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HOMEM COM O TRABALHO

2.1 O Movimento do Mundo do Trabalho para os Tecnólogos

No decorrer deste trabalho, veremos que o mundo do trabalho é um conceito que denota o lugar-comum para o cidadão em que ele pode transformar, usufruir e até modificar o resultado da produção humana em sua existência. Mas neste instante de análise conceitual, trataremos de indagar a respeito de como se apresenta o mundo do trabalho para os tecnólogos, profissionais que são formados justamente por novas demandas tecnológicas e que são cada vez mais requisitados no atual cenário econômico.

Primeiramente, compreendemos que a tecnologia se faz em conjunto com a sociedade. No entanto, algumas situações fazem que essa relação seja prejudicada quando, por exemplo, postos de trabalho são diminuídos em face de recursos tecnológicos que as empresas adotam. Assim, a tecnologia pode beneficiar as instituições em detrimento do trabalhador. Por isso, a educação tem um papel fundamental nessa junção, pois o processo educativo visa ao bom convívio dessas duas áreas, como uma relação significativa no mundo de hoje.

O trabalho humano é ação transformadora da realidade, que dirigida por finalidades conscientes se torna resposta aos desafios da natureza na luta pela sobrevivência. Assim através do trabalho, o homem cria técnicas e as reproduz, age sobre a natureza e a modifica, mudando a si próprio. E ao viver em sociedade o homem é capaz de agir, criar e atribuir significado as coisas do mundo que o cerca conforme determinadas características. Dessa potencialidade humana provém sua capacidade de projeção do tempo e do futuro que o permite desenvolver a técnica e a ciência.

39 É sabido também que o trabalho é fundamental na vida humana, por ser mediação dos processos sociais da existência humana. Mas, se por um lado o trabalho é atividade central na história do homem, tanto no que tange aos processos de sociabilidade, quanto à emancipação do ser humano, de outro lado, na vigente sociedade capitalista, acaba perdendo essa dupla dimensão, pois direciona as relações de produção para o aprisionamento da classe trabalhadora nas algemas do trabalho alienado e assalariado.

Marx, no livro Manuscritos econômico-filosóficos, nos diz, ao fazer sua crítica ao direito, à moral e à vida do cidadão em relação à economia politica e ao Estado, que no sistema capitalista, tanto o trabalhador, quanto o trabalho tornam-se mercadorias e assim o trabalhador deixa de ser dono de sua ferramenta de trabalho – sua força de trabalho – passando a vendê-la para o capitalista, que domina os meios de produção.

Para Ciavatta (2009, p. 29),

a relação entre capital e trabalho é, antes de tudo, uma luta por outros interesses, a qual se desenvolve em todos os campos sociais, entre os quais o educativo. O acesso ao saber social elaborado e sistematizado se dá predominantemente na escola. A escola serve ao capital tanto por negar aos trabalhadores o acesso ao saber historicamente acumulado como por ignorar ou negar o saber social produzido coletivamente pela classe trabalhadora no trabalho e na vida. A prática educativa escolar, por determinação histórica, realiza-se nas relações de classe e é uma prática contraditória, mediadora de relações antagônicas. Pela condição de hegemonia do capital, está articulada aos seus interesses, mas pode ser articulada aos da classe trabalhadora, na medida em que esta avança em sua organização e seus movimentos coletivos.

Como toda produção humana, a ciência e a tecnologia são analisadas no contexto das relações sociais e no seu desenvolvimento histórico. E ao observarmos que as transformações econômicas e sociais ocorridas a partir da origem do capitalismo, foram formando a consciência coletiva dos trabalhadores no que se refere a estratificação do trabalho.

Frigotto (2003) nos coloca que a partir do desenvolvimento da maquinaria, o modo de produção capitalista separa, cada vez mais, ciência e técnica, trabalho material e trabalho imaterial, e ainda, sob essas condições, trabalho e trabalhador são colocados às leis imanentes do capital como acumulação, concentração e centralização. Dessa maneira, o capital, como relação social, busca expropriar do trabalhador seu saber, sua qualificação, o domínio das técnicas, separando trabalhador e instrumento. A separação promovida entre trabalhador e seu instrumento de trabalho foi determinante na separação entre trabalhador e conhecimento, entre trabalhador e ciência.

