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CAPÍTULO I – PERCEPÇÃO DE MORADORES SOBRE DEGRADAÇÃO

1.6 Embasamento Teórico-conceitual

Esta pesquisa parte de uma abordagem de estudo sócio-ambiental, enfocando a relação entre a degradação ambiental visualizada na cidade de Manaus e a percepção ambiental de estudantes da rede pública estadual sobre o espaço vivido, considerando que o homem estabelece suas inter-relações com o mundo ao seu redor, a partir da percepção sobre a degradação ambiental e a sua relação com a produção de doenças Infectoparasitárias e os aspectos de saúde do indivíduo.

Dessa forma, apresentamos as bases conceituais e o referencial teórico em que a presente pesquisa se apoia, procurando apresentar uma síntese dos seus principais delineamentos, conforme apresentado no decorrer do texto.

A Geografia é a ciência que estuda o espaço geográfico em suas várias escalas (MORAES, 2007). O conceito de espaço geográfico inclui o espaço natural modificado permanentemente pela sociedade por meio do seu trabalho, cultura e técnicas por ele utilizadas. Neste aspecto, Moraes (op cit) argumenta que cabe a Geografia o estudo do espaço natural, das modificações por ele sofridas, provocadas pela ação do ser humano, e das relações humanas existentes nesse espaço.

Segundo Rocha (2003) o primeiro contato do ser humano com o mundo se dá através da sensação captada pelos órgãos dos sentidos. A sensação leva a percepção e pela percepção formam-se imagens que têm significados diferentes para quem as capta, dependendo de vários fatores externos e internos. Essas imagens vem sendo consideradas nos estudos da percepção ambiental como fundamentais para compreendermos as atitudes das pessoas diante da construção x desconstrução do espaço vivido.

Numa síntese retrospectiva, identificamos na bibliografia estudada que os primeiros estudos de percepção ambiental foram realizados por Wright (1947) e Lowenthal (1961), ambos citados por Holtzer (1993), a partir do funcionamento da percepção humana. Lowenthal (op cit), a partir dos conceitos de Wright, considerava que o seu objeto de estudo era “a natureza da terrae incognitae e a relação entre o mundo exterior e as imagens que estão em nossas cabeças”. Essa visão psicológica

da percepção marcou vários trabalhos que procuraram entender como essa relação mundo interno e externo se processa em nosso cognitivo, conforme estudados por Lynch (1988) e Oliveira (1983,1996 e 2001).

Para esses autores, o homem conhece o mundo que o cerca através de seus sentidos que reage aos vários tipos de energia que o cerca, assim a realidade a sua volta pode ser percebida através dos cinco sentidos (olfato, visão, audição, tato e paladar), onde a mente organiza e representa a realidade percebida através de esquemas perceptivos e do imaginário, com atributos específicos (DEL RIO, 1996 e VIALLI, 2006).

Os estudos da percepção permearam várias disciplinas do conhecimento, tais como da educação, da arquitetura, da psicologia, da biologia, entre outros. Na Geografia, esse campo de estudos foi chamado de Geografia da Percepção e possui a perspectiva central de trabalhar algumas das categorias de análises geográficas, como espaço vivido, lugar, território, por meio da cognição humana, ou seja, a partir dos significados que o Homem dá ao seu meio (ROCHA e PÁDUA, 2008).

Rocha e Pádua (op cit) citam que a Geografia da Percepção é um movimento da Geografia Humanista e pode, atualmente, ser considerada como uma das principais tendências orientadoras da Geografia Cultural, principalmente porque percepção e humanismo sempre estiveram presentes nas preocupações práticas e teóricas nos estudos Geográficos.

Segundo Tuan (1983), o pressuposto fundamental da Geografia da Percepção é afirmar que as pessoas se comportam no mundo real a partir das imagens captadas por ele, e não propriamente dito pelo conhecimento objetivo que se tem deste mundo; como citado anteriormente, essas imagens são captadas através dos sentidos.

Conceitualmente, AMORIM FILHO (1999a) considera que percepção é o processo mental mediante o qual, a partir do interesse e da necessidade, estruturamos e organizamos nossa interface com a realidade e o mundo, selecionando as informações percebidas, armazenando-as e conferindo-lhes significados e em muitas situações define o modo de atuar dos coletivos sociais. É

por uma certa intersubjetividade que um dado segmento da sociedade valora o seu ambiente a ponto de defende-lo diante de ameaças (FURLAN, 2000).

Rocha e Pádua (2008), do ponto de vista biológico e psicológico, consideram percepção o processo cognitivo através do qual se conhece objetos e situações próximos no tempo e no espaço, que são compreendidos e percebidos por aqueles que constituem e estabelecem relações com eles. Citam ainda que os objetos distantes não podem ser percebidos, apenas evocados, imaginados ou pensados, pois o espaço pode constituir uma obstrução para a percepção.

