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Nesta seção, apresentamos os processos desenvolvidos na produção de dados a partir da instrução ao sósia, nosso instrumento de pesquisa. Como esse método era algo ainda desconhecido para mim, haviam dúvidas e incertezas sobre sua aplicação. Sendo assim,

empreendemos várias leituras sobre o tema, incluindo Clot (2007, 2010), entre outros, mas foi em Muniz-Oliveira (2011), que encontramos orientações sobre a preparação, em especial, de pesquisadores iniciantes, na aplicação dessas técnicas. Em sua pesquisa de doutoramento, a autora expõe a elaboração de perguntas possíveis que dariam suporte ao pesquisador quanto ao direcionamento da conversa originada a partir do método, de modo a alcançar os objetivos da pesquisa.

Seguindo essas orientações referentes a um planejamento anterior, e sabendo que meus e-mails não estavam chegando até às professoras, resolvemos enviar mensagens por WhatsApp, já que seria mais rápido e prático. Junto com outras questões relacionadas aos encontros marcados, enviamos mensagens solicitando às professoras que enviassem as atividades que elas desenvolveriam nos dias em que haveria a substituição. Tendo como base, as orientações de Muniz-Oliveira (2011), que por ter realizado sua pesquisa com professores do ensino superior, era do seu conhecimento que eles desenvolviam inúmeras atividades de ensino e pesquisa, e por isso, considerava importante saber com antecedência quais seriam as atividades a serem instruídas.

Por não ter recebido resposta das professoras por e-mail, e até mesmo de dúvidas e incertezas que uma professora participante de pesquisa manifestou em relação aos objetivos da pesquisa e, supostamente, ao meu interesse de saber sobre suas atividades, assim que foi possível, marcamos um encontro para explicar detalhes da pesquisa e, também, sobre como o conhecimento dessas atividades auxiliariam na elaboração das possíveis perguntas que seriam feitas a ela.

Em relação ao Sujeito 1, as atividades que ela desenvolveria no dia de nossa substituição foram repassadas pessoalmente no dia 24 de março, quando fomos até o colégio para explicar a proposta de pesquisa.

No dia 06 de março, junto com o convite enviado ao Sujeito 2, e as conversas que se seguiram sobre os detalhes da pesquisa - como seria desenvolvido o método, o tempo de duração etc., enviamos um pedido à professora verificando se ela poderia enviar as atividades que ela teria planejado para os dias subsequentes ao nosso encontro.

Por estar muito atarefada e, entendemos, com um estresse causado pelos impactos das mudanças impostas pelo governo do Estado do Paraná sobre a hora-atividade, entre outras mudanças negativas, essa professora precisava preencher sua carga horária em três escolas diferentes, além de desenvolver as atividades de pesquisa exigidas pelo PDE. Por isso, mostrava-se um pouco relutante em colaborar com esta pesquisa, mas aceitou conversar.

A conversa foi marcada para o dia 14 de março às 10h em um dos colégios que ela leciona. Lá, pudemos esclarecer alguns pontos que estavam obscuros, inclusive sobre as atividades por nós solicitadas. Marcamos a instrução ao sósia para o dia 21 de março às 10h no mesmo colégio. No dia 20 de março, recebemos via e-mail mensagem dessa professora – Sujeito 2, informando-nos sobre as atividades que ela realizaria. Sendo assim, pudemos elaborar perguntas possíveis que envolviam tais atividades. Como havia muitas atividades nesse dia, resolvemos, à pedido da professora, ater-nos às atividades que a professora realizaria no período da manhã com alunos da EJA.

Depois de alguns contatos, marcamos com os Sujeitos 3 e 4 uma conversa no colégio onde elas ministram aulas, para que, assim, pudéssemos esclarecer pontos da pesquisa. Essa conversa ocorreu no dia 16 de março, no período da tarde durante a hora-atividade que ocupava a primeira aula. Nesse dia, marcamos a instrução ao sósia para a quinta-feira, dia 23, ocupando a primeira e segunda aula. No dia 21, resolvemos enviar mensagem na intenção de lembrá-las de nosso encontro e pedir que enviassem as atividades que elas desenvolveriam no dia de nossa substituição. Recebemos resposta dessas professoras no dia 22, um dia antes de nosso encontro.

Chegando à escola aproximadamente, uma meia hora antes, ficamos esperando pela chegada das funcionárias da secretaria para pegar a chave da sala e preparar o ambiente para receber as professoras. Testamos o gravador para ver se estava gravando e ao soar o sinal da primeira aula fomos até a sala dos professores chamar o Sujeito 3 e encaminhar para o local que havíamos preparado. A professora demonstrava certo nervosismo, então, resolvemos conversar um pouco para ver se ela ficaria mais calma e, assim, iniciamos e concluímos dentro do tempo estipulado da hora-atividade.

