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4. A AGENDA CLIMÁTICA E A AGENDA URBANA: Município de São Paulo e Região

4.2 Plano Diretor Estratégico de São Paulo e as mudanças climáticas: uma agenda local/regional

4.2.4 Sustentabilidade ambiental

A criação do Polo de Desenvolvimento Econômico Rural Sustentável e a delimitação da Zona Rural do município são medidas convergentes com o propósito da contenção do espraiamento urbano.

A delimitação da zona rural do município implica na aplicação de instrumentos de comando e controle relacionados à proibição do parcelamento urbano. No entanto, partindo da noção de que a mera proibição é insuficiente para impedir o processo de expansão urbana dessas áreas, foram criados também instrumentos de incentivos à geração de emprego e renda na zona rural, a fim de incentivar a manutenção da vocação do território, articulando desenvolvimento econômico com preservação ambiental.

162 Nesse sentido, atribui-se uma nova concepção à zona rural no município, de caráter multifuncional, entendendo-a como uma área voltada à: produção do alimento, geração de água para o abastecimento, manutenção da biodiversidade e de serviços ambientais, conservação ambiental, mas também sendo compreendida como área do lazer, ecoturismo, agroecologia, produção orgânica e geração de empregos.

Instrumentos tais como o pagamento de serviços ambientais e a definição de zona rural, são instrumentos que caminham no sentido de qualificar o valor de uso nas áreas de proteção ambiental para conter a expansão urbana não simplesmente restringindo o uso urbano, mas principalmente incentivando o uso sustentável nessas áreas (PLANRE2). Nesse sentido, cria-se o Polo de Desenvolvimento Econômico Rural Sustentável (art. 189 e 190), através do qual são previstos instrumentos que visam apoiar a produção de alimentos e a certificação orgânica, implementar o pagamento por serviços ambientais, promover a regularização fundiária das propriedades, melhorar a oferta de equipamentos e serviços públicos na região e promover o potencial turístico das áreas verdes, de mananciais e rurais (SÃO PAULO, 2014).

Visando apoiar a produção rural orgânica proveniente da agricultura familiar das zonas rurais do município, em consonância com as diretrizes do Plano Diretor, em março de 2015, foi promulgada a Lei Municipal nº 16.140, que dispõe sobre a obrigatoriedade de inclusão de alimentos orgânicos ou de base agroecológica na alimentação escolar no âmbito do Sistema Municipal de Ensino de São Paulo. Atualmente, cerca de 27% dos produtos comprados para a alimentação escolar na Rede Municipal de Ensino são provenientes da agricultura familiar. Assim, assegura-se a aquisição da produção dessas famílias por parte do município (SEC, 2014). Além disso, a produção de orgânicos é comercializada em feiras como a feira de Produtos Orgânicos do Parque Ibirapuera, inaugurada pela Prefeitura de São Paulo no final de 2012 (SANTOS, 2016).

Em relação ao turismo rural, a prefeitura criou em 2014 o Polo de Ecoturismo de São Paulo, voltado à região de Parelheiros, composto por quatro circuitos: náutico, histórico- cultural, religioso e da Mata Atlântica. Essa iniciativa visa fomentar o turismo na região, gerando emprego e renda com preservação ambiental (SEC, 2014a).

O instrumento de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), indicado como uma das diretrizes da Política Municipal de Mudanças Climáticas, veio a se tornar realidade com o Plano diretor de 2014. Por esse instrumento, recebem contrapartidas monetárias os

163 proprietários ou possuidores de áreas com ecossistemas provedores de serviços ambientais, incluindo a manutenção, o restabelecimento ou recuperação de remanescentes florestais, nascentes, matas ciliares, áreas de reserva legal e demais áreas de preservação permanente, conservação da fauna silvestre e da biodiversidade, bem como a conversão da agricultura familiar convencional para agricultura orgânica. Trata-se de um instrumento que funciona mediante a abertura de editais abertos pelo Fundo Municipal para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (FEMA) (SÃO PAULO, 2014).

De acordo com entrevista realizada com uma das técnicas responsáveis pela organização da revisão do PDE 2014, bem como pela elaboração da proposta do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado para a RMSP, “[...] o pagamento de serviços ambientais poderá ser pensado como um instrumento metropolitano no PDUI, a fim de proteger as áreas de mananciais e áreas de proteção que são limítrofes entre municípios metropolitanos. [...] ainda à exemplo do PDE, há uma proposta [no PDUI] de criar uma zona rural metropolitana” (PLANRE2).

Através do Programa Agriculturas Paulistanas, lançado em março de 2016, será realizado o georreferenciamento e o recadastramento das propriedades rurais, em parceria com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), o que possibilitará a regularização da posse das áreas. A regularização fundiária permitirá o acesso a crédito e outras políticas de incentivo à agricultura. Com esse programa, os agricultores da região de Parelheiros passam a contar gratuitamente com equipamentos agrícolas que serão utilizadas de maneira comunitária para o preparo e conservação de solos. Além disso, receberão fertilizantes orgânicos processados na central de compostagem que recebe os resíduos orgânicos gerados nas feiras livres da capital, em funcionamento desde o início de 2016, na Lapa, zona oeste da capital (SEC, 2016).

Segundo Bonduki (2014b), o não reconhecimento prévio da zona rural tinha como uma das implicações a falta de crédito aos agricultores. Com a criação da zona rural, os agricultores familiares poderão se beneficiar dos programas e incentivos das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) voltados para agricultura, como crédito e apoio técnico.

