• Nenhum resultado encontrado

2. A internacionalização da firma sob o foco de múltiplas

2.3 Perspectiva estratégica: formação e escolha de estratégias

2.3.5 Estratégias de entrada via investimento direto: evidências

Na opinião de Ferraz e Ribeiro (2002), a instalação de subsidiárias de empresas nacionais no exterior tem sido crescentemente destacada como um dos fatores responsáveis pelo sucesso exportador, especialmente em setores industriais produtores de bens diferenciados e de maior conteúdo tecnológico. O estabelecimento de subsidiárias no exterior, na opinião dos autores, pode permitir o aproveitamento de vantagens locacionais que se revertem em uma série de benefícios: maior conhecimento do mercado consumidor; agilidade na prestação de serviços de logística, assistência técnica e manutenção; facilidades para lidar com barreiras legais e regulatórias; e preparo para o enfrentamento de barreiras culturais, por exemplo, em termos de preferências de consumo.

Todavia, o estudo realizado por Ferraz e Ribeiro (2002) evidenciou que apenas 20% de firmas participantes da pesquisa afirmaram realizar investimentos no exterior, resultado que, segundo os autores, denota baixo grau de internacionalização. Nesse percentual, um número maior de grandes empresas se destacou como investidoras no mercado estrangeiro em relação às empresas de pequeno porte. A América Latina, juntamente com os Estados Unidos e, em seguida, a Europa foram apontados como os principais mercados-alvo dos investimentos. Os setores automotivo, mecânico e

eletroeletrônico apresentaram os maiores percentuais de investimentos no exterior. Segundo argumentam os pesquisadores, todos exigem um contato mais direto entre o vendedor e o comprador tanto para ajustar as características do produto à demanda quanto para viabilizar serviços de assistência técnica. Setores representativos de produtos de consumo não duráveis (alimentos, bebidas, têxteis, vestuário, calçados e couro) e de bens tradicionais intermediários (madeira e minerais não-metálicos) apresentaram percentuais menores de investimentos no estrangeiro.

Relatório divulgado pela UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) apontou que um pequeno número de grandes empresas brasileiras havia realizado investimentos no estrangeiro e que eles se concentravam na América Latina, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. Segundo o relatório, a estratégia de entrada preferida envolvia projetos do tipo greenfield. Nos primeiros nove meses de 2004 trinta e seis projetos desse tipo haviam sido anunciados. No ano de 2003, quarenta projetos foram realizados contra vinte no ano de 2002. No período de 2002 a 2004, apenas dezenove negócios foram celebrados envolvendo fusões e aquisições.

O relatório também divulgou um ranking das maiores transnacionais brasileiras do setor de manufatura em 2003. Grandes empresas como Petrobras, Odebrecht e Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), despontaram-se como as maiores transnacionais no setor de manufaturados. Algumas desse ranking haviam investido no exterior procurando acessar recursos naturais (Petrobras, CVRD); outras, evitar barreiras comerciais ou aperfeiçoar infra-

estrutura de logística necessária às exportações (Gerdau); e outras, empenhado-se mais em seguir ou estar próximo de grandes clientes para melhor atender às suas necessidades (Marcopolo, Embraer). O Quadro 2 mostra esse ranking, segundo as vendas em milhões de dólares e o número de filiadas.

QUADRO 2

Maiores transnacionais brasileiras no setor de manufaturados

Empresa Setor Vendas

Nr. de filiadas no exterior Nr. de países- alvo Países-alvo

Petrobrás Petroquímico 24.958 14 6 Argentina, Bolívia, Ilhas Cayman, Países Baixos e Reino Unido e Angola.

Odebrecht Construção 5.634 14 14 Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai, República Dominicana, Venezuela, Equador, México, Emirados Árabes Unidos, Portugal e Angola

CVRD Siderurgia 2.360 6 4 Bélgica, Bermuda, Países

Baixos, Portugal

Embraer Transporte 2.043 1 1 Estados Unidos

CSN Siderurgia 2.003 2 2 Ilhas Cayman, Panamá

Gerdau Metalurgia 857 2 2 Chile, Uruguai

WEG Motores Eletroeletrônico 484 6 5 Bélgica, Portugal, Reino Unido, Espanha, Estados Unidos

Tupy Fund. Mecânica 354 3 3 Argentina, Alemanha, Estados Unidos

Marcopolo Automotivo 303 1 1 Portugal

Tigre Com. Químicos 257 2 2 Argentina, Bolívia

SP Alpagartas Têxteis 242 2 2 Argentina, Estados Unidos And. Gutierrez Construção 225 3 3 Peru, Portugal, Estados

Unidos

IBF Equip. precisão 61 2 1 Estados Unidos

Forjas Taurus Mecânica 38 2 1 EUA

Tomra Latasa Metalurgia 23 13 7 Canadá, Estados Unidos, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Países Baixos, Noruega

Sisalana Têxteis 11 1 1 Estados Unidos

Ambev Bebidas - 3 3 República Dominicana,

Equador e Uruguai

O ranking da UNCTAD se mostra convergente aos resultados da pesquisa de Ferraz e Ribeiro (2002), os quais evidenciaram que um pequeno número de grandes empresas brasileiras havia realizado investimentos no estrangeiro e que os negócios internacionais se concentravam na América Latina, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.

