• Nenhum resultado encontrado

Legitimação e identificação das categorias elípticas: Lobeck (1995) Como veremos no capítulo 3, é a ideia de legitimação e identificação de categorias

1.3 Algumas perspectivas sobre o tratamento formal da elipse

1.3.3 Legitimação e identificação das categorias elípticas: Lobeck (1995) Como veremos no capítulo 3, é a ideia de legitimação e identificação de categorias

nulas pronominais que vai servir de base ao tratamento de Lobeck (1995) de vários casos de elipse, em particular da elipse do nome. Para Lobeck, o constituinte vazio característico da elipse relaciona-se com pro, sendo ambos de tipo [+pronominal] e estando ambos sujeitos a princípios de legitimação e identificação. Se a elipse não é o resultado de um movimento, fica em contrapartida a ideia de que partilha propriedades com os pronomes. No caso da elipse do nome, como no exemplo seguinte (Lobeck 1995:23), o elemento vazio aponta claramente para uma categoria nominal anteriormente realizada, propriedade típica dos pronomes:

(34) John calls on these students because he is irritated with [those [e]]

O problema ilustrado neste tipo de frase seria resolvido se a elipse fosse considerada uma forma de pronome vazio: de facto, tem pelo menos em comum com os pronomes o traço [-anafórico], e aplica-se-lhe pois o Princípio B, tal como aos pronomes —um pronome é livre no seu domínio de ligação. Também como os pronomes, a elipse pode prescindir de antecedentes sintácticos, e contentar-se com antecedentes pragmáticos ou discursivos. A elipse não é nem derivada por um movimento, nem A'-ligada, por exemplo por um operador vazio, nem A-ligada a um antecedente na sua própria oração. A elipse não é pois, segundo o modelo estabelecido, nem uma variável nem uma anáfora. No entanto pode ocorrer em enunciados coordenados ou subordinados e obedece à restrição da anáfora para trás, propriedades dos pronomes. As elipses são pois pronomes vazios.

A identidade suposta entre pronomes vazios e elipses deve permitir concluir que são legitimados do mesmo modo, embora seja também de prever que difiram no modo como o seu conteúdo semântico é recuperado. No modelo de Lobeck, é assim proposto que as elipses são pronomes vazios basicamente engendrados, e que a sua identificação depende de determinadas condições de reconstrução lógica. Lobeck pretende dar conta não só das categorias vazias definidas no âmbito do ECP, mas também dos pronomes vazios

A elipse e a gramática 25

resultantes de construção elíptica . De modo geral, as categorias elípticas são legitimadas e identificadas segundo as condições em (35):44

(35) Legitimação e identificação de pro

Um pronominal vazio não arbitrário deve ser estritamente regido por núcleo, e regido por um X°especificado portraçosfortes.

Esta (con)fusão entre categorias vazias e categorias elípticas marca uma importante mudança de perspectiva relativamente ao ECP. Neste último, como vimos, traços co- indexados são o meio pelo qual o conteúdo referencial de um NP nulo é recuperado. Para Lobeck, pelo contrário, um princípio como (35) aplica-se de maneira uniforme a todo o tipo de categoria vazia —referencial ou não referencial—, e define em especial o modo como os nós ocultos elípticos são tornados visíveis a nível interpretativo. Sendo assim, o ECP evolui de forma a poder dar conta indistintamente, por um lado, das anáforas nulas —os vestígios—, e, por outro, dos pronominais nulos de tipo pro.

1.4 Conclusão

Do que antecede, podemos concluir que houve uma evolução nítida do conceito de categoria vazia. Se, nas primeiras versões —Chomsky (1981)—, o ECP inclui os vestígios e PRO, no modelo das Barreiras, Chomsky (1986a) impõe que este princípio se reduza aos vestígios e às variáveis, excluindo os pronomes nulos de tipo pro. A distinção entre legitimação e identificação de categorias vazias —Rizzi (1986)— permite no entanto reconsiderar a existência de categorias vazias pronominais e alargar o ECP aos casos de elipse, presumivelmente nós pronominais vazios.