Além disso, entendendo que a participação social é de fundamental importância para a continuidade dessas ações, previu-se a criação do Conselho Municipal de Desenvolvimento

164 Rural Solidário e Sustentável49 e a construção participativa do Plano Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável.

Além desses avanços voltados à zona rural, as áreas verdes também passaram a exercer um caráter estratégico no plano diretor contemplando toda cidade. Nesse sentido, o PDE previu a demarcação de cento e sessenta e sete áreas voltadas a implantação de parques (urbanos e naturais), a criação de um fundo municipal de parques e ainda a previsão de instrumentos como a quota ambiental e o IPTU verde para serem implantados pela lei de uso e ocupação dos solos.

Os cento e sessenta e sete parques demarcados no PDE se somam aos cento e vinte e um existentes. E, tanto os parques existentes quanto os planejados passam a ser considerados como Zona Especial de Proteção Ambiental (ZEPAM). As ZEPAM são porções do território do Município destinadas à preservação e proteção do patrimônio ambiental, que prestam relevantes serviços ambientais, entre os quais a conservação da biodiversidade, controle de processos erosivos e de inundação e produção de água e regulação microclimática. São consideradas ZEPAMs remanescentes de mata nativa, vegetação significativa, alto índice de permeabilidade e existência de nascente. A figura 32 abaixo mostra os parques existente e as demarcações de futuros parques.

165 Figura 32: Parques atuais e parques demarcados no PDE 2014.

Fonte: São Paulo (2014). Plano Diretor Estratégico.

A demarcação como ZEPAM impede que áreas particulares destinadas à implantação de futuros parques sejam apropriadas pelo mercado imobiliário. Tendo em vista que as ZEPAM têm potencial construtivo restrito (coeficiente de aproveitamento de 0,1), inviabiliza- se a implantação de empreendimentos imobiliários formais nessas áreas. Por outro lado, seus proprietários podem receber recursos do mecanismo de pagamento de serviços ambientais (em qualquer macrozona). Ou ainda, podem transferi-lo ao município recebendo em troca valores monetários. De acordo com Bonduki (2014b), “[...] parte (dessas áreas) já está em processo de desapropriação, mas outra boa parte ainda é só proposta”.

Os parques propostos estão atrelados ao fundo municipal de parques, criado com a finalidade de garantir a desapropriação e aquisição dessas áreas, a fim de ampliar as áreas verdes e espaços livres na cidade. O fundo funciona como um tipo

166 de crowdfunding municipal, onde pessoas físicas e jurídicas poderão doar dinheiro para implantação de parques e, para cada real doado, a Prefeitura destinará ao fundo o mesmo valor.

A gestão do meio ambiente ganhou um novo status com o Plano Diretor Estratégico 2014. Nesse sentido, foi criado o Sistema de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres (SAPAVEL) abrangendo diversas tipologias de áreas verdes, tais como: unidades de conservação de proteção integral, áreas de preservação permanente, parques urbanos e lineares e espaços livres e áreas verdes, de propriedade pública ou particular. Dentre seus principais objetivos inclui-se: conservar e recuperar o meio ambiente e a paisagem; reduzir a contaminação ambiental; incentivar hábitos e práticas que visem a proteção dos recursos ambientais; e, viabilizar acesso universal ao saneamento básico (SÃO PAULO, 2014)

A gestão e planejamento estratégico das áreas verdes articula-se com o desenvolvimento da cidade a longo prazo. Nesse sentido, são previstas várias diretrizes dos quais destacamos as diretrizes para a revisão do Plano Municipal de Saneamento Ambiental Integrado.

Em relação ao saneamento ambiental, este abrange um conjunto de infraestrutura e serviços necessários para garantir a saúde da população e conservação do meio ambiente, tais como o abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem urbana e gestão de resíduos sólidos. Em relação ao sistema de drenagem, tem-se como objetivos a redução dos riscos de inundação e alagamento; a redução da poluição hídrica e do assoreamento; e, a recuperação ambiental de cursos d’água e dos fundos de vale. Para tanto, deve-se elaborar Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais levando-se em consideração a elaboração de mapeamento e cartografia georreferenciados das áreas de risco de inundações e aprimorar os sistemas de alerta e de emergência; adotar tecnologias avançadas de modelagem hidrológica e hidráulica que permitam mapeamento das áreas de risco de inundação; promover a participação social da população no planejamento, implantação e operação das ações de drenagem e de manejo das águas pluviais, em especial na minoração das inundações e alagamentos; promover ações conjuntas entre os municípios da RMSP, consórcios intermunicipais e o Estado; promover o programa de recuperação dos fundos de vale, entre outras medidas prioritárias.

O programa de recuperação dos fundos de vale, por sua vez, tem por objetivo ampliar progressivamente e continuamente as áreas verdes permeáveis por meio da implantação de

167 parques lineares, o que aumenta a penetração no solo em relação às águas pluviais. Os parques lineares estão associados aos cursos d’água inseridos no tecido urbano, assim visa-se minimizar os fatores causadores de enchentes e os danos dela decorrentes. (SÃO PAULO, 2014).

A implantação dos parques lineares pressupõe a articulação de ações de saneamento, drenagem, sistema de mobilidade, urbanização de favelas, conservação ambiental e paisagismo. Nesse sentido, promove-se ações articuladas envolvendo a gestão das áreas verdes, saneamento ambiental, política habitacional e mobilidade urbana ancorados no território, de maneira convergente com a adaptação aos eventos climáticos extremos na cidade de São Paulo.