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Emendas individuais das famílias Alves e Maia, cadastradas para municípios

4. Emenda e voto

4.1. O uso das emendas para manutenção das bases político-familiares

4.1.2. Emendas individuais das famílias Alves e Maia, cadastradas para municípios

Gráfico 02. Total de emendas de todos os parlamentares – Ente municípios – 2010- 2018

Fonte: SICONV (2018)

No Gráfico 02, podemos observar o somatório de emendas individuais de toda a bancada potiguar, nos últimos oito anos, compreendendo um mandato de senador e quase dois mandatos completos de deputados federais. Os Ministérios das Cidades, Turismo e Agricultura são os que mais receberam emendas, em termos de recursos financeiros. Os municípios mais beneficiados foram Natal (porém se inclui também direcionamentos ao Governo do estado), Santa Cruz, Açu e Pau dos Ferros. Os três parlamentares que mais destinaram na totalidade para o RN foram, pela ordem, Fábio Faria, Henrique Alves e Felipe Maia.

Gráfico 03. Total geral – José Agripino Maia – Ente: Municípios – 2010 - 2018

Fonte: SICONV (2018)

Já no Gráfico 03 temos um recorte das emendas específicas do senador José Agripino Maia (DEM), direcionada a municípios. É possível observar um pico no aumento do número de emendas assinadas em ano pós-eleitoral (2011) e no ano pré-eleitoral (2017). Quando focamos nos dez municípios que mais receberam emendas, percebemos que há uma correspondência com o fato de terem prefeitos pertencentes ao mesmo partido (Ex.: 2° Pau dos Ferros, 3° Martins), ou serem aliados (Ex.: 1° Santa Cruz), ou eleitores desse candidato para o senado em 2010. Os três Ministérios de onde mais se originaram os recursos foram os das Cidades, Turismo e Agricultura.

Gráfico 04. Total geral – José Agripino Maia e Felipe Maia – Ente: Municípios – 2010 - 2018

Fonte: SICONV (2018)

No cruzamento de dados demonstrados pelo Gráfico 04, entre as emendas individuais direcionadas a municípios pelo senador José Agripino Maia (DEM) e pelo seu filho, o deputado federal Felipe Maia (DEM), percebe-se claramente que foram direcionadas praticamente para as mesmas localidades. Notemos algo interessante: o mandato de senador dura oito anos e, nesse intervalo, ocorrem três eleições: duas municipais, para prefeitos e vereadores, e uma estadual, para um senador, deputados federais, estaduais, governador e presidente. Com esse tipo de distribuição de emendas, pode-se manter sempre irrigadas as bases em que os mesmos possuam maior densidade eleitoral e, em eleições presentes no intervalo, o apoio de ambos a candidatos aliados pode fazer com que estes também sejam beneficiados eleitoralmente e posteriormente retribuam nos processos eleitorais seguintes em que precisem de reeleição.

Bases eleitorais bem regadas a emendas podem servir de conquista a outros espaços de poder; fato que ocorreu com o próprio deputado federal Felipe Maia, que, apesar de ter feito incursões em busca de apoios próprios, herdou bases de apoio do seu pai, senador José Agripino

Maia, fato importante para sua eleição e reeleição. No Anexo 1 – Gráfico A, a título de ilustração, demonstrativo das emendas do deputado Felipe Maia, disponível em

www.robsoncidadao.com.br/anexosdissertacao

Gráfico 05. Total geral – Garibaldi Alves Filho – Ente: Municípios – 2010 -2018

Fonte: SICONV (2018)

Analisemos agora, baseado no Gráfico 05, as emendas do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), e, na sequência, em outras tabelas, as emendas do grupo político/familiar Alves, composto pelos deputados federais Walter Alves (filho) e Henrique Alves (primo, que chegou a ser presidente da Câmara dos Deputados e Ministro do Turismo), seu suplente de senador Paulo Davim, senador titular Garibaldi Alves (pai) e suplente desse, Ivonete Dantas. Por fim, o somatório das emendas direcionadas aos municípios dos senadores, objetos de nossa análise: Garibaldi Alves Filho e José Agripino Maia e somatório de todas as emendas dos grupos familiares Alves e Maia, direcionada a municípios.

Gráfico 06. Total geral – Ente município – Garibaldi A. Filho, Garibaldi Alves, Ivonete Dantas, Paulo Davim, Henrique Eduardo Alves e Walter Alves – 2010-2018

Fonte: SICONV (2018)

Aqui (Gráfico 06), percebe-se um direcionamento expressivo de emendas aos municípios, com recursos oriundos do Ministério do Turismo, que assume o primeiro lugar no grupo político-familiar Alves, contabilizando o dobro de emendas para o segundo colocado, que é o Ministério das Cidades.

