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A importância das máquinas do governo do estado e federal, das prefeituras, do

2. A luta pelo poder no RN: Alves e Maia

2.10. A importância das máquinas do governo do estado e federal, das prefeituras, do

E FEDERAL, DAS PREFEITURAS, DO SENADO E DO

FINANCIAMENTO PRIVADO PARA FORMAÇÃO E MANUTENÇÃO DE BASES POLÍTICAS.

Um importante diferencial que os grupos político-familiares Alves e Maia possuem em relação a outros grupos políticos é o fato de terem formado ou “adquirido” bases políticas sólidas, que os conferem capilaridade em todo o estado do Rio Grande do Norte. Como já dissemos, à luz de Maquiavel (2007), a luta política requer exércitos próprios; do contrário, não é possível sustentar-se com tanta segurança em espaços de poder, diante da dificuldade e instabilidade que é vivenciada por aqueles que contam com exércitos alheios.

Para a formação dessas bases, pelo menos duas estruturas, com seus respectivos instrumentos de poder, foram necessárias em um primeiro momento: a dos partidos políticos e a das máquinas administrativas do Governo do estado e prefeituras de Natal e Mossoró, sem as quais não haveria como montá-las e mantê-las.

Em um segundo momento, destacamos a criação, o acesso às concessões e o controle de canais de mídia e verbas publicitárias públicas que ajudavam a manter veículos de rádio, TV e jornais controlados diretamente pelos próprios grupos político-familiares ou por aliados. A comunicação, aliada ao marketing político, tem um peso importante na construção da imagem

uma candidatura ao governo. O vice, Fabio Dantas, rompe em abril de 2018, já nas portas da eleição, declara-se pré-candidato ao Governo (fato que não se confirma) e deixa os quadros do PCdoB, que também já deixara o governo, para ingressar no PSB, que depois terminou recompondo-se com o palanque governista. Fica a pergunta, a ser respondida no próximo episódio eleitoral, em outubro de 2018: do grupo vencedor no plano majoritário em 2014 sairá algum ator/partido político vitorioso em 2018? Se a resposta for negativa, ao que parece, voltarão as forças tradicionais ao comando do Governo do estado (que poderá ter um Alves novamente – Carlos Eduardo) e Alves ou Maia serem reconduzidos às duas vagas no Senado; ou um ao Senado e outro à Câmara Federal? Em caso positivo, esta vitória será com ou sem a presença do padrão familiar em seu palanque? E, se alguma das forças vitoriosas em 2014 compuser com os derrotados em 2018, tais forças voltarão ao cenário político? Se unidos, em 2014, mesmo na dificuldade contra estruturas poderosas não foi fácil ganhar, como ficarão estando separados em 2018? Conhecendo o histórico modus operandi dos grupos políticos em análise, um novo desdobramento poderá sair desse novo “acordão” entre as famílias Alves e Maia, agora unidas aos Rosado: José Agripino Maia, reconhecendo a sua fragilidade eleitoral, abdica de disputar a reeleição ao Senado e disputa uma vaga na Câmara Federal, desalojando da cadeira o próprio filho, Felipe Maia. O fato descongestiona a chapa do Alves Carlos Eduardo, mas o mesmo teria o compromisso, caso eleito governador, de apoiar em 2020, Felipe Maia para a prefeitura de Natal. Tentativa semelhante já ocorrera em um passado recente, segundo Costa (2006, pág. 193): Em

2004, José Agripino negociava a entrada de Felipe Maia, seu filho, como vice na chapa do candidato de Wilma de Faria, Carlos Eduardo Alves, que buscava reeleição. Felipe Maia, inexperiente e com pouca penetração, não agregava voto à chapa.

púbica dos políticos aliados, bem como na desconstrução – desgaste – das imagens dos adversários.

No contexto da transição do regime militar à redemocratização, MDB e ARENA foram ocupados e controlados respectivamente pelas famílias Alves e Maia, que agiram politicamente para imprimir capilaridade aos partidos em todo o Rio Grande do Norte, onde fincaram bases eleitorais, às quais apoiavam em eleições municipais e delas recebiam apoio em eleições estaduais. Tais eleições reproduziam no plano local as disputas acirradas entre Alves e Maia, também identificados respectivamente como bacuraus e araras, ou puxadores dos cordões verde e “encarnado” (vermelho).

