• Nenhum resultado encontrado

MUNDO DO TRABALHO

3.1 Emancipação Social

O vocábulo “emancipação”, conforme o dicionário de Bueno (1996), tem as acepções de ação ou resultado de emancipar-se e libertação/independência. Já “social” remete-nos ao que é da sociedade ou ainda à posição dos indivíduos na sociedade. Por essa simples analogia, poderíamos interpretar a Emancipação Social como se fosse a “libertação do cidadão”, ou ainda a “independência do homem”. Essa composição das palavras parece simples de se denotar o que é a Emancipação Social, no entanto com um olhar mais atento a conceituaremos mais seriamente e relacionando-a com a Educação Profissional e Tecnológica.

Primeiramente, é necessário dizer que, pela nossa interpretação, o termo “emancipação social” pode ser designado também como “emancipação humana”, então desta forma o uso de uma ou outra expressão para referenciar o conceito em questão será da forma que julgarmos mais adequada para a sentença em que ele venha a ser usado. Dito isso, precisamos remontar

47 a algumas concepções que unem Pedagogia, Filosofia e Sociologia e que nos dão uma melhor percepção do que seria a emancipação social e como ela se coaduna com a Educação Profissional e Tecnológica.

Fazendo um reporte inicial a conceitos filosóficos, trazemos o autor alemão Adorno, pois ele é um dos primeiros filósofos que trata da questão da emancipação. O pesquisador baseou seu conceito de emancipação naquele que é considerado o precursor do pensamento moderno, Immanuel Kant, já que, segundo Moreira (2014, p. 4),

Ele influenciou significativamente, não apenas Adorno e Horkheimer, bem como as gerações posteriores aos seus estudos de Filosofia. No que concerne a Teoria Crítica, Kant influenciou esse movimento quando Adorno buscou nele fundamentos para difundir a emancipação, que Adorno apregoava. Foi a partir do texto “O que é esclarecimento?” de Kant, que Adorno definiu a menoridade e a tutela e assim a premissa de que a emancipação pode transformar a sociedade.

Respaldado em Kant, Adorno expressa que para ele a concepção primordial que tem de educação é de que esta não pode ser uma modelagem de pessoas, nem tampouco que a educação seja uma mera transmissão de conhecimentos. Para ele, a educação deve ser

uma democracia com o dever de não apenas funcionar, mas operar conforme o seu conceito, e que demanda pessoas emancipadas. Uma democracia efetiva só pode ser

imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado. [...] De um certo modo,

emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade. (ADORNO, 1995, p. 141)

Como podemos perceber, o sentido expresso pela Filosofia de Adorno é o de que a Emancipação deva servir como forma de combate a todas as formas de barbárie de reprodução igualitárias da sociedade, sendo assim um dos principais objetivos da Educação, e no escopo deste estudo, da Educação Profissional e Tecnológica.

No que diz respeito a um olhar mais sociológico, emancipação social trata-se de um conceito que é regulado por meio de uma tensão existente em uma sociedade com muitas adversidades e a possibilidade de resolvê-los. Para tanto, nos imputamos para o autor Santos (2007) que traz em sua vasta obra o conceito de emancipação social em três grandes dimensões: uma epistemológica, uma teoria e uma política. No entanto, não nos valeremos neste trabalho da tarefa de embrenharmos com mais afinco sobre esses aspectos que o pesquisador português examina, mas buscamos colocar sua conceituação de emancipação de forma mais abrangente.

