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A 1ª etapa consistiu na preparação do campo de pesquisa e da equipe de profissionais, seguida de contatos com ASAH – UB, AMVSC em parceria com o NSF do bairro Parque São Geraldo, verificando a possibilidade de encaminhamento dos PHAS (em tratamento) para a formação do grupo.

Houve reuniões com a Direção Acadêmica da FACTHUS para a organização do espaço e a realização do início dos trabalhos semanais com a EQM.

A partir dos contatos, houve a seleção dos voluntários para a formação da EQM e a montagem de um cronograma de trabalho, num período de 16 (dezesseis encontros) para: a) conhecimento interpessoal dos membros da EQM; b) discussões das questões éticas referentes à pesquisa com seres humanos; c) discussão do projeto e de temas ligados à HAS; d) estratégia de acolhimento de PHAS. A partir de novembro de 2005, os encontros da EQM aconteceram logo após os atendimentos dos PHAS, às segundas-feiras, das 16:00h às 17:30h, totalizando 20 (vinte

encontros). De maio/2005 a abril/2006, foram somados 36 (trinta e seis) encontros.

Portanto, aconteceram 20 encontros com o grupo de PHAS (Apêndice I) e 36 encontros com a EQM (Apêndice J).

Na 2ª etapa, o pesquisador acompanhou os trabalhos da EQM, buscando observar a sua dinâmica e a do grupo de PHAS. Algumas reuniões foram gravadas para registrar, de forma objetiva, a fala dos componentes da equipe e do grupo.

Fizemos também análises das fichas dos participantes do grupo, das anotações gerais da EQM e de outros documentos. Essa análise foi útil para contextualização do fenômeno da interdisciplinaridade e para obter dados que auxiliem a compreensão e aprofundamento dos trabalhos educativos de promoção da saúde feitos pela EQM com o grupo de PHAS.

Um dos objetivos da entrevista é fazer emergir a perspectiva interior dos sujeitos. A entrevista permitiu descobrir informações que são impossíveis de serem observadas diretamente: sentimentos, pensamentos, intervenções, significados, visões de mundo e outros. Usamos a “entrevista aberta” e a “semi-estruturada” dada a necessidade de cada situação. Como já detalhamos, nessa investigação, os membros da EQM e o grupo de PHAS foram entrevistados no decorrer das três etapas do projeto, de acordo com o desenvolvimento dos trabalhos. As entrevistas e as reuniões gravadas foram transcritas e analisadas posteriormente8.

Vale ressaltar que as transcrições foram feitas por uma auxiliar de pesquisa, que passou por treinamento, seguindo orientações metodológicas necessárias à

8 As falas contidas nos registros do trabalho foram mantidas na sua essência, ou seja, usamos os níveis de linguagem coloquial e regional. Segundo Martins (2004, p. 37): “A língua coloquial é uma língua espontânea , usada para satisfazer as necessidades vitais do falante sem muita preocupação com as formas lingüísticas. É a língua cotidiana, que comete pequenos – mas perdoáveis – deslizes gramaticais. É natural, colorida, expressiva, livre de convenções sociais e mais palpável porque envolve o mundo das coisas. A língua regional, como o nome já indica, está circunscrita a regiões geográficas, caracterizando-se pelo acento lingüístico, que é a soma das qualidades físicas do som (altura, timbre, intensidade). Tem um patrimônio vocabular próprio, típico de cada região”.

validação da coleta de dados (BRANDÃO, 1981; TOBAR; YABUR, 2001; VASCONCELOS, 2002).

Continuando, na 2ª etapa, desenvolvemos os conceitos de interdisciplinaridade, buscando uma pertinência e aplicabilidade na práxis de uma EQM, trabalhando com a promoção da saúde, especificamente com o grupo de PHAS. Tanto as discussões com a EQM quanto com o grupo de PHAS foram norteadas pela “metodologia problematizadora”, tendo como estratégia de ensino o “Arco de Maguerez” (Figura 3).

Figura 3 - Aplicações no trabalho de promoção da saúde e interdisciplinaridade. Fonte - Adaptado de Bordenave e Pereira, 1991.

Conceitos de Interdisciplinaridade, autocuidado e HAS A dinâmica do trabalho em equipe, e as discussões teórico-práticas com o grupo de PHAS Observação do local da pesquisa e planejamento dos trabalhos educativos Ações a partir da reorganização e/ou mudança de paradigma REALIDADE Possibilidade de aperfeiçoamento da equipe / mudanças de paradigmas / transformações no grupo de PHAS

Onde:

1. Observação da realidade: trabalhos educativos da EQM junto aos portadores de hipertensão arterial sistêmica.

2. Construção de uma maquete: a dinâmica do trabalho em equipe, as discussões teórico-práticas, os atendimentos, a percepção inter e intra-grupo, o referencial teórico do grupo e de cada componente e sua significação para o desenvolvimento do trabalho em equipe, assim como o clima grupal e a motivação, entre outros.

3. Teorização: as práticas educativas trabalhadas a partir dos “temas geradores” propostos por Paulo Freire, os conceitos de promoção da saúde, empoderamento e autocuidado, os diversos aspectos do paradigma da interdisciplinaridade, a assistência aos PHAS e as possibilidades de aplicação nos trabalhos com o grupo.

