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2. A internacionalização da firma sob o foco de múltiplas

2.2 Perspectiva motivacional: estímulos impulsionadores da

2.2.2 Empreendedorismo internacional

O empreendedorismo internacional, outro campo que se destaca nos estudos sobre motivação internacional, busca investigar quais são os fatores internos e externos à firma que estimulam o empreendedor a identificar e explorar oportunidades no mercado internacional. Este campo difere, em parte, dos estudos sobre a estimulação à exportação porque se relaciona a todo e qualquer modo de entrada no mercado internacional, como também se centra especificamente no papel do empreendedor no processo. É considerado um campo novo de estudo, mas intimamente relacionado com o tema “internacionalização”, uma vez que a entrada e o desenvolvimento em mercados internacionais são percebidos como práticas empreendedoras da firma (ZAHRA et al., 2004; ZAHRA e GEORGE, 2002).

Dimitratos e Plakoyiannaki (2003) definem o empreendedorismo internacional como um processo organizacional amplo que está inserido na cultura da firma e que busca, por meio da exploração de oportunidades surgidas no mercado internacional, gerar valor para a firma. A idéia de

processo envolve desenvolvimento intenso e contínuo de atividades; criação de produtos ou soluções que tomam tempo para se materializarem; decisões integradas e inter-relacionadas; e significante grau de comprometimento de recursos. É um processo amplo, porque inclui a participação de todos os níveis hierárquicos e limites geográficos da firma, embora as capacidades dos gerentes top representem a principal fonte empreendedora. Além disso, o processo empreendedor envolve a consideração de motivos individuais internos e externos que devem ser estabelecidos ou apoiados por uma cultura organizacional empreendedora. É um processo dinâmico, uma vez que a idéia de exploração de oportunidades implica a organização e a recombinação de recursos necessários à entrada em novos mercados. E, por fim, trata-se de um processo que pode gerar valor, porque requer a produção de desempenho superior para a firma e retorno para os acionistas.

Na opinião de Dimitratos e Plakoyiannaki (2003), o capital humano empreendedor é uma das forças-chave que a firma possui para obter vantagem com as oportunidades que surgem no mercado internacional. Portanto, as percepções, crenças e práticas gerenciais empreendedoras podem estimular a entrada e o desenvolvimento de uma firma no mercado estrangeiro. Nessa direção, a percepção do empreendedor acerca das possibilidades de realizar atividades exportadoras bem-sucedidas e de estabelecer parcerias internacionais (uma joint venture, por exemplo) é um fator individual que pode motivar a internacionalização da firma.

A orientação internacional do empreendedor configura-se como outro fator individual que pode motivar uma firma a realizar operações internacionais, segundo Katsikeas (1996). Tal orientação está relacionada a determinadas características pessoais do empreendedor, por exemplo, o desejo e o entusiasmo em direção ao mercado internacional, as quais geralmente resultam em envolvimento internacional mais alto. Outros fatores motivacionais individuais que podem levar à exploração de oportunidades internacionais são o nível mais alto de educação do empreendedor e o fato de ele ser de origem estrangeira ou possuir experiência internacional pregressa.

Além dos fatores motivacionais individuais mencionados, outra categoria de estímulos tem despertado o interesse atual dos pesquisadores no campo do empreendedorismo internacional, a qual envolve determinados tipos de estímulos originados de um “acontecimento ao acaso” (SPENCE, 2003; CRICK e SPENCE, 2004). O reconhecimento de uma oportunidade não prevista e a prontidão para se obter uma vantagem sobre tal oportunidade são definidos por Fine e Deegan (1996) como um acontecimento ao acaso. Esses autores explicam que esse fenômeno envolve um elemento temporal (estar no lugar certo na hora certa), um elemento relacional (construção não planejada de redes sociais) e um elemento analítico (habilidade para o estabelecimento de conexões entre dados atuais e idéias).

Transpondo a definição de Fine e Deegan (1996) para o campo da internacionalização, um contato com um parceiro internacional potencial ao acaso, ou seja, que não havia sido considerado ou planejado antes do ocorrido,

poderia motivar uma firma a se internacionalizar ou levá-la a evoluir ou a modificar suas estratégias de internacionalização. O mesmo poderia ocorrer com uma firma que negocia com um agente internacional oferecendo algum tipo de parceria ou acordo colaborativo que não havia sido pensado previamente (SPENCE, 2003; CRICK e SPENCE, 2004). Portanto, o conceito de “contatos ao acaso” oferece um bom elemento para a investigação dos motivos que levam uma firma a se internacionalizar, bem como um bom combustível para a sucessão ou reformulação do seu posicionamento estratégico internacional.

Estudos realizados com pequenas e médias empresas canadenses de alta tecnologia constataram que a internacionalização da maioria delas foi motivada por um contato ao acaso com algum parceiro de negócio em potencial. Esses encontros se originaram de determinadas atividades espontâneas, como o recebimento de pedidos ou ofertas de serviços de clientes potenciais via internet e a participação em feiras de negócios ou missões comerciais. Tais encontros capacitaram contatos externos e geraram oportunidades de negócios, motivando-as ou obrigando-as a apressarem as suas decisões internacionais. Entretanto, foi sugerido por esses estudos que os encontros ao acaso com parceiros internacionais não devem ser considerados um fator importante per si (SPENCE, 2003; CRICK e SPENCE, 2004).

Relevante de ser destacado é a capacidade dos gerentes de identificar e explorar eventos referentes ao mercado internacional, bem como de reagir às circunstâncias contingenciais que dele se manifestam. Isso sugere que,

independente de planos formais, os gerentes precisam ter uma noção de onde pretendem colocar suas firmas no mercado internacional e estar aptos para operar uma série de estratégias emergentes que surgem das oportunidades oferecidas pelo exterior. Assim considerado, é extremamente importante que a figura do empreendedor seja evidenciada no processo de entrada no mercado internacional. A alta administração terá que ser flexível e se ajustar a este tipo de circunstância; ou seja, mostrar habilidade para perceber o comportamento de sua organização e mudar suas intenções se necessário (JOHANSON e VAHLNE, 1992).

A disponibilidade para o uso de redes, tanto nacionais quanto internacionais, é também um estímulo ou motivo importante para as firmas entrarem no mercado internacional, segundo evidenciou o estudo de Spence (2003). Esse tipo de estímulo está relacionado a um dos elementos (o relacional) enfatizados por Fine e Deegan (1996) sobre o reconhecimento de oportunidades fortuitas, ou espontâneas. As redes foram usadas para a mobilização de recursos necessários ao provimento de pessoal, à obtenção de conhecimento sobre o mercado (clientes potenciais, principais competidores etc) e ao uso de programas governamentais para a facilitação do processo de desenvolvimento tecnológico.

A exploração de oportunidades internacionais, por meio tanto de encontros ao acaso quanto do uso de redes existentes, revelou-se como espontânea, uma vez que estratégias alternativas não haviam sido desenvolvidas para este fim. Não havia nenhum processo formalizado, mas os

empreendedores tinham, no momento certo, a capacidade de entrega de produtos ou as soluções tecnológicas aptas ao atendimento das necessidades dos clientes internacionais. Isso sugere que o desenvolvimento das estratégias