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Capítulo 2 – Metodologia utilizada no estudo da união consensual

2.4. Metodologia aplicada à análise dos modelos logísticos binários

2.4.3. Emprego dos modelos de regressão logística no estudo das uniões

O emprego dos modelos de regressão logística foi realizado com sucesso por diversos autores que se valeram da metodologia quantitativa e qualitativa para estudar as uniões consensuais, com destaque a Berquó e Loyola (1984), Quinteiro (1990) e Lazo (2004). Notam-se também diversos estudos eminentemente quantitativos sobre o tema desenvolvidos em países da América Latina, Europa, Estados Unidos e Canadá, com realce aos realizados, respectivamente, por Lazo e Moraes (2004), Costa (2004), Brand (2008), Pinelli, Fiori e Testini (2005), Street, Santillán e Laplante (2005), Rosina e Fraboni (2004) e Heatons e Forste (2005) (BRAND, 2008; HEATON e FORSTE, 2005; PINELLI, FIORI e TESTINI, 2005; STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005; COSTA, 2004; LAZO e MORAES, 2004; ROSINA e FRABONI, 2004). De modo geral, eles utilizam os modelos probabilísticos para compreender e explicar quais fatores estão relacionados à opção de viver consensualmente. No modelo sugerido por Lazo e Moraes, os autores utilizam dados do Censo de 2000 sobre os casais de dez anos ou mais de idade residentes no Estado do Rio de Janeiro para modelar as uniões consensuais (LAZO e MORAES, 2004). No trabalho, eles consideram como variável dependente se o casal vive ou não em união consensual e como variáveis independentes a coorte de nascimento do homem, a diferença de idade entre o homem e a mulher, a escolaridade, a religião e a raça/cor do casal (LAZO e MORAES, 2004). No estudo, conclui-se que todas as variáveis são estatisticamente significativas para a modelagem das uniões consensuais (LAZO e MORAES, 2004). Lazo e Moraes ainda estimam as probabilidades de união consensual para grupos específicos de casais. Assim como os autores, para modelar as uniões consensuais no Brasil, Costa utiliza dados do mesmo Censo Demográfico e algumas variáveis independentes idênticas, como idade, composição racial e escolaridade do casal (COSTA, 2004). Entretanto, a autora usa outras variáveis desse tipo, como a renda obtida pelo casal, a região geográfica em que reside, a situação do domicílio e a população total do município (COSTA, 2004). No

trabalho, Costa conclui que as variáveis utilizadas são importantes para modelar as uniões consensuais no país, com destaque à composição racial do casal (COSTA, 2004). Street, Santillán e Laplante utilizam um modelo de regressão logística para examinar a propagação das uniões consensuais na Argentina nas últimas décadas do século XX (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005). Eles usam como variável dependente a existência desse tipo de união e como variáveis independentes a idade da mulher, a categoria ocupacional e o nível educacional do casal, o nível de renda domiciliar e a

região geográfica do domicílio (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005)76. Os

resultados obtidos indicam que a probabilidade de união consensual diminui conforme a idade da mulher aumenta (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005). Em relação à variável nível educacional, o resultado apresentado mostra que as razões de vantagens diminuem à medida que aumenta o nível educacional dos cônjuges (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005). No que tange à variável que representa as categorias de ocupação, os autores observam que conforme melhoram as condições de trabalho da mulher, diminuem as probabilidades de viver em união consensual (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005). A principal conclusão obtida pelo trabalho é que na Argentina há dois processos que conduzem os indivíduos a optarem

pela união informal: um se relaciona a fatores econômicos77 e o outro indica que este

tipo de união pode ser um instrumento de aprendizagem e também uma alternativa para a união que sucede o casamento formal (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005). Pinelli, Fiori e Testini lançam mão dos modelos de regressão logística para estudar as uniões consensuais na Europa (PINELLI, FIORI e TESTINI, 2005). No trabalho, os autores buscam evidências empíricas de que elas poderiam gerar uma maior igualdade entre o homem e a mulher do que o casamento formal em relação a diversos fatores (PINELLI, FIORI e TESTINI, 2005). As variáveis consideradas no estudo para cada um dos cônjuges são: idade, educação, renda, trabalho, tarefas domésticas, contas a pagar, tempo livre e frequência em contatos sociais (PINELLI, FIORI e TESTINI, 2005). No estudo, consideram-se quinze países europeus, divididos em três Grandes Regiões, isto é, Norte, Oeste e Sul da Europa, de acordo com a propagação das uniões informais em cada região (PINELLI, FIORI e TESTINI, 2005). Fundamentados nesta subdivisão, os

76 Os dados utilizados para a modelagem da probabilidade de união consensual foram obtidos da pesquisa

“Encuesta Permanente de Hogares” (EPH), desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estadística y Censos da Argentina (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005).

