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2 BASES TEÓRICAS

2.1 TEORIA CRÍTICA

2.1.5 Emancipação

A exigência de emancipação parece ser evidente numa democracia. ADORNO, 1995, p.179

Para a efetivação da democracia, “é preciso pressupor a aptidão e a coragem de cada um em se servir de seu próprio entendimento” (ADORNO, 1995, p.169), ressalta Adorno, em Educação e emancipação11. Essa obra trata de sua última entrevista de uma sequência de

debates pedagógicos, na rádio de Frankfurt, com Hellmut Becker, numa busca “por difundir a educação política, que, para ele, se identificava à educação para a emancipação” (KADELBACH, 2010, p.9). Isto é: uma democracia com o dever de operar conforme seu conceito demanda pessoas emancipadas e só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado. A apresentação de ideias exteriores que não se originam e não se legitimam a partir da própria consciência emancipada são coletivistas-reacionárias (ADORNO, 1995, p. 141-142). Emancipação é, portanto, a decisão consciente independente, de cada pessoa em particular. De certo modo, emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade.

O complexo conceito de emancipação é aprofundado na Teoria Crítica sob o resgate dos ideais e filosofias do iluminismo. O iluminismo defendia “livrar os homens do medo e de fazer deles senhores, [...] libertar o indivíduo do tradicionalismo ignorante da idade média, da irracionalidade que dividia os homens em nobres e não-nobres pelo nascimento e pela religiosidade” (PUCCI, 1994, p.20). Mas Pucci é claro ao lembrar que os teóricos críticos retomam o iluminismo e a razão emancipatória apontando também seus limites e sua ligação com a repressão social e o totalitarismo.

11 No prefácio, feito em 1970 por Gerd Kadelbach, em Frankfurt, há uma advertência de que Adorno aceitou

muito a contragosto a publicação das gravações de suas entrevistas radiofônicas e de suas palestras, com consciência sobre a distância entre a palavra escrita e a falada, sendo esta última, para ele, efêmera, como conversa descompromissada e transitória. Gerd cita ainda que Adorno advertiu que a própria atitude de gravar uma conversa efêmera é sintoma da sociedade administrada que quer fixar até mesmo um “texto” improvisado.

Sob influência do filósofo Kant, os teóricos críticos refletem sobre o conceito de esclarecimento ou Aufklärung. Kant foi favorável à revolução francesa, que representava para ele a concretização inicial dos ideais do iluminismo, numa época em que a Alemanha estava dispersa em 300 territórios, com uma realidade em que predominavam a servidão e a censura e sua burguesia enfrentava inúmeras divergências. Nesse contexto, o esclarecimento (pela razão, ciência e tecnologia), defendido por Kant, acontece na liberdade de usar publicamente a razão. Qualquer homem faz uso público da razão enquanto sábio e instruído e o sábio deve colocar suas obras a serviço do público, numa atitude prática, consciente e política no sentido de transformar a sociedade.

A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter maiorennes), continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tem um livro que faz as vezes do meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um médico que por mim decide a respeito de minha dieta etc., então não preciso de esforçar-me eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar quando posso simplesmente pagar; outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis (KANT, 1985, p.102).

Em resposta ao que é esclarecimento, Kant aborda a necessidade de emancipação em relação à menoridade, em se libertar da tutela, do estado de menoridade, que é auto inculpável, “quando sua causa não é falta de entendimento, mas a falta de decisão e de coragem de servir-se de entendimento sem a orientação de outrem” (p. 169). E reconhecia que a maioria das pessoas considera esta passagem, da menoridade para a maioridade – difícil e perigosa. Afinal, os tutores têm o cargo de supervisão da menoridade de bom grado:

Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e preservado cuidadosamente estas tranquilas criaturas a fim de não ousarem dar um passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas (KANT, 1985, p.102).