Em 2013, observa-se coincidência entre um pico de 50 emendas assinadas no primeiro ano em que Henrique Alves foi presidente da Câmara (04/02/13-1/02/15); posteriormente, outro pico, em 2016, segundo ano em que Henrique Alves foi Ministro do Turismo (16/04/15- 28/03/2016, no Governo Dilma Roussef e 12/05/16-16/06/16 no Gov. Michel Temer). De 2010 a 2018 (até 05 de junho), percebe-se que o total destinado via Ministério do Turismo, pelo grupo político-familiar Alves, chegou ao montante de R$ 32.584.927,00 (trinta e dois milhões, quinhentos e oitenta e quatro mil, novecentos e vinte e sete reais), do total geral movimentado

no mesmo período, que chegou a R$ 83.553.016,00 (oitenta e três milhões, quinhentos e cinquenta e três mil, e dezesseis reais).

Como o fato nos chamou a atenção, sugerimos apreciar o Anexo 2, disponível em

www.robsoncidadao.com.br/anexosdissertacao, com o detalhamento de quanto, em reais, cada um destinou e a relação das 10 cidades mais beneficiadas, com destaque para as cidades de São Miguel do Gostoso e Patu, e, ainda, a mesma simulação, subtraindo os deputados federais do grupo familiar.

Gráfico 07. Total geral – Garibaldi Alves Filho e José Agripino Maia – Ente: Municípios – 2010 – 2018

Fonte: SICONV (2018)

Agora, no Gráfico 07, observamos a união das emendas individuais destinadas a municípios, dos senadores Garibaldi Alves filho e José Agripino Maia. Permanece em primeiro lugar, como órgão concedente, o Ministério do Turismo. Juntos, encaminharam no período de

2010 a junho de 2018 o valor correspondente a R$ 50.030.476,00 (cinquenta milhões, trinta mil, quatrocentos e setenta e seis reais).

Gráfico 08. Total geral – Ente Município: Garibaldi Alves, Garibaldi Alves Filho, Ivonete Dantas, Paulo Davim, Henrique Alves, Walter Alves e José Agripino Maia.

Fonte: SICONV (2018)

Por fim (Gráfico 08), no que se refere à somatória de todos os membros dos grupos político-familiares Alves e Maia, incluindo deputados federais, senadores e suplentes, o Ministério do Turismo ainda lidera como órgão concedente. No grupo, assume a liderança no aporte de emendas, Henrique Alves, que já fora ministro da pasta, destinando a ela aproximadamente R$ 10 milhões – um terço – do seu total geral que chegou a mais de R$ 33 milhões. O total geral dos grupos familiares Alves e Maia, incluindo João e Zenaide (Anexo 3 – Gráfico A), chega ao montante de mais de R$ 208 milhões, apenas para municípios. Sem a presença de João Maia e Zenaide Maia (Anexo C – Gráfico 2), conforme o gráfico 08 acima, o valor ainda chega a mais de R$ 177 milhões. No anexo 4, estão disponíveis as demais emendas

individuais de Henrique Alves (Total Geral, Total para Estado e Total para OSC). Anexos disponíveis em www.robsoncidadao.com.br/anexosdissertacao

É relevante a força política do grupo, mesmo a se considerar as disputas em que se encontram separados. Juntos, o potencial eleitoral é ampliado. Em eleições como a de 2002, Garibaldi Alves Filho e José Agripino Maia foram eleitos simultaneamente senadores. Na eleição de 2006, essas forças antagônicas, que já haviam se enfrentado, uniram-se no apoio à ex-prefeita de Mossoró, Rosalba Ciarlini Rosado (DEM), que acabou sendo eleita para o Senado, tendo como primeiro suplente Garibaldi Alves, pai de Garibaldi Filho. Esse último perdeu a eleição para Wilma de Faria, que disputara o Governo, mas permaneceu senador pois ainda estava na metade do mandato. O grupo, unido, derrotou o senador Fernando Bezerra (PTB) que tentava a reeleição. Na eleição seguinte, 2010, Garibaldi Filho e Agripino Maia permaneceram juntos e apoiaram para o Governo do estado a senadora Rosalba, do grupo político-familiar Rosado, que fora eleita, e um apoiou o outro e foram reeleitos senadores. Com a eleição de Rosalba, efetivou-se no cargo de senador Garibaldi Alves “pai”.

Esse detalhamento é importante, porque apesar de nosso foco principal repousar sobre os senadores José Agripino e Garibaldi Filho, há estratégias e desdobramentos no jogo político envolvendo a bipolaridade entre ambos e demais familiares. Por isso, vários deles estão sendo pontuados no levantamento das emendas parlamentares, que, como abordamos na parte teórica, tendo Maquiavel (2007) como autor base, acabam funcionando como instrumentos que dão suporte tanto à permanência desses grupos nos espaços de poder, quanto à conquista de outros espaços, em favor de familiares ou aliados de ocasião.

O modus operandi se dá pelo somatório das forças do capital político-familiar e do capital econômico movimentado pelos membros dessas famílias. Reconhecemos que isso reflete também a virtù desses grupos no uso dos instrumentos dos quais dispõem, ou seja, o emprego estrategicamente correto – do ponto de vista político, que parece também contar ao longo do tempo em que permanecem no poder com algum auxílio da fortuna, ou seja, da sorte que faria com que as estratégias políticas alcançassem resultados vitoriosos. Essa constatação não significa que enxergamos que as disputas políticas no âmbito do Rio Grande do Norte, no período analisado, se deram de maneira igualitária entre os concorrentes.