Ao bater o sinal da segunda aula nos dirigimos até a sala dos professores para chamar o Sujeito 4 e encaminhá-la para aquele mesmo local. Estávamos um pouco nervosas e demonstrando certo cansaço, mas conseguimos encerrar de forma satisfatória e dentro do tempo para a hora-atividade dessa professora.

Em relação às questões elaboradas, nem sempre foram utilizadas, isso porque, dependeria muito da interação entre pesquisadora e pesquisadas, já que esse contato poderia ser mais ativo ou tímido, dependendo das condições e do relacionamento que se estabeleceria entre as partes. Ainda assim, foi de grande auxílio a elaboração dessas perguntas, constituindo-se em um auxílio à pesquisa.

Essas questões referem-se às atividades que as professoras desenvolveriam com os alunos, considerando-se os obstáculos que provavelmente elas teriam que enfrentar para

realizá-las. À título de exemplo, apresentamos algumas perguntas possíveis feitas às professoras, são elas: Como eu devo começar a aula? E se acontecer dos alunos se recusarem a fazer a atividade dizendo que é um assunto chato ou sem graça, como eu faço? E se ao chegar à sala os alunos estiverem bagunçando e mesmo chamando atenção eles não me ouvirem, como eu faço? E se os alunos saírem dos seus lugares ao mesmo tempo em busca de explicações sobre a atividade proposta, como eu faço? Lembramos que essas e outras perguntas estão disponibilizadas integralmente na parte que compõe os anexos.

Um dos papéis do sósia consiste em sanar dúvidas que ele teria a respeito das instruções recebidas, e por isso essas perguntas seria importantes para que a conexão não se perdesse por alguma interrupção externa ou por uma distração entre as partes, sendo assim, os enunciados precisariam ser retomados. Como uma situação de pesquisa representa certa tensão para os participantes, tanto do pesquisador, quanto dos pesquisados, esses enunciados sempre surgem afetados pelas condições em que são produzidos.

Assim, as perguntas deveriam partir dos enunciados gerados na interação, invalidando o objetivo das questões previamente elaboradas. No entanto, essas poderiam representar uma “carta na manga” caso a conversa se dissipasse. Essa também era uma preocupação bastante presente.

Depois de gravar as interações com auxílio de um gravador digital, partimos para a segunda etapa que consistia na transcrição dos dados pela pesquisadora, seguindo Muniz- Oliveira (2011), que parte do modelo de transcrição do Projeto da Norma Linguística Urbana Culta (Nurc/SP), e também é apresentado em Preti (1999, pp. 11-12).

O processo de transcrição foi um trabalho bastante minucioso e por ser muito rico em detalhes investimos um tempo considerável para sua conclusão. Embora os aúdios estivessem com uma ótima qualidade de som, o que nos ajudou muito, foi necessário ouvir repetidas vezes, e entre avançar e retornar sobre os trechos, ía-se transcrevendo palavra a palavra guardando suas características como entonação enfática, silabação, pausas, ruídos e, principalmente, a dificuldade gerada a partir das falas que apresentavam sobre-posição de vozes. (MUNIZ-OLIVEIRA, 2011).

Essas transcrições resultaram em sessenta e quatro páginas, que posteriormente foram enviadas via e-mail às professoras, juntamente com os áudios das gravações feitas. Desse modo, elas puderam comparar as duas formas, oral e escrita, podendo ouvir as interações. Além disso, elas desenvolveram uma atividade escrita que consistia em elaborar um comentário reflexivo relatando suas experiências em relação à participação na instrução ao

sósia como forma de promover uma reflexão sobre as atividades de trabalho a partir dos textos produzidos.

Ao apresentar a proposta de pesquisa às professoras, comentamos que haveria uma segunda etapa que consistiria em desenvolver um comentário sobre a experiência em participar da pesquisa. No entanto, por falta de experiência e certa ansiedade da pesquisadora, a professora Sujeito 1, não recebeu a tempo o modelo contendo as regras de como deveria elaborar esse comentário10. Sendo assim, ela elaborou o seu comentário e enviou-nos sem ter seguido esse modelo. Dando-me conta do ocorrido enviei um e-mal à professora explicando a situação e solicitando, se possível, um comentário a partir daquelas normas, mas não obtivemos resposta.

Em relação às outras professoras, uma delas pediu se tínhamos pressa nesse comentário, já que, por estar muito atarefada, ela não saberia quando poderia desenvolver essa atividade. Uma outra professora enviou-nos mensagem via WhatsApp pedindo se era necessário responder a todas às questões presentes no modelo. Respondemos que para atingir os fins desejados pela pesquisa, seria ótimo se ela pudesse responder a todas as questões, mas percebendo o acúmulo de atividades que essa professora demonstrou ter, informamos que ela poderia responder de acordo com suas possibilidades.