Preceitos e fórmulas como instrumentos mecânicos do uso racional, são, segundo Kant, “os grilhões de uma perpétua menoridade” (KANT, 1985, p.102). Para esse esclarecimento (Aufklarung), portanto, nada mais se exige senão liberdade, a saber: a de fazer um uso público de sua razão em todas as questões, diante do mundo letrado, já que o uso privado da razão (em certo cargo público ou função à pessoa confiado, ou, uso doméstico) é

considerado por Kant estreitamente limitado, pois em geral são discursos contidos para não destruir a finalidade de onde são comandados e relacionados à obediência.

A brecha de emancipação, para Kant, estava na impossibilidade de impedir o esclarecimento a uma geração futura. Pois não há contrato capaz de afastar para sempre o esclarecimento do gênero humano, mesmo que fosse selado por um poder supremo, por parlamentos e ou tratados gerais. Ou seja, ampliar conhecimentos faz parte da natureza humana, e “uma época não pode se aliar e conjurar para colocar a seguinte em um estado em que se torne impossível para esta ampliar seus conhecimentos (particularmente os mais imediatos), purificar-se dos erros e avançar mais no caminho do esclarecimento” (KANT, 1985, p.108). À pergunta “Vivemos atualmente numa época esclarecida?”, Kant, em seu tempo, respondeu que “não, mas certamente em uma época de esclarecimento” (idem, p.108).

Tal esclarecimento inevitável é questionado por Adorno (1969), já que, em sua época, a pressão exercida sobre as pessoas é intensa, a fim de controlar totalmente a realidade, pela via da indústria cultural e outras coerções, colocando enormes dificuldades para a emancipação e esclarecimento de uma sociedade exaustivamente administrada12. E assevera

que realizar somente o caminho tradicional para autonomia pela via da formação cultural (embora fundamental nos processos de formação) pode conduzir ao contrário da emancipação.

As reflexões críticas13 de Hannah Arendt, filósofa política alemã de origem judaica,

quando analisa os totalitarismos do século XX e discute suas origens no imperialismo colonialista, abordam essa complexidade. Ao relatar o envolvimento de alguns judeus que ajudaram na matança dos seus iguais, a partir do processo de Eichmann (tenente-coronel responsável pela logística do genocídio dos judeus pela Alemanha nazista), discute a barbárie a partir da banalidade do mal. Ela expõe que não só as convicções antissemitas das tropas formadas por funcionários do regime explicavam os assassinatos genocidas, mas, qualquer

12 Embora a pesquisadora não tenha encontrado uma definição para o termo “sociedade administrada”, esta

parece estar relacionada, nas obras críticas, a uma administração social da subjetividade, nos mínimos detalhes, como um simulacro do prazer, da fruição do desejo, pela promoção e manutenção estratégicas da semiformação, da indústria cultural para maximização do lucro e do poder concentrados nas sociedades capitalistas.

pessoa que descuida ou abdica do pensar ético e reflexivo pode legitimar genocídios e outras barbáries. (CALLIGARIS, 2013).14.

Muitos dos sintomas da frieza citados pelos autores teórico-críticos confirmam que a recaída no princípio de Auschwitz permanece possível, que ele ocorre diariamente de outras formas (GRUSCHKA, 2014, p.40).15 E a função da Teoria Crítica é analisar a formação social em

que isso ocorre, revelando as raízes não acidentais desse movimento, descobrindo as condições para interferir em seu rumo.

Também relacionada diretamente à emancipação está a autonomia, segundo a Teoria Crítica. E ainda que se pense em liberdade diante desse conceito, ela pressupõe um contato com a autoridade e adquire seu significado no âmbito do contexto social em que se apresenta. Adorno (1995, 176) explica que, segundo Freud, o desenvolvimento normal das crianças envolve a identificação com uma figura de pai, portanto, com uma autoridade,

[...] interiorizando-a, apropriando-a, para então ficarem sabendo, por um processo sempre muito doloroso e marcante, que o pai, a figura paterna, não corresponde ao eu ideal que aprenderam dele, libertando-se, assim, do mesmo e tornando-se, precisamente por essa via, pessoas emancipadas.