Podemos considerar que uma definição da elipse é possível. Trata-se de uma categoria vazia —não foneticamente realizada— que crucialmente implica as duas características seguintes: ocorre directamente na representação sintáctica —é basicamente engendrada e não o resultado de um movimento em Estrutura-S—, e o seu conteúdo é determinado a nível da FL. Destas observações, conclui-se que a elipse está presente em todos os níveis de representação. Do ponto de vista da estrutura dos constituintes elípticos, devemos inferir que uma categoria elíptica deve ser a projecção em termos de X- barra de um constituinte sem realização fonética. Do ponto de vista descritivo, as observações permitem a seguinte generalização: a elipse só pode ser convenientemente integrada no modelo das categorias vazias se for assimilada a um constituinte pronominal.

43 Note-se desde ja que o modelo geral desenvolvido por Lobeck (1 995)aplica-se a todos os tipos de categorias elípticas: elipse de VP , elipse de IP (sluicing), stripping (em Português Despojamento cf Matos 1 992), e elipse do nome. Neste trabalho, o modelo de Lobeck será reduzido às considerações que faz sobre a elipse do nome.

No parágrafo (2.1), resume-se Ronat (1977), uma das primeiras propostas sobre a sintaxe da elipse do nome. Em (2.2), apresenta-se o modelo de DP elíptico sugerido em Bernstein (1993). Em (2.3), expõe-se o Princípio de Legitimação da Elipse, desenvolvido em Lobeck (1995). Em (2.4), resumem-se as propostas de Kester (1996) sobre a legitimação das categorias elípticas por meio de flexão adjectival. Por fim, apresenta-se em (2.5) a tese de Sleeman (1996) sobre a legitimação de nomes nulos por partitivos.

2.1 Ronat Í1977)

Um dos primeiros trabalhos que tenta explicar por que razão em Francês só um certo tipo de adjectivos permite a elipse do nome é o de Ronat (1977), um trabalho elaborado no quadro da Teoria Standard Alargada, e por isso muito desactualizado, uma vez que parte de uma estrutura não binária para o NP. Ronat começa por notar que o Francês geralmente não admite "sintagmas nominais sem nome" (la), embora em certos casos se constate a ausência do nome (lb.c):1

(D a. * Les[e] qui parlent les ont vus

b. J'ai choisi les deux [e] qui m'avaient été présentés c. Lui a préféré les [e] rouges

Ronat propõe a existência em Francês, a nível da estrutura do NP, de uma restrição sintáctica que autorize ou proíba a ausência do nome. Para isso, sugere uma configuração do NP que lhe permite avaliar o nível categorial da elipse do nome.

Na sua opinião, os pseudo-adjectivos (os relacionais, como postal), são gerados como adjuntos de N°. Quantificadores e adjectivos simples (intransitivos, como rouge), são dominados por N'. Adjectivos complexos (transitivos, isto é, seguidos de complemento, como suspectible de), e adjectivos não-classificadores (como formidable), são dominados por N". Finalmente, determinantes e relativas restritivas são

gerados em [Spec,N"], o que origina a representação seguinte:2

1 Exemplos de Ronat (1 977). 0 sinal [e] é meu.

2 As relativas restritivas aparecem em Estrutura-S à direita de N" sob forma de PP, por regras de transformação. Quanto aos quantificador tous e chacun dominados por N", Ronat baseia-se em Kayne (1 975).

Algumas propostas sobre a elipse nominal 27

(2)

N "

Como mostram os exemplos (lb.c), a elipse do nome parece aceitável quando o nome elíptico é adjacente a um quantificador ou um adjectivo intransitivo. Esses constituintes são estruturalmente irmãos de N. Para tentar explicar por que razão só quantificadores e alguns adjectivos permitem a elipse do nome, Ronat propõe a seguinte restrição estrutural (Ronat 1977, p.156):

(3) N' deve dominar alguma coisa em Estrutura-S

Quando há elipse —ou ausência do nome—, N' deve conter ou um quantificador ou um adjectivo, ambos irmãos de N em (2). A ideia de Ronat de que só os quantificadores e os adjectivos que são dominados por N' permitem elipse do nome justifica os casos em (4a.b). Nos casos em (4c.d.e), a elipse do nome não é possível

porque N' não domina nada: (4) a. Les [N' trois [e]]

b. La [N' [e] rouge] c * [NP le ht [e]]]

d. * le [N' [e]] (qui est) capable de trahir e. * le [N' [e]] formidable

A restrição (3) levanta no entanto dificuldades, como a agramaticalidade do caso seguinte, em que N' domina no entanto o adjectivo trois:

(5) * Samson a reçu les [H trois e]formidables

Se a agramaticalidade deste caso não pode ser atribuída a (3), devemos concluir que o modelo de Ronat é insuficiente, e que outras restrições, estruturais ou não, estão na origem da elipse do nome.

