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Este estudo constitui-se numa pesquisa qualitativa, utilizando como estratégias a pesquisa-ação e a observação participante, por meio de ações educativas de conscientização e problematização, tanto em relação à equipe multiprofissional quanto ao grupo de portadores de hipertensão arterial.

A investigação teve sua metodologia delineada em conceitos descritos por Polit e Hungler (1995), que mostram que a pesquisa qualitativa costuma ser descrita como holística (preocupada com os indivíduos e seu ambiente, em todas as suas complexidades) e naturalista (sem qualquer limitação ou controle impostos ao pesquisador).

Essa modalidade de pesquisa foi escolhida por proporcionar compreensão ampla dos grupos estudados, ao mesmo tempo em que permite estabelecer algumas proposições mais gerais sobre as regularidades da dinâmica social (BECKER, 1994).

Acrescenta Minayo (1996) que a pesquisa qualitativa busca uma compreensão única do fenômeno em estudo. Trabalha com o universo de significados a partir de descrições minuciosas onde se captam as percepções, emoções e interpretações do sujeito inserido em seu contexto. É possível a utilização de uma variedade de recursos e técnicas; entretanto, torna-se fundamental a criatividade, a intuição e habilidade do pesquisador.

Nesse sentido, nossa opção pela abordagem qualitativa justifica-se pelo fato de melhor se adequar ao objeto de estudo desta investigação e por tentar captar não só a aparência, mas também a essência do fenômeno em questão, assim como as causas de sua existência.

De acordo com Lüdke e André (1986), a pesquisa qualitativa apresenta cinco características básicas: 1º) dados obtidos diretamente do ambiente natural pelo pesquisador; 2º) dados predominantemente descritivos; 3º) preocupação maior com o processo do que com o produto; 4º) focalização do significado que os participantes dão às coisas e à sua vida e 5º) utilização do processo indutivo na análise dos dados.

Para Lima Filho (1993), a pesquisa qualitativa adequa-se ao estudo de um grupo de pessoas afetadas por uma enfermidade, ou da configuração de um fenômeno ou processo, entre outros. O material primordial da investigação qualitativa é a palavra que expressa a fala cotidiana, seja nas relações afetivas e técnicas, seja nos discursos intelectuais, burocráticos e políticos. A fala revela condições estruturais, sistemas de valores, normas e símbolos, ao mesmo tempo que transmite, por meio do entrevistado, representações de grupos determinados em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas.

Quanto à estratégia da pesquisa-ação, para Mailhiot (1985), a pesquisa deve originar-se a partir de uma situação social concreta a modificar, inspirando-se constantemente nas transformações e nos novos fenômenos que surgem durante e sob a influência da pesquisa. Segundo o autor, os fenômenos sociais não podem ser observados do exterior e não se tornam inteligíveis senão ao pesquisador que os alcança, consentindo em participar de seu devir. Por último, há necessidade de, durante suas pesquisas, o pesquisador assumir constantemente os dois papéis complementares: de participante e de observador.

Thiollent (2003) considera que uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Além disso, é preciso que a ação seja uma

ação não-trivial, o que quer dizer, uma ação problemática merecendo investigação para ser elaborada e conduzida.

Refere também que esse tipo de pesquisa exige uma relação entre pesquisador e pessoas da situação investigada, que seja do tipo participativo. Quanto ao seu objetivo, pode ser para a resolução de um problema prático de ordem técnica, para a tomada de consciência dos agentes implicados na atividade investigada, ou para a produção de conhecimento.

Outra estratégia, a observação participante, é considerada por Minayo (1996), essencial no trabalho de campo da pesquisa qualitativa, afirmando ser tal sua importância, que alguns estudiosos a tomam como um método em si mesmo para a compreensão da realidade e não somente como uma estratégia.

É por meio da observação participante que os pesquisadores se comunicam com pessoas ou grupos a serem investigados, pois, assim, a possibilidade de aceitação se torna maior (THIOLLENT, 2003).

É importante salientar que pode ser considerada uma técnica de trabalho de campo que permite sistematizar o processo de coleta de dados, por aproximar o pesquisador do objeto de pesquisa, o que facilita o processo de construção do conhecimento.

Minayo (1996) define a observação participante como um processo pelo qual mantém-se a presença do observador numa situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. O observador está em relação face a face com os observados e, ao participar da vida deles, no seu cenário cultural, colhe dados. Assim o observador é parte do contexto sob observação, ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto.

que” e “como” observar, os estudiosos sobre observação participante concordam que ela é imprescindível na pesquisa qualitativa e, por seu intermédio, é que o pesquisador, ao mesmo tempo em que observa para colher informações, interage com as pessoas ou grupos participantes da investigação.