40 Ainda na parte inicial desta dissertação podemos perceber que o ensino profissional foi sendo incentivado muitas vezes às necessidades do mercado, mediada por concepções de educação técnico-profissional, mais tarde denominada de educação tecnológica, atrelada a modernização do Estado. E na busca da modernização como promotora do desenvolvimento socioeconômico, o modo de produção capitalista, no Brasil, foi se modificando e a elite dependente do Capitalismo foi moldando o Estado aos seus interesses, tendo como mediação o grau de escolarização e a formação profissional da classe trabalhadora. Nesse sentido, a concepção de educação profissional, articulada aos interesses do Capitalismo, foi a de uma formação aligeirada da força de trabalho, de modo a atender as mudanças da produção do modo capitalista.

Dessa forma, a Educação Profissional e Tecnológica tem o papel de focar sua atuação para formar o discente para que ele saiba agir com competência dentro do contexto tecnológico e de aprimoramento da ciência como um todo. A Educação Profissional e Tecnológica tem presente da mesma forma que o advento da tecnologia tem repercussões sociais, e essas repercussões acontecem primeiro no mundo do trabalho. Por isso, a necessidade de se formar profissionais, ditos tecnólogos, para que estejam preparados para entenderem a relação entre si, do trabalho e o produto de seu trabalho.

O conhecimento tecnológico de uma sociedade necessita de profissionais habilitados para desempenhar com eficiência a conjuntura científica e de tecnologia. Assim, é necessário que os cursos de Tecnologia – um dos principais objetivos estabelecidos para a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica – sejam a forma de inserir e capacitar os trabalhadores de nossa sociedade atual.

Desta forma, compreendemos que os cursos de Tecnologia, seja a sob a forma de técnicos em nível de ensino médio ou superiores, tem como objetivo específico oferecer um curso para aqueles membros da classe trabalhadora que almejam conquistar o seu espaço no mundo do trabalho. Muitas vezes, esses cursos são dotados de base teórica não muito densa, mas com grande foco na prática, e por serem de curta duração, voltam-se pragmaticamente para um determinado posto de trabalho.

Mesmo assim, a crescente expansão econômica do país resulta na abertura de novos postos de trabalho, muitas vezes com exigência de perfil e formação diferenciados. E nessa

41 circunstância é que ganham mais pertinência os cursos de tecnologia, como forma de atender prontamente as necessidades específicas do mundo do trabalho e do trabalhador.

Ainda, nos associamos à colocação de Brandão (2013, pág. 339) quando afirma que a formação do tecnólogo é voltada para a realidade do mundo do trabalho, capacitando profissionais para responder mais rapidamente às exigências dos setores produtivos. [...] O tecnólogo, além de deter o conhecimento do fazer, é capacitado para analisar processos produtivos e propor aprimoramentos técnicos e inovações tecnológicas, contribuindo para a melhoria contínua dos índices de produtividade e de qualidade.

Portanto, o crescente momento da Educação Profissional e Tecnológica – mesmo que historicamente tenha sido marcada por uma dualidade de relevância e insignificância como modalidade educacional – será fomentadora para a formação tecnológica em qualquer nível de ensino. Mesmo que essa formação enfrente problemas, estes serão superados como forma de que com os aumentos substanciais na oferta de cursos de tecnologia, que estes sirvam para potencialidade de emancipação humana e de protagonismo social dos cidadãos.

Enfim, o desafio posto para a Educação Profissional e Tecnológica, através dos Institutos Federais, é de se produzir o conhecimento de forma que o aluno/cidadão seja capaz de entender a si e o mundo, em que ele reflita, dialogue e compreenda o mundo de forma mais abrangente.

2.2 A Viabilidade do Curso Técnico para o Curso Superior: a verticalização

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