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O Senado e as conexões com o plano federal como suporte

3. Outras estratégias e instrumentos para manutenção dos espaços de poder

3.1. O Senado e as conexões com o plano federal como suporte

A seguir, vamos relacionar o tema dos grupos político-familiares Alves e Maia com o Senado e buscar explicar as conexões que os mantêm ligados, facilitando a perpetuação desses grupos no poder.

A visibilidade de outros cargos, além do de senador, se dá porque há uma correlação direta entre cargos ocupados anteriormente e posteriormente ao de senador.

Em geral, ao longo da História do RN, perceberemos a dinâmica pela qual “poder gera poder”: um cargo acaba servindo de suporte ao alcance de outro, como uma espécie de trampolim e por ele termina sendo permutado, como também abre espaço para a entrada de um outro parente ou correligionário do próprio seio do grupo político-familiar, objetivando “apartar o sangue”, como dizia Pedro Velho, já no período da Primeira República, quando ficava muito evidente para a população o excesso de familiares nos espaços de poder.

Nos dias atuais, já na sexta República, o peso que mais vale para o Governo Federal é o do deputado federal e do senador, pelo fato de a situação econômica e fiscal dos estados terem piorado, sobretudo no caso dos menos desenvolvidos e localizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, fato que enfraquece os governadores, junto ao presidente da República.

Oscilações se davam no plano da política local de acordo com as mudanças no plano nacional. Quando elites políticas nacionais assumiam, guindavam ao poder as elites políticas locais a elas vinculadas. Essa repetição de fatos ao longo do tempo constitui-se como um dos fatores que geram instabilidade política e institucional, que por sua vez acabam por estraçalhar qualquer impulso ou tentativa de construção de governabilidade e gestão no país e nos estados. Para ilustrar, destacamos uma situação que ocorre desde o período colonial, permanecendo no período republicano no Rio Grande do Norte:

A política do estado foi sempre uma política de submissão ao poder central, de subserviência, o que talvez se explique pela debilidade de suas bases econômicas de sustentação. No Rio Grande do Norte, até o poder oligárquico é frágil externamente, o que torna a política estadual muito vulnerável a “forças estranhas” aos interesses locais, tendendo a se acomodar, com facilidade, às mais diversas articulações do jogo

de interesses, infra e interpartidárias, assim como às transações políticas de cunho particular. (ANDRADE, 1996, p. 152).

É possível perceber, ao longo da dança das cadeiras nos poderes central e local, a presença de fatos que mostram a importância, o relevo da bancada federal e dos senadores junto ao presidente, e a influência dessas relações na governabilidade dos governadores. O presidente ajuda o governador, que retribui ao presidente com o apoio dos deputados, e os deputados do mesmo modo. Também os senadores entram nesse jogo e se fortalecem junto ao presidente. Como ilustra Silva (2016, p. 72):

Além do impacto do ciclo presidencial já mencionado, convém destacar que os sistemas partidários locais também são influenciados pelo executivo estadual (governadores) que possuem certa autonomia para o estabelecimento e a implantação das agendas políticas, estabelecendo recursos para a competição eleitoral.

É importante assinalar que, em diversos textos consultados, quando se fala em partido, devemos enxergar também uma referência em relação aos grupos político-familiares dominantes, já que, como dissemos, a maioria dos partidos políticos brasileiros funcionam na prática como franquias que possuem donos (os responsáveis por esses partidos locais pagam inclusive uma espécie de royalties, mensalmente, aos comandos nacionais), servindo apenas como um “CNPJ” para o franquiado registrar candidaturas e fazer coligações objetivando a ocupação de espaços de poder, por meio dos processos eleitorais, que exigem – pelo menos para os candidatos – uma filiação partidária.

