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Segundo Condorimay (2003), os serviços que prestam assistência às situações de emergência devem garantir aos usuários a oportunidade de acesso a assistência, pois a atenção deve ser dada no local onde aconteceu o agravo à saúde, com a versatilidade aconselhável para enfrentar as necessidades de cada vítima, considerando-se sua individualidade. A qualidade na assistência deve ser sustentada pela eficiência, acolhimento, segurança, e conforto. A integralidade das ações deve ter medidas concomitantes de prevenção, promoção e educação. Deve ter sustentabilidade, ou seja, viabilidade técnica, social, política e econômica, portanto, a estruturação de um serviço de APH deve seguir tais princípios.

Para Gatti e Leão (2004), um enfermeiro de emergência deve apresentar três habilidades fundamentais: avaliação, conhecimento e intuição. A intuição é desenvolvida pela experiência, sensibilidade e o uso apurado da observação. Todas essas características estão presentes em um enfermeiro de emergência com vivência clínica.

Baseados nos princípios do APH e na atuação dos profissionais de enfermagem na assistência à vítima, é necessário estabelecermos suas competências éticas e legais.

A enfermagem e suas atividades auxiliares somente podem ser exercidas por pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem (COREN), com jurisdição na área onde exerce a atividade, sendo

respaldada legalmente pela Lei 7498, de 25/06/1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem, e pela Resolução COFEN-240/2000 que aprova o Código de Ética dos profissionais de Enfermagem.

A Portaria 814, do Ministério da Saúde, estabelece a Normatização dos Serviços de Atendimento Pré-Hospitalar Móvel de Urgências e reconhece o médico, o enfermeiro, o técnico de enfermagem e o auxiliar de enfermagem como os profissionais que tem efetiva competência para intervir na área, assegurando a obrigatoriedade da equipe de enfermagem em todo o Serviço de APH e a Regulamentação do Conselho Regional de Enfermagem - COREN-SP- DIR/01/2001, aborda a Assistência de Enfermagem em Atendimento Pré- Hospitalar e demais situações relacionadas com suporte básico e avançadas de vida.

Compete ao enfermeiro assumir plena responsabilidade pela coordenação, planejamento, delegação e supervisão das ações da assistência de enfermagem no APH, cabendo-lhe a responsabilidade técnica pela chefia dos serviços de enfermagem, por meio da Certidão de Responsabilidade Técnica (CRT), respaldada na Resolução COFEN-168/1993.

Respaldado pela legislação, o enfermeiro deverá também prestar assistência de enfermagem a pacientes graves, realizando procedimentos de enfermagem considerados de alta complexidade, norteado por habilidades e conhecimentos técnico-científicos, assumindo assim seu efetivo papel ético- profissional, devendo implementar a Sistematização da Assistência de Enfermagem, conforme decisão COFEN-272/2000. Assim no APH Móvel

Avançado, o enfermeiro deverá prestar assistência à vítimas com grande complexidade de agravos à saúde em urgência e emergência.

O termo tratamento de emergência refere-se a cuidados aos clientes em situações de gravidade com necessidades de assistência urgente (DINEEN; MONCURE, 1982). Emergência é qualquer enfermidade ou lesão súbita percebida pela vítima e este estado permanecerá até a condição de estabilizar-se ou cessar a ameaça à vida (BLACK; JACOBS, 1996).

Morales (2001) relata que as situações de emergência podem ser compreendidas como os danos abruptos e extensivos à vida e à propriedade, que podem ser atendidas com recursos locais. O mesmo autor ainda conceitua emergência como aquela situação que afeta ou põe em perigo a saúde e a vida de uma ou de muitas pessoas.

Segundo Martinez e Nitschke (2001), as emergências são passíveis de tratamento, sendo que intervenções e a tentativa de resolução devem ser feitas em um tempo considerado normalmente de até vinte e quatro horas após o início do agravo.

O Conselho Federal de Medicina (CFM), por meio da Resolução 1451/95, define urgência como a “ocorrência imprevista de um agravo à saúde com ou sem risco potencial da vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata”; já a emergência “é considerada a partir da constatação médica de condições de agravos à saúde que impliquem em risco eminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato” (CFM, 2003).