Segundo Brandão (1999), um dos sistematizadores das etapas da observação participante, podemos vê-la da seguinte forma:

a) Aproximação do grupo e estabelecimento de uma relação com ele: é o

primeiro passo, por meio do qual o pesquisador se aproxima do grupo social escolhido. É um processo longo e difícil, que deve levar à aceitação progressiva do pesquisador como alguém que vem de outro ambiente. O pesquisador, por sua vez, não deve se identificar totalmente com o grupo e sim guardar uma distância que permita uma posição crítica.

b) Observação e coleta de informações: que permite ao pesquisador uma

visão mais ampla da comunidade trabalhada, sua organização interna e suas relações com a totalidade da sociedade. Permite também captar a compreensão que o grupo tem de sua própria situação. Antes de entrar em contato com o grupo, o pesquisador deve esboçar um perfil provisório da situação, por meio de estudos da documentação oficial, exame da história do grupo e do lugar, observação da vida diária, identificação, no interior do grupo, das pessoas-chave, que podem fornecer uma compreensão melhor da realidade a ser observada e estudada, facilitando os primeiros contatos com a população.

As entrevistas “abertas” e “semi-estruturadas” mostram-se mais adequadas e podem ser entendidas como um diálogo livre, com uma estrutura física, indicando as linhas gerais a serem seguidas, que estão relacionadas com aspectos da realidade do grupo. A flexibilidade das entrevistas possibilita captar uma expressão mais

autêntica dos entrevistados, permitindo coleta de material mais rico e interessante e que mais se aproxime da realidade e da experiência do grupo.

O objetivo da coleta de informações é conhecer o que pensa a população, ou seja, descobrir o grau de percepção e consciência das pessoas envolvidas.

c) Organização do material colhido: considera que, pela análise, a área de

atuação, no processo de educação política, é definida pela lacuna entre a situação real do grupo e a percepção que o grupo tem de tal situação. Essa lacuna é identificada, considerando os sentimentos de insatisfação e descontentamento que as pessoas expressam em relação à própria situação, evidenciando uma percepção elementar, nem consciente, nem desenvolvida, de “coisas que estão erradas” ou “que não mais funcionam direito”.

Não compreendendo bem as causas desse estado de coisas e, acima de tudo, não sabendo o que fazer para mudar a situação, as pessoas passam da insatisfação e do descontentamento para um sentimento de impotência que pode bloquear ou sufocar o desejo de mudança.

O trabalho de pesquisa, porém, não pode parar com o reconhecimento do que existe. As informações recolhidas precisam ser organizadas e sistematizadas de forma a serem devolvidas ao grupo, para que ele possa trabalhar a realidade a fim de superá-la. No processo de observação participante, a organização das informações colhidas (compreensão da situação existente) não é vista como um produto final do trabalho que foi feito.

As informações, organizadas em forma de material de trabalho, são devolvidas ao grupo para que haja uma discussão sobre as possíveis lacunas entre a realidade e as informações coletadas.

material de trabalho (informações organizadas) é oferecido à análise crítica do grupo, que, contrastando com sua própria realidade, deve ser estimulado a lidar com ela de forma lúcida e crítica. Uma opção para organizar as informações e devolvê- las ao grupo é a utilização de recursos visuais ou expressões gráficas de pontos significativos, empregando “slides”, fotografias, filmes, dentre outros.

O grupo pode ser solicitado a analisar essas apresentações, encarando a própria realidade numa perspectiva nova e diferente; questiona a própria realidade, identifica os problemas básicos, descobre as explicações para a situação em que se encontra e escolhe as ações próprias para melhorá-la.

O pesquisador precisa estar presente às reuniões em que as pessoas discutem o material; nesse caso, sua tarefa é a de orientar o exame que o grupo faz dos dados e estimulá-lo a caminhar sempre à frente em sua análise.

O pesquisador não traz para o grupo “consciência de fora”, mas ajuda na criação de um contexto para que a consciência do grupo possa emergir do próprio meio. O objetivo é permitir que as pessoas se tornem conscientes de como vivem hoje e as alternativas que se abrem para uma ação criativa. Uma avaliação positiva dessa metodologia pode ser feita, se o processo ajudou o grupo a entender sua própria realidade, possibilitou sua auto-determinação e estimulou uma ação criativa e consciente no sentido da mudança social.

Vale salientar que Chizzotti (2001) faz um alerta àqueles que, partidários radicais dos métodos de pesquisa qualitativa, desprezam, de forma ingênua, aspectos de pesquisa quantitativa que poderiam, de certa forma, demonstrar o rigor adotado numa pesquisa predominantemente qualitativa.

Pensamos que o diálogo que se estabelece entre números estatísticos, observação participante, estratégias educativas e intervenções pode ser fecundo e

mudar a realidade de um grupo ou de uma comunidade.