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Durante o processo de adaptação das crianças à creche, a pesquisadora auxiliou alguns dias a professora, tendo em vista a quantidade de crianças que choravam nesta fase inicial. Entretanto, a professora era nova na creche e não se sentiu a vontade com o pedido da direção referente a este auxílio, pois ainda não conhecia a dinâmica da creche, nem a direção e tinha receio que a pesquisa se tornasse uma imposição. Por este motivo, ela solicitou o afastamento da pesquisadora de sua sala de aula para que ela pudesse se adaptar à escola e à turma.

Dois meses se passaram depois desse contato inicial e a partir da convivência constante que a pesquisadora estabeleceu com todo o grupo de trabalho (professores, monitores e agentes da educação infantil), a professora se sentiu a vontade em aceitar a sugestão que veio das monitoras e agentes da educação infantil que trabalhavam em sua turma para o início da pesquisa em sua sala.

As crianças eram muito carinhosas e gostavam de atenção. Algumas delas já lembravam do contato com a pesquisadora durante os primeiros dias de adaptação e sempre que a viam na creche a abraçavam. O mais difícil para a pesquisadora foi dividir a atenção entre eles, pois ainda não sabiam dividir brinquedos ou deixar que um colega fosse o primeiro da fila, ou até deixar um coleguinha sentar na cadeira preferida do refeitório, imagine se saberiam dividir a atenção de alguém. Se um pedisse para ajudar dando impulso ao balanço no parque, todos queriam também e nenhum sabia esperar sua vez ou dar oportunidade ao outro. Era muito comum a birra entre algumas crianças do grupo, jogando-se no chão porque não foram balançadas na hora que queriam, ou porque não recebeu o brinquedo de imediato.

Essa turma era composta por crianças que estavam no início do processo de aquisição da linguagem, muitas vezes aquilo que era dito ainda era difícil de ser compreendido e as crianças não sabiam expor com clareza o que queriam

dizer ou explicar, usando outras palavras para expor melhor o que estavam pensando e como estavam organizando o seu pensamento, por esta razão, cada expressão, seja física ou falada, era extremamente significativa.

Algo muito peculiar desta turma em especial, foram as histórias narradas por monitoras e monitores e também pela professora, ex-professores e orientadora pedagógica da turma, da trajetória de algumas crianças na creche. Essas narrativas foram importantes porque colaboraram para a definição dos casos selecionados para o transcorrer da investigação. Inicialmente o objetivo era trabalhar com crianças que vivenciassem situações de vulnerabilidade social, crianças que se aproximassem de alguma forma daquelas citadas na introdução do trabalho, mas não foi possível escontrar essas crianças nesse espaço escolar.

Diante desses elementos expostos, a pesquisa foi realizada numa turma de AG II com crianças que tinham entre 2 a 3 anos de idade. A criança mais nova nascida em janeiro de 2015 e a mais velha nascida em novembro de 2013, chegando até a um ano e dois meses de diferença de idade entre a criança mais nova e a mais velha do grupo.

Uma sala de aula que “comportava”, segundo os cálculos do município por metro quadrado, 28 crianças, mas haviam 25 crianças frequentando.

Além das crianças, a turma era composta por cinco educadoras, a professora e mais duas agentes da educação infantil pela manhã e duas monitoras a tarde. Algo que chamou bastante atenção, no primeiro momento, quando a professora foi assinar o Termo de Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE), foi a solicitação feita por ela, para que a pesquisadora trocasse o termo professora por grupo de educadores, justificando que ela enxergava a importância de um trabalho participativo entre a equipe pedagógica (professora, monitoras e agentes da educação infantil), em que todas tinham a possibilidade de conversarem e compartilharem acerca das decisões propostas ao grupo.

Quanto à formação e atuação pedagógica do grupo, a professora da turma é concursada pelo município e está no segundo ano de atuação. Sua formação é em Pedagogia e está cursando mestrado em Educação na UNICAMP sobre políticas públicas. A Agente da Educação Infantil 1 (AG1) é formada em Letras e prestou concurso para agente da Educação Infantil e a Agente da Educação Infantil 2 (AG2) é formada em Pedagogia e também prestou concurso para agente da Educação Infantil. A Monitora 1 (M1) cursou o Ensino Médio completo e prestou concurso para monitora da Educação Infantil e a Monitora 2 (M2) também

cursou o Ensino Médio completo, começando a atuar na creche quando a Educação Infantil ainda estava ligada à Assistência Social, com o tempo de atuação foi vinculada ao quadro efetivo da prefeitura, não chegando a prestar concurso público.

A atividade de pesquisa ocorreu no turno matutino, mas em alguns momentos houveram a participação das outras monitoras do turno vespertino. O objetivo inicial era a participação também com as observações no período da tarde, mas por conta de um problema de saúde vivido por M2 e de uma agenda montada para cobrir sua falta com diferentes profissionais, não foi possível realizar tais observações.

Quando a pesquisa foi iniciada, a pesquisadora estava participando das reuniões do TDC e do HFAM, contribuindo com a discussão sobre “a concepção de criança, infância e Educação Infantil”. Foi quando a mesma percebeu que esta colaboração estava interferindo no andamento da pesquisa, em razão de sua experiência como professora da Educação Infantil, coordenadora pedagógica, professora do curso de Pedagogia da disciplina Infância e Educação Infantil, além de trabalhar com a organização do trabalho pedagógico na Educação Infantil e com o estágio na mesma área, havendo conflito de papéis, não se limitando apenas ao de pesquisadora. Por conta disso, a pesquisadora tomou a decisão, compartilhada na reunião do grupo de pesquisa (GPPL), que se afastaria de qualquer atividade que descaracterizasse a sua atuação enquanto pesquisadora. Limitou-se a estar apenas no espaço da sala de aula da turma do AG II, ou nos espaços frequentados por esta turma, deixando o TDC e o HFAM. A excessão foi em participar apenas da reunião que a professora fazia com as monitoras e agente no horário do Trabalho Docente Individual (TDI). A professora desejava que esta reunião tivesse como objetivo planejar o trabalho que gostariam de realizar com a turma, mas esse encontro ficou caracterizado como o momento de compartilhar as dificuldades vivenciadas, o que poderia ser feito para superar e o compartilhar de informes trazidos nos encontros do TDC.