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Viagem rápida através do percurso abreviado

registo 5 em Unidade de contexto 5)

Não tenho crítica nenhuma. Creio que o GRAAL tem as suas deficiências como qualquer movimento, mas tem trazido uma grande vantagem para as pessoas poderem tomar consciência dos problemas que existem ao nível da sociedade e da Igreja.

(Unidade de registo 6 em Unidade de contexto 6)

Fui descobrindo uma outra forma de Igreja, de ser cristã diferente, o que me ajudou entender tudo o que estava contra mim ou contra o nosso grupo. Uma auto-análise para descobrir os meus próprios valores. O GRAAL ajudou-me bastante. Pela primeira vez na minha vida senti a luz do dia. Enquanto não resolvemos os nossos problemas, não podemos resolver os problemas dos outros. Pensando que estava resolvendo os problemas dos outros, estava resolvendo os meus."

(Unidades de registo7 e 8 em Unidade de contexto 7)

(Responsável de uma cooperativa de artesanato em Serreleis, Viana do Castelo)

Categorias emergentes no texto empírico

Categoria Participação na tomada de decisão

UR 1 em UC 1 : "trabalho que foi feito, foi sempre combinado com a participação da nossa parte" Categoria Formação global

UR 2 em UC 2: "faltava a formação humana"

UR 5 em UC 5: "formação global com todos os aspectos da vida das pessoas" Categoria Confiança

UR 3 em UC 3: "Podíamos confiar nela" Categoria Elitismo

UR 4 em UC 4: "estas organizações são um pouco elitistas" Categoria Tomar consciência

UR 6 em UC6: "tomar consciência dos problemas" Categoria Igreja e Cristianismo diferentes

UR 7 em UC 7: "descobrindo uma outra forma de Igreja, de ser cristã diferente" Categoria Valorização pessoal

Segundo andamento: De grupo em grupo e de rede em rede ou

Seguindo o trilho do percurso de conscientização feito entre mulheres profissionais

Neste segundo andamento, ainda mais do que no primeiro, darei apenas algumas pinceladas de um outro percurso, parcialmente paralelo ao trabalho nos projectos com as mulheres rurais. É uma experiência que se inicia em 1977 e se estende até 1995, ano em que o GRAAL finalizou o projecto Interacção de Mulheres Formadoras.

Em 1977 comecei a participar em grupos de conscientização de mulheres na cidade do Porto. A iniciativa era intitulada Grupos de Falar, grupos que também foram definidos como "grupos de tomada de consciência" (Magalhães 1998:74). Juntaram-se mulheres profissionais, algumas do GRAAL e outras mais, que seriam certamente chamadas uma «elite» pela pessoa responsável dos cursos de formação em artesanato, acima referida. Seriamos uma «elite» por duas razões: por um lado, por termos tido acesso a uma educação formal mais ou menos elevada, por outro, por termos desenvolvido uma consciência política (mais ou menos) crítica. Faltava pensar o ser

mulher, ou usando as palavras de Maria de Lourdes Pintasilgo no seu livro Os Novos Feminismos:

"Várias mulheres tentaram responder à crítica de Jacques Lacan, segundo a qual as mulheres não sabem o que de si sabem e, por isso, nada dizem sobre si próprias. Algumas delas deram uma resposta no interior do discurso psicanalítico, outras a partir da sua própria experiência" (Pintasilgo 1981: 59).

Era isto que tentávamos fazer nos grupos de falar, partilhar a nossa experiência de mulheres, descobrir quem éramos através do saber dizer (de) nós. Grupos deste tipo tinham proliferado em todos os países industrializados do mundo ocidental. As mulheres tentaram sair da "prisão conceptual e linguística" (Pintasilgo 1981: 59) construída e mantida de pé através da versão dominante da(s) história(s) sobre a vida e o «mundo» das mulheres:

" O que se imagina que as mulheres dizem situa-se no interior do universo que lhes é dado. (...) Continuarão as mulheres prisioneiras das palavras e conceitos que lhes foram dados?" (Pintasilgo 1981: 59).