77 Street, Santillán e Laplante buscam evidências empíricas de que a propagação da união consensual na

Argentina é uma consequência da crise econômica iniciada no final dos anos setenta com a implantação desse novo modelo econômico (STREET, SANTILLÁN e LAPLANTE, 2005).

autores sugerem sete modelos: toda a Europa, Norte, Sul e Oeste da Europa, toda a Itália, norte da Itália e Grã-Bretanha (PINELLI, FIORI e TESTINI, 2005). Os resultados obtidos permitem concluir que a união consensual promove uma maior igualdade de gêneros do que o casamento formal (PINELLI, FIORI e TESTINI, 2005).

Rosina e Fraboni se valem dos modelos de regressão logística para modelar a probabilidade de constituição da união consensual na Itália, onde é denominada coabitação, conforme já explanado (ROSINA e FRABONI, 2004). Os autores mostram que as proporções de uniões informais no país estão aumentando, porém, buscam explicações que justifiquem o atraso da Itália em relação a outros países da Europa

Ocidental no que diz respeito à sua difusão (ROSINA e FRABONI, 2004)78. O modelo

sugerido por Rosina e Fraboni utiliza dados de mulheres com menos de 35 anos de idade oriundos da pesquisa “Family, Social Subjects and Childhood” realizada na Itália em 1998 pelo “National Statistical Institute” (ISTAT) (ROSINA e FRABONI, 2004). Os autores utilizam como variável dependente a união consensual antes do casamento formal e como variáveis independentes a coorte de nascimento da mulher, seu nível de educação, o nível de educação do pai e o tipo de cidade em que o casal reside (ROSINA e FRABONI, 2004). Os resultados obtidos mostram que o efeito da coorte de nascimento da mulher é significativo e, segundo os autores, isto seria uma evidência de que as uniões consensuais estão se difundindo na população mais jovem da Itália (ROSINA e FRABONI, 2004). Além disso, o efeito do nível de educação dos pais também é significativo, pois quanto maior ele é menos sujeitos eles estão a se condicionarem às normas sociais e tendem a ser mais liberais em relação às escolhas não tradicionais dos filhos (ROSINA e FRABONI, 2004).

Heaton e Forste modelam a união informal nos Estados Unidos e no México (HEATON e FORSTE, 2005). Na maioria dos países da América Latina, inclusive o México, a união consensual sempre existiu lado a lado com o casamento formal, conforme explicado na segunda seção do capítulo 1 (HEATON e FORSTE, 2005). Porém, nos Estados Unidos, ela só se destaca a partir do final da década de sessenta (HEATON e FORSTE, 2005). Neste país, diferentemente do que se constata no México e na maioria dos países latino-americanos, a difusão da coabitação está mais fortemente associada a fatores culturais do que a fatores econômicos (HEATON e FORSTE, 2005). De acordo com os autores, atualmente a união informal está mais difundida nos Estados

78 Rosina e Fraboni acreditam que o referido atraso se deve mais ao contexto cultural da geração dos pais

Unidos do que no México, apesar de os padrões etários e educacionais de formação desse tipo de união serem bem semelhantes nos dois países (HEATON e FORSTE, 2005). Os resultados do modelo proposto revelam que tanto nos Estados Unidos quanto no México a probabilidade de união consensual diminui na medida em que aumenta a idade dos indivíduos, enquanto a probabilidade de casamento formal aumenta à medida que aumenta o nível educacional (HEATON e FORSTE, 2005).

Considerando os trabalhos nacionais e internacionais já realizados que versam sobre o uso da modelagem para estudar as uniões consensuais, conclui-se que a sua adoção para investigar as variáveis sociodemográficas relacionados a este tipo de união no Estado de São Paulo a partir dos anos oitenta é factível, pois apesar das limitações expostas, os modelos logísticos se mostram um robusto instrumento que permite uma melhor compreensão e explicação dessas variáveis.

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo apresentam-se e analisam-se os resultados obtidos através dos modelos de regressão logística. Eles são importantes porque permitem estabelecer de forma mais precisa como algumas características sociodemográficas dos indivíduos (raça/cor, idade, sexo, nível de instrução, rendimento e religião) estão associadas à união consensual. Em conjunto com a bibliografia existente sobre o tema, buscam-se evidenciar quais características são determinantes à formação desse tipo de união no Estado de São Paulo a partir da década de oitenta. Os resultados são apresentados como razões de chance ou odds ratio (OR), que mensuram a força da associação entre um determinado fator e a variável dependente (existência de união consensual). Em seguida, examinam-se eventuais mudanças em relação às referidas características constatadas ao longo dos quatro censos.