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2. A internacionalização da firma sob o foco de múltiplas

2.3 Perspectiva estratégica: formação e escolha de estratégias

2.3.4 Estratégias de entrada via exportação: evidências empíricas

Os estudos realizados por Pinheiro e Moreira (2000) e Ferraz e Ribeiro (2002) sobre as exportações brasileiras merecem ser destacados, principalmente porque fazem um levantamento longitudinal que recobre a segunda metade da década de 1990.

Pinheiro e Moreira (2000) investigaram o perfil dos exportadores brasileiros de manufaturados entre os períodos de 1995 a 1997. Os resultados desse estudo evidenciaram que a probabilidade de uma firma ser exportadora aumenta consideravelmente com o tamanho; isto é, empresas maiores apresentam um volume maior de exportações em termos de participação no faturamento. Com base nesses resultados, os autores concluíram que uma política que estimule grandes empresas a aumentar sua capacidade de exportação tende a ter um retorno mais alto em termos do volume total de exportações do que se o mesmo for feito com pequenas e médias empresas envolvidas em tal atividade.

Os setores que apresentaram maior propensão a exportar no estudo de Pinheiro e Moreira (2000) foram: fumo, couro/calçados e madeira. Com uma propensão relativamente menor, mas acima da média, apareceram os setores de móveis, produtos diversos, alimentos/bebidas, metalurgia pesada e de produtos minerais não-metálicos. Entre os setores com uma propensão média ficaram os de confecções/têxteis, química/petroquímica, produtos farmacêuticos e materiais de transporte. Por fim, os setores de celulose/papel,

maquinário/equipamentos e automotivo evidenciaram uma propensão a exportar relativamente baixa.

Pinheiro e Moreira (2000) buscaram também verificar em seu estudo se havia diferenças no perfil das empresas exportadoras brasileiras em diferentes mercados mundiais. Para o alcance deste objetivo, dividiram o mundo em quatro regiões: Estados Unidos/Canadá; Outros Países Industrializados; América Latina; e Outros Países em Desenvolvimento.

O tamanho da empresa não se caracterizou como um fator marcante para o nível das exportações destinadas aos Estados Unidos/Canadá, significando que firmas de todo o tipo de porte exportavam para esta região. A propensão à exportação foi medida no estudo pela razão entre o volume de exportação e o faturamento total da firma. Essa propensão ficou mais acentuada no caso do setor automotivo. Entre os demais setores, não se verificaram diferenças mais significativas para esta região. Outro resultado relevante mostrou que quando o nível de atividade doméstica diminuía, o número de firmas exportadoras para a região em estudo aumentava. Pressupunha-se com esse dado que as firmas que apresentavam maior percentual de vendas internacionais em relação às suas vendas totais tendiam a exportar para os Estados Unidos ou o Canadá.

Quanto ao destino das exportações brasileiras para Outros Países

similares aos encontrados para essa região. Todavia, o padrão similar tendia a desaparecer em favor das grandes empresas.

A América Latina parece ser o mercado regional “favorito” dos exportadores brasileiros, principalmente os de bens manufaturados mais sofisticados, ou seja, menos intensivos em recursos naturais. Outro dado relevante identificou que uma proporção maior de empresas exportava para a América Latina quando o mercado interno se encontrava retraído. Em relação a esse dado, pressupunha-se que uma empresa que apresentava maior percentual de vendas realizadas no mercado internacional em relação às suas vendas totais tendia a apresentar probabilidade mais alta de exportar para o mercado latino-americano.

Finalmente, o estudo de Pinheiro e Moreira (2000) evidenciou uma baixa propensão de uma empresa brasileira exportar para a região denominada

Outros Países em Desenvolvimento fora da América Latina. Apesar dessa

evidência, as empresas maiores apresentavam maior propensão a exportar para essa região. Quanto às pequenas e médias empresas, verificou-se que elas estavam virtualmente fora desta região. Em síntese, a propensão de uma firma exportar para regiões em desenvolvimento se mostrou mais sensível a mudanças no porte da empresa. O setor de alimentos e bebidas se destacou em relação aos demais setores em termos de propensão a exportar.

O levantamento de Ferraz e Ribeiro (2002) enfocou o comportamento exportador de pequenas, médias e grandes empresas brasileiras pertencentes

ao setor de manufatura localizadas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. O estudo refletia dados de exportação do período de 1994 a 2000 e mostrou algumas convergências com o estudo de Pinheiro e Moreira (2000). Diversos temas foram investigados pela pesquisa, destacando-se os seguintes como de maior interesse aos propósitos desta Tese: perfil das empresas participantes da pesquisa; características gerais da exportação; mercados de destino das exportações; percepção empresarial sobre benefícios e dificuldades associadas à atividade exportadora; e investimentos realizados no exterior em apoio às exportações. Os resultados deste último tema serão comentados mais adiante, quando as evidências empíricas sobre investimento direto no exterior (IDE) forem apresentadas.

