• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 – Metodologia utilizada no estudo da união consensual

3.2. Análise dos modelos de regressão logística para as uniões consensuais no Estado de

3.2.2. Modelo para o Censo de 1980

O modelo escolhido para explicar as uniões consensuais no Estado de São Paulo em 1980 inclui as variáveis idade, religião, raça/cor, instrução e renda. Contudo, a variável sexo não está incluída porque não melhora o poder preditivo do modelo. A qualidade dos ajustes do modelo aumenta gradativamente (o qui-quadrado e a estatística de probabilidade – 2log

diminuem e o R e o aumentam) conforme as variáveis utilizadas são inseridas, revelando

que elas são relevantes para explanar as uniões informais em São Paulo no período analisado. No entanto, quando as variáveis são retiradas, a qualidade dos ajustes diminui progressivamente na medida em que cada variável é excluída, pois o qui-quadrado e a

estatística de probabilidade – 2log aumentam ao passo que o diminui, mostrando que o

modelo pode melhorar seu poder de explicação.

O modelo eleito refere-se ao quinto passo da regressão logística. Apesar das medidas

de ajuste (-2 log, R e ) diferirem pouco nos seis passos, optou-se pelo quinto modelo em

razão dele apresentar um qui-quadrado substancialmente menor. O valor de -2log é

relativamente baixo (6,62), o de (0,154, isto é, 15,4% da variável dependente é explicada

pelos regressores do modelo) e de R (0,40) são bons. No quadro 3.13 apresentam-se as variáveis incluídas no modelo e as razões de chance – Exp(B) de cada grupo constituir uniões consensuais:

Quadro 3.13 – Variáveis incluídas e razões de chance do modelo de regressão logística adotado para a análise das uniões consensuais no Estado de São Paulo em 1980:

Variables in the Equation

B S.E. Wald df Sig. Exp(B)

95% C.I.for EXP(B) Lower Upper Step 5e idade 115022,961 6 ,000 15-19 anos -1,391 ,005 71133,662 1 ,000 ,249 ,246 ,251 30-39 anos ,248 ,003 7338,114 1 ,000 1,281 1,274 1,288 40-49 anos ,137 ,003 1714,995 1 ,000 1,147 1,140 1,154 50-59 anos -,130 ,004 1018,983 1 ,000 ,878 ,871 ,885 60-69 anos -,461 ,006 6370,437 1 ,000 ,630 ,623 ,638 70 anos ou + -,860 ,009 10029,194 1 ,000 ,423 ,416 ,430 Religião 26224,001 8 ,000 Sem religião ,567 ,006 8260,648 1 ,000 1,763 1,741 1,784 Protestante tradicional -,499 ,008 3470,259 1 ,000 ,607 ,597 ,617 Protestante pentecostes -,639 ,007 7981,917 1 ,000 ,528 ,521 ,535 Espírita -,045 ,010 18,410 1 ,000 ,956 ,937 ,976 Religiões orientais ,738 ,010 5266,513 1 ,000 2,091 2,050 2,133 Judaica/Israel ita ,154 ,016 94,083 1 ,000 1,167 1,131 1,204 Outras religiões -,343 ,035 94,207 1 ,000 ,710 ,662 ,761 Sem declaração ,166 ,008 450,022 1 ,000 1,181 1,163 1,199 Cor 107645,325 4 ,000 Preta ,737 ,004 30412,275 1 ,000 2,089 2,072 2,106 Amarela -,763 ,012 3777,564 1 ,000 ,466 ,455 ,478 Parda ,701 ,003 73985,143 1 ,000 2,017 2,006 2,027 Sem declaração 1,563 ,012 17815,768 1 ,000 4,775 4,666 4,886 Instr 10173,167 3 ,000 Fund. Compl. e Médio Inc. -,102 ,003 1155,779 1 ,000 ,903 ,898 ,908 Médio compl. e Sup. Inc. -,455 ,006 4970,823 1 ,000 ,635 ,627 ,643 Sup. compl. -,562 ,007 6041,198 1 ,000 ,570 ,562 ,578 renda 5147,496 6 ,000 1,01 a 3 SM -,001 ,003 ,064 1 ,800 ,999 ,994 1,004 3,01 a 5 SM -,108 ,004 817,450 1 ,000 ,898 ,891 ,905 5,01 a 10 SM -,189 ,005 1484,561 1 ,000 ,828 ,820 ,836 10,01 a 20 SM -,163 ,008 425,380 1 ,000 ,850 ,837 ,863 20,01 SM ou + -,008 ,011 ,443 1 ,506 ,993 ,971 1,015 Ignorado ,650 ,013 2485,772 1 ,000 1,915 1,866 1,964 Constant -2,886 ,003 1152932,502 1 ,000 ,056

a. Variable(s) entered on step 1: cor. b. Variable(s) entered on step 2: idade. c. Variable(s) entered on step 3: religiao. d. Variable(s) entered on step 4: instr. e. Variable(s) entered on step 5: renda. f. Variable(s) entered on step 6: sexo.

