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A elipse do nome em Inglês

1.3 Algumas perspectivas sobre o tratamento formal da elipse

2.3.2 A elipse do nome em Inglês

Lobeck opta no seu trabalho pela hipótese DP, segundo a qual a categoria lexical N é ela própria complemento da categoria funcional D. A estrutura X-barra do DP, associada ao princípio (14), sobre legitimação e identificação de pro, permite dar conta de muitos factos ligados à elipse do nome em Inglês. No entanto, de modo a dar conta de DPs em que duas posições D estão envolvidas em frases elípticas bem formadas, como (15), Lobeck propõe-se reavaliar a estrutura interna do DP:6

(15) Although [Dp all twelve [e]] did well in the class, only two students got As.

Para justificar estes dados, Lobeck opta por Ritter (1991), para quem o NP tem de facto duas posições para determinantes, e alarga ao Inglês a análise de Ritter sobre o Hebreu, na qual DP domina D e NUM. A proposta (16) permite assim dar conta da distribuição de NP elíptico com dois Ds, exemplificada em (15):

(16) DP NUMP N U M ' ^ NUM "~~NP twelve pro

6 Neste parágrafo, todos os exemplos de línguas diferentes do Português serão os dados pela própria autora. A qlosas para

o Português são minhas.

SPEC D'

D ali

(15), que mostra que N pode ser precedido por uma sequência de Ds, implica que os elementos definidos —artigo the, demonstrativos, quantificadores definidos (all, both, each, etc)—, preenchem D, e que a posição NUM, por seu lado, é preenchida por elementos indefinidos, numerais, quantificadores indefinidos —few, several, some, many, etc7. Em consequência, se todos os DPs dominam NUMP, nem todos os NUMPs

são dominados por DP: segundo a autora, as expressões nominais definidas são DPs, mas as indefinidas são NUMPs.

De modo a explicar por que razão D pode expressar o traço [±Plural], já que NUM é assumidamente a posição do traço [±Plural], Lobeck refere Chomsky (1992), e admite que D, NUM e N são todos marcados por [+Plural], sendo esse traço verificado em PF. Essa verificação ocorre sob regência entre elementos co-indexados, e não envolve necessariamente movimento. D está co-indexado com NUM e N, e todos devem ter a mesma especificação de número para o DP ser gramatical. Eis alguns exemplos de acordo em número no DP em Inglês: (17) D NUM N a. b. c. d. These/all This/that [e] These/all [e] [e] Many/few/six six candidate*(s) candidate(*s) book*(s) candidate*(s)

Em suma, NUM nos DPs preenchidos com the —que não tem traço de número— é marcado por traços que devem ser verificados com os de N. Eis em (18a) a estrutura de uma expressão nominal definida. D, NUM e N são co-indexados e concordam em [+Plural] Quanto às expressões nominais indefinidas, a sua estrutura é (18b). Neste caso, NUM pode ser preenchido com um quantificador indefinido ou um numeral marcado por [+Plural]. Os traços de NUM e N são verificados e determinam a especificação da projecção máxima NUMP.

(18) a. b. NUMP NUM'^ NUM All/both/these [+Plural] NUM six/[e] [+Plural] NP candidates [+Plural] six/many [+Plural] NP dogs [+Plural] As propostas anteriores levantam no entanto uma dificuldade. No exemplo seguinte de elipse bem formada em (19), há um DP definido, mas NUM vazio não é

Algumas propostas sobre a elipse nominal 33

morfologicamente realizado, como se vê. D é marcado por traços fortes, já que realiza o traço morfológico [+Plural], e NUM não é lexicalmente realizado:

(19) Mary likes those books but I like [DP these [e]]

Segundo Lobeck, esta configuração levanta um problema: só D está em condições de legitimar e identificar ao mesmo tempo o NP vazio, segundo (14); no entanto, para tal, D deveria ser adjacente, isto é, reger estritamente por núcleo o NP, o que não se verifica, já que NUMP é uma categoria intermédia, pelo que a regência de NP por D fica bloqueada pela Minimalidade Relativizada8. Para resolver este problema, e considerar que

de facto D pode legitimar e identificar um NP vazio, Lobeck integra na teoria da elipse o princípio de Baker (1988), chamado Government Transparency Corollary (GTC), resumido a seguir:

(20) "Government Transparency Corollary" (GTC) (Baker (1988:64)

Uma categoria lexical que contem um item incorporado rege tudo o que era regido pelo item incorporado na sua posição estrutural original.