2.2 Bernstein (1993)

No seu trabalho sobre a sintaxe do DP, Bernstein aborda a problemática dos nomes nulos. A autora examina nomeadamente uma série de frases com nomes vazios em várias línguas, em que o artigo definido tem uma função crucial. Para explicar a variedade de construções elípticas nas Línguas Românicas, Bernstein sugere uma parametrização das propriedades do artigo definido. A sua proposta para a elipse nominal é que o D definido

é o subordinador de um constituinte diferente de NP. O artigo definido nas Línguas Românicas é capaz de ligar uma posição aberta —no sentido de Higginbotham (1985)— e transformar um predicado em argumento. Esse predicado pode ser um A, um PP ou uma oração relativa. A estrutura geral é a seguinte, e é baseada na proposta de Chomsky (1992) sobre adjectivos predicativos:

(6)

pro A' A

Para explicar a variedade de construções elípticas, Bernstein analisa as propriedades subordinadoras de D: em italiano, o artigo definido liga NPs, mas não APs, PPs e CPs, o que explica os casos seguintes:

(7) a. *ll grande

b. * La decisione dei preside e la dei ministro c. * Il panino che ho mangiato e il che mi anno dato

Em Espanhol, o artigo definido liga APs, PPs, CPs, além de NPs, o que explica a existência, nesta língua, de várias formas de elipse do nome. Bernstein não justifica esta parametrização, e limita-se por exemplo a constatar que, em Espanhol, o artigo definido subordina uma oração relativa, ao contrário do Francês:

(8) a. El grande b. El de las Meninas c. Hablé comei que estaba

Em Francês, poderá admitir-se que o artigo definido liga APs, mas não é o caso com PPs e CPs:

(9) a. [Le [e] grand]

b. * [Les [e] qui sont rouges] c. * [Le [e] de Durer]

Observe-se que, pelos exemplos seguintes, também em Português o artigo definido legitima um nome vazio seguido de um complemento PP ou CP:

(10) a- Das canções do José Afonso, prefiro [as [e] que escreveu antes do 25 de Abril] b. Embora já lesse [os [e] do Camões], a Maria nunca leu os sonetos do Bocage

Embora descreva línguas como o Italiano e o Português, na verdade, parece-me que o modelo de Bernstein não dá conta de todas as formas de elipse do nome, nomeadamente do tipo [D+AP] em Francês. De facto, o modelo de Bernstein, em que o artigo definido transforma o adjectivo ou o constituinte correspondente em argumento, implica que o artigo nominaliza um AP, um PP ou um CP, e exclui a presença de uma

Algumas propostas sobre a elipse nominal 29

categoria vazia de tipo pro na posição básica do nome. Considero que o principal obstáculo levantado pelo modelo de Bernstein é a posição sintáctica que propõe para os adjectivos, que segundo ela seriam núcleos adjuntos. Afigura-se-me por isso que as propostas de Bernstein sobre a sintaxe dos adjectivos devem ser reconsideradas. Admito também que a presença de pro em especificador de AP é contestável —ver (6). Na verdade, este modelo está em ruptura com a análise da elipse do nome como uma projecção NP com núcleo N vazio, o que impede que pro esteja em [Spec,AP].

2.3 Lobeck(1995)

Lobeck propõe que as categorias elípticas em geral, elementos pronominais vazios, satisfazem o ECP, do mesmo modo que os pronomes vazios do tipo sujeito nulo. Assim como os pronomes vazios, também as elipses devem ser identificadas por acordo com um constituinte caracterizado por traços fortes. Como é geralmente assumido, traços de acordo nominal são o meio habitual pelo qual o conteúdo referencial de um pronome vazio não arbitrário é recuperado, mas Lobeck mostra que o mesmo se aplica às categorias elípticas. Embora as elipses sejam categorias vazias não referenciais, Lobeck mostra que é possível analisar uniformemente pronomes vazios referenciais e não referenciais, e o meio habitual pelo qual um elemento elíptico é tornado visível para a interpretação.