No âmbito do estado, a cada disputa, principalmente pós “paz pública” em 1978, tais grupos ocupavam os espaços políticos de governo ou oposição, revezando-se em “gangorra” ao longo do tempo. Essa alternância bipolar ocorreu até 2002 quando os antagônicos se uniram em “novo acordão” para tentar impedir a consolidação de Wilma de Faria como 3ª força de projeção estadual. Como resgata Costa (2006, p. 146): “Adotando um perfil progressista aliado a um padrão pragmático em suas alianças e rupturas políticas com o PFL e com o PMDB, Wilma de Faria avançava na consolidação de sua autonomia como liderança independente. E concorrente”.

Wilma de Faria foi eleita governadora e reeleita em 2006; porém, quando tentou o voo ao Senado Federal, acabou sendo derrotada como reflexo da união das famílias Alves e Maia (José Agripino Maia e Garibaldi Alves Filho), das suas bases políticas, dos seus instrumentos de poder, como cargos e emendas, da união dos financiamentos privados captados por ambos e dos seus aparatos de comunicação que amplificaram o seu desgaste frente a diversas denúncias que envolveram o seu governo.

De todo modo, recorremos a Duverger (2006, p. 262) que parece contribuir com um importante esclarecimento do que foi vivenciado por Wilma de Faria; de acordo com ele, para que os partidos novos se constituam com solidez em um sistema dominado por duas forças partidárias,

É necessário que disponham de forte apoio local ou de grande e robusta organização nacional. No primeiro caso ficará confinado na sua área geográfica de origem, donde só sairá a custo e devagar, [...] no segundo, apenas, é que poderá esperar crescimento rápido que o levará à posição de segundo partido.

Relembramos acima alguns fatores que remetem à origem e formatação das bases políticas dos Alves e Maia. Refletindo agora sobre o que os sustentou politicamente nos períodos em que deixaram de ocupar as máquinas administrativas, encontramos o suporte do Senado Federal, que será detalhado no próximo capítulo e o acesso proporcionado por essa instituição a diversos recursos de poder, como emendas parlamentares que irrigaram, ao longo de quatro mandatos de Agripino Maia e três de Garibaldi Alves Filho, suas bases, bem como nomeação de cargos federais em seus gabinetes, na instituição Senado e em Ministérios e órgãos federais com suas representações em Brasília e no estado, além do acesso proporcionado ao rol das maiores empreiteiras do país, financiadoras de suas campanhas e de seus aliados.

Há alguns detalhes interessantes no que se refere aos períodos em que José Agripino Maia e Garibaldi Filho foram governadores e prefeitos. Eles exerceram esses cargos em períodos “de ouro” quando os governadores (principalmente) tinham diversas prerrogativas que os fortaleciam politicamente. Sobre o período em que os governadores conservavam bastante poder, destacamos a narrativa de Abrucio e Samuels (1997, p. 152, grifo nosso):

Outro importante recurso nas mãos dos governos estaduais é o da nomeação dos cargos públicos. O "poder da caneta" é fundamental no sistema político brasileiro, em particular nos níveis subnacionais. Após 1982, os governadores recém-eleitos acrescentaram mais de 500 mil novos servidores às folhas de pagamento dos estados (Graham, 1990: 79). Depois da Constituição de 1988, os governadores ampliaram ainda mais o uso dos cargos como moeda de barganha política. [...] os governadores

também possuem grande influência na nomeação dos cargos de segundo e terceiro escalões do Governo Federal, aumentando assim os postos a serem

distribuídos para a classe política estadual.

Outro fator chama atenção, e diz respeito a mais recursos nas mãos dos governadores que tiveram, por consequência, mais condições para um melhor desempenho de gestão. Foi um período em que as máquinas estavam mais “azeitadas” em virtude da descentralização de tributos e do quase ausente controle externo. Nos períodos em que Agripino Maia foi prefeito (1978) e governador (1982 e 1990), e Garibaldi Alves Filho foi prefeito de Natal (1986), estes chegaram a contar com mais que o dobro de recursos do que os seus antecessores recebiam. Para ilustrar, apontam os números:

As mudanças no FPEM foram as seguintes: enquanto em 1969 apenas 6% das receitas provenientes do IR e do IPI eram distribuídas aos estados e 6% às municipalidades (Mahar, 1971: 76), mudanças ocorridas entre 1975 e 1982 aumentaram, tanto para estados como para municípios, esses percentuais a 13%

em 1982. (OLIVEIRA, 1995b; MAHAR & DILLINGER apud ABRUCIO e SAMUELS, 1997, p. 157)