Estávamos inseridas na corrente internacional dos Novos Movimentos de Mulheres. Editámos um pequeno Jornal intitulado Três vezes M (Mulheres Mudam o Mundo), do qual o nome foi inspirado por uma publicação de um grupo do GRAAL em Paris: Groupe

3 F... (Femme-Foi-Futur).

Em 1980, após o governo de Maria de Lourdes Pintasilgo, algumas mulheres do

GRAAL e muitas outras contactadas por ela durante o 5o Governo em todos os distritos do país, formaram a Rede de Mulheres. Em 1981 a REDE, era fase inicial de organização, "provocou muitas suspeitas e reacções em diversos sectores partidários, o que levou um grupo de mulheres envolvidas a vir a público explicitar os objectivos"

{Jornal de Notícias: 31-10-81). Enquanto trabalhar em rede é uma prática «normal» no

ano 2001, vinte anos antes, em 1981, «metia medo», não apenas por supostas razões políticas. Era suspeito também por ser uma rede de mulheres. Maria de Lourdes Pintasilgo veio ao Jornal dizer "numa entrevista exclusiva" que "as mulheres são já de facto uma força colectiva" (O Jornal: 30-10-81). "Quem tem medo de quem?", pergunta o Diário de Lisboa (30-10-81). AREDE deu uma conferência de imprensa no Porto:

"Referindo-se a ataques de que o movimento tem sido objecto ultimamente, por parte de certa imprensa, o comunicado frisa que, desde o 25 de Abril, as mulheres deram passos significativos no sentido da sua dignificação, pelo que "não se deixam hoje aviltar por discursos ridicularizantes dos que querem entravar a sua união e dignificação". "Elas sabem o que querem - acrescentam ainda - e vão lenta mas pacientemente, descobrindo o que querem e os caminhos para lá chegar, porque a solidariedade que as une, para além das diferenças de partido, de religião ou de casta, são muito, muito fortes. Considerando que esses ataques são um atropelo a um direito que o 25 de Abril e a Constituição da República Portuguesa conferem a qualquer grupo de cidadãos, sejam eles homens ou mulheres (o direito de reunião), as mulheres da Rede escrevem, a dado passo:

«Atacando esse direito, é a democracia e a liberdade que visam, é a auto- organização que estão a pôr em causa, é a organização autónoma das mulheres que parecem querer impedir, fechando os olhos à situação desfavorecida e difícil que elas vivem ainda no Portugal de 1981»" (Jornal de Notícias: 31-10-81. In: Rede e

A REDE esteve activa até 1986. Durante a sua existência houve múltiplos encontros de

mulheres pelo país fora. Houve também uma folha de comunicação com o nome Rede e

Nó(s), da qual o «eu» desta narrativa era responsável do «lay-out». Sobre as publicações

de mulheres no âmbito do "movimento feminista português" a Maria José Magalhães refere o seguinte:

"A imprensa mais informal tem características muito particulares: mostra geralmente muita criatividade no arranjo gráfico da sua paginação, uma criatividade que pode ser considerada naíve, podemos encontrar algumas páginas manuscritas - intencionalmente. Em quase todas as revistas há secções de poesia, exemplos que podemos encontrar nos boletins Da Mulher ou Da Rede ao Nó e nas revistas Situação Mulher e Artemísia" (Magalhães 1998: 82).

Na década de 90 o GRAAL decidiu organizar uma rede de mulheres formadoras, a

Rede Mulheres Anos 2000, que foi enquadrada nos Programas Operacionais do IEFP -

P08 / Redes de Intercâmbio e Apoio e na Iniciativa NOW - New Opportunities for

Women. No NOW a rede funcionou como Projecto Interacção de Mulheres Formadoras. O «eu» desta narrativa participou na Rede Mulheres Anos 2000 como

coordenadora pedagógica e formadora. Apenas menciono as principais actividades realizadas: Encontros de formadoras numa dinâmica de auto - e co-formação; Grupos- Piloto de sensibilização/ Formação; Acções de formação em parceria com outras

entidades; Produção de materiais de apoio pedagógico; Intercâmbio Europeu; Organização de colóquios alargados, nomeadamente sobre os temas: Mulheres e

Formação / Formação de Mulheres; A Emergência do Sujeito Feminino; Mulheres, Ambiente e Desenvolvimento; Mulheres e Política: Intervir para Mudar.

Em 1994 o GRAAL - rede Mulheres Anos 2000 - Projecto Interacção de Mulheres

Formadoras lançou o Projecto Mulheres na Tomada de Decisão, no âmbito da Rede

Europeia com o mesmo nome e da responsabilidade da Comissão Europeia - DG V.B. 4. Foram organizados vários colóquios e encontros de formação de mulheres e foi publicado o caderno Mulheres e decisão: Intervir para Mudar.

B

Pode haver conciliação entre o trabalho e a família