No entanto, o processo de rompimento com a autoridade é necessário e esta etapa da relação com a autoridade familiar não deve ser glorificada e conservada, segundo Adorno (1995). “E quando isso ocorre os resultados não serão apenas mutilações psicológicas, mas justamente aqueles fenômenos do estado de menoridade, no sentido da idiotia sintética que hoje constatamos em todos os cantos e paragens” (idem, p.177). Dialeticamente, a descoberta

14 Em análise do filme “Hanna Arendt” (2012, direção de Margarethe von Trotta) é possível dimensionar o

tamanho do crime perante a mediocridade do criminoso, segundo Calligaris. Ou seja, “a banalidade do assassino constitui uma agravante” e não uma desculpa oportunista ou um perdão aos líderes nazistas. O mal pode morar no vizinho ou em sua própria casa. Por isso, Calligaris chama atenção para um “coletivo (a nação, o partido, o sindicato, a torcida, a gangue, o grupo adolescente de amigos, a própria família) que não oferece apenas ideologias e desculpas: ele fornece uma função para cada um de seus membros. [...] Sem pensar e só preenchendo minha função no coletivo, priorizando somente o que é funcional e bom a um determinado grupo, eu sou capaz de banalizar o mal e agir baseado nisso”.

15 Nesse mesmo sentido, ainda podemos questionar quantos brasileiros pensam/agem como Jair Bolsonaro e

que barbárie coletiva está sendo cultivada no Brasil de hoje, quando um deputado se sente à vontade para defender publicamente a ditadura e a tortura, em seu pronunciamento na votação do congresso nacional pela continuidade do processo de impeachment da presidenta do Brasil, no dia 17 de abril de 2016: "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, voto sim''. Ao vangloriar Ustra, que foi chefe do DOI-CODI de 1970 a 1974. “um sociopata torturador”, segundo Calligaris, “Bolsonaro quis apavorar Dilma Rousseff, a torturada que resistiu à tortura”. Mas o psicanalista discute que “Bolsonaro se confundiu. O grito do torturado já vale mais do que a palavra e o ato de qualquer torturador. Por isso, “Ustra não é o pavor de Dilma. Dilma é o pavor de Ustra” (CALLIGARIS, 2016).

da identidade só é possível no encontro com a autoridade, a partir da retomada da socialização na primeira infância, quando nos tornamos emancipados psicologicamente. Adorno enfatiza que isso não ocorre “simplesmente no protesto contra qualquer tipo de autoridade” (p.176), pois “investigações empíricas (ex. Else Frenkel-Brunswik) revelam justamente o contrário – ou seja, crianças tidas como comportadas tornaram-se pessoas autônomas e com opiniões próprias antes das crianças refratárias, que, adultas, passam a imitar discursos” (p.177).

Em termos dialéticos, cabe a ressalva sociológica de Horkheimer e Adorno (1973, p. 143) de que, na sociedade capitalista, sob a alçada da autoridade paterna na família, os filhos também aprendem “a não atribuir a causas sociais os seus fracassos, mas a limitar-se às suas próprias causas individuais; e tais fracassos eram absolutizados como culpa ou inferioridade pessoal”.

O discurso do professor, que deverá tornar-se supérfluo na escola, pela emancipação de seus alunos, também pode esconder o engodo do professor autoritário que afasta seus alunos. O autoritarismo também pode estar representado nas pessoas que:

Interiorizam o pai opressivo, brutal e dominador, mas sem poder efetivar essa identificação, justamente porque as resistências a ela são excessivamente poderosas. E precisamente porque não conseguem realizar a identificação, porque há inúmeros adultos que no fundo apenas representam um ser adulto que nunca conseguiram ser totalmente, e assim, possivelmente, precisam sobre-representar sua identificação com tais modelos, exagerar, encher o peito, bravejar com voz adulta, só para dar credibilidade frente aos outros ao papel mal-sucedido para eles próprios. Isso pode ser visto entre certos intelectuais[...] e [...] em todas as camadas da sociedade (ADORNO, 1995, p.176).