4. Hipótese de solução: a possibilidade do aperfeiçoamento da dinâmica da EQM a partir das discussões sobre interdisciplinaridade e o tratamento de HAS.

5. Execução efetiva: ações de EQM a partir das reorganizações dos paradigmas. As fases propostas no “Arco de Maguerez” são entendidas como

instrução. A partir daí vem a análise e interpretação dos dados e o acompanhamento, que representou a terceira etapa do nosso projeto.

Na 3ª etapa, quando atuamos usando estratégias como “pesquisa-ação” e

“observação participante”, acreditamos poder desenhar um quadro que se

multiplica em vários matizes. Usamos os resultados das discussões sobre os “temas geradores” para a análise dos resultados das práticas educativas com os PHAS.

Em relação à EQM, os resultados obtidos com os diferentes métodos foram analisados por meio de seleção de temas recorrentes, na tentativa de explicitar

valores e/ou significados. Esse tipo de análise é chamado de “análise temática”, cujo procedimento seguiu as orientações de autores já citados (LÜDKE; ANDRÉ, 1986; MINAYO, 1996; THIOLLENT, 2003).

A análise temática pode ser considerada como uma forma mais simples de análise de conteúdo. Porém, essa busca uma quantificação de temas, e aquela objetiva caracterizar o significado que determinados temas assumem, de acordo com o contexto em que eles aparecem. Desse ponto de vista, a análise temática é qualitativa.

Na prática, o primeiro passo da análise temática foi localizar, nas falas, os temas que auxiliam a compreensão do contexto em estudo. Para isso, foram utilizados os conteúdos das entrevistas e as discussões nas atividades educativas. Após uma recuperação dos trechos onde aparecem as palavras-chave (temas geradores para Paulo Freire) e seus derivados (variantes e objetivos), foi realizada uma seleção dos trechos, de acordo com os objetivos propostos, nos quais aquelas palavras-chave foram empregadas de modo não fortuito, ou seja, de maneira significativa (expressão de pontos de vista, explicações, justificativas, estabelecimento de relações). A seguir, esses trechos significativos foram distribuídos em categorias, que, por sua vez, também receberam uma palavra-chave como título. As categorias foram estabelecidas a posteriori, de acordo com o conteúdo dos excertos significativos. É com essa seqüência de procedimentos que foi possível captar os significados que determinados temas possuem dentro de certos contextos vividos pela EQM e pelos PHAS (FREIRE, 1996; MINAYO, 1996).

Podemos perceber que a análise temática descrita por Minayo (1996), contempla os núcleos de sentido presentes em uma comunicação, cuja presença ou freqüência signifiquem alguma coisa para o objetivo da análise em questão.

Consiste da pré-análise, em que as informações serão lidas no conjunto, de forma a esgotar todo o material, conhecer o conteúdo e relacionar à teoria. Na organização do material, estivemos atentos às normas de: a) exaustividade (que contempla todos os aspectos levantados no roteiro); b) representatividade (que contenha as representações do universo pretendido); c) homogeneidade (que obedeça a critérios precisos de escolha de temas, técnicas e interlocutores); e d) pertinência (documentos analisados serem adequados ao objetivo do trabalho). A exploração

do material consiste na transformação das informações brutas, objetivando atingir o

núcleo de compreensão do texto, ou seja, na operação de codificação.

Para essa técnica, primeiro o texto foi recortado em unidades de registro que podem ser uma palavra, uma frase, um tema, um personagem ou um acontecimento. Depois, escolheram-se as regras de contagem para quantificação. E, em terceiro lugar, realizou-se a classificação e agregação dos dados, escolhendo categorias teóricas ou empíricas que nortearam a especificação dos temas.

Em relação às práticas educativas, a validação das informações obtidas por meio das técnicas de coleta de dados foi baseada também na triangulação, um protocolo característico da pesquisa qualitativa em educação (LÜDKE, ANDRÉ, 1986; TRIVIÑOS, 1987; CHIZZOTTI, 2001).

O procedimento triangulatório, apresentado na Figura 4, consistiu-se basicamente em checar pontos recorrentes e questões discordantes ou contraditórias, usando para isso relatos de observações de acontecimentos no grupo, entrevistas com os profissionais e componentes do grupo de PHAS, bem como análises de documentos fornecidos pelos participantes.

O objetivo é multiplicar as chances de compreensão, uma vez que essas informações são provenientes de diferentes fontes (profissionais, componentes do

grupo), abordadas por diversos métodos (observação, entrevista, atividades educativas e análise documental), em momentos diversos (início, acompanhamento e final da pesquisa). Assim, graças à densidade dessas comparações de dados, o pesquisador, dentro de suas limitações, ao proceder à triangulação, cumpriu uma obrigação ética de minimizar descrições enganosas e interpretações errôneas, em face da notória complexidade de toda e qualquer situação.

Figura 4 - Procedimento Triangulatório em Pesquisa (TRIVIÑOS, 1987).

Como este estudo se desenvolveu em três etapas que se inter-relacionam, a saber: 1ª) Preparação do campo de estudo; 2ª) Práticas educativas e 3ª)

Avaliação, seleção e análise posterior dos dados, pressupõe-se que outras

formas de análise, também fidedignas, poderão ser adaptadas em outros trabalhos semelhantes.

Resultados das entrevistas

Relatos de observação participante Análise