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4. A AGENDA CLIMÁTICA E A AGENDA URBANA: Município de São Paulo e Região

4.1 Política climática e políticas urbanas no município: entre convergências e desarticulações

4.1.3 Gerenciamento de Resíduos Sólidos

Em relação ao gerenciamento de resíduos sólidos, poderíamos citar as previsões da lei de (i) estabelecimento de programa obrigatório de coleta seletiva de resíduos e a promoção de instalação de “ecopontos” nos distritos da cidade; (ii) instalação de equipamentos e gestão de

120 programas de coleta seletiva de resíduos sólidos em empreendimentos de grande concentração e circulação de pessoas para fins de obtenção de licença ou alvará de funcionamento; (iii) desestímulo, tanto do poder público quanto da iniciativa privada, ao excesso de embalagens e ao uso de sacolas não biodegradáveis; (iv) estímulo à reciclagem ou reuso de resíduos urbanos, inclusive do material de entulho proveniente da construção civil e da poda de árvores, de esgotos domésticos e de efluentes industriais; (v) controle e redução progressiva das emissões de gases de efeito estufa provenientes de estações de tratamento de esgotos e aterros sanitários situados ou utilizados pelo Município (SÃO PAULO, Município, 2009).

Entre 2005-2012, as principais políticas da prefeitura vinculadas à redução de emissões de GEE no setor de resíduos sólidos foram a implementação de usinas de captação de biogás nos aterros sanitários Bandeirantes e São João, voltadas à geração de energia elétrica. A instalação da usina de biogás no aterro São João e no aterro Bandeirantes foi fruto de uma parceria entre a Secretaria do Verde e Meio Ambiente e o Consórcio Biogás Energia S.A. A partir dela, a captação de gás metano nos aterros sanitários e a geração de energia elétrica lhes rendeu créditos de carbono provenientes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Pelo funcionamento das usinas, foram emitidos créditos certificados de carbono, os quais foram vendidos em leilões internacionais ocorridos em 2007, 2008 e 2012, gerando recursos de aproximadamente 71 milhões de reais para a prefeitura. Esses recursos foram aplicados em melhorias ambientais nas regiões onde estão localizados os aterros (CRUZ; PAULINO, 2010; PUPPIM DE OLIVEIRA, 2009).

Segundo estimativas da prefeitura à época, tais empreendimentos contribuiriam para a redução de 20% das emissões de CO2eq. da cidade na atmosfera (BACK, 2012b). No entanto, esses dados são contestáveis, pois tais reduções de emissões não foram consideradas no segundo inventário de emissões da cidade para se evitar dupla contagem pelas instituições compradora e vendedora dos créditos de carbono (CORTESE, 2013).

[...] Durante uma fase de minha vida tive uma equipe que fazia projetos de carbono e comercializava, tendo tido experiências bem-sucedidas. [...] Mas nesse momento, a observação que faço é que o mercado de carbono está completamente desaquecido. Afinal, os créditos de carbono reduziram muito o seu valor internacionalmente. Os casos bem-sucedidos de venda dos créditos de carbono públicos foi no caso da cidade de São Paulo quando fizeram os leilões dos aterros sanitários; a prefeitura contratou uma consultoria, emitiu os créditos e venderam créditos já emitidos sob risco. Assim, tiveram que fazer leilão pra isso. Na época conseguiu se fazer sem licitação. [...] No entanto, hoje a dinâmica do mercado de carbono é muito

121 distante da realidade do setor público. Para se fazer isso hoje precisaria identificar o projeto, fazer o projeto, abrir licitação, emitir os créditos, vender os créditos emitidos sob risco. No entanto, as outras prioridades são muito mais importantes no setor público (PLANRE3).

Assim, emitir os créditos, por meio de licitação, sem a certeza de que serão vendidos em leilões e, ainda, o baixo preço dos créditos de carbono no mercado internacional atual, dificultam a realização de projetos nesse sentido, particularmente pelo setor público.

