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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.3 ARMAZENADORES/PROCESSADORES

4.3.2 Estratégias de segregação

Foi observado na pesquisa de campo que há armazenadores/processadores que adotam como estratégia de segregação fazer a separação da soja em algumas de suas unidades, ou seja, para fazer a segregação separando armazéns que recebem apenas a soja transgênica e outros somente a soja convencional. Não foi encontrada nenhuma empresa que faz a segregação em uma única unidade, como é feito nos EUA.

Na cidade de Sapezal e Campo Novo dos Parecis constatou-se que nenhum dos grandes armazenadores dessa região recebe soja transgênica. Quando chega a soja nos armazéns, se o teste acusar contaminação, essa é destinada a outra empresa com a qual mantém contratos para recebimento da soja geneticamente modificada. Essa empresa

receptora de soja transgênica atua como prestadora de serviços para os outros grandes armazenadores da região.

Constatou-se também que os armazenadores de Campo Novo dos Parecis e de Sapezal só concedem financiamentos para os produtores mediante contratos para a entrega de soja convencional. No contrato não faz referência de pagamento de prêmios para os produtores que entregarem a soja GMOfree.

Dois armazenadores/processadores visitados, um localizado na região de Rio Verde - GO e o outro em Primavera do Leste – MT, fazem segregação da soja em algumas de suas unidades.

Para fazer a segregação essas empresas, que serão chamadas de empresa A e B, fazem a rastreabilidade da soja da fazenda do produtor até a entrada do produto nos armazéns. Como estratégia de segregação definem quais de suas unidades armazenadoras vão receber soja GM e quais vão receber soja NGM. Assim, ao invés de trabalhar com duas linhas de recepção para segregação numa mesma unidade armazenadora, a empresa estabelece que cada unidade receba apenas um tipo de soja, GM ou NGM. Verificou-se que as unidades armazenadoras são totalmente independentes umas das outras, com possibilidade de 100% de segregação. Todas as máquinas (balanças, esteiras e esmagadoras) são independentes. No pátio dos armazéns são feitas varreduras assim que a soja é despachada. Toda a soja residual remanescente, por garantia, vai para o armazém em que é depositada a soja transgênica.

O armazenador/processador, quando consegue fazer contratos de exportação de soja convencional para a União Européia, toma como estratégia fazer a segregação em algumas de suas unidades. Assim sendo, dependendo do local onde está localizada a planta industrial, essa não irá receber soja transgênica, fazendo com que os produtores tenham que plantar soja convencional nesse local, pois caso contrário deverão entregar a soja geneticamente modificada em outro armazém, acarretando em um custo mais elevado para o produtor.

Em síntese, como estratégia de segregação a empresa escolhe determinada região em que alguns produtores são seus clientes. Esse armazém, montado estrategicamente perto dos produtores, só recebe soja convencional. Quando a soja chega ao armazém é perguntado para o produtor se essa é transgênica ou convencional, se declarada transgênica não precisa ser feito o teste de transgenia, se declarada convencional o teste é feito imediatamente. Normalmente, são feitas duas amostragens em cada caminhão no pátio dos seus armazéns.

Para saber se a soja é transgênica ou convencional são feitos dois tipos de testes. O chamado teste da Monsanto para o recolhimento dos royalties, onde há uma tolerância de até 5% de transgênicos, limite acima do qual se determina a obrigatoriedade de pagamento do royalty sobre toda a carga/caminhão. Outro teste SGS26 realizado por uma empresa certificadora terceirizada, mediante o qual a soja só é considerada convencional se a presença de grãos transgênicos for inferior a 0,1% (1 grão em 1.000). Se o índice ultrapassar esse limite a soja é enviada para outra filial que recebe transgênico. O custo do teste SGS é arcado pela própria armazenadora/processadora. Esse teste custa em média US$7,00 por caminhão em Goiás e US$9,00 em Mato Grosso. Para maior segurança contra problemas de contaminação, os testes são realizados em todos os caminhões que declaram que a soja é convencional.

Para adequar-se à segregação, um desses armazenadores/processadores disse ter gasto mais de dois milhões de dólares em aquisição de equipamentos, adaptações e testes SGS, custo este considerado alto pelo agente entrevistado, tendo em vista os benefícios trazidos.

