2. ABORDAGEM TEÓRICA
2.2. Empreendedorismo
2.2.6. Empreendedorismo em Cabo Verde
Empreendedorismo…. É esta a palavra de ordem num país tão pequeno e com tão poucos recursos.
Infelizmente não existe dados suficientes sobre o empreendedorismo em Cabo Verde, o que vai permitir responder a esse trabalho com base em intuições, porque, as instituições como a INE, a ADEI (Agencia para o Desenvolvimento Empresarial e Inovação), a AJEC (Associação dos Jovens Empresários de Cabo Verde), Cabo Verde investimentos (Agência Cabo-verdiana de Promoção de Investimentos), apenas fornecem pistas em termos de empreendedorismo em Cabo Verde.
Apesar da inexistência de dados sobre o empreendedorismo em Cabo Verde, da inexistência de um estudo realizado aprofundado, e também por este ser um tema novo em Cabo Verde, será tomada por base a metodologia do estudo GEM, dos nove (9) factores base que são utilizados para melhor se entender o nível, os factores impulsionadores e os constrangimentos do empreendedorismo no país na qual a AJEC7 realizou uma simulação8 sobre o nível das condições estruturais do empreendedorismo em Cabo Verde.
Para cada um dos factores identificou-se, no quadro seguinte, a seguinte situação actual para Cabo Verde.
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AJEC é uma entidade sem fins lucrativos que tem o objectivo de desenvolver e representar as jovens lideranças empresariais cabo-verdianas.
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Deve-se referir que a simulação se baseia em evidências e na percepção dos consultores da AJEC relativamente às questões abordadas, não foi realizado qualquer inquérito / pesquisa exaustiva.
Rosilda Lima Fortes 43 Quadro 5 - Situação actual em Cabo Verde
FACTORES IMPULSIONADORES
SITUAÇÃO ACUAL
Apoio Financeiro - Fundos de Financiamento de Capital Próprio Inexistentes
- Associação de Business-Angels9 criada mas ainda não funcionou Subsídios governamentais inexistentes
Politicas Governamentais - Contratos públicos não favorecem as novas empresas - Apoio as Empresas é uma prioridade, caso da ADEI
- Melhoria do Ambiente de Negócios (Processo Administrativo) Programas Governamentais - Parques tecnológicos e incubadoras inexistentes
- Inexistência de um único local para obtenção de informações sobre apoios
Educação e Formação - Pouca estimulação a criatividade, auto-suficiencia e
iniciativa/atitude
- Preparação inadequada para a criação e desenvolvimento de novas empresas
- Formação em empreendedorismo pouco eficiente / eficaz Transferência de investigação e
desenvolvimento
- Nenhuma ligação entre as universidades e as empresas (I&D – Investigação e Desenvolvimento)
- Pouca capacidade de adquirir tecnologia recente e nenhum subsídio governamental
Infraestrutura comercial e
Profissional
- Mercado de Consultoria desenvolvido com várias empresas nacionais e estrangeiras, contudo o custo é ainda elevado para as novas empresas
Abetura de mercado/barreiras de entrada
- Mercado aberto a novas empresas
Acesso a estruturas físicas - Custos são considerados elevados pelos empresários: Comunicações, electricidade, entre outros
- Problemas na distribuição – transportes inter-ilhas Fonte: Autor adaptado da Ajec (2010)
Como se pode constatar, Cabo Verde encontra-se bem posicionado no que diz respeito às “Politicas Governamentais” e “Abertura do Mercado / Barreiras à Entrada” contudo não constata-se qualquer política que incentive ou desincentive empresas novas e/ou em crescimento.
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Associação Business Angels - Trata-se de uma associação sem fins lucrativos, com o objectivo de promover a criação e gestão de uma rede de Business Angels, no país. Normalmente Business Angels são investidores informais, frequentemente empreendedores de sucesso com meios económicos, que investem o seu dinheiro e know-how em projectos de capital semente e de capital inicial com potencial de crescimento. São ainda parceiros de negócio, que partilham o risco e procuram recuperar o investimento a médio prazo.
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Relativamente às restantes condições estruturais para o empreendedorismo, o cenário é claramente de um país que está a iniciar a introdução do empreendedorismo como factor de desenvolvimento do país:
Sistema financeiro pouco desenvolvido para o aparecimento de novos negócios com uma dependência quase exclusiva do sector bancário para o financiamento de negócios;
Inexistência prática de programas de apoio ao aparecimento de novos negócios (programas em fase de projectos e sem efeitos práticos até agora);
Ligeira introdução de conteúdos sobre o empreendedorismo sem a qualidade exigida e efeitos práticos desejados, contudo é de salutar o reconhecimento por parte das entidades responsáveis pela Educação e Formação Profissional da necessidade de introduzir o tema empreendedorismo na Educação e Formação;
Em termos de I&D ainda não arrancamos…
Há-de salientar que este se refere a um período de há mais de dois (2) anos atrás e onde novas mudanças com certeza poderão ter ocorridos.
Outro tópico extra a abarcar, seria a competitividade, no qual Milton Paiva10 (2010), diz que Cabo Verde não tem alcançado resultados satisfatórios comparado aos concorrentes mundiais.
Segundo o mesmo autor, o relatório do Doing Business do Banco Mundial (2011) coloca o país na 132ª posição (num universo de 183 países avaliados), tendo destacado a
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fraca performance nos itens encerramento de empresas (183ª posição), contratação de trabalhadores (167ª), (dados de 2010), acesso ao crédito (152ª), protecção de investidores (132ª), Iniciando o Negócio (120ª), entre outros. Reforçando esta percepção, Cabo Verde aparece na 117ª posição (num total de 139 países) no Relatório de Competitividade Global 2010/2011 do World Economic Forum.
Ainda, segundo Paiva, vários estudos têm apontado como principais factores limitativos do crescimento económico em Cabo Verde: (i) o ambiente de negócios ainda pouco flexível e não ajustado às dinâmicas exigidas pelo sector privado; acesso ao capital, especialmente por parte das PME’s; (ii) o custo elevado de factores de produção, especialmente telecomunicações, energia, água e saneamento; (iii) a natureza arquipelágica do país, agravada pelo deficiente sistema de transporte inter- ilhas; e (iv) ambiente pouco propício para a inovação como factor de competitividade e crescimento económico;
“Este é o ambiente que temos com pontos fortes e fracos, um ambiente de carências mas felizmente que, ter várias carências, não é um factor completamente negativo no mundo dos negócios. É que onde há Carências (serviços, empresas, condições) significa que abundam oportunidades de mudanças empresariais” (Milton Paiva, 2010)
2.2.7. Contributo do empreendedorismo no desenvolvimento de Cabo