Em relação à autoridade, Adorno (1995, p.141) caracteriza o momento autoritário como aquele que impõe a partir do exterior uma orientação da educação dos outros, carregando “algo de usurpatório [...], em contradição com a ideia kantiana de um homem autônomo, liberto de sua menoridade, emancipado”. Ainda discute a relevância de se investigar a formação do caráter autoritário (em Educação após Auschwitz) e decifrar seus modos de agir patológicos, para evitar a repetição de barbáries como Auschwitz. O autor identifica o caráter autoritário como aquele portador de uma consciência mutilada, coisificada, “quando converte a relação humana em coisa, alterando a experiência” (ADORNO, 1995, p.130). Apresenta um realismo exagerado e “não imagina o mundo diferente do que é”,

refletindo uma violência física (por ex. sadismo, brutalidade a agressividade), uma relação irracional com a técnica (considerando-a como um ser independente, com força própria); uma “adesão cega ao coletivo” e “o preparo para manipular massas” (idem, p.129). Tem um certo tipo de ausência de emoções, com “traços de incomunicabilidade”, amando mais a técnica e as coisas do que as pessoas. E “possesso pela vontade de fazer coisas, indiferente ao conteúdo de tais ações”, parece uma pessoa vigorosamente ativa (idem, p.131). Ou seja, o autoritário encontra-se em contradição com a ideia de pessoa autônoma, emancipada, liberta de sua menoridade.

No entanto, “o retorno ou não ao fascismo” (ADORNO, 1995, p. 123) constitui-se, em seu aspecto mais decisivo, em uma questão social, e não psicológica. O potencial autoritário na sociedade permanece muito mais forte do que se imagina”, alerta Adorno.

O autor destaca problemas, observados por ele nos EUA, que ultrapassam os limites dos sistemas políticos, e que interferem diretamente na formação da autonomia, como o individualismo, o pragmatismo, a glorificação da heteronomia e a ideia de adaptação/ajustamento das crianças desde cedo à sociedade. Aspectos estes que “restringem a independência no próprio ato” e refletem contradições da história burguesa. Dessa forma, “o mero pressuposto da emancipação de que depende uma sociedade livre já se encontra determinado pela ausência de liberdade da sociedade” (ADORNO, 1995, p.171).

No entanto, Adorno afirma que quanto maior a tentativa de transformar a realidade, maior a repressão em resposta, condenando-a à impotência. “Aquele que quer transformar provavelmente só poderá fazê-lo na medida em que converter esta impotência, ela mesma, juntamente com a sua própria impotência, em um momento daquilo que ele pensa e talvez também daquilo que ele faz” (ADORNO, 1995, p.185). Para o autor, “a única concretização efetiva da emancipação consiste em que aquelas poucas pessoas interessadas nesta direção orientem toda a sua energia para que a educação seja uma educação para a contradição e para a resistência”. (ADORNO, 1995, p.182).

Outro aspecto questionado pelo autor é o (falso) conceito de talento, afirmando que este não se encontra pré-configurado nos homens, mas pode ser desenvolvido, dependendo dos desafios que cada pessoa tem oportunidade de experimentar na vida. Nesse sentido, a oferta diversificada, múltipla, diferenciada e intensificada de desafios às pessoas, em todos os

níveis, “converte-se numa forma particular de desenvolvimento da emancipação” (ADORNO, 1995, p.170).

Adorno vem demolir o fetiche do talento individual no questionamento de uma crença romântica na genialidade, na inteligência. O talento não é uma disposição natural de modo decisivo, mas, ao contrário, expressa as desigualdades das condições sociais a que as pessoas são submetidas, inclusive a educação “a que não são submetidas” (idem, p.171).