48 Segundo ele, a sociedade moderna vive regulada por experiências e expectativas, o que resulta em uma determinada divergência, onde a perspectiva de uma sociedade melhor acaba em detrimento dos grandes entraves sociais e políticos. Ele diz ainda que,

nós, ao contrário, pensamos que é preciso continuar com a ideia de emancipação social; no entanto, o problema é que não podemos continuar pensando-a em termos modernos, pois os instrumentos que regularam a discrepância entre reforma e revolução, entre experiências e expectativas, entre regulação e emancipação, essas formas modernas, estão hoje em crise. Entretanto, não está em crise e ideia de que necessitamos de uma sociedade melhor, de que necessitamos de uma sociedade mais justa. As promessas da modernidade – a liberdade, a igualdade e a solidariedade – continuam sendo uma aspiração para a população mundial. Nossa situação é um tanto complexa: podemos afirmar que temos problemas modernos para os quais não temos soluções modernas. E isso dá ao nosso tempo o caráter de transição: temos de fazer um esforço muito insistente pela reinvenção da emancipação social. (SANTOS, 2007, p. 18 – 19)

Para o autor que acabamos de citar, nas diferentes esferas da sociedade, a emancipação social é vista por diferentes prismas, mas que se conjugam na perspectiva de uma sociedade mais digna e equitativa. Conforme ele,

os movimentos indígenas deste continente nunca falam de emancipação social, mas de dignidade e respeito, que são dois conceitos básicos. O movimento operário ainda fala de emancipação e de luta de classes. As feministas usam muito o conceito de liberação, também os afrodescendentes. É necessário não preferir uma palavra a outra, mas traduzir dignidade e respeito por emancipação ou por luta de classes, ver quais são as diferenças e semelhanças. Por quê? Porque há muitas linguagens para falar da dignidade humana, para falar de um futuro melhor, de uma sociedade mais justa. (SANTOS, 2007, p. 40)

Em síntese, para o sociólogo, a emancipação social tem que ser almejada por todos que não se conformam com as dificuldades existentes, que são fruto da modernidade que nossa sociedade, às vezes tanto comemora. Em suma, conforme o autor citado anteriormente, nossas potencialidades e aprendizagens devem estar a serviço e na busca de uma igualdade social para todos.

Em se tratando de uma visão pedagógica, o conceito de emancipação constrói-se a partir do conhecimento das desigualdades sociais existentes. Então podemos definir emancipação social como a busca de uma humanização que se paute pela busca da solidariedade, justiça e dignidade para todos através das diferentes concepções pedagógicas. O pressuposto da emancipação humana se dá pela opressão de uma classe sobre outra, e no caráter educacional pela falta de ou supressão de alternativas pedagógicas para a grande maioria da sociedade.

49 Com o advento da Educação Profissional e Tecnológica, esse distanciamento tende a ser superado, pois ela alude a maiores possibilidades de educação e profissionalização para aqueles que foram historicamente tolhidos desta alternativa. Dessa forma, a busca da construção de uma sociedade que se propõe a resistir às investidas do Capitalismo e o consequente desmantelamento do processo de produção do conhecimento, verá que com a busca da emancipação social será possível a justiça social e equidade para todos. E nesse tomo de conceitos, a proposta da Educação Profissional e Tecnológica de desenvolver novos processos educativos que levem como beneficio a geração de alunos/trabalhadores autônomos, ainda ela conduzirá o cidadão para a ampliação da sua capacidade de perceber os problemas sociais e confrontá-los criticamente. Para tal conduta, a emancipação humana é que terá um papel fundamental nesse contexto de intervenção social.

E neste sentido, conforme os autores Saviani (2012) e Duarte (2012) o momento político atual brasileiro vincula às politicas públicas em voga, e no cerne deste estudo a Educação Profissional, a inclusão social e por consequência a emancipação humana dos trabalhadores. E rogamos o aspecto positivo da valorização da Educação Profissional e Tecnológica, pois com o aumento da dignidade humana da população, onde muitos não tinham acesso à escolarização e muito menos a qualificação profissional, até mesmo os indicadores sociais do País mudaram, onde milhares de brasileiros conseguem através da Educação sua ascensão social.

Ainda há um longo caminho a ser trilhado, mas no momento em que o desenvolvimento social e emancipatório for capaz de gerar empregos e com um efetivo acesso a educação básica articulado ao conhecimento e a profissionalização, aí então a política e a economia servirão a todos, e não apenas a determinados grupos oligárquicos que alimentam- se da acumulação capitalista.

Documentos relacionados