Ainda entre 2005 e 2012, iniciou-se um processo de ampliação da coleta seletiva na cidade, passando de uma abrangência de 0,7% da área territorial do município em 2005 para 7% em 2009. Nesse mesmo período, segundo um balanço realizado pela própria prefeitura, também foram criados 56 ecopontos, ou seja, locais de entrega voluntária de pequenos volumes de entulho (até 1m³), grandes objetos (móveis, poda de árvores, etc) e resíduos recicláveis.

Em 2011, foi sancionada a lei 15.374/201138 que previu a proibição da venda e distribuição de sacolas plásticas nos supermercados e centros comerciais da cidade, a fim de incentivar o uso de sacolas reutilizáveis. A lei sofreu disputas jurídicas entre a prefeitura e o sindicato das indústrias de material de plástico do estado de São Paulo, tendo sido suspensa até 2014. Nesse sentido, coube à gestão posterior regulamentar a lei das sacolinhas plásticas. Por meio do decreto 55.827 de 6 de janeiro de 201539, a prefeitura regulamentou a lei visando, de um lado, reduzir o volume de lixo nos aterros sanitários e, de outro lado, educar a população e promover a reciclagem na cidade. As sacolinhas passaram a ser padronizadas, feitas de material renovável e em duas cores. Na cor verde, com ilustrações, para serem reaproveitadas para a reciclagem, e na cor cinza, para servir ao descarte do lixo orgânico e não-reciclável (SANTIAGO, 2016).

Ainda na gestão 2013-2016, o novo governo municipal convocou a conferência municipal de meio ambiente a fim de iniciar um processo de reelaboração participativa: o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município de São Paulo (PGIRS). Este Plano havia sido elaborado em 2012, para o atendimento dos prazos definidos na política nacional de resíduos sólidos, sem propiciar, no entanto, espaços adequados para o diálogo entre entes públicos e privados envolvidos em todo o processo de manejo dos resíduos. Após processo participativo envolvendo as 31 subprefeituras, foi publicado o novo Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município de São Paulo estabelecendo as diretrizes e

38 Confira São Paulo. Município (2011). 39 Confira São Paulo. Município (2015b).

122 objetivos para o curto, médio e longo prazos, no gerenciamento dos resíduos sólidos, envolvendo os próximos 20 anos40.

Das metas previstas no referido plano, a coleta seletiva foi ampliada na cidade, aumentando de 2% para 10% a abrangência e contemplando todos os 96 distritos. Além disso, foram inauguradas duas grandes centrais mecanizadas de triagem de resíduos sólidos, uma em Bom Retiro e outra em Santo Amaro, com o apoio de mais de 31 cooperativas credenciadas de catadores, ampliando a capacidade de reciclagem da cidade (SÃO PAULO. Município, 2014a):

Nós temos um problema grave na cidade São Paulo que é a questão da varrição do entulho na cidade. A cidade gasta um bilhão de reais para remover lixo nas ruas. Um bilhão. Eu não estou falando da coleta porta-a- porta, a coleta porta-a-porta, que custa outro bilhão, está certo, também está sendo auditada por verificação internacional, a coleta porta-a-porta ela recolhe 60% dos resíduos sólidos da cidade, só. Os outros 40%, imagina 40 % de vinte mil toneladas dia, são retirados das ruas. A população joga na rua: entulho, sofá, armário, o que você bem entender. Existem poucas cidades desenvolvidas, acho que não conheço nenhuma cidade do mundo que 40% do resíduo sólido é varrido da rua. Porque as pessoas ou levam um ecoponto ou fazem a disposição durante a coleta, que é uma das melhores do Brasil. Inclusive, até o ano que vem, nós vamos universalizar a coleta seletiva em São Paulo. Já estamos em 85 distritos, vamos chegar a 96 distritos no ano que vem. Não vai ter rua de São Paulo sem coleta seletiva, porque nós implantamos as duas primeiras centrais mecanizadas de triagem na América Latina (PREFSP02).

A implementação dessas medidas, porém, não foi vinculada discursivamente à agenda climática na gestão 2013-2016. Ao contrário, o prefeito, em entrevistas, tem enfatizado o caráter social da coleta seletiva a partir da geração de empregos na cidade.