Segundo a UNCTAD, os investimentos estrangeiros brasileiros estão concentrados em atividades de serviços, fato que se explica pelos grandes investimentos realizados em 2003 nas ilhas do Caribe. Razões de ordem financeira motivaram tais investimentos, os quais freqüentemente eram redirecionados dessa região para outras localidades no mundo. Os investimentos no setor primário foram considerados insignificantes e demasiadamente baixos no setor de manufatura, ficando concentrados principalmente no setor de fumo, bebidas e alimentos, e, logo em seguida, nos setores de mineração (coque) e petroquímico (produtos de petróleo e combustível nuclear). O relatório da UNCTAD conclui que até o presente momento as empresas brasileiras têm sido cuidadosas no seu processo de expansão internacional. Muitas empresas têm utilizado a estratégia da exportação e não a do investimento estrangeiro direto para internacionalizar uma parte de sua produção. Tal fato não surpreende, uma vez que investimentos diretos não ocorrem em estágios iniciais da internacionalização da firma (JOHANSON e WIEDERSHEIM-PAUL, 1975).

As razões apontadas pela UNCTAD para a realização dos investimentos brasileiros no estrangeiro parecem mostrar convergência com os dados que o

estudo de Ferraz e Ribeiro (2002) evidenciou a este respeito. Os autores concluíram que acompanhamento das tendências de mercado, atendimento da demanda em termos de entrega, hábito de consumo dos clientes em favor de empresas locais e realização de investimentos no exterior por competidores foram indicados como os principais motivos de realização de investimentos estrangeiros no tocante aos fatores relativos às características do mercado consumidor. Em termos das características do produto, os principais motivos apontados associaram-se a questões de logística e serviços de assistência técnica. Fatores de ordem legal e regulatória também foram apontados como motivos que influenciaram a decisão de investir das firmas pesquisadas. O tamanho da empresa não evidenciou diferenças muito significativas em relação aos fatores impulsionadores de negócios internacionais levantados pelo estudo.

Estudo realizado por Iglesias e Veiga (2002) mostra muitas semelhanças com aqueles apresentados anteriormente. A pesquisa foi realizada com pequenas, médias e grandes empresas do setor de manufatura, tanto exportadoras quanto investidoras diretas no mercado estrangeiro, no período de 1994 a 2000. Os resultados encontrados evidenciaram que grande parte das firmas brasileiras não passou da fase exportadora e que as firmas que apresentavam alto grau de internacionalização exportadora mostravam baixo nível de investimento no exterior. Apenas 17% das firmas de capital nacional mencionaram ter realizado investimentos no exterior. As grandes exportadoras e as mais antigas perfaziam uma proporção maior de firmas com investimentos no exterior, ao contrário das firmas menores ou mais recentes na atividade de

exportação. Os setores associados à produção de borracha, metalurgia básica, veículos e equipamentos de precisão e automação apresentaram a maior proporção de firmas investidoras no estrangeiro.

Em relação à localização, aos tipos e às motivações dos principais investimentos no exterior, o estudo de Iglesias e Veiga (2002) mostrou que: os Estados Unidos e a Argentina eram os mercados-alvo preferidos; a grande maioria das unidades no exterior realizava atividades de comércio e distribuição de produtos; os investimentos em unidades fabris representavam 12% do total e se concentravam nos setores têxtil, químico, metalurgia básica e automotivo; e necessidades de logística, hábitos de consumo de empresas já instaladas no país-alvo e acompanhamento das tendências de mercado eram as principais motivações para a realização de investimentos estrangeiros. Esses resultados independiam do porte da empresa e da freqüência exportadora.

Um dos resultados do estudo de Iglesias e Veiga (2002) mostrou-se interessante. Segundo os autores, era de se supor que firmas com uma proporção maior de seu faturamento resultante de atividades de exportação deveriam realizar investimentos no exterior, pois a importância das vendas externas justificaria algum tipo de investimento para potencializar os negócios internacionais. Apesar de o faturamento e de o investimento feito terem mostrado um relacionamento positivo em sua maior parte, algumas anomalias foram constatadas, por exemplo, o aparecimento de um pequeno percentual de

empresas realizando investimentos no exterior, mas que apresentavam um faturamento significativo com as exportações (acima de 30%).