No que tange à idade, em relação aos indivíduos de 15 a 19 anos, observam-se 76% menores chances de viver consensualmente em relação ao grupo de referência (20 a 29 anos). Por outro lado, nas faixas etárias seguintes e com idade até os 49 anos, as chances de união consensual são maiores. No grupo dos 30 aos 39 anos, notam-se 28% maiores chances de união e no grupo dos 40 aos 49 anos verificam-se 14% maiores chances em relação à categoria de referência. Entretanto, nas idades superiores, as chances são gradualmente menores. No grupo dos 50 aos 59 anos, há 13% menores chances de constituição de uniões informais. Nos grupos seguintes, dos 60 aos 69 anos e dos 70 anos ou mais, constatam-se chances ainda menores, respectivamente 37% e 58% menores. O modelo eleito confirma a literatura no sentido de que as chances de uniões informais são maiores nas idades mais jovens, diminuindo proporcionalmente nos grupos etários subsequentes.

No que toca à religião, os indivíduos que declaram não possuí-la têm 76% maiores chances de viver consensualmente em relação à categoria de referência (católicos). Esse resultado está de acordo com a bibliografia que investiga o tema, pois eles podem optar naturalmente por ela, já que não precisam obedecer normas ou costumes religiosos que a refutam. Os espíritas apresentam 5% menores chances de constituir uniões livres em relação aos católicos. Por outro lado, os indivíduos com menores chances de constituir uniões informais são, respectivamente, os protestantes pentecostes (48% menores chances), os protestantes tradicionais (40% menores chances), os judeus/israelitas (30% menores chances), refletindo a falta de anuência dessas religiões em relação às uniões livres. Já os indivíduos sem religião declarada apresentam comportamento contrário, pois têm 18% maiores chances.

Em relação à raça/cor, o modelo de regressão logística eleito mostra que os pretos e os pardos têm duas vezes mais chances de viver consensualmente em relação aos brancos (categoria de referência). Por outro lado, os amarelos têm 54% menores chances de união informal em relação à categoria de referência. Os resultados obtidos estão em consonância com a literatura, que aponta maiores chances de união livre quando há um preto ou um pardo na relação, e maiores ainda quando ambos pertencem a essas raças/cores. Os trabalhos desenvolvidos também mostram as elevadas chances dos indivíduos sem religião optarem pelas uniões informais. Contudo, as menores chances se referem aos amarelos.

Em termos de instrução, o modelo de regressão também mostra que está de acordo com a bibliografia sobre o tema, pois as razões de chance de constituir uniões consensuais são maiores quando o indivíduo possui menor escolaridade e menores quando possui alta escolaridade, revelando que o nível de instrução é decisivo para a pessoa constituí-las. Os indivíduos com ensino fundamental completo e médio incompleto têm 10% menores chances

de escolhê-la, enquanto aqueles com ensino médio completo e superior incompleto possuem 37% menores chances. Em contrapartida, as pessoas com ensino superior completo apresentam 43% menores chances de unirem-se consensualmente.

Em relação à renda, os indivíduos que obtém rendimento mensal de 1,01 a 3 SM têm 1% menor chance de viver consensualmente em relação à categoria de referência (até 1 SM). Aqueles que recebem um valor maior, de 3,01 a 5 SM possuem 11% menores chances. Já as pessoas com rendimento de 5,01 a 10 SM têm 18% menores chances. Nesse contexto, os indivíduos com renda mensal de 10,01 a 20 SM possuem 15% menores chances, enquanto aqueles que recebem 20,01 SM ou mais têm 1% menor chance de constituir uniões informais. As pessoas com rendimento ignorado apresentam 91% maiores chances em relação à categoria de referência. Os resultados obtidos estão de acordo com a literatura, pois demonstram que a maior proporção de uniões livres está concentrada nos extratos menos favorecidos economicamente, tornando-se mais raras conforme a renda aumenta.

A análise de resíduos não identifica pontos influentes no modelo que precisem ser retirados. A distância de Cook e o Leverage, medidas usadas para diagnosticar possíveis

outliers, apresentam valores normais, pois a primeira é menor do que 1 e o segundo está entre

0 e 1. Testaram-se diagnósticos de colinearidade para verificar se um previsor tem um relacionamento forte com outro(s) previsor(es). Valores muito baixos (abaixo de 0,1) e muito altos (acima de 10) indicam problemas de colinearidade. Considerando que os resultados obtidos pouco ultrapassam 1, não há sinais do problema, conforme demonstram as tabelas apresentadas no anexo III.