O GTC serve para dar conta do facto de, em algumas línguas, haver casos de incorporação, em que um Xo se move para o núcleo que o rege e se incorpora com ele,

deixando um vestígio co-indexado. O GTC permite pois a um núcleo Xo reger o

complemento de um núcleo vazio Y° regido e co-indexado com Xo. A possibilidade de

alargar o GTC aos casos de elipse do nome permitiria assim concluir que D rege o complemento de um NUM vazio, como em (19). D rege estritamente por núcleo ao mesmo tempo NUM e o seu complemento vazio, já que D e NP estão na mesma projecção máxima, pelo que o princípio (14) é respeitado. Eis a versão alargada do GTC:9

(21) "Generalized GovernmentTransparency Corollary"

Um Xo que está co-indexado e rege um núcleo vazio rege tudo aquilo que seria

regido por aquele núcleo.

Consideremos agora um exemplo de elipse numa expressão nominal definida, em que, segundo Lobeck, NUM é lexicalmente realizado. Neste caso, NUM está marcado por traços fortes, e nessas condições legitima e identifica o NP vazio:

(22) Mary bought some new books, and I like [DP these six [e]] the best.

Do mesmo modo, o caso do DP em que D não realiza traços, como no singular, leva à impossibilidade da elipse. Em (23a), D é [-Plural] e NUM vazio também. NUM não pode legitimar e identificar, já que não tem traços fortes. D é lexicalmente realizado, mas considera-se que não tem traços fortes —tem traços negativos—, e portanto o NP não pode ser identificado e a elipse é má. O mesmo se passa com o D the, que não tem

8 Lobeck sugere que uma maneira de resolver este problema seria de assumir que a elipse em (1 9) envolve NUMP vazio e não NP vazio. D poderia legitimar directamente um NUMP vazio. Esta alternativa levanta no entanto problemas, já que implica que haveria dois tipos de configurações com elipses nominais, uma quando NUM é lexicalmente realizado, que corresponde a NP vazio, e outra em que NUMP é directamente vazio.

traços, e que falha em legitimar e identificar o NP vazio em (23b). No entanto, em (23c), onde NUM é realizado e tem traço [+Plural], a elipse é boa:

(23) a. * Although John doesn't like [DP this [e]], he likes that new air conditioner

b. * A single protester attended the rally because [Dp the [e]] apparently felt it was

important

c. Both students attended the rally, and [Dp the two [e]] felt it was important.

Quanto às elipses em DPs indefinidos, o NP vazio é sempre bom quando NUM [+Plural] é lexicalmente preenchido:

(24) The students attended the play, but [Dp many/few/six/ [NP e]] left disappointed

No entanto, o modelo falha em dar conta de alguns dados. Permite, por exemplo, prever que numa frase como (25), em que NUM é preenchido, mas [-Plural], a elipse é má quando NUM é preenchido com a, mas não prevê por que razão (25) é boa quando NUM é preenchido com one. Em (25), NUM e D não manifestam traços fortes, pelo que a elipse não deveria poder ser legitimada:

(25) Though [NUMP * a/one [e]] would certainly be nice, a vacation at this time is

unthinkable.

Em consequência, Lobeck supõe que [+partitivo] é um traço que marca os quantificadores, e que one, mas não a, tem esse traço. Supõe ainda que [+partitivo] é um traço forte quando é lexicalizado por um quantificador, mesmo um quantificador [-plural]. Sendo assim, one, mas não a, pode legitimar e identificar um NP vazio, como em (25). Segundo esta análise, o traço [+partitivo] parece ser também um traço de acordo forte, partilhado por dois núcleos ou por um núcleo e um constituinte máximo.