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7 ENCONTROS E DESENCONTROS ENTRE OS PROGRAMAS PESQUISADOS

Ao longo deste trabalho de pesquisa, no qual realizamos um estudo comparativo de três programas de Famílias Acolhedoras no Estado de São Paulo, objetivamos inicialmente conhecer, para delinear e, posteriormente, comparar os perfis dos citados programas.

O presente estudo procurou ainda levantar as possibilidades e as dificuldades que ocorreram durante o processo de implementação, de implantação e de funcionamento dos programas.

Nos capítulos que precederam esta análise, descrevemos a origem, as especificidades e a abrangência de cada um dos programas pesquisados, para neste momento podermos tecer alguns comparativos entre eles.

A princípio, o que pudemos constatar através desta pesquisa, é que há uma diversidade de propostas de programas de Famílias Acolhedoras, muito embora alguns aspectos se configurem como fundamentais para que esses programas funcionem minimamente de forma adequada.

Respeitando as especificidades de cada programa, constatou-se que os mesmos, por ocasião dos seus surgimentos, possuíam preocupações similares quanto aos cuidados a serem prestados a crianças e adolescentes que, por motivo de violação de direitos, necessitassem ser acolhidos fora do âmbito de suas famílias de origem.

De um modo geral, podemos dizer que as iniciativas dos programas ora pesquisados surgiram de inquietações oriundas da prática de institucionalização de crianças e adolescentes e da necessidade de garantir-lhes o direito (previsto no ECA) à convivência familiar e comunitária.

Especificamente, o programa Família Acolhedora de Franca surgiu como resposta a uma necessidade do Município, uma vez que, com o advento do ECA os orfanatos da cidade não aderiram à proposta de abrigo.

Ainda em relação à iniciativa dos programas, salientamos que de maneira semelhante, o de Santos e o de Campinas partiram originariamente do Poder Executivo. Já em relação ao de Franca, a proposta de formalização partiu do Poder Judiciário.

Entretanto, os três programas convergem no sentido de explicitar, que o processo de discussão, visando à implementação e à implantação dos mesmos, não ocorreu de maneira isolada, mas sim, foi produto de uma construção coletiva entre os diversos órgãos envolvidos na proteção e na defesa dos direitos de crianças e adolescentes.

Os programas analisados neste estudo, igualmente afluem no sentido de atender crianças e adolescentes impossibilitados temporariamente, de permanecer junto às suas famílias de origem.

Observamos que todos os programas analisados fornecem subsídios financeiros às famílias acolhedoras, acreditando ser esta, uma das características comuns e fundamentais para o adequado funcionamento destes.

Ainda em relação ao subsídio em pecúnia, o que difere entre os programas pesquisados, são os valores e a maneira pela qual cada programa estabelece critérios para efetivar este pagamento.

Os municípios de Santos e de Franca possuem similaridades em relação ao tempo médio de permanência das crianças em famílias acolhedoras, com uma pequena variação de meses.

Já os municípios de Santos e de Campinas possuem semelhanças no que se refere à capacitação das famílias acolhedoras, promovendo treinamentos que se constituem como parte do processo avaliativo das famílias candidatas ao acolhimento.

Em relação ao instituto da Guarda, com exceção do município de Campinas que possui guarda compartilhada com a família acolhedora, nos demais municípios a mesma é providenciada para as famílias que acolhem.

No tocante à participação ativa das famílias acolhedoras como gestoras dos programas, consideramos esta uma característica comum aos municípios de Franca e de Campinas, nos quais as famílias participam de todas as decisões relativas ao serviço.

Existem, outrossim, algumas peculiaridades de cada programa que devem aqui, ser ressaltadas. Por exemplo, o programa de Campinas possui uma especificidade quanto ao perfil de atendimento que é direcionado a crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e que têm a possibilidade de retorno à família de origem. Já o programa de Santos, possui como uma peculiaridade o fato de considerar família extensa como família acolhedora. Quanto ao programa de

Franca, uma sua particularidade diz respeito ao fato da família de apoio ter um representante no grupo de parceiros, denominado Comissão de Trabalho. Cabe esclarecer que, a Comissão de Trabalho do município de Franca e o Grupo Gestor do município de Santos apesar de contarem cada qual com seus respectivos parceiros nas reuniões que realizam, possuem funções específicas, algumas das quais, divergentes.

Uma dificuldade comum aos três programas estudados, diz respeito ao reduzido número de famílias acolhedoras cadastradas, sendo que todos eles atribuem isso, ao fato de não contarem com uma divulgação permanente do programa. Nos municípios pesquisados, a divulgação ainda é bastante incipiente, sendo na maioria dos casos, algo fomentado pela equipe do programa.

Uma característica comum a todos eles é a existência do trabalho em rede, entendido como uma necessidade na concretização desse tipo de programa. As parcerias também surgem neste contexto, como forma de viabilizar ações que garantam a sobrevivência dos mesmos.

Os programas de Santos e de Franca foram estruturados interinstitucionalmente, diferentemente do município de Campinas, cuja estruturação foi integralmente realizada pelo Poder Executivo.

O município de Franca foi o único que não se baseou em experiências de outros locais, ao contrário do que aconteceu nos municípios de Santos e de Campinas.

Uma questão que não pode ser esquecida, diz respeito às características regionais, tendo em vista as peculiaridades de cada local, bem como, os aspectos relacionados à população daquela região, à forma de sobrevivência das famílias ali residentes, entre outros.

Quanto à questão legal, somente Campinas não dispõe hoje de uma lei que institua o programa, muito embora este já funcione há dez anos. Os municípios de Santos e de Franca possuem respectivamente, lei e decreto que regulamentam o programa em cada um desses locais, sendo que o primeiro funciona há dois anos e o segundo, há nove anos.

O que se depreende do estudo realizado é que, essa ausência de homogeneidade na maneira de ser desses programas, bem como, no modo de definir critérios para o seu efetivo funcionamento, não se configuram como aspectos negativos para a existência e a permanência dos mesmos. Pelo contrário, faz

emergir pontos de vista divergentes que contribuem para um melhor atendimento das necessidades de crianças e adolescentes que porventura estejam afastadas do convívio de suas famílias de origem.

Desta feita, o que justifica a existência desse tipo de programa é a possibilidade de oferecer condições mais individualizadas e humanizadas às crianças e aos adolescentes que estejam em situação de vulnerabilidade e/ou de risco social iminente.

Esses programas se constituem na verdade, como uma forma alternativa de acolhimento, garantindo o direito que crianças e adolescentes em desenvolvimento têm à convivência familiar e comunitária.