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2. ABORDAGEM TEÓRICA

2.2. Empreendedorismo

2.2.1. Surgimento e crescimento

A palavra empreendedorismo deriva o francês “entre” e “prendre” que quer dizer algo como “estar no mercado entre o fornecedor e o consumidor” (Sarkar, 2010).

O conceito existe há muito tempo mas foi evoluindo com o decorrer do tempo, a medida que a estrutura económica mundial mudava e tornava-se mais complexa, fazendo com que este se tornasse o centro das políticas públicas na maioria dos países.

Segundo Sarkar (2010), os pesquisadores do empreendedorismo estavam de acordo que o conceito de empreendedorismo estaria nas obras de Richard Cantillon, [um economista francês de destaque no século XVIII], que teria sido o primeiro responsável pelo seu aparecimento. Este descrevia o empreendedor como uma pessoa que comprava matéria-prima por um preço certo para revende-lo por um preço incerto, lucrando assim, além do esperado, uma vez ter inovado e aproveitado as potencialidades e oportunidades, assumindo assim todos os riscos.

Tomando a ideia de Dornelas, (2001), um exemplo mais citado para justificar o surgimento do termo empreendedorismo pode ser creditado a Marco Polo, “que tentou estabelecer rotas comerciais para o oriente. Como empreendedor/intermediário, Marco Polo assinava um contrato com um homem de recursos (actualmente conhecido como capitalista) para vender as suas mercadorias. Enquanto o capitalista era quem corria os riscos passivamente, o comerciante aventureiro assumia o papel activo no negócio suportando todos os riscos físicos e emocionais, e caso o negócio fosse bem-sucedido, cabia ainda ao capitalista a maior parte do lucro”.

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Assim dando enfâse ao estudo de Oliveira (2011), foi no século XVII que ocorreram os primeiros indícios de relação entre assumir riscos e o empreendedor:

“Nessa época, Richard Cantillon, importante escritor e economista do século, foi um dos primeiros a diferenciar o empreendedor do capitalista. Cantillon distinguiu o empreendedor como sendo aquele que assumia riscos e o capitalista como aquele que fornecia o capital. No século XVIII, o capitalista e o empreendedor foram finalmente diferenciados, devido ao início da industrialização. Em finais do século XIX e início do século XX, foram confundidos com frequência com os gerentes ou administradores (facto que ocorre até os dias de hoje). Eram analisados de um ponto de vista económico como aqueles que organizam a empresa, pagam os empregados, planeiam, dirigem e controlam as acções desenvolvidas na organização, mas sempre a serviço do capitalista”.

Além de referir o surgimento, pode focar-se ainda no grande crescimento do empreendedorismo no mundo, que dia após dia é ampliado e refinado.

De acordo com Dornelas (2001), o avanço tecnológico aliado com a sofisticação da economia e dos meios de produção de bens e serviços gerou uma necessidade de formalização dos conhecimentos que antes eram obtidos de forma empírica. Esses factores nos levam ao que é chamado actualmente de “A era do Empreendedorismo”, pois são os empreendedores que estão actualmente criando novas relações de trabalho, novos empregos, e gerando riqueza para a sociedade.

“Há bons anos atrás era considerado loucura um jovem recém-formado aventurar-se na criação de um negócio, pois os empregos oferecidos pelas empresas ou instituições eram convidativos com salários estáveis e possibilidade de crescimento dentro das organizações” (Dornelas, 2001).

Mas hoje, os países, conjuntamente com as empresas que abarcam programas de incentivo ao empreendedorismo, estimulam o cidadão comum a abrir um pequeno negócio por conta própria para seguir feliz até o fim da vida, sempre com a noção de

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que, embora se trate de um conceito simples, assimila-lo na prática requer habilidades, características, virtudes, comportamentos e conhecimentos específicos que não são encontrados em fonte de literatura, isto é, requer a necessidade de sermos adaptáveis, flexíveis e empreendedores, até porque podemos observar que o emprego para toda a vida já não existe, e por isso é fulcral pensar em hipóteses de gerar o próprio emprego. Segundo Dornelas (2001), “o interesse pelo empreendedorismo se estende pelo mundo, atraindo a atenção de muitas organizações”. Um estudo da Global Entrepreneurship

Monitor4 (GEM, 1999) mostra alguns exemplos nesse sentido:

 No final de 1998, o Reino Unido publicou um relatório a respeito do seu futuro competitivo, enfatizando a necessidade de desenvolver iniciativas para intensificar o empreendedorismo;

 A Alemanha implementou programas que destinam recursos financeiros e apoio na criação de novas empresas;

 Em 1995, o decénio do empreendedorismo foi lançado na Finlândia;

 Em Israel implementaram várias iniciativas, por meio de programas de incubadoras tecnológicas, e até a data já se haviam estabelecidos mais de quinhentos negócios nas 26 incubadoras do projecto, até a data existentes;

 Na França promoviam o ensino do empreendedorismo nas universidades;

Apesar de todo o interesse, uma definição concisa e internacionalmente aceita ainda não surgiu. Durante o desenvolvimento da pesquisa foi possível deparar com várias

4 O projecto GEM é o maior estudo de empreendedorismo realizado em todo o mundo. Tem como objectivo analisar a relação entre o nível de empreendedorismo e o nível de crescimento económico em vários países e, simultaneamente, determinar as condições que fomentam e travam as dinâmicas empreendedoras em cada país.

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definições diferentes na literatura associada ao termo empreendedor e ao empreendedorismo. Para facilitar o entendimento, é importante relacionar as principais definições utilizadas a partir da Idade Média (Quadro 3).

Quadro 3 - Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e do termo empreendedor

a partir da idade média

Período Autor Conceito

Idade Média Desconhecido Participante e pessoa encarregada de projectos de produção em grande escala

Século XVII Desconhecido Pessoa que assumia riscos de lucro (ou prejuízo) em um contrato de valor fixo com o governo

1725 Richard Cantillon Pessoa que assume riscos é diferente da que fornece capital

1803 Jean Baptiste Say Lucros do empreendedor separados dos lucros de capital

1876 Francis Walker Distinguir entre os que forneciam fundos e recebiam juros e

aqueles que obtinham lucro com habilidades administrativas

1934 Joseph Schumpeter O empreendedor é um inovador e desenvolve tecnologia que ainda

não foi testada

1961 David McClelland O empreendedor é alguém dinâmico que corre riscos moderados

1964 Peter Drucker O empreendedor maximiza oportunidades

1975 Albert Shapero O empreendedor toma iniciativa, organiza alguns mecanismos

sociais e económicos e aceita os riscos do fracasso.

1980 Karl Vesper O empreendedor é visto de modo diferente por economistas,

psicólogos, negociantes e políticos.

1983 Gifford Pinchot O intra-empreendedor é um empreendedor que actua dentro de uma

organização já estabelecida.

1985 Robert Hisrich O empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e os esforços necessários, assumindo riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação económica e pessoal.

2001 José Carlos Assis

Dornelas

O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos factos e tem uma visão futura da organização. Fonte: adaptado por Mendes (2006)

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Portanto, não é nada mau referir que, o empreendedorismo é um forte combustível para o crescimento económico, uma vez que fomenta o emprego, a prosperidade, e sobretudo a competitividade entre as empresas, gerando valor aos produtos e serviços.

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