Com relação à formação acadêmica, Adorno (idem) ressalta que a universidade bane das pessoas a criatividade e os hábitos de pensamentos não-assegurados. Assim, a própria ciência revela-se em suas diversas áreas tão castrada e estéril, que até para continuar existindo ela necessita daquilo que ela mesma despreza. Mas, por mais que se possa criticar a razão absoluta, não se propõe abandonar o rigor do pensamento, fundamental para uma práxis coerente.

Ausente na literatura pedagógica, o problema da emancipação se coloca ainda mais urgente. Pois esta tem se pautado sobretudo na questão da autoridade (desviada mais para o autoritarismo, numa dimensão destrutiva) e do compromisso (em geral falso, sem que seja substancial para as pessoas; tornam-se normas e mandamentos heterônomos) na Educação. Ao enfrentar cada aparente oposição entre autoridade, autonomia, liberdade, razão, Adorno vai mergulhando na negatividade do que aparenta uma grande promessa e vai ampliando a perspectiva de análise da emancipação. Essa premissa da Teoria Crítica revela o processo de relação com o objeto como parte da emancipação – revelando sua causalidade, as situações paradoxais, dissolvendo sua rigidez.

Outro importante aspecto associado ao processo de emancipação é a necessidade de ser “acompanhada de uma certa firmeza do eu”, similar àquela do modelo do indivíduo burguês (ADORNO, 1995, p.180). A consciência de todos poderia resultar em uma crítica imanente, mas, para Adorno, a Educação é algo maior que a formação de uma consciência de si, de uma conscientização, senão corremos o risco de cair na “armadilha de um enfoque ʻsubjetivistaʼ da subjetividade da sociedade capitalista burguesa” (ADORNO, 2010, p. 16), olvidando as condições objetivas e a forma social da concretização da produção de conhecimentos e da Educação.

Adorno parece dar, para alguns autores, uma resposta insuficiente à questão da práxis emancipatória, tal como Melo (2011) aponta em sua tese de doutorado. Este discute, a partir

do referencial de Habermas, novos sentidos da emancipação, apontando a lacuna dos marxistas ortodoxos, em considerar a emancipação somente sob a perspectiva do trabalho, e dos teórico-práticos da primeira geração da Escola de Frankfurt, em não indicar uma orientação prática-emancipatória, de forma a valorizar os movimentos sociais e outras manifestações civis pós-socialistas. Assim, ele destaca trabalhos que aproximam a Teoria Crítica da teoria política, da democracia e do Direito, no sentido de libertar as energias políticas paralisadas.

No entanto, Adorno alerta, em Educação e Emancipação (1995), que nunca se propôs a dar uma resposta de transformação prática da sociedade, até porque isso se dará com a participação de todos. E mesmo cientes da existência de críticas e da pluralidade de perspectivas no que se refere à emancipação, entendemos que não se esgotam as possibilidades de análises com a Teoria Crítica nesta tese. Ao contrário, tal teoria traz densidade, riqueza de elementos e múltiplas possibilidades interpretativas que buscaremos desenvolver junto aos dados desta pesquisa.

Em suma, podemos elencar elementos fundamentais no conceito de emancipação apontados pela Teoria Crítica, que incluem entendê-la como um potencial bloqueado, sempre presente na sociedade capitalista, na consideração de que os pressupostos do desenvolvimento do próprio sistema proporcionam as condições sociais de sua superação. Nesse sentido, o contrário da emancipação é a barbárie. Além disso, a emancipação social pressupõe uma crítica imanente social auto reflexiva; a autonomia que se desenvolve no encontro com a autoridade; a socialização de condições objetivas favoráveis ao desenvolvimento humano (ADORNO, 1995; MELO, 2011).

O essencial é pensar a sociedade e a educação em seu devir. Só assim seria possível fixar alternativas históricas tendo como base a emancipação de todos no sentido de se tornarem sujeitos refletidos da história, aptos a interromper a barbárie e realizar o conteúdo positivo, emancipatório, do movimento de ilustração da razão (ADORNO, 1995, p.12).