano, as instituições constituem valores e visões de mundo na mente dos

indivíduos, mas apenas aquelas que derivam da interação entre hábitos e instintos. Esta é, portanto, a segunda hipótese a ser trabalhada. Pelas interpretações feitas aqui, a partir dos escritos do autor, o caráter constitutivo não está presente, à priori, nas instituições formais construídas de modo deliberado.

O que ocorre é que no momento do choque institucional provocado por políticas de Estado, estas instituições atuam como mecanismos de motivação e/ou restrição, que, por sua vez, alterarão o ambiente de interação dos indivíduos, podendo ou não causar mudanças de hábitos e instintos aflorados. É somente a partir das instituições informais – as quais são resultado direto da dinâmica entre estes dois últimos, e que são responsáveis por enraizar na sociedade hábitos individuais que regulam a ação econômica e social, incluindo a dinâmica das organizações – é que se conhecerá os frutos da interferência governamental. Este conjunto de relações é resumido na figura abaixo.

Fonte: Elaboração própria

Seguindo este esquema, é necessário readequar o conceito de instituições formais em relação ao que é abordado pela EPI, cuja abordagem foca no seu papel constitutivo. O argumento aqui apresentado é que, uma vez afirmado que as instituições formais apresentam limitações para constituir diretamente valores e visões de mundo na mente dos indivíduos, deve- se conceber um esquema teórico que foca na capacidade destas instituições em atuarem no sentido de configurarem um sistema de motivação e restrição, impactando o ambiente que abriga a interação humana.

Assim, a forma como as instituições formais impactarão as instituições informais dependerão da resposta derivada do sistema configurado a partir dos hábitos e instintos individuais existente na mente dos agentes de uma sociedade. Estes hábitos e instintos, por sua vez, são aflorados a partir de interações realizadas no todo do âmbito social, e não apenas no plano econômico. As formas com que os indivíduos realizam o instinto para a emulação definirão como eles responderão às restrições e motivações fornecidas pelas instituições formais da política econômica. Sendo assim, tem-se uma terceira hipótese que estabelece ser necessário uma análise que não se restrinja apenas às relações econômicas. Aqui se abarca as ideias de Karl Polanyi, para o qual as instituições econômicas são enraizadas nas instituições que regulam a sociedade como um todo, e que estas, portanto, devem ser incorporadas no modelo de análise.

O último passo desta abordagem é avaliar como as instituições informais, resultado da interação entre instintos e hábitos individuais, atuam sobre a organização produtiva. Isto pois,

são nas estruturas das organizações que se estabelecem os meios e limites para o progresso técnico. Para Galbraith (1982), a organização é definida levando em conta o sistema de motivação e os instrumentos de poder, os quais, no que lhes dizem respeito, são configurados a partir das instituições informais, ou mais especificamente, pelas experiências de vida acumuladas pela sociedade ao longo do tempo.

Diante disso, para a análise da economia de uma sociedade e sua trajetória de desenvolvimento, argumenta ser fundamental a compreensão das inclinações humanas e os meios pelos quais estas são afloradas. Para isto, será apresentado no capítulo seguinte o referencial teórico que trata da importância dos instintos humanos na abordagem institucionalista vebleniana. Em seguida, no capítulo três, será realizado um esforço de incorporar as contribuições de Veblen, no que se refere sua teoria da natureza humana, para a criação de uma abordagem institucionalista alternativa, que visa avançar sobre as lacunas aqui apresentadas.