Apesar desse armazenador/processador fazer a segregação em diferentes unidades, os resultados não foram considerados positivos, pois não conseguiu vender os grãos convencionais e os produtos processados com esses grãos por um preço compensatório. “O

26 SGS – Systems & Services Certification. Prestadora de serviços que faz inspeções, verificações, testes e

certificações. Controla a qualidade, quantidade e especificações técnicas de produtos agrícolas e alimentos in natura. No caso da soja se faz o teste com o nível exigido de transgênicos, que nesse caso é de 0,1%, e emite o certificado da soja NGM.

preço pago pela soja convencional da safra de 2006/7 deveria ter sido no mínimo 10% superior ao valor recebido27”, relatou o agente entrevistado.

Na opinião desse agente o mercado interno demanda soja convencional em certas ocasiões, mas não tem pago de forma sistemática aos processadores o prêmio correspondente, o que inviabiliza o respectivo repasse de prêmio ao produtor de soja convencional. Ainda na opinião do entrevistado, naturalmente quando houver pagamento de prêmio pela soja NGM esse será repassado para os produtores como uma forma de incentivo para sua maior produção.

Na safra 2006/7, como forma de incentivo à entrega de soja convencional por parte dos produtores, a empresa “A” tem pago um valor adicional como prêmio para o produtor pela entrega de soja convencional, antecipando a preocupação com a escassez de soja convencional no futuro. Nesse sentido, considera que a transação com o produtor de soja NGM deverá evoluir para a forma de um contrato bem restrito com normas a serem cumpridas.

Um problema que os armazenadores/processadores têm enfrentado depois do advento dos transgênicos diz respeito à contaminação. Os agentes entrevistados disseram que houve muitos casos de contaminação nas variedades das sementes fornecidas para os produtores. Segundo os agentes entrevistados, como na maioria das vezes as sementes utilizadas pelo produtor são fornecidas pela própria armazenadora/processadora, manteve-se o pagamento do prêmio para esses produtores. A contaminação também tem sido fonte de intensa dificuldade por parte dos produtores, pois houve casos de contaminação no transporte, no maquinário e até nos próprios armazéns dos produtores, onde certamente ficaram resíduos de soja transgênica que foram misturadas às convencionais. Segundo Wilkinson e Pessanha (2005) o

problema da contaminação também é tido como um dos desafios enfrentados dessa nova tecnologia.

Há estratégias por parte dos armazenadores/processadores que fazem segregação para saber com antecipação qual a proporção de soja GM e NGM que eles irão receber na próxima safra. É feita visita nas propriedades de seus clientes dois meses antes de começarem a receber a soja. A partir daí traçam suas estratégias de fazer ou não segregação, dependendo do volume que será oferecido pelos produtores. Se a quantidade de transgênicos for muito menor que a convencional, aquela empresa situada naquela região dará preferência para recebimento de soja convencional, caso contrário ela opta por não fazer a segregação.

Diante de todos os entraves relatados, principalmente pela indefinição quanto ao prêmio que o mercado ainda não parece disposto a pagar, o armazenador/processador “A” considera que a partir da próxima safra só fará segregação por meio de um contrato prévio com seus clientes industriais que seja compensador dos investimentos e procedimentos necessários para a segregação.

Com o intuito de estimar um custo de segregação a nível de armazenador/processador foi perguntado a um armazenador na região de Sorriso – MT quanto gastaria caso fosse necessário implementar um sistema de segregação de soja GM e NGM em sua unidade.

Essa empresa havia recebido uma proposta de uma grande multinacional para que sua unidade fizesse a segregação. Mesmo não aceitando essa proposta, esse agente abriu sua planilha dos custos que seriam necessários para fazê-lo. Relatou que devido ao alto valor do investimento não seria compensatório que essa empresa fizesse a segregação em sua unidade.

Ele disse que para fazer a segregação em um armazém de 30 mil toneladas gastaria R$5.260.000, o que daria em média R$175,00 a mais por tonelada segregada. Só lembrando que esse é um custo fixo que pode ser diluído ao longo dos anos.

Para fazer segregação essa empresa deveria comprar novas linhas de armazenamento, esteiras, silos, moegas e outros materiais que não entrem em contato direto com a soja transgênica pelo fato de poderem contaminar a soja GMOfree.

Um estudo feito por Rosa (2008) com uma cooperativa do Paraná estimou que seria preciso um prêmio de US$ 30 a mais por tonelada para a garantia dessa segregação.

Diante de toda essa problemática de custos elevados para a implementação de um sistema de segregação dentro de uma mesma unidade, não foi constatado nenhum armazenador no Estado de Mato Grosso que adotasse essa estratégia.