Para Tuan (1983), o espaço é uma representação que para a geografia da percepção possui contexto com sentido de amplitude, liberdade e infinitude; já o lugar é um produto da experiência humana, não se refere a objetos ou localização, mas a experiência, a aprendizagem e envolvimento com o mundo.

O espaço pode ser analisado sob vários pontos de vista. Rocha (2003) citando Moreira (1993) apresenta a oposição entre o espaço como campo conceitual e o espaço como campo sígnico, levando-se em conta a visão do mundo concebido a do mundo percebido ou subjetivado.

As noções do espaço topológico, espaço vivido, espaço percebido e espaço produzido estão entre as várias noções que permeiam o discurso da geografia da percepção, indo da dialética à fenomenologia (ROCHA, 2003). A mesma autora cita que em todas essas noções o espaço são o campo das formas dos objetos que nos circundam e se codificam em nossas mentes como um universo infindo de imagens.

Segundo Lui (2008), a paisagem é um conceito que representa de maneira mais ampla a complexidade da percepção e ações humanas sobre o ambiente, por ser o mais próximo da realidade da construção natural, histórica e cultural humana, uma vez que a paisagem é um conceito também muito ligado as imagens percebidas

Sob uma perspectiva sociocultural, as transformações na paisagem são determinadas por um universo complexo de variáveis e especificidades, condicionado pela visão do mundo dos grupos que a executam (LUI, op cit). A

capacidade de transformação dessa paisagem tem relação com a evolução humana, onde essa capacidade se modifica a partir das alterações nos níveis tecnológicos, com o aporte de energia, informação e domínio de tecnologias simples como a caça/pesca e coleta de produtos até as sociedades industriais complexas.

Os sistemas humanos de uso dos recursos naturais são constituídos por variáveis individuais e sociais que atuam simultaneamente em um determinado contexto e limites pré-estabelecidos, em diferentes escalas espaciais e temporais, segundo Moran (1993), citado por Konrath et al. (2004). Estudos dessa natureza, segundo Konrath et al. (op. cit), envolvem uma complexidade de fatores, pois trata das inter-relações entre variáveis de sistemas ecológicos e humanos.

Os processos de percepção ambiental são uma das principais forças de organização das inter-relações entre os sistemas humanos e sistemas ecológicos, capazes de integrar variáveis individuais, sociais e ambientais, cujos padrões e processos observados em campo, podem ser investigados através do estudo das interações entre essas variáveis (WHYTE, 1982 citado por KONRATH et al., 2004).

Del Rio e Oliveira (1996), identificam que estudos têm sido realizados afim de identificar os aspectos envolvidos com os mecanismos perceptivos e propor explicações sobre o modo como o ambiente é percebido pelos seres humanos e como essa percepção interfere na estrutura e dinâmica dos ecossistemas e paisagens.

Os mecanismos cognitivos pertencentes à percepção do indivíduo são constantemente variáveis, pois dependem da motivação, da necessidade, das alterações de humor, da experiência, dos conhecimentos prévios, dos valores e de vários outros fatores, para que se possa estabelecer uma resposta do sujeito na contribuição do processo perceptivo (ROCHA e PÁDUA, 2008).

Rocha e Pádua (2008) consideram que as percepções variam em função da cultura, a experiência, educação, situação socioeconômica, as necessidades, as utilidades, idade, sexo, dentre outros fatores entre os indivíduos. Há um grande contraste na percepção ambiental de pessoas de diferentes grupos sociais, principalmente aos entrevistados que possuem maior grau de escolaridade daqueles

que não possuem. Existe sempre uma mediação de conceitos que se interpõe ao imaginado a partir da percepção.

Segundo ROCHA (2003), um signo é tudo aquilo que é produzido e pode ser interpretado; o significado de um signo se dá a partir da percepção de uma pessoa, de um grupo, de um povo, de uma cultura. Essa percepção é portanto informada por vários aspectos. Segundo Guedes (2007), em entrevistas realizadas com moradores da cidade de Manaus sobre as sete maravilhas da cidade, mostraram que os mesmos elegeram o Teatro Amazonas como um monumento arquitetônico de expressão única no centro de Manaus; consideraram também o Encontro das Águas como um patrimônio da natureza próximo a cidade. Nesse contexto, a partir dos elementos apresentados acima, observa-se que os moradores da cidade consideram o Teatro Amazonas e o Encontro das Águas como signos urbanos na cidade de Manaus, representam símbolos extensivos da imagem que projetam da cidade, marcos referenciais da paisagem, vale perguntar quais valores estariam edificando esses símbolos? É no campo dos valores que devemos investigar de onde emerge a identificação de um signo.

1.7 Procedimentos Técnico-Operacionais e Instrumentos de Apoio