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Nesta seção, faremos uma breve exposição acerca do trabalho educacional e de suas unidades como um todo. Para melhor representarmos sua complexidade, apresentamos a figura 1, a seguir, em seus contextos mais amplos.

Figura 1. Esquema dos elementos constituintes do trabalho do professor em situação de sala de aula

(MACHADO, 2007, p. 92)

Conforme ilustra Machado (2007, 2009), a atividade docente em situação de sala de aula é composta, basicamente, pelo sujeito/professor, o(s) outro(s) - alunos, coordenação, direção, pais de alunos, colegas, etc; os artefatos - livro didático, computadores, documentos prescritivos, etc., que ao serem apropriados pelo trabalhador tranformam-se em instrumentos (técnicos, psicológicos/semióticos) para seu trabalho; e o objeto do trabalho do professor visto por Machado (2009, p. 39), como a “criação/organização de um meio favorável ao

Contexto sócio-histórico particular Sistema Educacional cional Sistema de Ensino Instrumento Professor Artefatos Objeto O(s) outro(s)

Instrumentos

Materiais ou simbólicos

Criar um meio que possibilite a aprendizagem de determinados conteúdos e o desenvolvimento de determinadas capacidades.

Alunos, pais, direção, coordenação, etc. Sistema Didático

desenvolvimento de determinadas capacidades dos alunos e à aprendizagem de determinados conteúdos a elas correlacionados”.

A partir desse esquema, a autora busca definir, ainda que de forma transitória, as características da atividade docente, sendo ela pessoal, já que aciona de modos diferentes as capacidades físicas, mentais, emocionais, etc., de cada sujeito, promovendo a interação entre o sujeito e o meio pela mediação de instrumentos; interpessoal, já que envolve a participação dos outros; além de pessoal é impessoal, pois recebe influências externas; e transpessoal, pois é estimulada por modelos de agir que são imitados. (MACHADO, 2009).

Verificamos que a complexidade do trabalho docente reside na confluência de seus polos misturando-se de tal modo que não existiria um sem o outro. De acordo com Roger (2013, p. 111), “o real da atividade é um espaço de conflitos entre (e no interior de) diversos polos aos quais aquele que age dirige sua atividade”. No primeiro desses polos surge o sujeito/professor, no segundo o objeto de trabalho e no terceiro, a atividade do(s) outro(s) direcionada para esse mesmo objeto.

No que diz respeito a atividade do professor em sala, percebemos a influência dos artefatos e instrumentos materiais na realização dessa atividade, sendo, inclusive, motivo de conflito quando não estão disponíveis ou em boas condições de uso. Podemos dar como exemplo o livro didático, que, em alguns contextos, funciona como único instrumento para o trabalho do professor, sendo que sua falta afeta não só o seu trabalho, mas também o trabalho do aluno.

Além do livro didático que direciona as atividades em sala, há os documentos oficiais que prescrevem o ensino de língua portuguesa, sendo o livro didático uma extensão desses documentos. Assim, essas prescrições constituem-se em objeto regulador da atividade docente, mas é preciso ressaltar que muitas vezes, por falta de tempo ou por outros motivos, o professor não consegue apropriar-se dessas prescrições. Em outros casos, ele não consegue aplicá-las em seu ambiente de trabalho.

Outro ponto importante a ser abordado em relação às atividades desenvolvidas em sala e que funcionam como um meio de ação e intervenção, são os “modelos de agir”, baseados nos pré-construídos, visto que o professor constrói suas ações com base em modelos disponibilizados pelo meio social educativo, sendo, portanto, recursos materiais e culturais construídos e desenvolvidos ao longo dos anos e que funcionam como meios para resolução de problemas.

A partir das informações contidas na figura 1, podemos pensar o trabalho do professor como uma atividade complexa em que verificam-se vários elementos interagindo entre si.

Cada uma dessas partes encontram-se dispostas nos três polos do triângulo, sendo que um desses elementos fica localizado no centro parecendo intermediar essas relações. Ao mesmo tempo em que aponta para outros polos retorna para si. Disso depreendemos que os artefatos e, mais precisamente, os instrumentos são indispensáveis a todos os outros elementos, sendo, inclusive, auxiliares na organização do meio profissional. (MACHADO; LOUSADA, 2010).

Ainda nesse conjunto de relações, verificamos a influência do sistema didático sobre a atividade docente. Além deste, verificamos que esse conjunto é circundado por outras três camadas dispostas de forma mais abrangente. Disso, depreendemos que essas unidades variam em seu conjunto a depender do contexto em que estão inseridos, pois somente para dar um exemplo, o professor desenvolveria diferentes perfis a depender da escola. Sendo assim, os alunos também diferenciam-se a partir desses contextos, e os artefatos também variam de um contexto a outro. Se assim é, o objeto de trabalho também poderá variar a despeito dos diferentes contextos e situações.

Nas atividades de sala de aula, é muito comum o professor lançar mão de certos recursos materiais, simbólicos, culturais etc, como meios de desenvolver sua atividade. Esses modelos de agir, bem como os pré-construídos histórico-culturais disponibilizados pelo meio social surgem a partir de um coletivo de trabalhadores ficando disponíveis para acessá-los. Esses recursos são testados ao longo das atividades, podendo tornar-se verdadeiros instrumentos de trabalho.

Em relação ao objeto do trabalho docente, temos interesse em investigar de que modo o professor (re)cria, de acordo com Machado (2009), um meio propício ao ensino- aprendizagem e ao desenvolvimento das capacidades dos alunos. Isso nos faz pensar nos modos possíveis de organização da sala de aula, já que essa organização é pré-estabelecida social e historicamente. Entretanto, o professor possuidor de certa autonomia, é convocado a interferir nesse meio em confronto com as contrariedades que se apresentam, já que o meio social educativo não estaria organizado de forma neutra. (AMIGUES, 2002 apud LIMA, 2010).

Porém, uma organização inflexível ou imposta ao professor, poderia influenciá-lo de forma negativa, especialmente em contextos mais complexos, em que o professor ao gozar de certa autonomia poderia atuar na criação de um meio favorável ao desenvolvimento dos alunos e de si mesmo, a partir das necessidades envolvidas. (MACHADO, 2009).

No entanto, a partir dos dados desta pesquisa, poderíamos supor que o objeto do trabalho do professor, seria, primeiramente, ter domínio sobre a disciplina ministrada. Entretanto, ao nos darmos conta dos obstáculos e/ou contrariedades encontrados no exercício

do trabalho, verificamos, certa oposição ao que nos propomos realizar, ainda que o professor esteja habilitado para estar em sala. Isso demonstra que o objeto do trabalho é determinado não somente pelo professor/trabalhador, mas por todos os elementos do meio em que é constituído.

Assim, acreditamos que os estudos desenvolvidos pelas Ciências do Trabalho, de modo particular, a Psicologia do Trabalho, bem como pelas contribuições apresentadas pelo Interacionismo Sociodiscursivo são relevantes para uma investigação visando compreender o objeto do trabalhador docente.

CAPÍTULO 2

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, apresentaremos os processos desenvolvidos e aplicados nesta pesquisa, a saber, os instrumentos e métodos empregados na produção dos textos analisados. Em um segundo momento, discorreremos sobre o contexto ou conjunto de circunstâncias que envolvem esta pesquisa, já que dele depende seu significado e importância. Em seguida, apresentaremos os sujeitos que participam ativamente dessa atividade, bem como os procedimentos adotados na produção e análise dos textos produzidos.