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3. MARCO TEÓRICO

3.4 ENFOQUE SISTÊMICO NO AGRONEGÓCIO

O método científico apóia-se em duas grandes escolas de análise, a reducionista e a sistêmica ou holística, como vem sendo abordada atualmente.

Castro et al (1999) apud Freitas (2005) relatam que o reducionismo não é uma abordagem suficiente para explicar todos os fenômenos, notadamente aqueles que envolvem a atuação concomitante de mais de uma causa, explicada pela atuação conjunta de variáveis. Dessa limitação do reducionismo nasceu o enfoque sistêmico.

Ludwig Von Bertalanffy foi o criador da teoria geral dos sistemas. Fez seus estudos em biologia e interessou-se desde cedo pelos organismos e pelos problemas do crescimento. Seus trabalhos iniciais datam dos anos 20 que tratam da abordagem orgânica. Com efeito, Bertalanffy não concordava com a visão cartesiana do universo. Pregou uma abordagem orgânica da biologia e tentou fazer aceitar a idéia de que o organismo é um todo maior que a soma das suas partes. Criticou a visão de que o mundo é dividido em diferentes áreas, como física, química, biologia, psicologia, etc. Ao contrário, sugeria que se deve estudar sistemas globalmente, de forma a envolver todas as suas interdependências, pois cada um dos elementos, ao serem reunidos para constituir uma unidade funcional maior, desenvolvem qualidades que não se encontram em seus componentes isolados (BERTALANFFY, 1973).

Nos primórdios se observava que os produtores rurais faziam quase todos os processos da cadeia, desde a produção de insumos até a comercialização do produto. Após a Revolução Verde a indústria se apropriou de parte dessas atividades e da renda dos produtores, fenômeno que ficou conhecido mais tarde como apropriacionismo. Assim, os produtores tiveram que lidar com outros agentes para comprar sementes, insumos e comercializar seus produtos.

Duas linhas conceituais surgiram, após a metade do século passado, dando corpo ao que se conhece hoje no Brasil como a visão sistêmica do agronegócio. Nos Estados Unidos, Davis e Goldberg, precursores da visão sistêmica do agronegócio, utilizaram a noção de commodity system approach – CSA no estudo dos sistemas de produção da laranja, do trigo e da soja. Na França, Morvan entre outros economistas industriais desenvolveram os conceitos de filière para o estudo das cadeias produtivas (BATALHA e SILVA, 2001).

A análise de filière considera a cadeia de produção como uma sucessão de operações de transformação dos produtos. Nas cadeias de produção agroalimentar (CPAs) pode-se visualizar as transformações na fazenda, na agroindústria e no setor de comercialização, sendo que estes segmentos são separados ou ligados entre si por um encadeamento técnico (FALCÃO, 2002).

Para Falcão (2002) as descrições de filière permitem perceber uma grande semelhança com o CSA, pois ambos ressaltam, a partir do enfoque sistêmico, que os processos de transformação dos produtos dentro das cadeias ocorrem como um conjunto dependente de operações. Ambas ressaltam as forças externas às cadeias como importantes para seu desenvolvimento. Consideram a importância do relacionamento entre os segmentos, evidenciando a coordenação da cadeia como fator de competitividade. Vale também ressaltar a importância que ambas dão às instituições, considerando as variáveis não neutras no que se refere ao ambiente onde se relacionam as firmas, diferente da visão neoclássica que não as consideram em suas análises.

Davis e Goldberg (1957) compreenderam que para analisar os negócios dos produtos agroalimentares, a abordagem de cada atividade em separado, sem a integração de um sistema complexo, não produzia as respostas convincentes para os novos problemas da produção de alimentos. Na busca de um método que lhes permitisse uma análise do todo estes dois pesquisadores desenvolveram o conceito de agribusiness. A partir daí, os estudos baseados na visão sistêmica do agronegócio passaram a servir de instrumento para a formulação de políticas públicas, bem como para as estratégias empresariais no setor agroalimentar.

Seguindo a tradição iniciada por Goldberg em 1968, os sistemas agroindustriais compreendem os segmentos antes, dentro e depois da porteira da fazenda, envolvidos na produção, transformação e comercialização de um produto agropecuário básico, até chegar ao consumidor final. Nesse aspecto, convergem os conceitos de filière, na tradição francesa, e de

ACS (Agribusiness Commodity System), na tradição norte-americana, definidos em momentos diferentes, dentro de concepções teóricas distintas, sendo que o conceito francês privilegia as relações tecnológicas, enquanto o de CSA enfatiza a coordenação (ZYLBERSZTAJN, 1995).

Segundo a teoria sistêmica, ao invés de se reduzir uma entidade para o estudo individual das propriedades de sua parte ou elementos, é necessário focalizar no arranjo como um todo, ou seja, nas relações entre as partes que se interconectam e interagem orgânica e estaticamente a empresa em questão. Por isso, quando se pretende entender o que leva os produtores a plantar soja transgênica ou convencional é importante saber do todo que os cercam, uma vez que estão inseridos em uma lógica sistêmica, e porque as decisões não dependem mais só deles próprios, mas de todos os agentes que estão envolvidos na cadeia. Vale ressaltar que a decisão em plantar soja transgênica ou convencional pode estar cada vez mais saindo das mãos dos produtores para outros agentes da cadeia, que tem maior poder de barganha.

Diante dessa análise, vale ressaltar que as correntes de estudos do agronegócio representadas pela CSA e análise de Filière nos rementem a visão sistêmica das cadeias de produção, ou dos sistemas agroindustriais, deixando claro que é importante estudar não mais só o produtor rural e as tecnologias de produção agropecuária, mas o setor como um todo. Vale ainda ressaltar que por mais organizada que seja uma cadeia de produção, sempre haverá conflitos distributivos entre os segmentos.

A compreensão do enfoque sistêmico do agronegócio permite encontrar soluções para uma melhor coordenação dos agentes envolvidos em uma cadeia de produção. No caso específico da soja transgênica, vale ressaltar a importância de se conhecer como se dão as relações entre os agentes, tentando descobrir quais fatores do ambiente sistêmico influencia sua coordenação.

Segundo Osaki e Batalha (2007) a força tecnológica do setor de pesquisa e desenvolvimento introduziu um produto capaz de modificar a cadeia produtiva da soja. A introdução da soja GM no Brasil motivou mudanças em diversos atores da cadeia produtiva.

No caso do Sistema Agroindustrial da soja, a sua dimensão sistêmica pode ser representada pelos elos desse SAG que foram colocados na metodologia do presente trabalho.