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2.2 Educação conscientizadora e a hipertensão arterial sistêmica

2.2.3 Empoderamento e consciência crítica

Empowerment5 constitui-se num termo da língua inglesa de difícil tradução para o português. Sendo assim, optamos por utilizar, neste trabalho, a tradução da palavra empowerment como empoderamento, podendo ser também encontrada sua tradução como fortalecimento.

Segundo Buss (1998), o conceito de empoderamento, faz parte do campo de ação da promoção da saúde. Na Carta de Ottawa, esse campo de ação é definido como o processo de desenvolvimento, na comunidade, da capacidade de controle e de habilidades para gerar mudanças nos condicionantes sociais da saúde, através da mobilização coletiva. O desenvolvimento da comunidade se baseia nos recursos humanos e materiais com que conta a comunidade para estimular a independência e o apoio social.

A ajuda recíproca, em que cada um cuida de si e dos outros, é um dos temas centrais da proposta de intensificar a auto-assistência e o apoio social, para desenvolver sistemas flexíveis do reforço e da participação comunitária, na direção dos assuntos da saúde (BUSS, 1998).

Nessa concepção, tem-se como instrumento a Educação em Saúde, que objetiva a melhoria da auto-estima, a diminuição da alienação, incrementando os conhecimentos, de modo a abrir o campo de possibilidades de escolhas do ser humano, deixando-o livre para decidir sobre seus comportamentos. Desse modo, busca-se aprimorar as opções disponíveis, para que a população exerça maior controle sobre a própria saúde e sobre o meio-ambiente e para que opte por tudo aquilo que proporcione saúde (BUSS, 1998).

5 MICHAELIS. Moderno dicionário inglês-português, português-inglês. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 2000. 1735 p. (em especial, páginas 633 e 1178, respectivamente).

A complexidade dos fatores envolvidos na saúde tem evidenciado a necessidade de se investir em promoção da saúde, e é nesse contexto que se coloca a discussão de empoderamento, enfocando-se a atenção para intervenções que extrapolam o já criticado modelo biomédico (CARVALHO, 2004).

Vários estudos mostram que o conceito de empoderamento é o tema central das políticas sociais e de saúde mental na Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, principalmente, a partir dos anos 90. Historicamente, o empoderamento está associado a formas alternativas de se trabalhar as realidades sociais, suporte mútuo, formas cooperativas, formas de democracia participativa, autogestão e movimentos sociais autônomos (TEIXEIRA, 2002; CARVALHO, 2004).

Vasconcelos (2002) define empoderamento como o aumento do poder pessoal e coletivo de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais, principalmente daqueles submetidos a relações de opressão e dominação social, mostrando a importância da educação crítica para aquisição de conhecimento e fortalecimento do sentimento de pertencer à comunidade.

Esse mesmo autor mostra, em seus estudos, a existência de três abordagens básicas aplicadas à educação em saúde: 1) Modelo preventivo, que se focaliza no processo de decisão individual em adotar um comportamento saudável, para prevenção de doenças; 2) Modelo político radical, onde o foco é na mudança social ambiental e de estruturas políticas, para atacar a raiz dos problemas de saúde e doença; e finalmente, 3) o Modelo de empoderamento, cujo foco é facilitar as escolhas individuais e comunitárias, para fornecer aquisição de conhecimento com clarificação de valores e decisão, tornando prática as habilidades de organização comunitária, através de métodos de ensino não tradicionais.

Segundo Teixeira (2002, p. 26):

[...] o entendimento mais comum de empoderamento, dentro do campo da saúde, trabalho social, educação ou psicologia comunitária, deve ter uma conotação de valor baseada na conceituação de poder compartilhado, ao invés do poder sobre o outro. Isto compreende que o empoderamento deve permitir aos grupos desprivilegiados ganhar significado para mudar sua condição de opressão. Qual deve ser o meio pelo qual as pessoas podem vir a obter este poder? Freire nos oferece a resposta para essa indagação, ao responder que é através do desenvolvimento de uma consciência crítica. Desenvolver uma consciência crítica é um meio crucial de ganhar poder. Uma consciência crítica envolve o entendimento de como as relações de poder na sociedade moldam as experiências e percepções de cada pessoa, e de poder identificar como cada um pode ter um papel dentro de uma mudança social. Isto é particularmente importante em situações de desigualdade, nas quais os indivíduos internalizaram crenças sobre sua própria identidade e poder, em potencial. O entendimento de como os membros de um grupo podem afetar as circunstâncias da vida, é crucial para identificar a falta de poder como uma fonte de problemas, no sentido de alcançar uma mudança social mais do que a individual.

O estudo da HAS fornece bases teóricas para a construção positiva da convivência com a enfermidade, objetivando uma vida com o máximo de autonomia e independência possíveis.

Assim, o foco deve ser o desenvolvimento de serviços para tornar os PHA capazes de conviver com seus pares em suas próprias comunidades, controlando suas próprias vidas e continuando produtivos.

Takayanagui (1993) destaca a importância de se trabalhar com a formação da consciência crítica dos indivíduos, em atividades educativas, visando a uma tomada de posição consciente, ou seja, adoção de um novo estilo de vida ou de comportamento, por opção e não por imposição.

De acordo com Mendes (1999), é preciso desenvolver essa consciência crítica, propiciando a preservação e integração harmoniosa do indivíduo e da natureza. Para essa autora, a educação em saúde não deve ser restrita a ambientes formais e confinados de relações autoritárias, ela se dá por meio de experiências de vida compartilhadas, analisadas e criticadas quanto aos conhecimentos científicos

que se produzem, de forma adequada e consciente, para o uso de toda a comunidade.