Diante desse contexto, chamamos a atenção à necessidade da máquina partidária em captar recursos humanos e financeiros. Nesse sentido, como apontam Cervi e Codatto, (2006, p. 248)

O controle do governo por determinada agremiação o que constitui, de resto, a base para a distribuição de empregos (“cargos”) e recursos públicos em troca de apoio político tende a contribuir decisivamente para a institucionalização partidária, seja no âmbito eleitoral, seja no âmbito organizacional. Partidos que contam com o Presidente, ou com o Governador, ou com um número respeitável de Prefeitos, tendem a avançar eleitoralmente e estruturar-se materialmente, crescendo em importância junto à elite política.

Essa tentativa de ocupação de espaços de poder para manutenção dos grupos partidários, familiares ou não, também se reflete nas disputas municipais. Como já dissemos, luta-se por espaços de poder que possam gerar outros espaços de poder e assim ampliar a rede de influência.

É válido informar, conforme observamos em todos os períodos analisados, que os

players que se alternaram na disputa pelas três vagas da alta câmara brasileira, na bancada do

Rio Grande do Norte, transitaram em momentos distintos em diversos cargos, já ocupados por eles próprios ou por familiares e participaram ativamente influenciando em eleições para os demais cargos, de vereador a presidente da República. Neste sentido, conforme Melo (2010, p. 73) no que se refere à relação entre eleições estaduais e municipais:

Nas disputas de 2000, 2004 e 2008, os partidos dos governadores eleitos respectivamente em 1998, 2002 e 2006 estiveram em primeiro lugar, no número de prefeituras eleitas, em 70% dos estados. Se acrescentarmos os casos em que o partido do governador ficou em segundo lugar, chegamos a 85% dos estados. No federalismo brasileiro, a conquista do governo estadual é decisiva para o desempenho nas eleições municipais.

De acordo com Silva (2016), os governadores influenciam decisivamente no desempenho eleitoral dos partidos nos municípios em todos os estados do país. Porém, no caso do Rio Grande do Norte, parece-me que a análise compartilhada acima, em termos do potencial de influência do governador, aproxima-se mais da realidade quando se refere aos municípios de pequeno e médio porte, já que os grandes municípios são gradualmente menos dependentes do governo estadual. Outra ressalva que merece ser feita nesta análise é a situação de aprovação ou desgaste por parte do governante de plantão, já que um governante mal avaliado pode influenciar negativamente.

Ainda para Silva (2016), além da influência dos governadores, suas análises também apontam para o papel dos presidentes da República, no desempenho eleitoral de seus candidatos e partidos aliados nas eleições municipais. Sugere que “a aquisição de recursos acessando o governo – federal ou estadual – faz com que os partidos governistas tenham um melhor desempenho eleitoral” (SILVA, 2016, p.73).

Ao que me parece, ao longo do tempo, com relação a certos estados, sobretudo do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde os governos locais são muito dependentes do Governo Federal (que concentra a maior fatia de renda tributada), a relação se inverte, pelo fato de determinados senadores e deputados federais desses estados, de tanto se reelegerem, criam raízes, na República e nos estamentos burocráticos e interligam-se entre si, de modo que se tornam mais

fortes junto ao presidente de plantão, que até mesmo os governadores. Criaram raízes e vida própria, conquistaram o poder de facilitar, impedir ou dificultar a chegada de recursos aos estados, a depender da relação desses com os governadores e até prefeitos.

Em reforço deste argumento, Meneghello (1998 apud SILVA, 2016, p. 73) mostra que, relativo ao Rio Grande do Norte:

Os partidos que ocupam ministérios conseguem se estruturar e alcançam um melhor desempenho eleitoral. Isto permite compreender o desempenho dos principais partidos do estado, DEM, PMDB e PSB, bem como compreender o quadro partidário.

Quando estão aliados, “torneiras” abertas; quando são oposição, criam-se dificuldades e os recursos que conseguem captar via ministérios e emendas parlamentares impositivas são direcionados para prefeituras aliadas nos seus respectivos estados, onde fazem oposição ao governo. E, mais ainda: quando são oposição aos prefeitos, encontram associações para direcionar emendas.