Condorimay (2003) assinala que na assistência e na avaliação da vítima em situação de emergência, a coordenação do trabalho da equipe e o tempo

empregado no processo são elementos essenciais, configurando-se a emergência como porta de entrada ao sistema assistencial, gerando a mobilização e utilização de enormes recursos, sendo essencial uma dependência funcional entre a atenção pré-hospitalar e hospitalar, coadjuvando os esforços a fim de alcançar êxito no atendimento.

Ribeiro (2001) enfatiza o espírito de liderança que o enfermeiro deve ter no atendimento ao traumatizado e a importância de sua participação na estruturação do serviço e treinamento da equipe segundo protocolos estabelecidos.

A vítima de trauma é considerada uma portadora de lesões complexas, assim deve ser considerada com potencial gravidade, pois suas funções vitais podem estar comprometidas e deterioradas. O trauma provoca, freqüentemente, lesões em vários órgãos, modificando o equilíbrio hemodinâmico instabilizando a vítima, destacando o comprometimento do sistema ventilatório, circulatório e de termorregulação como a condição mínima de sobrevivência da vítima (PAVELQUEIRES, 1997a).

Pavelqueires (1997a) ressalta a importância dos enfermeiros no atendimento a vítima portadora de traumatismos e pontua que a enfermagem brasileira conquistou seu espaço nessa temática no VIII Congresso da Sociedade Pan-americana de Trauma realizada em Salvador, destacando a preocupação da formação de recursos humanos e a necessidade de organização do conhecimento, pelos enfermeiros, no atendimento de urgência e emergência.

É importante que os enfermeiros estejam instrumentalizados com conhecimento e habilidades necessárias para obterem uma rápida avaliação que altera a condição de sobrevivência da pessoa, intervindo com precisão em busca

da estabilização rápida, prevenindo complicações e promovendo recuperação precoce (ROSSI; DALRI, 1993).

Segundo Wehbe e Galvão (2001), para prestar assistência de qualidade, atendendo às necessidades apresentadas pelas vítimas nos serviços de emergência, é necessário estabelecer um planejamento que garanta o desenvolvimento de atividades administrativas, assistenciais e de ensino, em busca de um objetivo comum.

A assistência de urgência e emergência é tanto especializada quanto generalizada, exigindo a composição de um grupo de enfermeiros com capacidade altamente desenvolvida, a partir de conhecimentos de diversas áreas clínicas e cirúrgicas, habilidades para avaliação, julgamento, priorização e flexibilidade, rapidez e agilidade e, sobretudo, o desejo expresso de trabalhar nesta área (GOMES, 1994).

Quando o enfermeiro realiza qualquer decisão clínica deve ter em mente uma base avançada de conhecimento geral e específico de anatomia, fisiopatologia humana e experiências clínicas e de observações sistematizadas centradas em modelos teóricos de enfermagem, das alterações das necessidades humanas da vítima, habilidades técnicas, de relações interpessoais e desejo para cuidar desta pessoa (ROSSI; DALRI, 1993).

A necessidade de organização e documentação da Assistência de enfermagem no APH Móvel Avançado nos estimula para utilização do processo de enfermagem. Esse é baseado em princípios que norteiam as regras do conhecimento e das habilidades do enfermeiro na promoção de um cuidado de saúde eficiente e qualificado.

A profundidade e a amplitude de conhecimento do enfermeiro influenciará diretamente a adequação da utilização sistemática do cuidado, passando a aperfeiçoar suas habilidades técnicas e científicas, e a identificar as necessidades básicas da vítima em situação de emergência, adotando hábito de raciocínio ágil na tomada de decisão para atingir as metas do cuidado.

Rossi e Dalri (1993) relatam que o estado de saúde dos clientes em situações de emergência apresenta uma ampla variedade de alterações em suas necessidades básicas, manifestando problemas atuais e/ou potenciais. Essas alterações podem aparecer a cada momento, e a coleta de dados precisa ser aplicada continuamente.

Nossa inquietude ao trabalharmos com a investigação dos diagnósticos de enfermagem em vítimas de trauma no APH Móvel Avançado será de procurar estimular o desenvolvimento do conhecimento, habilidade e competência do enfermeiro atuante nessa área, buscando com isso, melhorar a qualidade e a documentação da assistência de enfermagem prestada às vítimas de trauma no atendimento inicial, fornecendo conteúdo necessário para uniformização da linguagem da enfermagem mundial.

Assim, identificando os diagnósticos de enfermagem na amostra de vítimas assistidas no APH móvel avançado poderemos planejar junto à equipe, as intervenções e procedimentos mais freqüentes nessa clientela.