O perfil das empresas exportadoras foi classificado de acordo com o tamanho, a freqüência de exportação e o tipo de setor, os quais foram associados a outros atributos de interesse desta tese, por exemplo, a idade da empresa. Os resultados evidenciaram que a freqüência de exportação (movimentos regulares desta atividade) cresce à medida que o tamanho da firma aumenta. Constatou-se uma relação positiva entre a data de fundação e a freqüência de exportação das firmas pesquisadas; ou seja, aquelas fundadas a mais de 20 anos constituíram uma parcela maior do grupo das exportadoras regulares. O setor de máquinas e equipamentos apareceu em maior proporção entre as pequenas empresas exportadoras, enquanto que entre as médias destacaram-se os setores de informática e médico-hospitalar. Entre as grandes, os setores automotivo e eletroeletrônico foram os mais freqüentes (FERRAZ e RIBEIRO, 2002).

As características gerais da exportação levantadas pelo estudo que interessaram aos propósitos desta tese foram: experiência exportadora e participação das exportações no faturamento da empresa. Tais características foram associadas à freqüência exportadora e ao tamanho das firmas participantes, assim como ao tipo de setor a que pertenciam. Os resultados identificaram que: firmas de menor porte tendem a apresentar experiência exportadora mais recente em relação às empresas médias e grandes; firmas exportadoras regulares apresentam maior experiência exportadora, em que a primeira exportação ocorreu há mais de 10 anos; firmas com mais experiência na atividade de exportação tendem a apresentar freqüência exportadora mais intensa; firmas maiores tendem a apresentar participação maior das exportações no faturamento total2; e a participação das exportações no

faturamento total tende a aumentar com a regularidade (freqüência) das exportações. Os setores com maior participação das exportações no faturamento foram, pela ordem de importância: madeira e minerais não- metálicos, couro e calçados, eletroeletrônico e, por fim, borrachas, plásticos e produtos químicos (FERRAZ e RIBEIRO, 2002).

Quanto aos mercados de destino, as exportações da maioria das firmas brasileiras, independente do tamanho, dirigem-se para a América Latina.

Em seguida, aparecem os mercados dos Estados Unidos e da União Européia. O tamanho das empresas não é um impedimento absoluto para a atuação em determinados mercados; ou seja, verifica-se a presença de exportações de empresas de qualquer porte em diversos mercados espalhados pelo mundo. Todavia, a diversificação de mercados está relacionada com o tamanho da firma; isto é, firmas maiores tendem a exportar para um número maior de mercados. A diversificação de mercados também está relacionada à freqüência (regularidade) das exportações brasileiras de manufaturados, com percentuais menores para as regiões dos tigres asiáticos e dos países africanos (FERRAZ e RIBEIRO, 2002).

A percepção empresarial no estudo de Ferraz e Ribeiro (2002) envolve o papel e a importância das exportações para as estratégias empresariais, mostrando-se muito importante para os propósitos desta tese de aprofundar o conhecimento sobre as decisões internacionais da firma. Este tema do estudo avaliava os seguintes pontos: importância atribuída à exportação; atributos necessários para exportar; benefícios derivados da atividade exportadora; condicionantes de escolha dos mercados-alvos; e principais entraves/dificuldades associados à exportação. O Quadro 1 sintetiza, por ordem de importância, os principais resultados da percepção empresarial sobre a atividade exportadora. É importante ressaltar que os resultados não mostram variações significativas em termos do porte da empresa.

QUADRO 1

Percepção gerencial sobre as exportações de empresas brasileiras de manufaturados

Pontos

Avaliados Principais Resultados

Importância atribuída

 Influencia decisões de investimentos na modernização da produção; na adaptação e diversificação dos produtos e, na expansão da capacidade produtiva.

Atributos necessários

 Seguir normas específicas de qualidade;

 Constituir parceiros externos para comercialização e distribuição;  Desenvolver linhas específicas de produtos;

 Adotar tecnologias específicas de produção;  Participar dos processos de negociação comercial.

Benefícios derivados

 Aumento da rentabilidade global;

 Conhecimento de novas tecnologias e tendências de mercado;  Equilíbrio nas oscilações do mercado interno;

 Qualificação da força de trabalho. Condicionantes

de escolha

 Oportunidade de lucro e crescimento;  Afinidade/proximidade cultural;

 Menor competitividade de preço em mercados alternativos. Entraves e

dificuldades

 Acesso a informações comerciais e regras para entrada;  Procedimentos administrativos (burocracia);

 Requisitos exigidos em termos de produtos e processos.

Fonte:Adaptado de Ferraz e Ribeiro (2002)

Um último ponto tratado pela pesquisa de Ferraz e Ribeiro (2002) a respeito do tema abordado no parágrafo anterior mostra quais itens seriam mais importantes para as decisões estratégicas relativas à atividade de exportação. Evidenciou-se que a fixação de preços de exportação foi o item mais mencionado. Outros itens mencionados, por ordem de importância, estiveram relacionados a determinadas especificidades do mercado-alvo, por exemplo, questões relacionadas a atividades marketing, distribuição e logística. Itens estratégicos menos importantes mencionados foram: parceria comercial com produtores locais e produção direta no mercado-alvo. Segundo os autores, esses últimos itens denotam que o investimento direto no exterior (IDE) não aparecia como uma estratégia de entrada que as empresas brasileiras

priorizavam em suas decisões internacionais. Evidências a esse respeito são apresentadas a seguir.

2.3.5 Estratégias de entrada via investimento direto: evidências empíricas