Lembremos que entre os dois mandatos de José Agripino Maia como governador, existiu o mandato de Geraldo Melo (1986), em um período confuso, com a vigência de duas Constituições Federais distintas e inflação galopante. Já com Garibaldi Alves Filho, entre o primeiro (1994) e segundo mandato (1998) de governador, que coincidiu com o primeiro e segundo mandatos de Fernando Henrique Cardoso na presidência da República, os estados voltaram a diminuir o seu peso junto ao Governo Federal, mas ainda conservando poder:

Apesar de no primeiro período presidencial de Fernando Henrique Cardoso ter aumentado o poder da União frente aos estados, ainda permanecem determinadas resistências e uma forte influência dos governadores no que tange a uma série de reformas do aparelho estatal. (ABRUCIO E SAMUELS, 1997, p. 161)

Diante das perdas, que começaram a dificultar a gestão de Garibaldi Alves Filho, uma esperança surgiu no horizonte, o que lhe possibilitou ter recursos para investimentos e o projetou à reeleição, na época derrotando o senador José Agripino Maia: o processo de privatizações iniciado no período criou as condições para que ele pudesse vender a companhia elétrica do estado, a COSERN.

Nos tempos posteriores, quando Wilma de Faria chega a ser eleita para o Governo (2002), a máquina estatal começa a cobrar a conta das benesses concedidas no passado, inclusive com problemas junto ao crescimento da folha de pagamento de pessoal, do Executivo e dos demais poderes, o que colocava em queda livre a capacidade de investimentos do estado do Rio Grande do Norte. Wilma de Faria, também marcada pelo uso político da máquina, acaba passando por desgastes políticos em virtude dos problemas administrativos e da pouca capacidade de resposta à população em termos de serviços, mas consegue se reeleger (2006), devido à aliança com o presidente Luís Inácio Lula da Silva, do qual pode dispor de apoio político e recursos financeiros, inclusive para a construção da maior obra física do RN (Ponte Newton Navarro).

Já em 2010, quando Rosalba Ciarlini Rosado assume a máquina estatal, a capacidade de investimentos do RN era nula e a crise fiscal já dava sinais de alerta preocupantes. Para fechar o pagamento dos salários dos servidores, acabou tendo que se utilizar de recursos do Fundo Previdenciário Estadual. Em relação a dividas, recebeu o Governo com aproximadamente

R$800 milhões de sua antecessora e repassou ao seu sucessor, Robinson Faria (2014), com aproximadamente R$1 bilhão. Soma-se ao último governo, o peso enfrentado pela crise econômica nacional, bem como efeitos políticos e econômicos de um traumático e questionável processo de impeachment da então presidente Dilma Roussef, bem como sequências de escândalos de corrupção por todo o país, deflagrados pela operação Lava-Jato.

Toda essa dinâmica narrada serve para ressaltar que nos “bons” períodos de seu governo, a sorte, ou a Fortuna, como diria Maquiavel, parece ter sorrido para os primeiros gestores citados e se distanciado dos últimos, fato que impacta na imagem pública de cada político referido, negativamente para os últimos; positivamente para os primeiros.

Nos bons momentos, era possível nomear sem concurso público, sacar dinheiro com cheque na boca do caixa, cravar sua marca associando seu nome e seu governo em paradas de ônibus e até sacos de leite distribuídos aos mais carentes; era possível ainda pintar todos os prédios públicos com as suas cores, para que as mesmas fossem sempre reavivadas na memória e no imaginário popular. Não havia a lei 8.666 das licitações, nem a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Ministério Público ainda não possuía poderes fiscalizadores como os que lhes foram conferidos nos tempos mais recentes.

Nos piores momentos de se gerir a máquina pública, José Agripino Maia e Garibaldi Alves Filho transitavam livremente por Brasília, distantes de uma responsabilidade mais direta com os problemas e crescentes demandas que lhes pudessem imprimir desgastes, transitando com certa leveza junto aos prefeitos municipais, regando-os em suas bases com emendas parlamentares e ajudando-os com recursos de campanhas conseguidos via “doação” de empreiteiras, quando a lei ainda permitia oficialmente. Esses dois tópicos serão detalhados nos capítulos finais.

3. OUTRAS ESTRATÉGIAS E INSTRUMENTOS PARA MANUTENÇÃO DOS