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4. A AGENDA CLIMÁTICA E A AGENDA URBANA: Município de São Paulo e Região

4.1 Política climática e políticas urbanas no município: entre convergências e desarticulações

4.1.2 Energia

Na área de energia, o artigo 7° da lei de Mudanças Climáticas do Município prevê a necessidade de ações articuladas entre os órgãos do Poder Público Municipal, para a promoção de melhores padrões de eficiência energética. Nesse sentido, a lei orienta (i) todas as esferas de governo a atuarem para a eliminação dos subsídios nos combustíveis fósseis e a criação de incentivos à geração e ao uso de energia renovável; (ii) a promoção e adoção de programas de eficiência energética e energias renováveis em edificações, indústrias e transportes; (iii) a promoção e adoção de programa de rotulagem de produtos e processos eficientes, sob o ponto de vista energético e de mudança do clima; (iv) a promoção do uso dos melhores padrões de eficiência energética e do uso de energias renováveis na iluminação pública; (v) a criação de incentivos fiscais e financeiros, por lei, para pesquisas relacionadas à eficiência energética e ao uso de energias renováveis em sistemas de conversão de energia e (vi) a mesma coisa para a geração de energia descentralizada no Município, a partir de fontes renováveis (SÃO PAULO, Município, 2009).

No balanço das ações relacionadas à política de mudanças climáticas entre o período de 2005-2012, o Comitê de Mudanças Climáticas apresentou medidas de ecoeficiência adotadas pelo próprio governo, baseada na realização de readaptações (retrofits), com a substituição de 20% das lâmpadas incandescentes dos faróis de sinalização da cidade por tecnologia LED, implicando em redução considerável de gastos com energia nessa atividade

118 (SETZER, 2015; BACK, 2012a; SÃO PAULO. Município, 2012b). A redução no consumo de energia é potencialmente convergente com a redução de emissões de GEE de forma indireta, tendo em vista que a geração de energia elétrica pode estar associada a fontes emissores de GEE, particularmente no caso da utilização de termoelétricas. Porém, no caso brasileiro e do município de São Paulo, a principal matriz energética está baseada nas hidrelétricas.

A gestão atual (2013-2016) também realizou medidas de retrofits no setor de iluminação pública, convergente com a redução no consumo de energia. A prefeitura realizou uma Parceria Público Privada (PPP) no início do ano de 2016, visando, para os próximos 5 anos, a substituição total das 618 mil luminárias da iluminação pública da cidade para tecnologia LED, as quais tem vida útil 140% maior, passando de 5 anos para 12 anos, além de propiciarem reduções no consumo de energia.

Segundo dados da ONG Rede Nossa São Paulo e do site oficial da Prefeitura, que realiza o acompanhamento de suas metas de governo, até o momento, foram substituídas 73.349 luminárias LED na 1ª fase do programa37 (SÃO PAULO, Município, 2016; RNSP, 2016). O processo de substituição das luminárias da cidade iniciou-se nos bairros de periferia, tais como: Brasilândia, Lajeado, Heliópolis, Jardim Monte Azul, Sapopemba e Jardim Ângela. Essa iniciativa é pioneira na América Latina, e São Paulo é a maior metrópole no mundo a implementar essa tecnologia. A medida apresenta benefícios econômico-ambientais, pois tem maior durabilidade e propicia economia de energia de 50%. Apesar disso, o principal discurso político associado a essa medida diz respeito à segurança pública, tendo em vista que a melhora na iluminação pública contribui para gerar maior segurança especialmente em bairros de periferia (RUSSO, 2015). Em entrevista, o prefeito argumenta:

Eu estou colocando LED em toda a periferia de São Paulo. Mais ou menos 20% da cidade vai estar em LED até o final do meu mandato, e eu assino um contrato esse ano ainda para que toda cidade seja iluminada em LED. Não é só de segurança que nós estamos falando. Quando a gente fala de LED, a gente está falando de economia de energia, mas nós estamos falando também de dar para as pessoas a oportunidade de caminhar sem os perigos de uma rua não iluminada... E se você visitar hoje Lajeado, Brasilândia, Heliópolis, você vai conhecer os primeiros bairros inteiramente em LED da cidade. O que com isso a gente pode promover? Como o trabalhador dessas localidades sai de madrugada e chega à noite, se não tiver uma rua adequadamente iluminada, ele vai preferir o carro ao transporte público. Se você iluminar ao

119 entardecer e ao amanhecer, dando, sobretudo para mulheres, a condição de segurança, ela vai repensar... Eu colhi um depoimento em Heliópolis. É riquíssimo. Fui visitar Heliópolis todo em LED e um depoimento que eu colhi dizia o seguinte: Olha, minha mãe não precisa mais me buscar no ponto de ônibus. Porque ela tinha medo de ir do ponto de ônibus até em casa. Quem não tem alguém disponível para buscar vai comprar um carro, para se sentir mais seguro... Há uma série de outras medidas que precisam ser tomadas para que as pessoas se apropriem da cidade [...]

Quando você reconhece uma pessoa à distância de 5 metros, é uma realidade; quando você reconhece essa pessoa a 50 metros, por quê a iluminação é de LED, é outra realidade. Existe o conceito em segurança pública de autotutela, que é a comunidade se proteger em função das condições que você oferece para aquela comunidade. Imaginar que só com policiamento você vai chegar à segurança pública é um equívoco... Tem muita coisa que envolve Segurança Pública e que precisa entrar na conta. A gente às vezes só pensa em segurança como policiamento, e o Estado está com um continente muito baixo, um efetivo muito baixo de policiais, sobretudo na capital. É incompatível com as necessidades da cidade [...] Agora nós estamos fazendo a maior reforma de iluminação pública do mundo. A PPP de iluminação pública de São Paulo é maior do mundo. Chama atenção no mundo inteiro, porque é um projeto socioambiental. Ao mesmo tempo que se reduz 50% do consumo de energia... Não é trivial... Não existe nenhuma metrópole do tamanho de São Paulo iluminada a LED. São Paulo vai ser a maior metrópole iluminada a LED do mundo... Em três ou quatro anos vai estar a cidade inteira a LED. Nós estamos fazendo agora Sapopemba e Jardim Ângela. Mas já entregamos Lajeado, Heliópolis e Brasilândia. Se você perguntar o impacto que isso tem na segurança, é muito expressivo (PREFSP1).

Comparando os dois momentos, observamos que o balanço sobre o período 2005-2012 considera as medidas de retrofits envolvidas como formas de redução de energia elétrica e redução de emissões de GEE. Essa abordagem discursiva está baseada no tratamento dado pelas redes transnacionais, particularmente o ICLEI, apesar de não se justificar no contexto do município de São Paulo, tendo em vista que sua matriz energética é baseada em hidrelétricas. Por outro lado, na gestão 2005-2012 observou-se avanços mais expressivos que a gestão anterior em medidas de retrofit, mas não se fez referência discursiva à agenda climática, priorizando a agenda social.